Capítulo 03 – Um tiro no escuro
E eu sei, mulher, não se vive só de peixe
Nem se volta no passado
As minhas palavras valem pouco
E as juras não te dizem nada
Mas se existe alguém que pode
Resgatar sua fé no mundo, existe nós
Também perdi o meu rumo
Até o meu canto ficou mudo
E eu desconfio que esse mundo já não seja tudo aquilo
Mas não importa, a gente inventa a nossa vida
E a vida é boa com você
Eu quero partilhar, eu quero partilhar
A vida boa com você
Música: Partilhar – Anavitória, Rubel
Era sexta-feira. Cuddy acordou e sorriu ao lembrar-se de que House havia dito que hoje seria o primeiro dia fértil dela. Ele era inacreditável, nunca, nenhum de seus namorados sequer se lembrava da data do início do relacionamento, quando mais de seus dias férteis.
Ela tomou um banho e se vestiu. Por alguma razão inconsciente, ela fez questão de caprichar no visual mais do que normalmente fazia.
O mesmo acontecia com House. Ele acordou mais cedo do que o normal, tomou um banho caprichado, aparou a barba e até penteou os cabelos. A expectativa o deixou com taquicardia como um adolescente prestes a convidar uma garota para o baile de formatura.
Quando Cuddy chegou ao hospital notou flores em sua mesa. Ela estranhou e foi verificar o bilhete junto ao arranjo de rosas de coloração salmão.
Minha casa hoje às oito! Traga seus óvulos. H
Ela sorriu. Seu coração acelerou e sua mente buscava manter a sanidade contestando os impulsos insanos de seu coração.
'Lisa, isso é loucura. Mantenha a compostura e o foco'. Ela falou para si mesma.
Logo House entrou pela recepção do hospital, pelo menos duas horas antes do previsto, Cuddy estranhou e não pode deixar de reparar nele, seu coração acelerou só em imaginar-se nos braços dele essa noite. Seria um dia longo para resistir a provação, ela pensou.
Cuddy estava tomando café e Wilson se aproximou.
"Ei, como vai?".
"Bem e você?". Cuddy respondeu simpática. "House chegou cedo hoje sem razão aparente, já que o paciente dele parece bem. Tem algo acontecendo?".
"Ele está estranho".
"Estranho como?". Cuddy perguntou confusa.
"Ele disse que não viria para o café pois precisava estar em forma para hoje à noite".
Cuddy gelou. "O que tem hoje à noite?".
"Ele disse que tem um encontro quente, mas com certeza é com uma prostituta". Wilson respondeu.
Cuddy sentiu um misto de sensações: frio na barriga e irritação, ela não sabia definir qual sentimento era mais forte.
"Mas... Voltando ao que interessa. Eu soube que haviam flores no seu escritório essa manhã. É por isso que você está vestida assim...". Wilson disse.
Cuddy corou. "Estou vestida normalmente".
"Você sempre está bem vestida, mas especialmente hoje...".
"Não tem nada demais. Eu preciso ir".
Cuddy falou preocupada que Wilson pudesse ligar os pontos entre ela e House, mas o fato é que Wilson nunca desconfiaria disso.
Assim que retornou para sua sala, Cuddy notou uma ligação perdida em seu celular. Era sua irmã, Julia. Ela ligou de volta preocupada.
"Oi Lisa".
"Aconteceu alguma coisa?".
"Não, eu não posso ligar para a minha irmã?".
"Claro que sim, mas eu estranhei...".
"Escuta Lisa, você não quer vir jantar aqui hoje? O amigo de John virá, eu gostaria que o conhecesse".
Julia sempre queria apresentar judeus chatos para ela. Era como se toda a família se unisse para que ela finalmente encontrasse um homem, como se ela não tivesse vida além dos relacionamentos amorosos, como se ela fosse incapaz de encontrar alguém. Isso a irritou demais.
"Julia, obrigada, mas eu não posso".
"Mas Lisa... Ele é um homem excelente. Dono de algumas lojas de roupas, ele é íntegro".
"Eu já tenho um encontro". Cuddy mentiu. Bom, poderia não ser totalmente uma mentira se ela decidisse por esse caminho.
"Ah. Sério?".
"Por que a surpresa? Você acha que eu não tenho capacidade para encontrar um homem que me interesse por mim mesma?".
"Não é isso... É que os últimos namorados que você teve, eram meio...".
"Obrigada Julia, mas eu preciso desligar". Cuddy a interrompeu. "Diga para mamãe não se preocupar com minha vida amorosa".
E ela desligou muito irritada.
"O que te fez chegar tão cedo hoje?". Chase perguntou confuso.
"Mulheres". House respondeu.
"Alguma prostituta te chutou da cama dela?". Foreman provocou.
"Muito engraçado, mister sem graça". House respondeu.
"De fato você está todo... alinhado hoje". Chase disse e Cameron olhou rapidamente.
"Só porque ele aparou a barba e se perfumou não significa nada". Cameron falou.
"Ele não faria isso por uma prostituta". Chase concluiu. "Você tem um encontro hoje?".
"Tudo bem, só porque não temos um paciente não significa que vocês podem discutir sobre minha vida sexual. Vocês podem procurar algo útil para fazer". House orientou. "Na emergência devem haver muitos doentes precisando de um médico".
"E quanto a você? O que você fará?". Foreman perguntou.
"Eu vou me preparar para o sexo mais quente de todos os tempos". House disse debochado e saiu da sala.
"Ele terá um encontro". Chase disse sorrindo.
"Só se for com a prostituta mais cara de Nova Jersey". Foreman concluiu.
"Ele está nos provocando". Cameron disse em negação.
O fato é que House desceu diretamente para a sala de sua chefe e entrou sem bater.
"Gostou das flores?".
Ela estava em uma ligação e pediu desculpas antes de desligar.
"House, você não pode simplesmente invadir minha sala".
Ele sorriu.
"Não sorria! Você não tem nada para sorrir".
"Tudo bem, vamos recomeçar". Ele disse e saiu da sala. Depois deu algumas batidas na porta e entrou.
"Com licença madame, como estão seus hormônios nessa linda manhã de sexta-feira?".
"House!".
"Gostou das flores?".
Ela bufou. Ele estava lindo e perfumado e seu coração só queria dizer SIM para a proposta insana, mas sua mente precisava tomar o controle.
"Nós não faremos... isso!".
Ele sorriu.
"Eu falo sério!".
"Na sua casa ou na minha casa?". House perguntou.
"Isso não vai dar certo e você sabe. Isso nunca iria terminar bem". Cuddy apontou.
"Nem começamos e você já está pensando no fim?". House foi sarcástico.
"House, eu falo sério".
"Eu também". Ele disse e a encarou. O coração de ambos estava acelerado.
"Como seria isso?". Cuddy disse em um momento de fraqueza.
"Como você quiser que seja". House falou em um momento de vulnerabilidade.
"Teria que ser na minha casa, pois na sua... você leva prostitutas".
"Eu troco os lençóis". Ele disse sorrindo e ela permaneceu séria. "Tudo bem, seria na sua casa, sem problema".
"E você estaria expressamente proibido de sair com prostitutas ou com qualquer outra pessoa enquanto isso durar".
"Monogamia?". Ele foi sarcástico, mas ela permaneceu séria. "Eu sempre uso preservativos, só para que você saiba".
"Mesmo assim".
"Com qual frequência faremos... isso? Pois eu não posso ficar na geladeira esperando sua janela de quatro dias férteis no mês. Eu preciso de mais". House disse.
"Você não consegue ficar sem sexo vinte e seis dias no mês?".
"Claro que não! Eu não estou em abstinência de anos...". Ele insinuou.
"Se começarmos assim... Não vamos...".
"Tudo bem, me desculpe! Eu não consigo fazer sexo quatro dias e ficar o resto do mês sem sexo".
"Você não pode usar a sua própria mão?".
"Não".
"Por quê?".
"Minha perna dói".
Cuddy bufou, era como negociar com uma criança.
"Tudo bem, faríamos com regularidade enquanto durar o... processo...".
"Ótimo!". Ele sorriu.
"Outra coisa mais... Você está... limpo? Você e eu não usaríamos... proteção...".
"Mais limpo do que uma sala cirúrgica". House respondeu.
"Você tem certeza?".
"Faço testes regulares e sempre uso preservativos".
"Sempre? Sempre? Mesmo quando você está... bêbado, drogado?".
"Wow... Isso foi sutil".
"Eu digo...". Cuddy tentou explicar.
"Eu estou bem! Fique tranquila. Eu jamais te colocaria em risco".
House imaginava que, devido ao uso de drogas por longos anos, seus espermatozoides já não fossem mais tão ativos e saudáveis. Seria muito difícil ele engravidá-la. Considerando seu abuso com as drogas e o histórico de infertilidade dela, seria diversão garantida sem consequências.
"Outra coisa...". Cuddy continuou. "Isso deverá ser um segredo absoluto, ninguém pode saber. Absolutamente ninguém, isso significa: Nem Wilson. Se eu descobrir que alguém soube, isso será interrompido imediatamente e poderemos ter sérios problemas aqui no hospital".
"Tudo bem".
"Eu falo sério, House".
"Eu sei. O mais provável é que você queira sair se exibindo por aqui porque está me pegando".
Ela riu e ignorou o comentário.
"Mais alguma coisa, madame? Algo mais especifico relacionado ao procedimento da fecundação?". House perguntou e Cuddy corou.
"Não...".
"Eu tenho uma coisa". House disse.
"O quê?". Cuddy perguntou surpresa e desconfiada.
"Que seja divertido enquanto dure. Os bebês feitos com diversão e sexo bom são mais inteligentes, bonitos e sadios".
Cuddy riu alto. "Isso porque você pesquisou todas as fontes duvidosas sobre o tema".
"O útero absorve melhor o esperma quando está em contração por conta de um orgasmo, logo... Diversão é importante para o processo".
Cuddy corou mais uma vez. 'Eu devo estar ficando realmente louca, ou desesperada', ela pensou.
"Então na sua casa hoje às oito?". Ele perguntou ansioso.
"As sete é melhor. Vou preparar algo para jantarmos".
"Ansiosa, eu gosto disso".
Ela balançou a cabeça ainda com as bochechas vermelhas de acanhamento.
"Vista algo agradável". Ele recomendou. "Eu vou para ficar o fim de semana todo, temos que aproveitar os próximos dias férteis".
E ele saiu com um sorriso malicioso.
Cuddy escorou-se na mesa ainda assustada com a decisão que tomou e em como tudo se desenrolou tão rapidamente. Hoje a noite ela teria sexo quente com Gregory House, só de pensar nisso suas parte femininas formigavam e seu coração apertava em preocupação e ansiedade.
Continua...
