Agradeço os primeiros comentários. Segue mais um capítulo.


Capítulo 02 – Solidão

Cuddy tentou esquecer-se daquela conversa bizarra e continuar o seu dia, ela teria muitas reuniões e algumas ligações. Na prática não foi tão simples. A ideia de House continuava voltando a sua mente.

'Lisa, controle-se. Pare de ser uma adolescente idiota'. Ela dizia para si mesma.

Ao final do expediente ela voltou para casa, tomou um banho e sentou-se no sofá com seu laptop no colo. Eram assim os seus dias depois do trabalho. Sozinha. Ela sentia um imenso vazio e apelava para a única coisa com a qual se sentia vitoriosa: o trabalho. Ela pegava o laptop e voltava a trabalhar, as vezes até perto da meia noite. Em outras noites ela assistia a alguma comédia romântica e chorava imaginando que nunca viveria aquilo, que aquela vida não era para ela afinal.

Nesse dia ela não conseguiu concentrar-se nem no trabalho e nem no filme, ela pensava. Como seria dormir com House agora, anos depois? O sexo entre eles foi bom, muito bom. Oh não, por que ela estava mentindo para si mesma? O sexo entre eles há anos atrás havia sido o melhor sexo que ela já teve, mas isso foi antes da perna dele, antes dele se tornar uma figura tão misantrópica, então ela não tinha ideia de como ele estava agora. No mais, ela não podia dormir e muito menos pensar em engravidar de um subordinado, ainda mais sendo quem era. Apesar de ser um filho que ela tanto almejava. E de que engravidar sem o uso de um banco de sêmen, sem inseminação in vitro, era um sonho, mas House? Não! Não podia ser. Então ela lembrou-se dos genes dele e... sim, os genes eram muito bons, ela não podia negar. Fisicamente e intelectualmente, mas emocionalmente... péssimos. Ela sorriu com o pensamento. A ideia, que deveria ser repulsiva, era muito mais interessante do que ela gostaria de admitir.

Naquela noite Cuddy teve dificuldades para dormir.


No dia seguinte ela tentou evitá-lo a todo custo, conseguiu, pois House também queria manter distancia de sua chefe por questões estratégicas. Seria bom dar um tempo para os hormônios dela falarem mais alto.

Novamente ela passou o dia pensando sobre o assunto, apesar de evitar. Era impossível. Em poucos dias ela ficaria mais velha e o que ela tinha além da carreira profissional? Todos os dias chegar em casa sozinha? Se ela tivesse um filho seria diferente, ela não estaria mais sozinha.

"Ei". Wilson a encontrou na cafeteria pensativa.

"Ei Wilson. Sente-se". Ela falou simpática.

"Como foi a reunião com o conselho?".

"Foi mais um almoço informal". Ela explicou.

"Você tem estomago para conseguir comer e aguentá-los sem vomitar". Ele falou divertido.

"House te falou sobre a ideia dele para o meu aniversário?". Cuddy especulou, afinal, Wilson sabia de todos os planos do amigo.

"Seu aniversário?". Wilson parecia genuinamente confuso.

"Ele sempre tenta me envergonhar de alguma maneira". Cuddy tentou disfarçar. "Se souber de algo me avise, por favor. Assim terei tempo para me preparar".

"Claro".

"Wilson... Estou em um dilema ético. O que você pensaria de uma supervisora engravidando de um subordinado?".

"Quem fez isso?". Wilson perguntou curioso.

"É uma suposição".

Wilson olhou desconfiado.

"Tudo bem. Uma amiga minha que é diretora de uma empresa está fazendo sexo com um funcionário para engravidar. É um acordo mutuo, mas ninguém sabe. O quanto isso é antiético?".

"Wow! Eu acho que se os dois concordam e se querem a mesma coisa, não deveria ser um problema". Wilson respondeu.

"Mas ele é... um problema. Um funcionário e um ser humano problema, no mais, ninguém sabe. Ela deveria ter comunicado para a empresa, apesar de que eles não estão em um relacionamento?".

"Por qual razão ela decidiu engravidar de um sujeito assim?". Wilson perguntou confuso. "E por que você está a orientando sobre as questões éticas?".

"Bom ponto. Talvez porque muitas mulheres gostem de homens complicados". Ela disfarçou e não respondeu a segunda parte da pergunta dele. "Ou porque ela diz que ele é extremamente sexy e inteligente".

"O mundo é injusto". Wilson falou divertido.

Nesse momento eles foram interrompidos pela chegada de alguns membros do conselho.


Mais tarde naquele dia Wilson bateu na porta de House.

"Ei, vamos tomar uma cerveja?".

"Estou em um caso". House disse.

"Ainda não resolveu?".

"Está complicado e Cameron denunciou o pai por abuso sexual, estamos todos presos aqui agora para esclarecimentos. Quem me obrigou a contratar uma bussola moral ambulante?".

"Ela fez o certo".

"Ela não fez, ela não tem evidencias de nada. Ela só prejudicou minha noite". House estava chateado.

"Engraçado você falar de 'bussola moral'. Hoje Cuddy veio com uma conversa estranha". Wilson disse.

"O que ela disse?". House perguntou curioso.

"Ela estava falando sobre um caso de uma amiga que quer engravidar de um funcionário".

House arregalou os olhos.

"O que exatamente ela disse?".

"Por que todo o interesse? Você não vai usar isso para sacaneá-la no aniversário dela, vai?".

"O quê?".

"Ela me disse que você sempre arruma uma maneira de zombá-la no aniversário dela". Wilson justificou.

"Não, claro que não. Eu só estou curioso".

Wilson olhou desconfiado.

"Ela queria minha opinião sobre o caso da amiga. Queria entender se eu achava que era uma questão ética relevante".

House sorriu satisfeito. Ela realmente estava considerando o assunto.

"O quê?". Wilson perguntou.

"O quê, o quê?". House perguntou disfarçando.

"Você está sorrindo".

"Impressão sua". House disse.

"Não é impressão minha, você sorriu. House, por favor, a mulher trabalha tanto, não merece aguentar suas brincadeiras no aniversário dela. Estou pensando em convidá-la para o teatro, algo assim".

"Ótimo Wilson, faça isso". House disse sorrindo.

"Você está muito esquisito". Wilson falou suspeitando de algo.

"Estou sorrindo. Preferia que eu chorasse?".

Wilson se afastou suspeitando que o amigo estava tramando algo.


No dia seguinte House soube que Wilson convidou Cuddy para assistir a um musical na noite do aniversário dela que seria daqui a duas semanas. Ele sorriu e foi até a sala dela.

"Sexta-feira será o seu primeiro dia fértil, precisamos começar a parte prática com urgência". Ele entrou dizendo sem bater na porta.

"Você precisa começar a praticar as batidas na porta do meu escritório". Ela respondeu.

"Ou você prefere se guardar para ir assistir a um musical chato com Wilson? Você sabe que Wilson vai começar a falar das ex-esposas e vai ficar insuportável, talvez chore no seu ombro em alguma música...".

Cuddy riu.

"Eu já posso te proporcionar suador e inchaço na barriga, muito melhor e mais produtivo".

"Muito romântico também". Cuddy falou sem demonstrar que prestava atenção nele, apesar de que ela prestava. "Mas Wilson poderia me proporcionar isso da mesma maneira".

House riu. "Vou fingir que eu acredito".

"Por quê?".

"Você e Wilson? Isso seria mais sem química do que Anakin e Padme".

Cuddy não entendeu a referência, mas manteve-se firme. "Na sua opinião".

"Na opinião de todos, até na sua".

Cuddy calou-se, pois era verdade. Wilson era mais como um irmão do que qualquer outra coisa.

"Você tem pouco tempo para se decidir". House a alertou. "Essa sexta o seu dia fértil e na próxima um bônus de aniversário".

Nesse momento Cuddy larga o que fazia e olha séria para ele.

"Como você sabe que eu não estou tomando pílulas anticoncepcionais atualmente?". Ela perguntou curiosa.

"Porque você não tem um relacionamento fixo, na verdade você desistiu de tentar depois daquele último que conheceu pela internet. Não toma mais seu café às dez da manhã com a pílula e tão pouco carrega a cartela de comprimidos na sua carteira como fazia anteriormente".

"Você olhou minha carteira?". Cuddy perguntou incrédula.

"Depois de tudo o que eu lhe disse é só isso o que lhe chamou a atenção?". House perguntou sarcástico.

"Digamos que eu me interessasse pela sua proposta. Ou que ao menos tivesse alguma curiosidade, coisa que eu não tenho. Como seria isso?".

House sorriu.

"Não sorria, eu não tenho nenhum interesse, é só... uma duvida". Ela falou e não convenceu.

"Faríamos profissionalmente, mas também sem perder a espontaneidade". House respondeu.

"E como seria isso? Eu não sou uma prostituta. Você contaria para todo o hospital? Se eu engravidasse... Você iria querer assumir a criança?". Cuddy perguntou.

Ela realmente havia pensado nos detalhes.

"Seria algo confidencial, somente nos diria respeito, a mais ninguém. Sobre a criança... Eu nunca quis ser um pai, você teria direito exclusivo".

"Teríamos algo assinado?". Ela perguntou.

"Não há necessidade, lembre-se do que eu falei sobre a espontaneidade".

"Teríamos que estabelecer algumas regras". Ela falou.

'Está ficando interessante'. House pensou.

"Poderíamos negociar algumas premissas". Ele disse. "De ambos os lados".

"Quais seriam as suas?". Cuddy perguntou.

"Só digo depois de ouvir as suas". Ele retrucou.

"House, você sabe que isso é uma suposição, não sabe?".

"Claro que sim". Ele respondeu.

"Ótimo. Eu vou pensar em quais seriam minhas exigências". Ela disse.

"Farei o mesmo". Ele respondeu e saiu.

Era isso, ela estava realmente cogitando o assunto, por mais impossível que parecesse no início. Ele precisava fazer sexo com ela e tirá-la definitivamente da cabeça, faltava pouco para convencê-la.


Chegando em casa Cuddy só queria tomar um banho e dormir, ela estava exausta, mas o telefone tocou.

"Mãe?".

"Lisa, eu estive tentando ligar desde as cinco horas da tarde, até que horário você trabalha?". Era Arlene.

"Eu estive ocupada".

"É por isso que você não tem um marido, e nem uma família".

"Mãe, não agora... Meu emprego é muito importante...".

"Bla... bla... bla...". Arlene a cortou. "Sempre a mesma história".

"Mãe...".

"O fato é que sua prima Wilma irá se casar e haverá uma linda festa judaica na casa de seus tios em Indiana, você terá que ir acompanhada".

Cuddy riu indignada. "Eu nem sei se eu irei...".

"Lisa Cuddy, você irá! É uma reunião familiar importante e você nunca comparece a nenhuma".

"Talvez porque meu trabalho...".

"Não tem nada de trabalho. Você irá e trate de ir acompanhada por um homem, nem que você tenha que fazer como aquela mulher de um filme que assisti que contratou um prostituto". Arlene foi enfática.

"Essa festa será só daqui a dois meses... E eu não irei contratar um prostituto como aconteceu em um filme, isso é um absurdo!".

"Não te diga que não avisei com antecedência, você será a única sozinha no evento, como sempre... E na verdade será daqui a um mês e meio". Arlene falou antes de desligar.

Cuddy respirou fundo e lembrou-se mais uma vez da proposta bizarra de House, no final das contas, a proposta estava cada dia mais atrativa.

Continua...