— Eu jamais lhe daria qualquer tipo de alucinógeno, Bella — Rosalie respondeu, apologética. — Ainda mais sabendo que você passa o dia inteiro com um bebê sozinha. Isso seria tão irresponsável de minha parte!
— Tem certeza? Quer dizer, você pode ter se enganado durante a preparação da mistura e colocado o ingrediente errado…
— Me escute, não me engano quando se trata disto. Caso contrário, eu não sairia por aí distribuindo para os outros sabendo dos efeitos colaterais que apenas um erro meu causaria.
Mordisquei a unha do polegar, ansiosa.
Parecia insano para mim, mesmo depois de todas as coisas insanas pelas quais passei em menos de um ano. Decidi não dizer uma só palavra a Edward sobre o ocorrido, apenas dei de ombros e concordei com sua teoria de que aquela noite fora apenas um sonho lúcido, embora tivesse certeza de que não era nada como um fruto de minha imaginação.
Edward já possuía motivos demais para me internar em um manicômio, não queria lhe dar mais razões para duvidar de minha insanidade já instável. No entanto, assim que Rose surgira em minha porta alguns dias depois, senti a vibração pulsando dentro de mim, alertando-me a cada segundo que se eu não falasse com alguém sobre aquela angústia, acabaria explodindo de ansiedade no meio da noite, quando a consciência pesava dez vezes mais no silêncio.
— Por que está me perguntando isso?
— Rose, eu tive… experiências estranhas no meio da noite — confessei, me juntando a ela na mesa da cozinha. — Não sei como te dizer isso.
— Sabe que não precisa se sentir constrangida comigo, pode falar o que quiser. Não irei julgá-la.
Hesitei, ponderando sobre a decisão enquanto fitava minha filha sentada tranquilamente, brincando com seu chocalho de prata no colo de Rose. A pequena Marie estava inclusa em cada pensamento confuso de minha mente, afinal temia por ela infinitamente mais do que por mim mesma.
— Vai parecer esquisito — avisei, cruzando as mãos sobre a mesa. — Mas, acho que alguém esteve aqui há alguns dias.
A loura arregalou os olhos, se recostando na cadeira.
— Você quer dizer um ladrão? — Ela sussurrou.
— Não, não um ladrão. Não fomos roubados — balancei a cabeça, pensativa. — Escute, eu estava dormindo e Edward ficou praticamente a madrugada toda no escritório, trabalhando no rascunho de seu novo livro. Só que no meio da noite…
— Vamos, está me deixando nervosa!
— Eu senti alguém me tocar durante a noite.
— Está falando de... sexo? — A loira franziu o cenho, confusa. — Edward te mast…
— Não era ele — interrompi, sussurrando em desespero enquanto sentia minhas bochechas esquentarem. — Bem, eu achei que fosse e cedi, mas de manhã Edward não se lembrava de nada. Quando lhe contei, ele sugeriu que eu apenas havia sonhado.
— Para ser sincera, é uma possibilidade.
— Rose, você não entende. Era real. No momento, eu senti que ele estava diferente, Edward não costuma ser tão rude comigo na cama, mas eu estava tão sonolenta por causa daquelas ervas que ignorei todos os indícios.
— Ah, Bella — ela balançou a cabeça, perturbada. — Você disse que Edward estava acordado, certo? Ele não ouviu nada naquele horário?
— Não e isso é o que mais me apavora. Se qualquer um tivesse tentado invadir esta casa, ele com certeza teria ouvido… Isso está me deixando louca.
Baixei o rosto entre as mãos, angustiada.
Estava tentando ser forte durante toda a semana, resistindo ao impulso de recuar feito uma garotinha assustada como das outras vezes, mas era tão difícil. Sentia o peso do segredo exaurindo minhas forças cada vez que Edward olhava para mim e me encontrava tão distante, perdida em meus próprios pensamentos.
— Está tão nervosa, Bella. Não pode sair assim, quer que eu pegue água com açúcar para você?
— Por favor.
Rapidamente, ela se levantou e me entregou a bebê antes de se mover pela cozinha com tanta familiaridade que parecia viver ali conosco. Abracei minha filha, esperando que seu cheiro doce e suave fosse capaz de cessar a inquietação que me dominava.
— Sei que está procurando motivos racionais para explicar tudo isso, para não entrar em pânico — disse ela ao mexer a colher dentro do copo com água e açúcar, então me entregou. — Mas, eu conheço os efeitos colaterais daquela mistura de cor. Apetite, fadiga, sonolência, aumento do desejo sexual…
— O que!? — Engasguei com a água.
— Eu não lhe contei?
— Não — pisquei, virando para olhá-la. — Acho que eu lembraria dessa parte, isso explica muita coisa.
— Merda, eu devo ter esquecido — ela xingou consigo mesma. — De qualquer forma, para você ter uma ideia, eu também uso elas todo santo dia. Nunca tive qualquer alucinação.
— Por que você toma isso? Não acho que precise.
E, pelos meus motivos, realmente não precisava.
Rosalie tinha seu corpo curvilíneo e os seios fartos, além do rosto cheio e corado, esbanjando saúde. Pouco remetia minha aparência meramente doentia, embora eu me sentisse cada vez mais saudável após o uso constante de seu remédio natural.
— Tente encontrar alguma libido no meio de tanto estresse com a pressão de engravidar — disse ela ao apoiar as mãos na cintura. — Elas me ajudam nessa parte, sabe.
— Oh — assenti, desconcertada. — Então, Emmett pressiona você?
— Não. Céus, ele jamais faria isso — gesticulou, retornando para o seu lugar quando terminei de beber minha água e deixei o copo sobre a mesa. — Sua família é que o pressiona e a mim também. Mas posso dizer que a maior pressão vem de mim mesma, é algo que eu quero desde que era uma garotinha.
— Quando eu era menina, pensava que jamais teria crianças.
— E por que pensava isso?
— A ideia de ser responsável pela vida de alguém me apavorava mais do que consigo explicar e meu pai sempre dizia que eu precisava de alguém para tomar conta de mim quando ele se fosse… Bem, eu encontrei Edward no meio do caminho — sorri de lado. — Mas, no fundo, sempre tive medo de não ser forte o bastante para cuidar de Marie.
— Você é uma ótima mãe, Bella. — Rose disse suavemente. — Posso dizer porque eu não tive uma mãe como você. Minha mãe morreu e meu pai se casou novamente quando completei dez anos, mas antes de sua morte, não lembro de uma só vez em que ela estava sóbria. Meu pai era bom em me criar, mas não havia nada que ele pudesse fazer com a nova esposa, ela me tratava feito lixo e eu era covarde demais para contar a ele e estragar sua imagem de família feliz.
— Sinto muito, Rose.
— Oh, está tudo bem. Isso foi a muito tempo — ela disse, embora eu notara seus lábios tremendo um pouco quando ela os apertou em uma linha fina. — Dr. Hunter me disse que essa é a origem do meu impulso, talvez eu só queira fornecer o que não recebi. No início, achei meio deplorável, mas depois percebi que não podia fazer nada quanto ao meu passado.
— Quem é o Dr. Hunter?
— James, meu terapeuta. Ele apareceu no churrasco, mas chegou tarde e talvez eu tenha me esquecido de apresentá-la a ele — antes que eu fizesse mais perguntas ela atirou os cabelos para trás dos ombros e se levantou, espalmando as mãos na mesa. — Bella, para ser sincera, não sei se é bom para você sair assim tão nervosa.
— Eu já estou bem, juro — garanti e estava sendo sincera. — De qualquer forma, as compras do mês não se farão sozinhas. Falando nisso, muito obrigada por aceitar me acompanhar, eu sei que foi muita ousadia de minha parte pedir…
— Não, imagina! Eu entendo como deve ser difícil fazer tudo com um bebê tão pequeno e, em todo caso, eu preciso fazer algumas compras também — garantiu antes se mover para os ganchos perto da porta de entrada e gritar sobre o ombro. — Mas acho melhor irmos, está tarde e não quero atrasar para o almoço.
Assenti, levantando com Marie nos braços antes de seguir para o bloco de notas sobre a bancada, onde fizera minha lista de compras mais cedo. Rosalie ressurgiu da sala com nossos casacos e estava descendo os degraus da soleira da porta quando percebi que esquecera a bolsa de bebê.
— Droga, preciso buscar uma coisa — disse enquanto Rose dava a volta para assumir seu lugar no banco do motorista. — Pode segurá-la rapidinho?
— É claro que posso, vá.
Assim que loura estendeu seus braços e pegou a criança no colo, então disparei de volta para dentro. Segui direto para o sofá, onde pensará ter deixado a bolsa, mas ela simplesmente não estava lá, então me movi para o segundo andar.
A bolsa branca estava sobre a cômoda no quarto de Marie. Rapidamente, agarrei a alça e desci as escadas depressa, alternando de dois em dois degraus para poupar meu tempo. Estava passando pela porta quando o som metálico atraiu minha atenção e me fez parar, olhando sobre o ombro.
Batidas repetidas e esganiçadas pareciam soar tão distantes que não soube distinguir exatamente de onde vinham. Avancei um passo de volta para dentro, minha mão agarrando a maçaneta — intrigada — enquanto forçava meus ouvidos a detectar a origem do som.
— Bella! — Rose gritou antes de buzinar. — Vamos, garota?
Virei para olhá-la dentro do carro azul, Rosalie ainda carregava Marie enquanto se olhava no retrovisor.
Fechei a porta e decidi retornar para o carro.
Blanco não tinha nada muito grande, mas isso de maneira alguma me surpreendeu.
Além dos campos de lavanda, a paisagem da pequena cidade se parecia muito com Nova Orleans, exceto pelas casas de jazz. Observei as lojas de antiguidades e comércios ao longo do caminho até a praça central, então me peguei pensando sobre todas as vezes em que me recusara estar ali.
Rejeitar os convites de Edward para um passeio fora fácil — embora sua decepção me fizesse sentir culpada —, pois já me acostumara a pensar que qualquer lugar poderia ser perigoso para nós. No entanto, era engraçado como um medo maior era capaz de sufocar todos os outros.
Ironicamente, minha casa era o último lugar em que gostaria de estar.
— Talvez eu devesse levar mais vinho, o estoque está acabando… E hoje é sexta-feira — Rose comentou com si mesma enquanto ponderava em frente a adega escassa do mercado.
— Vocês gostam de beber, hein — provoque de brincadeira. — O que tem na sexta?
— Conhece a bíblia, depois de dias de trabalho vem o tempo de descanso — ela sorriu maliciosa, escolhendo duas garrafas de vinho tinto para adicionar no seu carrinho. — Além disso, estou no período fértil, então nada de descanso para Emmett ou para mim, só trabalho.
— Nossa — ri sentindo minhas bochechas em brasa, movi o carrinho quando ela se juntou a mim na caminhada. — Acho que não deveriam cronometrar tanto as coisas. Quer dizer, era para ser um momento prazeroso e não… mecânico.
— Nunca disse que não era prazeroso.
A loira piscou para mim e seguimos pelo corredor até o estande de frutas.
Meu carrinho estava quase cheio enquanto o de Rosalie parecia abrigar apenas uma compra de jantar de final de semana com carnes, queijo, pães e vinho. Estava bem concentrada escolhendo as maçãs quando notei duas mulheres mais a frente, paradas no corredor de enlatados nos olhando fixamente.
Virei para olhar Rose atrás de mim, mas ela permanecia distraída pegando sua caixa com uvas para colocar no carrinho. Quando retornei para as mulheres, elas começaram a cochichar algo entre si, ainda nos fitando descaradamente do outro lado.
— O que há com aquelas duas? — Perguntei a Rose, segurando minha filha mais firme no tecido que a envolvia em meu corpo. — Estão olhando para cá e falando alguma coisa.
A ruiva atirou os longos cachos sobre os ombros pálidos antes de começar a caminhar para longa com a loira baixinha ao seu lado, ambas com a expressão carrancuda na nossa direção.
— Ah, são aquelas duas de novo — Rose torceu a boca, ríspida enquanto as encarava de volta. — Victoria Hunter e Jessica Stanley, elas são umas vacas.
— Por que estavam falando de nós?
— Não estavam falando de nós, estavam falando de mim. Elas me odeiam e simplesmente não conseguem manter aquelas línguas enormes dentro das bocas — ela respirou fundo, olhando na direção onde as mulheres seguiram. — Sabe, às vezes acho que a implicância de Victoria é ciúmes porque o seu marido é meu médico. Mas Jessica…
— Vocês eram amigas?
— Não, não éramos amigas. Mas, Jessica era respeitosa e educada como qualquer pessoa normal, mas depois que… — ela se censurou, dando de ombros para retornar ao seu carrinho e empurrá-lo para seguir em frente. — Esquece, elas não merecem sua atenção.
Bloqueei a saída de seu carrinho ao colocar a sola de meu sapato na rodinha, então encarei-a.
— Vai me contar o que está acontecendo ou terei que descobrir do meu próprio jeito — ameacei.
Rosalie deixou os ombros caírem ao inclinar a cabeça para o lado, derrotada.
— Ah, tudo bem — ela concordou, revirando os olhos. — Mas, será que podemos ir a um café antes?
Após as compras, Rosalie e eu seguimos para um pequeno café no fim do quarteirão.
O estabelecimento era simples, suas mesinhas de madeira se espalhavam pela calçada e foi em uma delas que me juntei à loira para fazer os pedidos; café preto e meio amargo com croissant e bolo de chocolate. Quase me senti constrangida quando nossos pedidos chegaram e Rosalie optou por apenas um capuccino.
— Você deve tê-los visto na minha casa, naquela fotografia — disse ela após um gole em sua bebida.
— Como é?
— Alice, Jasper e o pequeno Archie.
— Sua cunhada e a família dela — concluí, Rosalie assentindo em concordância. — O que eles tem haver com aquelas duas mulheres?
— Tudo, mas antes me deixe contar as coisas desde o início — ela suspirou, olhando para as mãos unidas segurando sua xícara. — Alice era a irmã mais nova de Emmett, nos tornamos melhores amigas quando me mudei para a cidade para ficar com ele, na época ela era só uma garota, mas nos damos tão bem que em pouco tempo era quase como se fôssemos irmãs também.
Uma máscara de escuridão e dor se instalou naquele belo rosto, como se suas boas lembranças tivessem sido borradas e distorcidas pelo tempo.
— Ela só tinha dezesseis anos quando conheceu seu marido, Jasper Withlock. Ele era um jovem escritor que veio para a cidade na época do Festival de Lavanda, só estava buscando paz para tentar escrever o seu livro quando Alice cruzou seu caminho. Jazz era de boa família e estava apaixonado, mas a família de Alice nunca aprovou o romance dos dois por ser muito mais nova que ele.
— É compreensível, ela era praticamente uma criança — comentei, mordiscando meu croissant.
— Foi o que todos disseram, mas eu não estava com eles. Entenda, eu só tinha vinte e três, Alice era minha melhor amiga e eu não hesitei em ajudá-la a fugir com Jasper. Eles se foram e só voltaram quando estavam casados, então toda a família de Emmett passou a me odiar por isso e, pelo visto, não só eles tiveram essa ideia — ela revirou os olhos castanhos. — O fato é que Jasper tinha muito dinheiro, logo ele comprou uma casa na cidade para morar com Alice e continuar escrevendo seus livros, foram felizes por um tempo.
Ela engoliu com dificuldade, deslizando o dedo indicador pela borda da xícara.
— Aí a Allie engravidou e eles tiveram um bebê lindo. Archie era o favorito de todo mundo e, ainda que Jazz não fosse bom em demonstrar sentimentos, sabia que ele o adorava tanto quanto Alice… Por Deus, ela era a melhor mãe do mundo para o seu filho.
— E o que aconteceu?
— Uma noite, por algum motivo, as janelas do quarto de Archie ficaram abertas enquanto ele dormia. Era inverno e a temperatura caiu demais em dezembro, ele passou a noite toda no frio — Rose mordeu o lábio inferior, segurando as lágrimas. — Archie pegou pneumonia depois disso, apesar de todos os esforços dos médicos, ele não resistiu. Só tinha um ano.
— Rosalie… — estiquei minha mão para pegar a sua sobre a mesa e ela levou a outra para enxugar as lágrimas que rolaram por sua bochecha. — Eu sinto muito. Me desculpe por tocar nesse assunto, eu não queria chatear você.
— Não, tudo bem. É bom falar com alguém sobre isso, Emmett não toca no assunto há um ano.
— E eu entendo, mesmo. Não gostaria de relembrar tanta tristeza assim.
— Isso não foi o pior — ela murmurou, se recompondo. — Depois que Archie morreu, Alice ficou inconsolável. Bella, sei que me entende, você ama a sua filha e não consegue imaginar o mundo sem ela.
Por instinto, deslizei as mãos sobre Marie que dormia em meu colo, a cabeça deitada em meu peito confortavelmente enquanto o tecido a mantinha aninhada e segura ali. De fato, preferia ceder minha própria vida mil vezes do que perder minha filha.
Era uma dor a qual eu não poderia suportar.
— Alice não comia, não bebia e não levantava da cama — continuou, comovida. — Jasper dizia que ela acordava no meio da noite e ouvia o choro do bebê pela casa, então quando percebia que ele não estava mais ali, chorava até que amanhecesse, até ficar exausta o bastante para voltar para a cama carregada. Ele também estava sofrendo, era visível como andava pálido e com olheiras profundas das noites sem sono, Alice o estava levando ao limite também e não havia nada que ele pudesse fazer para tirá-la do lugar obscuro em que ela se mantinha.
De repente, Rosalie respirou fundo e balançou a cabeça levemente.
— Há um ano, ele veio até a cidade resolver alguma questão. Era para ser rápido, mas não foi o bastante — disse ela, perdida nos próprios pensamentos. — Quando Jasper retornou, Alice não estava em casa. Ele chamou a polícia e as buscas começaram… Mas só encontraram seu vestido nas margens do Rio Blanco.
— Ah meu Deus — levei a mão até a boca, horrorizada.
— Sabe, Emmett e eu ainda nos culpamos por tudo o que aconteceu. Ainda que Alice não quisesse ir ao médico ou não quisesse ver ninguém, devíamos ter insistido e salvado a sua vida — ela baixou o rosto entre as mãos, varrendo os cabelos loiros para trás com um suspiro. — Todos pensam o mesmo, toda a comunidade de Blanco sabe do caso e sabe que devíamos ter feito mais por ela. Alice era o ser humano mais doce e puro que essa cidade já conheceu, todos a adoravam e ela não merecia o final trágico que teve.
— Não acho que qualquer um poderia ter feito alguma coisa por ela, Rose. Você disse que ela estava perdida, Alice viu o próprio filho morrer e essa dor… acho que isso não se cura nunca.
— Talvez curasse, nunca saberei.
— E quanto ao Jasper? O que aconteceu com ele?
Ela ergueu os olhos para mim, recostando de volta na cadeira.
— Ah, Jazz colocou a casa à venda e se mudou para Johnson City, não queria ser perturbado pelo seu passado cada vez que olhasse para aquelas paredes. Acho que foi o melhor a se fazer.
— Coitado — desviei o olhar para a rua, onde os carros passavam. — Ele ainda mantém contato com vocês?
— Não, Jasper nunca foi muito próximo de nós e também nunca foi de falar muito. Acho que nos ver o faz lembrar de Alice e isso o deixa chateado.
Não podia imaginar sua tristeza diante da tragédia ou de onde ele tirava forças para não tomar o mesmo destino. Tantas pessoas saíram machucadas no fim, tudo porque as janelas se abriram no meio da noite…
Rosalie deve ter percebido quando me encolhi na cadeira.
— O que foi, Bella?
— Nada — balancei a cabeça, empurrando a louça vazia na mesa. — Acho melhor pedirmos a conta.
— É claro, está tarde — a loira concordou, estendendo a mão para o jovem funcionário do café. — Por favor.
Passei o resto do dia melancólica.
Minha mente repassou a história de Alice e Jasper várias e várias vezes até o pôr-do-sol, mesmo quando Edward retornou do trabalho parecendo mais carinhoso que o normal — enchendo-me de abraços e beijos enquanto eu me movia na cozinha preparando o jantar —, ainda assim permaneci absorta.
Por sorte, uma ligação me puxou obrigatoriamente de volta para minha vida.
— Como tem sido na nova casa, querida? — Perguntou Renée, após um extenso interrogatório sobre a neta.
— Ah, estamos nos adaptando — disse com um suspiro, enrolando o cabo do telefone no dedo indicador distraidamente. — Quer dizer, Edward parece se acomodar com mais facilidade, mas tudo ainda é muito novo para mim. Acho que vai levar algum tempo para eu me acostumar totalmente com a calmaria daqui.
— E conhecendo meu genro, sei que ele não reclamaria de nada ainda que a casa estivesse desabando sobre vocês.
Acompanhei sua risada, apoiando a cabeça na mão enquanto esticava minhas pernas no sofá.
— Sei que isso parece uma coisa boa para a maioria das pessoas, mas é irritante para mim — revirei os olhos. — Por outro lado, a casa é linda, mãe. Precisa ver como a arquitetura antiga é uma raridade. Claro que ainda pretendo restaurar algumas partes, mas no geral não há nada que eu queira mudar tanto.
— Você deve estar se divertindo como construtora aí, não é? — Renée brincou.
— Ainda não fiz grandes alterações, mas o quarto de hóspedes está pronto. Então, acho que já posso dizer que estamos preparados para receber visitas.
— Bella, isso é ótimo! Já não aguento mais ficar longe de vocês, estou morrendo de saudades. Me diga quando e eu apenas irei o mais rápido que puder.
— Falarei com o Edward sobre o assunto e irei lhe avisar, pode ser?
— Tudo bem, querida — ela murchou um pouco. — E, por falar nele, como vão as coisas entre vocês dois?
— Ah, estamos bem… eu acho.
Renée grunhiu ao telefone.
— Hum, não gostei desse tom — disse, desconfiada. — Andaram discutindo?
Virei o rosto em direção a janela da sala, ponderando sobre a questão enquanto encarava a paisagem sombria dos campos de lavanda, iluminado somente pelo céu estrelado.
Minha mãe era muito curiosa — e talvez eu tenha puxado isso dela —, mas de forma alguma queria alimentar sua imaginação com meus medos absurdos. Os quais eu mesma me pegava duvidando da veracidade.
Por isso, optei por não lhe dar tantos detalhes.
— Edward voltou a escrever.
— Querida, que bom! Mas porque isso está te chateando?
— O processo de escrita é bem… solitário. Quer dizer, Edward precisa de espaço e tempo para produzir seus textos, estou lidando com isso com calma, mas às vezes é muito desgastante. Para mim e para ele, imagino.
— Oh, Bella. O casamento é desgastante, se lembra de como eu passava muito tempo sozinha enquanto seu pai trabalhava? — Renée lembrou. — Os vizinhos não aguentavam mais ouvir meu rádio ligado com canções românticas durante a noite.
— Com certeza, lembro — ri, recordando-me de sua cantoria noturna. — Estou quase testando a teoria.
— Converse com ele se sentir que está sozinha demais, Edward é um bom marido e é louco por você. Sei que, se ele está distante, não é proposital.
— Eu sei, já conversamos sobre isso. Estou apenas dando o tempo dele.
O assobio vindo da escadaria me fez congelar no sofá, então o arrepio percorreu minha espinha quando virei a cabeça com os olhos arregalados. Mas relaxei um momento depois com a figura de meu marido se aproximando, vestindo somente uma calça de pijama.
— O tempo de quem? — A voz aveludada acariciou meu ouvido quando Edward se inclinou sobre o encosto do sofá, depositando um beijo em meu pescoço antes de se afastar com um sorriso e sussurrar. — Coloquei a Marie para dormir.
— Obrigada — sussurrei de volta, lhe jogando um beijo quando ele deu a volta no sofá e se sentou aos meus pés. — Mãe, está ficando tarde. Acho melhor desligar.
— Edward está aí, não é?
— Sim, ele acabou de chegar para bisbilhotar a conversa das mulheres.
Provoquei, sorrindo ao cutucá-lo com meu pé. Então, Edward envolveu o envolveu em suas mãos suavemente, iniciando uma massagem relaxante.
— Diga que mandei um beijo, amor — pediu, aumentando a pressão de seus dedos, o que me arrancou um suspiro.
— Ele mandou um beijo.
— Mande outro, querida — respondeu Renée em seu tom maternal. — E me ligue mais vezes.
— Ligo assim que puder, eu juro — prometi. — Eu te amo, mãe.
— Eu também te amo. Até mais.
Devolvi o telefone para o gancho sobre a mesinha e retornei para a posição confortável, deitando a cabeça entre as almofadas. Edward continuou a massagear meus pés levemente doloridos enquanto eu o observava, apreciando a vista de seus músculos definidos ressaltados na luz amanteigada do abajur aceso.
— Como ela está? — Perguntou casualmente, erguendo seus olhos para mim.
— Você conhece a mamãe. Ela sente a nossa falta e eu fico me sentindo meio mal por deixá-la sozinha em Austin, tão longe de nós.
— Seria bom você visitá-la ou até mesmo que ela pudesse vir até aqui e passar alguns dias. O que acha?
— Ah, seria perfeito! — Disse de um jeito manhoso ao inclinar a cabeça para trás e fechar os olhos. — Eu também estou com saudades e não quero afastá-la de nós, principalmente da Marie. Somos tudo o que ela tem agora.
— Eu sei, amor. Estava pensando que assim que terminar com todos os reparos que deseja fazer, poderíamos chamá-la para morar conosco.
Pisquei, atônita.
— Está falando sério?
— Claro! A menos que seja um problema para você...
— Na verdade, isso seria ótimo — comentei, animada com a ideia. — Mas, você tem certeza de que ter alguém morando com a gente não será… incômodo? Quer dizer, estamos acostumados a ser um casal, certo?
— Bem, ela é como uma mãe para mim também. Nossa vida íntima continua sendo a mesma, a diferença é que não vou deixá-la tanto tempo sozinha aqui — ele pontuou.
Torci os lábios, reprimindo um sorriso zombeteiro.
— Andou escutando atrás da porta, Edward Cullen?
Seus movimentos cessaram e ele me olhou sob os cílios.
— Eu sei que tenho sido ausente com você, baby. Não preciso ouvir a conversa de vocês para saber — disse ao deixar um beijo casto na parte de cima de meu pé, então seguiu trilhando um caminho até meu tornozelo. — E, sinceramente, sinto muito por isso.
— Sente mesmo? — Arqueei a sobrancelha, sentindo um arrepio me percorrer quando seus lábios alcançaram o interior de minha coxa.
Lentamente, ele engatinhou até ficar entre minhas pernas. Então, parou para banhar meu rosto com aquele puro olhar de luxúria.
— O que preciso fazer para acreditar em mim, Isabella?
Seu hálito fez cócegas na pele de minha clavícula e eu ri baixinho ao envolver seus cabelos sedosos e despenteados entre os dedos para acariciar. No entanto, minha voz logo foi silenciada quando Edward desabou seu peso sobre mim, a boca reivindicando a minha em um beijo intenso onde o seu desejo parecia escorrer feito lava para dentro de mim, incendiando por onde quer que ele me tocasse.
Explorava sua boca com a minha língua quando entrelacei as pernas ao redor de seus quadris, reduzindo a distância entre nossos corpos enquanto seus dedos buscavam a barra de meu suéter. Com apenas um movimento, ergui os braços e Edward o arrancou de mim, atirando-o no chão antes de descer suas mãos para apalpar meus seios, arqueei o corpo quando uma mão se fechou ao redor de um enquanto sua boca afundava no outro para chupar e mordiscar.
— Você não tinha… — passei a língua pelos lábios, sem fôlego — que escrever?
— Como eu poderia pensar em escrever com você bem aqui?
Um sorriso malicioso curvou seus lábios e como que para me provar seu argumento, Edward chupou mais forte meu mamilo. Puxei seus cabelos feito rédeas quando um gemido me escapou, indicando o quanto gostava daquilo.
— Eles são tão lindos — murmurou ao recuar um pouco, admirando-me seminua debaixo dele. — Você é linda.
— E você é meu.
Disse ao empurrar seu peito até que ele se sentasse no sofá.
Rapidamente, fiquei de pé, me livrando do jeans e da calcinha de uma só vez para assumir minha posição em seu colo, deixando uma perna de cada lado dele. Edward sequer esperou que me acomodasse, suas mãos agarraram em meus quadris com firmeza enquanto me puxava para si, então logo escorregaram para minha bunda para enterrar seus dedos ali.
Trouxe sua boca de volta para a minha com toda a necessidade irradiando por minha pele quente, a fricção de nossos corpos enquanto me movia levemente durante o beijo, somente para instigá-lo, era o suficiente para afugentar todos os pensamentos de minha mente. O volume rígido impulsionava contra a sua calça fina, bem no meio molhado entre minhas pernas.
E Edward notou os gemidos tímidos fugindo de minha garganta cada vez que deslizava os quadris para a frente e para trás. Foi assim que tomou uma péssima decisão. Quando seus beijos caíram para trilhar um caminho provocante em meu pescoço, Edward escorregou os dedos para acariciar meu ponto latejante e, apesar dos movimentos serem os mesmos que sempre me arrancavam o prazer, tudo o que senti no momento foi meu corpo tensionar.
— Pare — pedi, tocando seus ombros levemente.
Os olhos verdes me olharam, temerosos.
— Fiz algo de errado?
Edward absolutamente não tinha feito nada de errado.
Seus toques eram gentis de alguma forma, acalorados e excitantes, nunca hostis. Mas, ainda que fosse meu marido — ainda que tivesse plena certeza de que aquele homem era o único que amaria pelo resto da vida —, não pude deixar de pensar no que acontecera noites antes.
Naquelas mãos desconhecidas me violando.
— É claro que não — deslizei os dedos por seus lábios suavemente ao sorrir fraco. — Não, meu amor. Você jamais faria algo de errado.
— Então, por que está assim? É por causa de Austin?
Balancei a cabeça, recuperando o fôlego.
— Não tem nada a ver com Austin — pela primeira vez, estava sendo sincera. Mas a mentira veio a seguir — Eu só não quero… esperar.
— Você está mentindo — acusou, franzindo o cenho ao me analisar.
— E você está me atrapalhando.
Como uma forma de silenciá-lo, voltei a beijar seus lábios.
Edward protestou no início, mas logo desistiu quando minhas unhas deslizaram pelo seu peitoral definido e escorreguei para o carpete, ficando de joelhos enquanto agarrava na barra de sua calça e a descia para liberar o pau pulsante até envolvê-lo em minha mão, movimentando-a pelo eixo antes de recebê-lo em minha boca.
Eu não poderia mentir quando se tratava de meu desejo por aquele homem, embora tivesse minhas próprias questões a tratar, esperava ter apenas uma noite boa que fosse no meio de tanta escuridão que sufocava meu peito. Pude empurrar tão fundo aquelas sombras ao ponto de não sentir mais, nem temê-las.
A cada impulso de seus quadris para a frente enquanto ele fodia minha boca, a cada gemido rouco e sensual de Edward ecoando pela sala silenciosa, sentia que estava mais longe de toda aquela realidade onde não tínhamos paz. Enquanto éramos apenas aquele casal, excitado e sem fôlego, não havia nada que pudesse nos refrear.
Eu estava andando em terreno perigoso e sabia disso.
Usar o sexo para esconder tudo o que me aflingia era o que de mais imprudente eu poderia fazer por mim mesma, ainda mais quando envolvia Edward nessa maneira de distração. Mas, isso era algo que pretendia resolver depois.
Naquele instante, tudo o que importava era a sensação de seu pau se enterrando fundo em mim quando ergui meus quadris sobre ele. Edward me assistia cavalgar sobre ele com um brilho inerente nos olhos, capaz de iluminar toda minha alma. Eu podia senti-lo empurrar contra minha entrada encharcada, seguindo meu ritmo para o impacto de nossos corpos na explosão de prazer.
Atirei a cabeça para trás, gemendo alto quando senti meu baixo ventre se apertar. Minhas mãos agarraram o encosto do sofá, aumentando meu impulso para ir e vir mais rápido e, pela forma como Edward cravava os dedos em minha bunda, sabia que ele estava tão perto quanto eu. Com mais algumas estocadas, o orgasmo me atingiu com uma onda de prazer quando apertei ao seu redor, me guiando pela espiral de espasmos e relaxamento enquanto ele continuava a me golpear.
— Eu te amo — ele ofegou contra meu pescoço, beijando o ponto logo abaixo de minha orelha quando voltei a me movimentar. — Amo cada centímetro do seu corpo perfeito.
Sua mão então percorreu minhas curvas até pairar em volta de meu pescoço com uma pressão leve, afastando o rosto para encarar o meu com certo fascínio. Sua mandíbula cerrou e a veia na testa saltou de um jeito sexy, sabia que ele estava tão perto.
— Amo cada lado sombrio seu que se culpa…
Petrifiquei sobre ele, confusa.
— O que você está dizendo?
— Amo cada parte quebrada de você — ele continuou, como se não me ouvisse enquanto aquela pressão na minha garganta aumentava como seus golpes. — Cada cicatriz dessa alma corrompida e doente, cada caco que restou da antiga Bella…
— Edward, pare — ordenei, recuando ao agarrar seu punho. — Por que está fazendo isso? Por que está dizendo essas coisas!?
Mas ele não afrouxou em nada seu aperto, puxando-me de volta enquanto meu peito reclamava por ar. As lágrimas transbordavam em meus olhos.
— PARE!
Acordei me sentindo em uma sauna.
Meu corpo tremia com o pesadelo e todo o cabelo emoldurando meu rosto contra o travesseiro grudava em minha pele suada, incluindo os lençóis que me cobriam. A realidade de estar naquele quarto escuro e silencioso começou a martelar em minha cabeça enquanto ofegava.
Tudo havia sido um sonho?
Virei o rosto para encarar meu marido deitado de bruços no colchão ao meu lado, sua pele também brilhava de suor na luz pálida da lua atravessando as cortinas quase transparentes. Só então notei que estava nua debaixo dos lençóis e a leve dormência entre minhas pernas sugeria que nem tudo de minha noite fora coisa de minha cabeça, quase suspirei de alívio por isso.
De repente, os grunhidos vindo do quarto ao lado me alertaram, somente quando se tornou um choro baixo foi que puxei os lençóis de cima de meu corpo e deslizei para fora da cama, calçando as pantufas.
— Eu vejo ela — Edward balbuciou, sonolento ao se virar nos lençóis que cobriam apenas seus quadris.
— Pode deixar, eu faço isso — insisti ao vestir o hobby pendurado. — Volte a dormir.
Mas Edward já estava dormindo quando sai.
Acabei na poltrona do quarto de Marie, os pés suspensos em um assento acolchoado enquanto amamentava minha filha no escuro. A leve brisa banhou minha pele com todo o frescor da lavanda do lado de fora quando resolvi abrir a janela.
Ainda estava refletindo no pesadelo quando a bebê pegou no sono outra vez. Fui me lembrando aos poucos da sequência, como Edward e eu subimos para nosso quarto e continuamos a fazer amor ali, como fora carinhoso e sensível de tal forma que implantou o sossego de volta em mim até que aquele maldito pesadelo me acordara.
A devolvi para o berço em seguida e fechei a janela antes de descer para a cozinha. Minha garganta arranhava de tão seca e me sentia praticamente desidratada, mesmo depois de beber dois copos de água. Quando virei o terceiro, praticamente engasguei quando um grito me fez virar num sobressalto até minhas costas baterem contra os armários.
Era estridente e arranhado, como desespero e agonia misturados em apenas uma nota aterradora.
Meus pelos do braço se eriçaram quando arregalei os olhos ao me inclinar para a janela da cozinha, para enxergar através da escuridão do lado de fora, mas não havia nada. Rapidamente, disparei para a frente, espionando os arredores da casa por cada janela que encontrei no caminho até a sala de estar.
Quando estava prestes a pensar que estava delirando, a silhueta fantasmagórica cruzou o caminho do celeiro em direção ao campo de lavanda. A brisa congelante do lado de fora esvoaçava seu vestido e os longos cabelos pretos em todas as direções, mas a figura pálida continuou a disparar, mancando para a propriedade de Rosalie e Emmett, fugindo de alguma coisa.
E, tomada pelo choque, o copo de vidro simplesmente deslizou de minha mão, estilhaçando no chão da sala com um baque estridente quando a figura virou o rosto na direção daquele som.
Mesmo com pouca luz, mesmo com a palidez de giz me empurrando contra qualquer pensamento racional, minha mente deu um estalo ao reconhecer aqueles olhos escuros e as feições delicadas. Foi como se uma erupção crescesse dentro de mim, dando forma ao terror que me dominou no exato momento em que pensei no nome, arrancando-me um grito capaz de ecoar até os campos mais distantes.
Alice.
