Lorde Roxton._repetiu Marguerite sentindo que a cor se esvaia de seu rosto. Suas mãos estremeceram e isso não passou despercebido pelo charmoso homem que a cumprimentava.
Sim… sou eu._afirmou. O cenho franzido em uma expressão confusa._Nós nos conhecemos?
Não._respondeu impetuosa._apenas já ouvi falar sobre a seu respeito._tentou disfarçar o pânico que crescia dentro de seu peito. Não estava preparada para aquele encontro. Todas as informações se encaixavam em sua mente em alta velocidade e tão logo ela percebeu que aquela linda garotinha feliz era na verdade a sua filha.
Espero que tenha escutado coisas boas a meu respeito._brincou Roxton tentando amenizar a tensão que inexplicavelmente se formara.
Marguerite sorriu com um pouco de nervosismo. Era preciso controlar suas emoções, contudo, nem em suas melhores dissimulações seria capaz de evitar que o homem reparasse o quanto estava nervosa.
Você está se sentindo bem?_perguntou ele por fim.
Sim._respondeu em um suspiro._Na verdade não. Acho que estou tendo uma queda de pressão._parecia ser a justificativa mais óbvia para o enfraquecimento de suas pernas e a palidez de seu rosto.
Venha comigo._ estendeu o braço e contornou sua cintura. Aquela impensada intimidade causou efeitos em ambos.
Por um tempo fitaram-se em silêncio, mergulhados na profundeza do olhar do outro. John teve uma vontade louca de beijá-la, mas isso era loucura. Não a conhecia, sequer sabia se era uma mulher comprometida. O longo tempo de celibato estava começando a afetá-lo de forma constrangedora, concluiu ele. Embora nunca antes tivesse sentido falta de uma companhia feminina desde sua viuvez, talvez sua irmã Verônica tivesse razão e ele deveria arranjar uma namorada. "Que pensamento bobo e inoportuno", afastou da mente tais desejos libidinosos por aquela desconhecida e concentrou-se em guiá-la até uma rocha ajudando-a a sentar-se.
Está melhor agora?
Muito obrigada._sorriu em agradecimento.
É perigoso dirigir depois de uma queda de pressão.
Eu estarei melhor em um instante…_tranquilizou-o.
Talvez fosse mais prudente…
Papai! Papai!_Abbie parou subitamente ao notar que o pai não estava sozinho._Quem é ela?_perguntou a menina como se estivesse diante de um ser mágico oriundo dos contos de fadas que adorava ouvir o pai ler para ela.
Essa é a Senhora Krux…
Senhorita._corrigiu Marguerite sentindo os olhos arderem pelas lágrimas que não se permitia derramar. Estava vidrada naquela garotinha. Abbie era definitivamente linda. Marguerite começou instintivamente a esquadrinhar a fisionomia da menina procurando semelhanças e logo as encontrou. Abigail tinha a cor azul de seus olhos, mas o formato encapuzado do pai. Os cabelos encaracolados assemelhavam-se ao dela na forma e volume, entretanto eram no tom castanho de John. A boca e as pequenas covas que se formavam ao sorrir, entretanto, era inegavelmente herança sua. Estava tão absorvida em captar cada detalhe da filha que foi incapaz de notar o pequeno sorriso de satisfação que surgiu nos lábios de Roxton diante da informação de que ela não era casada.
Diga olá a Senhorita Krux, Abbie._sugeriu John.
Olá Senhorita Krux… aconteceu alguma coisa?_Abigail era perspicaz e curiosa.
Olá, Abbie._ as palavras saiam quase dolorosamente. Era tão difícil fingir casualidade quando estava diante do maior milagre de sua vida._Você é linda. É um prazer conhecê-la.
Você também é linda, Srta. Krux._Abigail retribuiu o elogio._ela parece até uma princesa… não acha papai?_a menina desviou o olhar da mulher para o pai.
John tossiu em constrangimento. Ele concordava de forma irrefutável com a filha, porém, há tantos anos não se sentia atraído por uma mulher que quase se engasgou antes de responder.
Você tem razão, Abbie. A Srta Krux é muito bonita._seus olhos transbordavam encantamento._Quem sabe a srta. Krux queira nos acompanhar ao chá das cinco?
É uma excelente ideia, papai!_a menina virou com os olhinhos azuis entusiasmados_Vamos, Srta. Krux? Temos geleia de morango e torradas, além do cheesecake que Mary fez hoje…
Marguerite sorriu. Era quase irrecusável um convite de Abigail. Tinha vontade de abraçá-la e enchê-la de beijos, recuperar todo o tempo que estiveram separadas. Ela mal a conhecia mas seu sentimento maternal pulsava em cada capilar de seu corpo. Não queria separar-se dela. Estava quase pronta para aceitar quando algo lhe ocorreu. Abbie tinha uma mãe, e não era ela, mesmo a biologia e os seus sentimentos dizendo o contrário. Marguerite não sabia se estava preparada para ver seu precioso milagre chamando a outra mulher de mãe, também, no fundo do seu coração, soterrado sobre montanhas de emoções confusas, ela sentia uma pontada de desconforto ao imaginar Lorde Roxton feliz com sua esposa e a linda filha deles. "Que tolice, Marguerite… você não pode estar com ciúmes deste homem. Além de ser absurdo, você não tem o mínimo direito a isto".
Eu adoraria, querida, mas… _teve dificuldade de citar Danielle Roxton como mãe de Abbie_… Lady Roxton pode se incomodar em receber uma visita inesperada para o chá.
Marguerite percebeu o entusiasmo de ambos murchar como um picolé em um dia de verão. Houve um silêncio mórbido e uma áurea de tristeza se instalou no ambiente. Foi a garotinha que finalmente explicou o motivo do entristecimento.
Mamãe morreu quando eu nasci. Sou só eu e o papai… e a minha tia Vê, quando ela não está viajando.
A revelação de que Abigail era órfã a atingiu como um punhal. Mesmo esperando que um dia a menina pudesse a considerar como mãe, doeu em sua alma imaginar o sofrimento que ela e o pai haviam passado e que pelos olhares tristes ainda sofriam. Marguerite queria um lugar na vida da filha, mas, nunca desejaria qualquer mal ao ventre que gentilmente carregou o seu bebê.
Eu sinto muito._disse emocionada._eu… eu não sabia.
Não é culpa sua._tranquilizou-a John._ assim é a vida._disse de forma subjetiva tentando evitar mais detalhes do assunto._Ficaríamos muito contentes se a Srta. nos acompanhar… além disto, não é recomendável dirigir depois de um mal estar.
Eu aceito… com uma condição.
Somos todos ouvidos, não é mesmo, Abbie?_ a menina concordou com a cabeça.
Que ambos passem a me chamar de Marguerite.
Pra mim parece ótimo, contanto que você me chame de John.
Combinado!_Marguerite estendeu a mão e apertou a de Roxton com alegria.
Abigail bateu palmas, animada. Os três seguiram para o SUV preto luxuoso estacionado próximo ao círculo de pedra. John garantiu que algum empregado buscaria o carro de Marguerite o levaria até mansão em seguida, convencendo-a que o mais indicado era ir de carona com eles. Ela pensou em protestar, porém, a ideia de ficar um minuto longe da filha parecia tão difícil que ela decidiu ceder aos seus anseios mais íntimos.
