Capítulo 15 – Em um segundo tudo muda

Como que eu vou dizer pra ela?
Que eu gosto do seu cheiro
Da cor do seu cabelo
Que ela faz minha pupila dilatar

Eu quero dizer pra ele
Que a rima fez efeito
E agora penso o dia inteiro
Só ele faz minha pupila dilatar

Música: Pupila – Anavitória, Vitor Kley


"Quantos minutos temos que esperar?". House perguntou.

"Alguns testes pedem três minutos, outros cinco minutos e um último oito".

"Então vamos aguardar oito minutos para todos".

"Certo!".

Eles ficaram calados olhando para os testes.

"O que podemos fazer em oito minutos para aproveitar o tempo?". House perguntou.

"Não sei...".

"Muita coisa acontece em oito minutos... Muita gente morre em oito minutos". Ele falou.

"Muita gente se apaixona em oito minutos". Ela disse o encarando para ver a reação dele.

Eles trocaram um olhar, afinal, eles sabiam que aqueles oito minutos podiam mudar suas vidas. House ainda estava reticente quanto à gravidez, não seria possível, seria? Ela tinha um histórico de infertilidade, ele abusou tanto de drogas...

Cuddy só pensava em tudo o que mudaria se o resultado fosse positivo. Eles parariam de ficar juntos? Ela teria uma gravidez, o seu sonho se tornaria realidade, mas haveria o risco do aborto... Sua mente estava girando em velocidade recorde.

"Você está marcando o tempo?". Ele perguntou.

"Sim".

"Quantos minutos faltam?".

"Três".

"Isso quer dizer que alguns resultados já saíram".

"Sim".

"Isso me deixa mais ansioso".

"A mim também".

"Como faremos para ver os testes? Veremos um por vez?".

"Eu pegarei um por vez sem olhar e juntos nós olhamos, tudo bem?".

"Acho que sim".

"Falta só um minuto agora".

"Tudo bem". House estava extremamente nervoso nesse ponto. Ele havia passado por algo similar apenas uma vez com Stacy, quando o teste deu negativo era como se milhões de toneladas saísse de suas costas. Mas dessa vez, com Cuddy, ele não sabia o que esperar.

"House... Se der positivo, nós vamos parar com... isso?...".

House sentiu que estava sendo rejeitado, sentiu-se usado e a cortou.

"Depois falamos sobre isso".

"Tudo bem". Cuddy sentiu que ele não estava preocupado em deixar de vê-la e teve ímpetos de chorar, mas segurou a emoção.

"Vou pegar o primeiro teste". Ela falou.

Cuddy fechou a mão envolvendo o teste e ambos olharam antes de ela abrir a mão.

"Dois riscos. O que significa dois riscos?". House perguntou.

"Positivo".

House ficou mudo.

"O próximo. Ficou azul e azul significa...". Cuddy olhou as instruções na embalagem do produto. "Positivo".

"Oh meu Deus!". House disse.

"O terceiro...".

"Esse não há duvidas já aparece o sinal de mais. Todos deviam ser feitos assim, mais intuitivo". House falou.

"O quarto. Positivo também".

"Deixe-me adivinhar". House disse. "O quinto, o sexto e o sétimo também positivos?".

"Sim". Cuddy disse.

"Ótimo, gastei dinheiro a toa já que todos os testes mostraram a mesma coisa". House falou.

"House... Eu estou grávida!". Cuddy estava lívida.

"Parabéns!". House respondeu com desdém.

"House...". Cuddy não havia entendido.

"Esse era o seu objetivo desde o início, não era?". Ele estava sendo rude.

"O nosso objetivo! Você se ofereceu...".

"É... é... é... Eu me lembro bem". Ele a cortou.

"House, eu não estou entendendo".

"Então agora está tudo resolvido, certo?".

A vontade de Cuddy era gritar para ele que nada estava resolvido, que ela o queria como namorado dela, que ela estava apaixonada, mas ela não fez isso, por orgulho, medo ou qualquer outra razão.

"Eu... Não sei...". Cuddy se limitou a dizer.

"Ótimo".

"House, não vamos falar com ninguém sobre isso, nem entre nós porque eu não sei se eu poderei manter essa gestação...". Ela falou com medo.

"É claro que você vai conseguir manter a gestação".

"Eu não sei... Eu quero, mas eu não sei". Ela tinha lágrimas nos olhos.

"Não era isso o que você queria?". House estava confuso.

"Sim, eu quero isso... muito. Mas... eu estou com medo".

House sentiu tanta vontade de abraçá-la e nunca mais largá-la. E foi isso o que ele fez. Ele a abraçou forte.

"Vai dar tudo certo!". House disse sem jeito, ele não era o tipo de pessoa que consolava alguém.

"Você vai nos deixar...". Cuddy falou em um momento de vulnerabilidade.

"Não, eu não vou". Ele respondeu em um momento de espontaneidade.


Eles deixaram a casa horas depois em direção ao aeroporto. Quando estavam saindo Cali observou o casal.

"Eles são lindos juntos". A jovem disse para sua mãe e sua avó. Depois comentou com House e Cuddy.

"Vocês têm uma energia muito especial juntos".

"Obrigada?". Cuddy disse. Ela também achava isso.

"Quantos anos essa menina tem?". House perguntou para Cuddy.

"Doze".

"Essa aí tem futuro como a próxima Lisa Cuddy da família".

Cuddy sorriu.

"Lisa". Arlene a chamou. "Não o deixe escapar, eu nunca a vi tão apaixonada assim".

"Mamãe você está exagerando porque está louca para que eu me case". Cuddy disse.

"É verdade...". Julia falou. "Nunca a vimos assim, Lisa".

"Ok, eu preciso ir". Cuddy cortou o assunto. Ela nunca se sentiu a vontade para compartilhar os seus sentimentos com sua mãe e irmã, era esquisito.

Eles pegaram o voo para Princeton, ambos estavam mais calados do que o normal, extremamente pensativos e receosos do futuro.

"Os meus parentes gostaram de você". Ela disse.

"Eu acho que alguns me odiaram".

"Impressão sua, se eles tivessem te odiado você teria sido expulso".

"Sério?".

Ela riu. "Sério".

"Isso já aconteceu com algum namorado seu?".

"Como eu tive poucos namorados que levei para conhecê-los, não. Mas aconteceu com uma prima minha".

"Eu queria ter visto isso". House falou bem humorado e ela sorriu.

Ele pegou na mão dela e o resto do caminho para casa eles foram assim, de mãos dadas.

Quando chegaram, eles dividiram um táxi e cada um foi para a sua casa, mas antes House a deixou na casa dela.

"Então... Tchau!". Cuddy disse louca para convidá-lo para passar a noite com ela, mas sem coragem para isso. Talvez parecesse que ela estava grudenta demais.

"Tudo bem... Tchau!". Ele estava decepcionado por não ter sido convidado para entrar.

"Obrigada por tudo!". Cuddy falou.

"Foi um prazer!". Ele respondeu.

Cuddy sentiu-se sozinha como nunca e ao mesmo tempo uma esperança brotava em seu coração, ela tinha uma semente crescendo no seu ventre, uma semente dos dois.

House estava triste e sozinho em casa, sua perna começou a latejar pelo esforço na viagem longa.

'Como eu posso merecer uma mulher como Cuddy se eu nem consigo lidar com minha maldita perna?'. Ele pensou enquanto abria uma garrafa de vodca.

'Como eu posso ser pai de alguém? Que ideia estúpida eu tive'.

A vodca não era o suficiente e ele apelou para a morfina. Ele injetou-se uma pequena dose de morfina para dormir profundamente e não mais sentir ou pensar em nada.


No dia seguinte Cuddy estava no hospital ansiosa, perto das dez horas ela viu House entrando. Ele parecia cansado e ela ficou preocupada. Ela só queria abraçá-lo muito forte e ajudar com todas as dores dele.

"Dr. House, preciso falar com você". Ela o chamou.

Ele foi até a sala dela. "Sim, Dra. Cuddy".

"Como você está?". Ela perguntou trancando a porta.

"Eu estou incrível!".

"Falo sério".

"Eu estou cansado".

"E a sua perna?".

"Eu não estou drogado, se é o que você quer saber".

Ele estava agressivo e ela não sabia a razão.

"House, eu não quis dizer isso".

"Eu sou um drogado, sei que você não se esquece disso".

"Eu ia pedir para você tirar meu sangue para um exame laboratorial". Ela falou muito sentida.

"Já não tivemos sete testes positivos?".

"Eu quero fazer exames complementares". Ela disse. "Mas deixa pra lá, você deve ter coisa mais importante para fazer".

Ele foi até a enfermaria sem responder nada, Cuddy achou que ele tinha ido embora, então ela começou a chorar. Será que os hormônios da gravidez já estavam a deixando mais sensível do que o normal? Quando ele voltou ela tentou disfarçar as lagrimas.

"Ei, eu não queria fazer você chorar...". House disse se desarmando.

"Tudo bem, é melhor você ir".

"Eu vou tirar o seu sangue". Ele mostrou a seringa e os tubos que havia pego.

"Não quero que faça isso se for lhe atrapalhar".

"Por favor, Cuddy!". Ele disse irritado. Ela nunca o atrapalharia, ele é quem a atrapalharia sempre.

Ele se abaixou para colher o sangue dela, Cuddy pode notar que ele estava com bastante dor na perna e sentiu seu coração apertar.

Ao final ele entregou o material colhido para ela e foi para a sua sala.

"Bom dia de trabalho chefa!".

Cuddy colocou um nome fantasia nos tubos com o seu sangue e pediu uma série de exames.

Assim que House saiu do elevador, Wilson apareceu.

"Você em um casamento judaico?".

"Pois é, coisas engraçadas da vida...". House respondeu.

"O que você estava fazendo lá?".

"Eu gosto de passar meus finais de semana em eventos judeus". Ele disse sarcástico.

Wilson ficou olhando para ele.

"Eu preciso ir garoto Jimmy". House só queria ficar sozinho e não falar sobre nada. As coisas ainda estavam bagunçadas em sua mente: Cuddy, sua perna, a dependência química, a gravidez...

"Temos um paciente!". Foreman disse assim que ele entrou.

"Ótimo". House disse, pois assim ele se manteria ocupado.

Quando o expediente terminou Lisa Cuddy estava em sua casa. Ela sentia uma imensa ansiedade. Ela sentia uma imensa falta física dele. Cuddy alisou a sua barriga, seria possível uma gravidez em um mês de tentativas? Depois de todo o tempo e dinheiro que empregou nas melhores clinicas de inseminação sem conseguir êxito?

Cuddy lembrou-se de House e de sua dor crônica, ele devia estar sofrendo muito, ela só queria estar com ele. Então sem pensar ela pegou a chave do carro e saiu apressadamente.

House estava em casa com uma dor excruciante na perna, ele olhou para a caixa onde guardava a morfina e cogitou uma nova aplicação para conseguir dormir e parar de pensar. Mas ele estava hesitante, seu paciente ainda não havia sido diagnosticado, e se o seu time o ligasse a qualquer momento? De repente uma batida na porta chama a sua atenção. Quem poderia ser?

Ele foi até a porta com dificuldade, era ela.

"Cuddy? Alguma coisa aconteceu?". Ele perguntou preocupado.

"Posso entrar?".

Ele deu passagem para ela. Cuddy parecia muito nervosa.

"House... O que há entre nós?".

O coração dele batia acelerado. "Eu te engravidei... Não era o plano?".

"House... Você não percebeu?".

Ele ficou calado.

"Eu... Eu estou apaixonada por você". Ela finalmente se abriu.

Ele estava muito nervoso, era tudo o que ele queria, mas ele não podia.

"Eu não mereço isso".

"Eu penso diferente". Ela falou se aproximando dele.

"Eu não posso... Não assim...".

"Você não sente o mesmo? Todo esse tempo foi só sexo pra você?".

"Eu não posso...". Ele falou baixo.

"Não é uma questão de poder ou não, é uma questão de sentir". Cuddy falou.

"Você não entende...".

"Tudo bem, eu realmente não entendo". Cuddy olhou para ele e House abaixou a cabeça. Ela estava muito sensível e sentiu as primeiras lágrimas surgirem, então ela achou melhor sair de lá.

House não resistiu mais, tão logo ela saiu ele pegou a caixa com a morfina e preparou a seringa. Ele só precisava dormir profundamente e não sentir ou pensar em mais nada.

Continua...