Tia Vê!!!_Abigail soltou-se da mão do pai e correu de encontro ao abraço da tia que retribuiu o gesto calorosamente.

Estava com saudades de você, querida!

Trouxe presentes?_perguntou Abigail sem rodeios, arrancando gargalhadas da tia.

Abigail?!_repreendeu John, mas com pouca rigidez.

É claro, meu amor. Trouxe delícias da Amazônia._assegurou a tia_você ira adorar.

Não esperava vê-la tão cedo, Verônica._surpreendeu-se o irmão, não podendo evitar que seus olhos buscassem por entre as pessoas a silhueta de Marguerite.

Decepcionado?_questionou a loira com ironia, percebendo que a atenção dele se encontrava longe da conversa.

Claro que não. Apenas surpreso, você não avisou que chegaria hoje, podia tê-la buscado no aeroporto.

Imaginei que estivesse ocupado._fez uma pausa antes de acrescentar_além disso queria que fosse uma chegada inesperada. Esse é o meu estilo._piscou para a sobrinha.

Realmente estive ocupado com o evento na escola e…

E com Marguerite Krux?_ completou Verônica.

John a encarou com espanto.

Eu estava ocupado com reuniões._ disse secamente._ E como você conhece Marguerite?

Aqui não é lugar para termos essa conversa._determinou a irmã._Já está tarde, que tal irmos para casa? Eu estou cansada, 20 horas de viagem, não tenho mais idade para isso.

Precisamos encontrar Marguerite._ manifestou-se Abbie.

Oh, querida, ela me disse que precisava ir embora e deixou um beijinho para você. _mentiu a mulher.

Ela não pôde deixar de notar a expressão decepcionada da menina e olhar incomodado do irmão. Ela o conhecia desde que nasceu e sabia que agora exibia um misto de irritação e preocupação. Era uma reação um pouco desproporcional para se sentir diante de uma desconhecida. Sendo o que for que Marguerite fez, provocou o encantamento dos dois. Engraçado, que mesmo ela, que estava disposta a não ser iludida pela tal escritora, tinha que admitir que sua intuição gritava que Marguerite não era a pessoa terrível que Charlotte descrevera. Algo nos olhos daquela mulher lhe causaram empatia, porém, ela mal a conhecia e de fato escondia alguma coisa, caso contrário não teria saído correndo quando fora confrontada.

Leve Abigail para casa. Vou atrás de Marguerite, ela pode estar precisando de ajuda.

Eu estou sem carro._justificou a loira.

Fique com o meu. Eu vou caminhando, o hotel não fica longe._decidiu ele.

Ora, John! Deixe de bobagem, se ela foi é porque é capaz de resolver qualquer coisa que seja sozinha. Eu sou sua irmã, acabei de chegar de viagem e preciso conversar com você.

Lorde Roxton ponderou as palavras de Verônica. Por certo tinham que conversar, ele queria saber em quais circunstância se deu o encontro entre a irmã e Marguerite e porque ela saiu sem sequer se despedir.

Tudo bem, vamos então.

*

Você não tinha esse direito, Verônica!_ a voz de Lorde Roxton ecoou exasperada pelo amplo escritório da mansão Roxton. Há muito tempo Verônica não via o irmão tão zangado._Você não a conhece para acusá-la…

Preciso lembrá-lo que você também não a conhece._interrompeu ela.

Conheço o suficiente para saber que Marguerite não é a interesseira que você está sugerindo.

John, seja racional!_apelou a irmã_ está parecendo um bobo apaixonado.

Irônico, pois era isso que você me sugeriu ao longo dos anos… que me apaixonasse novamente.

Ainda acho que seu coração merece uma segunda chance, meu irmão._ ela tocou-lhe o antebraço_Mas, Marguerite Krux…

… Não é uma de suas amigas nobres? Era isso que ia dizer? Desde quando o dinheiro e os títulos se tornaram tão importantes na sua vida? Lady Verônica Roxton, que sempre prezou pela liberdade e aventura, achava as tradições enfadonhas e tomou o rumo da vida em suas mãos sem se importar com quem ficou a responsabilidade de cuidar do patrimônio da família._acrescentou com sarcasmo.

Está sendo injusto, John. Sabe melhor que ninguém que não me importo com dinheiro e títulos, não é falta disso que faz de Marguerite uma pretendente inadequada._buscou o olhar do homem, e quando o encontrou, ela continuou_Eu me importo com a sua felicidade e com a de Abigail, foi por isso que voltei e é por isso que digo que tenha cautela com esta mulher… ela esconde algo.

E quem lhe deu esta informação?

Charlotte me ligou e disse que…

Ora!_se afastou impaciente_Charlotte é uma mulher rejeitada capaz de qualquer fofoca para manchar a reputação de Marguerite.

Você pode ter razão, mas, talvez fosse mais seguro não entrar de cabeça nessa relação.

Isto está mesmo acontecendo? Você está me dando conselho sobre cautela. É engano meu ou estou falando com mulher que acaba de voltar da selva amazônica? Esqueça, Verônica. Não acreditarei em nada que me disserem sem provas. Enquanto isso, nem você nem ninguém me impedirá de encontrar Marguerite, ela faz bem a mim e a Abigail, não estou disposto a desprezar isto.

Quando estava determinado, Lorde Roxton era o homem mais obstinado que Verônica conhecia. Era inútil argumentar sem provas, então tomou uma decisão: investigar Marguerite Krux por conta própria.

*

O sol mal havia surgido no horizonte quando Marguerite depositou a sua bagagem no porta-malas de seu automóvel. Passara a noite em claro, seu rosto estava inchado pelas lágrimas que derramara e embora quisesse estar longe dali naquele momento, optou por esperar o amanhecer para partir. Não que se importasse com sua própria segurança, mas não era egoísta a ponto de colocar a vida de inocentes em risco por conta de sua instabilidade emocional. Já tinha causado tragédias suficientes e não estava disposta a ser a responsável pela infelicidade de mais ninguém além da dela mesma.

Ao fechar a conta no hotel não lhe passou despercebido a satisfação de Charlotte ao vê-la indo embora. Era melhor para todos que se fosse, exceto para ela mesma. Voltaria a sua vida solitária e vazia. John e Abbie poderiam lamentar sua partida inesperada mas muito rápido se esqueceriam que um dia a conheceram, enquanto as lembranças dos dias que passou com eles lhe serviriam de motivação pelo resto de sua existência. Bateu a porta do bagageiro com força descontando no carro a dor que sentia.

Eu não acredito que você irá embora sem ao menos se despedir.

Marguerite retesou ao reconhecer o som melodioso e envolvente da voz de John. Controlou da maneira que pôde as emoções antes de encará-lo.

John…_suspirou_você acordou cedo._disse a primeira coisa que lhe veio a cabeça sem se preocupar se parecia boba.

Tive dificuldades para dormir, e pelo que posso ver você também._diminuiu a distância entre eles até que sua mão esquerda pudesse acariciar a bochecha macia de Marguerite._O que aconteceu?

Nada demais._mentiu ela_apenas preciso ir…

Tem a ver com o que Verônica lhe disse?_pela forma como Marguerite desviou os olhos para o chão, ele percebeu que este era o cerne da questão_Escute, Marguerite… Verônica não sabe…

Ela tem razão!_disse de uma só vez._Sua irmã quer protegê-los, e está certa. Eu não tenho absolutamente nada a oferecer a você ou a Abigail. Vocês merecem alguém melhor do que eu.

Ele tomou o queixo dela em suas mãos forçando-a a encará-lo.

E eu acho que você merece muito mais do que se permite ter._John percebeu que lágrimas brotaram imediatamente dos olhos dela, então afastou uma mecha de cabelo do seu rosto pálido e triste._Como pode dizer que não tem nada a oferecer quando trouxe luz e cor a minha vida solitária? Eu quero conhecê-la, quero ser importante na sua vida e quero seja importante na minha. Há anos não sinto isso por alguém, não posso e não quero perdê-la…

Há coisas que não sabe sobre mim…

Eu serei imensamente feliz quando estiver disposta a me contar, não a pressionarei… quando estiver pronta eu estarei aqui para guardar seus segredos.

Os dedos frios de Marguerite encontraram a mão quente dele. Um sopro de esperança invadiu as janelas fechadas de seu coração. Seria John capaz de perdoá-la quando lhe contasse a verdade? O sentimento que ele confessou começar a sentir por ela seria o suficiente para aceitar que realmente era? Marguerite não sabia, porém se sentia tentada a arriscar-se, ou então lamentaria perdê-los para sempre.

Jante comigo esta noite._convidou ele_Dê-me uma oportunidade, prometo fazer valer a pena.

Marguerite sabia que sim, e devia isto a ele. Devia-lhe a verdade, não podia fugir como uma covarde. Correspondia a John com mesma intensidade e assim como ele não se sentia assim há anos. Esta noite lhe contaria quem era, arriscaria perder sua admiração e ganhar seu desprezo, entretanto, qual outra saída? Mentir mais uma vez, e agora para si mesma, dizendo que não estava apaixonada? Chega de inverdades, a sua sorte estava lançada.