Capítulo 10 – O elefante na sala
Pela janela vejo fumaça, vejo pessoas
Na rua os carros, no céu o sol e a chuva
O telefone tocou
Na mente fantasia
Você me ligou naquela tarde vazia
E me valeu o dia
Você me ligou naquela tarde vazia
E me valeu o dia
Música: Tarde Vazia – Ira
Passaram o domingo juntos. Assistindo a filmes, contando piadas, rindo, fazendo sexo, comendo e relaxando. Nenhum dos dois queria que aquele dia terminasse, mas nenhum deles ousaria assumir isso.
Cuddy gostava de tudo nele: O cheiro, a voz, a pele, o gosto, todo o corpo e o intelecto dele eram pura excitação para ela. A única coisa que a incomodava era o Vicodin, mas ela não o viu ingerir nenhum desde que começaram... isso. Cuddy não queria tocar no assunto, pois sabia que não seria uma conversa fácil, então ela estava adiando esse momento.
House não queria pensar a respeito do futuro, por ora ele estava feliz, muito feliz. Se pudesse ele ficaria lá para sempre, só os dois naquela pequena casa no subúrbio de Princeton. Era perfeito!
...
"Você só está falando isso para me convencer". Ela disse.
House queria assistir a um filme sobre um serial killer e Cuddy odiava filmes, esportes e qualquer coisa violenta.
"Não é tão violento". Ele insistia.
"Se for... Eu vou apertar as suas bolas".
Ele riu. "Você não precisa de nenhuma desculpa para pegar nas minhas bolas".
Ela deu um tapa no braço dele.
O filme começou e logo na primeira cena um assassinato.
"Pelo amor de Deus, eu te disse". Cuddy falou enterrando o rosto no pescoço dele.
House riu.
O filme continuou e toda a cena violenta gerava a mesma reação, ela enviava o rosto no pescoço dele para não olhar. Ele estava curtindo essa proximidade, House fez uma nota mental para comprar mais DVDs de filmes violentos.
Em determinada parte do filme House sentiu uma leve fisgada na perna e colocou a mão na coxa machucada. Cuddy percebeu imediatamente.
"Você continua tomando Vicodin desregradamente?".
Ele respirou pesadamente. "As endorfinas funcionam bem, eu tenho reduzido bastante o uso do Vicodin".
"Você... Não pensa em parar definitivamente?".
Era uma conversa que assustava House, ele sabia que isso viria em algum momento.
"Se eu parar, vai doer".
"Existem outros métodos de controle da dor". Ela disse.
"Pra que usar outros métodos que eu não sei se funcionariam?".
"Porque esse pode danificar o seu corpo a longo prazo?".
House bufou e se levantou, já era noite.
"Aonde você vai?". Cuddy perguntou surpresa com a atitude brusca dele.
"Pra casa". Ele respondeu.
"Só porque eu toquei nesse assunto?".
"Só porque você quer mudar quem eu sou".
"Eu não quero mudar quem você é, o Vicodin e nem essa dor te definem".
"Isso quando você me conheceu em Michigan, eu estou diferente agora".
"Não... Você não está diferente. Você é o mesmo. Eu até tinha duvidas sobre isso, mas hoje não tenho mais".
Ele riu e continuou se vestindo.
"Precisamos tocar nesse assunto, isso não deve ser um elefante na sala". Cuddy disse.
"Nós não temos um relacionamento, nós temos sexo, porque você quer mudar algo que está funcionando? Eu estou te dando sexo bom, não estou?".
E ele foi irritado a caminho da porta.
"House... Fique!".
"É melhor não".
Ele não ficou.
Ambos tiveram uma noite péssima. Cuddy arrependida por ter tocado no assunto dessa maneira, House sentindo-se um lixo por depender de medicamentos para conseguir lidar com a dor. Ele sabia que não era bom o suficiente para ela, mas não esperava que esse assunto viesse à tona tão cedo, sobretudo em um acordo de sexo.
No dia seguinte pela manhã Cuddy estava em seu escritório, mas seu humor estava terrível.
"Bom dia". Wilson entrou dizendo.
"Bom dia, Wilson".
"O que você tem?".
"Um monte de trabalho para fazer".
"Você não parece bem".
"Eu estou cansada".
"O sujeito das flores te deu uma canseira esse final de semana, foi?". Wilson perguntou bem humorado.
"Diga o que você veio dizer e saia, por favor".
"Wow, você está mais apaixonada do que eu podia imaginar".
"EU NÃO ESTOU APAIXONADA". Ela falou mais alto do que queria.
"Negando assim com tanta paixão eu realmente acredito". Wilson disse e se arrependeu logo em seguida. "Desculpe, eu não quero te perturbar".
"Ótimo, então imagino que nosso assunto terminou".
"Tudo bem. Você nem vai perguntar sobre o meu final de semana?". Wilson queria puxar assunto para distraí-la.
Ela respirou fundo. "Como foi o seu final de semana, Wilson?".
"Foi fantástico. Eu e House fomos a um evento de boliche...".
E Wilson contou toda a história, Cuddy não ouvia a nada, a cabeça dela estava muito longe. Ela só se atentou na parte:
"Lisa Rupert, a campeã, deu em cima de House...".
"O que você disse?". Cuddy o interrompeu.
"Que Lisa Rupert deu em cima de House?".
Cuddy ficou ruborizada. "O que ela fez?".
"Ela falou que ele era interessante e obviamente queria algo mais".
"E House?". Cuddy perguntou enciumada.
"Ele deve estar muito apaixonado pela Deusa do Ébano porque nem ligou".
"Deusa do Ébano?". Cuddy perguntou confusa.
"É como ele chama a mulher com quem está saindo: Deusa do Ébano".
Um sorriso apareceu no rosto dela e sua mente viajou.
"O quê?".
"O quê, o quê?".
"Cuddy, você sorriu... Por quê?".
"Lembrei-me de algo".
"Você está muito estranha". Wilson falou.
"Falando em House... Você acha que ele está usando menos Vicodin do que o normal?".
"Eu não sei. Ele parece realmente estar usando menos do que o normal". Wilson disse. "Por quê? Alguma coisa aconteceu?".
"Não. Você acha que alguma coisa no mundo faria House parar de usar Vicodin e passar a usar outros métodos de controle da dor?".
Wilson riu. "Só se for alguma droga mais forte".
"Falo sério".
"Sério?".
"Sim".
"Se tem alguém com quem você precisa falar sobre isso é com a única mulher que pode tornar isso possível".
"Quem?". Cuddy perguntou com um misto de ciúme e curiosidade.
"A Deusa do Ébano".
House chegou mais tarde do que o habitual. Ele também tomou mais Vicodin do que o normal, ele só queria fazer aquela dor desaparecer, e não a dor na perna, mas a dor em seu peito.
"Acho que a prostituta o largou". Foreman falou divertido.
"Nunca foi uma prostituta". Chase respondeu.
"Nunca houve ninguém". Cameron disse.
"Vocês três, parem de fofocar e venham trabalhar". House falou arremessando uma ficha de paciente para eles.
"Você está... bem?". Chase criou coragem e perguntou.
"Vocês deveriam focar no paciente, pois ele não está nada bem". House cortou o assunto.
Minutos depois Wilson entrou na sala de Diagnóstico.
"Cuidado, cão bravo!". Chase falou para Wilson ao passar por ele.
"Ei". Wilson tentou puxar assunto.
House bufou.
"Eu nem posso dar um 'oi' para um amigo?". Wilson disse.
"Você quer especular o que eu tenho?".
"Eu? Não!".
"Então diga o que te trouxe aqui".
"Aparentemente a Deusa do Ébano fez algo não tão bom em seu reino nesse final de semana".
House ficou mudo.
"Você não dirá nada?".
"Você mentiu".
"Quando?". Wilson perguntou surpreso.
"Quando você disse que não queria especular".
"Eu sou seu amigo, quero conversar".
"Eu sou um idiota dependente químico, e eu não quero conversar". House respondeu ríspido.
"O que aconteceu esse final de semana? Você assim. Cuddy mal humorada".
Os olhos de House arregalaram. "Cuddy está mal humorada?".
"Eu achei que ela comeria meus testículos hoje cedo".
"Ela não come carne ruim". House respondeu.
"O que foi? A Deusa está te pressionando com relação ao Vicodin?".
"Como eu vou fazer minha dor parar sem o Vicodin?".
"Existem outros métodos".
"Que não funcionam". House falou.
"Você tem que testar, dar tempo a eles...".
"Desintoxicar dói". Ele falou de forma tão frágil que Wilson se comoveu.
"Eu te ajudaria".
"Como?".
"Estando lá para você, já que eu não posso passar isso por você, eu estaria lá por você".
Eles foram interrompidos pela chegada de Cameron.
"House, o paciente piorou".
E eles foram até lá.
A semana passou assim, cada um emburrado em seu mundo. Até que House precisou ir falar com Cuddy sobre uma autorização de exame em seu paciente.
Ele bateu e ela pediu para entrar.
"Preciso que autorize esse teste". Ele entregou os documentos para ela.
"Tudo bem". Ela assinou.
Ambos estavam muito nervosos.
"Obrigado". Ele ia saindo quando ela o chamou de volta.
"House!".
Ele se virou sem dizer nada.
"Como você está?".
"Bem. Eu estava melhor quando estávamos transando".
Ela sorriu com o comentário inapropriado tão típico dele.
"Foi você quem saiu da minha casa e sumiu".
"Foi você quem me tirou da sua casa".
"Eu fiz uma simples pergunta, não queria que você fosse embora".
"Não é uma simples pergunta".
"Eu sei".
Eles trocaram um olhar onde estava nítido que nenhum queria perder o que tinham, mesmo que não soubessem exatamente o que era.
"Eu vou... paciente".
"Tudo bem".
Sábado à tarde Cuddy passou por uma farmácia e viu um teste de gravidez na vitrine. Com tudo o que aconteceu nas últimas duas semanas, ela esqueceu-se completamente do plano de engravidar. 'Não, eu não farei testes a menos que eu tenha sinais claros', ela pensou. No mais, ela nem sabia se, depois dos últimos acontecimentos, eles ainda continuariam com o plano.
Chegando em casa ela foi guardar alguns mantimentos que havia comprado e então se deparou com o resto do bolo de seu aniversário na geladeira. O coração de Cuddy apertou no peito e ela só queria House ali com ela naquele momento.
Em casa, House estava bebendo vodca e assistindo a televisão. Ele só queria dormir e acordar na segunda-feira. De repente o seu telefone tocou, era ela.
O coração de House bateu acelerado, mas... E se fosse algo relacionado ao hospital? Seria o mais provável.
"House!". Ele atendeu.
"Oi, sou eu". Ela falou.
"Eu sei quem é você".
Ela riu tímida. "O que você está fazendo?".
"Estou de boxer bebendo e assistindo a televisão, mas preferia estar fazendo outra coisa".
Ela sorriu. "Como o quê, por exemplo?".
"Você!".
Ela riu alto. "Quer vir aqui?".
"Sim".
Continua...
