Capítulo 16 – Esperança é para os tolos?
Um dia frio
Um bom lugar pra ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu, sem você, não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide
Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores
Música: Nem um dia - Djavan
No dia seguinte Cuddy estava em sua sala e Wilson entrou.
"Bom dia!".
"Oi Wilson". Cuddy respondeu com a aparência de quem não havia dormido.
"O que você tem? Sua viagem foi ruim?".
"Não, a viagem foi boa. Do que você precisa?". Ela queria cortar logo o assunto.
"Eu só vim ver como você estava...".
Eles foram interrompidos pela chegada de House.
"Eu preciso de sua autorização para um procedimento". Ele entrou sem bater.
O coração dela acelerou quando ele entrou.
"Ei!". Wilson falou para ele.
Cuddy tentou levantar, mas caiu. Os dois homens foram até ela.
"Lisa...".
"Cuddy...".
Ela voltou a si. "O que aconteceu?".
"Você desmaiou". Wilson falou.
"Eu estou com uma virose provavelmente. Hoje pela manhã vomitei três vezes e agora tive uma tontura". Ela disse olhando para House.
"Wow, existe a possibilidade de você estar grávida?". Wilson perguntou e ela corou.
"É apenas uma virose". Ela respondeu rapidamente cortando o assunto.
"Você devia estar em casa descansando". House disse.
"Eu deviria estar aqui trabalhando já que eu sou uma mulher solteira e independente, não tenho quem me sustente então eu não posso me dar a esse luxo". Ela respondeu irritada.
Wilson estranhou. "Cuddy, ele só falou isso pelo seu bem".
"Tudo bem". House respondeu. "Eu volto depois".
E saiu.
"Lisa...".
"Wilson". Ela o interrompeu. "Eu preciso trabalhar".
"Entendi. Eu estou sendo expulso. Você está muito estranha, se quiser conversar me procure...".
"Obrigada". Ela respondeu voltando sua atenção para a pilha de papeis sobre a sua mesa.
"Você tem certeza de que está bem para trabalhar?". Wilson estava preocupado.
"Eu estou bem". Ela se limitou a dizer.
House não voltou para a sua sala, ele subiu para o telhado, ele precisava pensar. House se via como um homem quebrado e agora tinha um filho a caminho, uma mulher incrível que disse estar apaixonada por ele, mas ele não a merecia, ele era um bastardo drogado. Ele decidiu sair do hospital e fazer algo útil.
"Onde está House?". Chase foi perguntar para Wilson.
"Na sala dele?".
"Não, ele não apareceu hoje".
"Ele estava aqui no hospital, eu o vi hoje cedo".
"Que estranho!".
"Ele está estranho, Cuddy está estranha, algo está acontecendo e não sabemos". Wilson disse.
"Eles devem ter brigado, eles vivem brigando".
"Possível". Wilson falou intrigado. "Mas tem algo diferente acontecendo...".
Wilson e o time de House tentaram o encontrar pelo resto do dia sem sucesso. Ao final, Wilson voltou para falar com Cuddy.
"Eu te atrapalho?". Ele perguntou antes de entrar.
"Não Wilson, desculpe por hoje cedo".
"O que está acontecendo Lisa?".
"Wilson, eu não posso falar sobre isso agora, por favor, não me pressione.
"Eu estou preocupado. Você está estranha, House está estranho. Ele sumiu o dia todo".
"Ele sumiu o dia todo?".
"Sim".
"Nós o vimos hoje cedo...".
"Mas ele desapareceu depois".
Cuddy ficou preocupada. Onde estaria o homem que fazia o seu coração bater mais forte?
"Wilson, você precisa encontrá-lo".
Wilson riu. "E onde eu devo procurar?".
Eles foram interrompidos por uma ligação de House no celular de Wilson.
"É ele!". Wilson disse e já atendeu. "Onde você está?".
"Eu preciso falar com você, preciso de um favor".
"Tudo bem, me diga".
"Encontre-me na minha casa em trinta minutos". E desligou.
"O que ele queria?". Cuddy perguntou ansiosa.
"Falar comigo, ele precisa de um favor".
"Que favor?".
"Não sei, vou até a casa dele...".
"Tudo bem, me liga depois para me dizer?".
"Claro".
E Wilson foi. Chegando a casa de House ele já entrou ansioso.
"O que está acontecendo?".
"Eu decidi me desintoxicar". House respondeu com semblante sério.
"O quê?".
"Eu preciso mudar a minha vida agora ou nunca mais".
Wilson estava mudo.
"Descobri um lugar aqui perto que tem um programa interessante e que possibilita um acompanhante durante o processo, você pode ir comigo?".
"Você está fazendo isso pela Deusa do Ébano?".
"Eu estou fazendo isso por mim".
"Wow, você me surpreende".
"Você irá comigo?".
"Quando?".
"Amanhã pela manhã".
"Por quanto tempo?".
"Indeterminado, depende de cada caso".
"Eu tenho que falar com o meu time, com Cuddy...".
"Não. Cuddy não... Fale com o seu time apenas".
"Mas ela é a minha chefa eu não posso simplesmente sumir por alguns dias, tenho responsabilidades, pacientes".
"Deixa pra lá". House respondeu desanimado.
"Não, eu vou dar um jeito. A que horas devo te pegar amanhã?".
"Seis".
"Tão cedo?".
"Sim".
"Tudo bem".
"Ok".
"Ok". Wilson respondeu por osmose e saiu confuso. Ele ligou imediatamente para Cuddy, tão logo entrou no carro.
"Você precisa saber disso... Eu vou te contar pessoalmente". Ele disse já à caminho da casa dela.
Cuddy ficou esperando a chegada de Wilson, pareceu uma eternidade, mas só levou quinze minutos. Assim que ele bateu na porta ela abriu.
"O que ele fez?". Cuddy perguntou preocupada e Wilson contou toda a história.
"Ele resolveu isso assim? Do nada?".
"Acho que não, acredito que a Deusa do Ébano tenha algo a ver com isso".
"Por quê?". Ela perguntou surpresa.
"Ele é outro homem desde que começou esse relacionamento".
"Ele te disse algo?".
"Uma vez ele me disse que ela estava o pressionando por conta do Vicodin, agora ele tomou essa decisão, creio que ele queira ficar sóbrio por conta desse relacionamento. Nunca o vi fazer isso por mais ninguém, deve realmente ser algo importante para ele".
O coração de Cuddy acelerou.
"Wilson, eu irei com House amanhã. Eu ficarei com ele nos próximos dias".
Ele olhou para ela e riu.
"Eu estou falando sério". Cuddy confirmou.
"Cuddy, por quê?". Wilson não estava entendendo absolutamente nada.
"Wilson... Como você ainda não ligou os pontos?".
"Do que você está falando?". Wilson perguntou. Nada fazia sentido... De repente...
"Oh meu Deus! Você é a Deusa do Ébano?".
"Por favor, não comente isso com ninguém, me prometa".
Wilson estava chocado demais para prestar atenção em qualquer coisa.
"Wilson, foco!".
"Lisa... Você é a Deusa do Ébano!".
"Eu sou Lisa Cuddy, não sou deusa de nada...".
"Ele foi até Indiana conhecer a sua família? Vocês se casaram em uma cerimônia judaica?".
"Wilson, não surte".
"Você é a namorada de House?".
"Não somos namorados...". Ela falou triste.
"O que diabos está acontecendo entre vocês?".
"Nós estamos, estávamos... juntos, mas não totalmente juntos".
"O que isso quer dizer?".
"Wilson, não me pergunte mais, por favor. Eu estarei na casa dele amanhã às seis horas".
"Ele vai ficar muito bravo comigo por ter te contato e deixá-la ir no meu lugar".
"Ele vai se conformar".
"E como você fará para se ausentar do hospital?".
"Eu darei um jeito. Só não comente absolutamente nada com ninguém".
"As pessoas vão desconfiar, vocês dois sumidos...".
"Você não desconfiou". Ela disse.
"Eu... eu nunca poderia imaginar vocês dois juntos".
"Pois é, nem os outros".
No dia seguinte Cuddy bateu na porta de House às 5:55 da manhã.
"Você chegou cinco minutos adiantado Wilson, eu ainda preciso terminar de me arrumar". House falou ao abrir a porta e ficou paralisado quando viu quem estava do outro lado.
"Pode terminar de se arrumar, eu espero". Ela disse entrando e sentando-se no sofá.
"O que você está fazendo aqui?".
"Eu serei sua acompanhante na clinica de desintoxicação". Ela respondeu naturalmente.
House arregalou os olhos. "Você está louca?".
"Por que eu estaria?".
"Eu chamei Wilson para ir comigo".
"Eu sei. Mas eu o interceptei".
"Eu...".
"Você irá comigo".
"Eu não quero ir com você".
"Você não tem opção".
"Eu não vou então".
"Ótimo, eu ficarei aqui até que você mude de ideia".
Ele riu. "Você pensa o que? Que eu me desintoxicarei e poderemos viver felizes e apaixonados como em uma das comédias românticas que você gosta?".
"Eu penso que o pai do meu filho merece a minha consideração se ele quer buscar o melhor para a sua vida. E o homem por quem estou apaixonada também".
"Você está enganada. Você pensa que está apaixonada por mim pelo tempo que passamos juntos, mas no fundo você esqueceu-se de quem eu sou de verdade".
"Ótima coisa é que nesses próximos dias verei o pior de você enquanto você se desintoxica".
"E você vai simplesmente largar o hospital a deriva? O seu hospital?".
"Eu posso trabalhar a distancia".
"Você não é a salvadora da pátria, não é tão simples assim, você não pode simplesmente achar que vai mudar quem eu sou".
"Eu não quero mudar quem você é".
"Então você está bem em se relacionar com um aleijado drogado?".
"Você estar tentando se desintoxicar para ter uma vida mais saudável me diz mais sobre você do que as suas palavras, e eu não o vejo como um aleijado".
"Você é insistente quando quer".
"Como você acha que cheguei aonde cheguei?".
Ele riu.
"Você irá se arrepender de me acompanhar". Ele a alertou.
"Talvez não".
"Tudo bem, se é o que você quer... Ver o meu lado negro".
"Você não me assusta. Vamos ou senão você se atrasará no seu primeiro dia".
Ela saiu em direção ao carro e ele foi atrás.
Estavam a caminho em direção a clinica.
"Como você encontrou essa clinica?". Ela perguntou curiosa.
"Eu já havia pesquisado há alguns anos. Como você está?".
"Eu estou bem, vomitei duas vezes quando acordei, não posso chegar perto de café e nem do cheiro de fritura, mas de resto eu estou bem".
"Você deveria fazer um ultrassom".
"Ainda é cedo".
"Um transvaginal".
"Quando voltarmos".
House respirou fundo. Como seria quando voltassem? Na cabeça dele, o processo de desintoxicação a afastaria definitivamente.
"Eu vou falar bobagens para você... Eu ficarei louco sem o Vicodin".
"Eu sei".
Ela parecia estar muito tranquila, mas por dentro ela estava apavorada. Cuddy jamais deixaria sozinho o pai de seu filho, o homem por quem ela estava apaixonada. Ela sabia que House era muito mais do que uma perna danificada e a dependência química.
Quando chegaram Cuddy estacionou o carro e foram admitidos. O lugar parecia mais um hotel do que uma clinica.
"Você está pagando caro por esse lugar". Cuddy disse admirando a arquitetura do prédio.
"O hospital me reembolsará? Caso contrario ficarei sem reserva financeira". Ele perguntou bem humorado.
Cuddy sorriu. "Eu vou ver o que consigo fazer".
Foram levados para um grande quarto que tinha uma porta que dava acesso a um quarto menor. Na porta haviam trancas bastante resistentes.
"Apenas por garantia, já que cada pessoa reage de uma maneira durante o processo de desintoxicação". A enfermeira explicou. "Você estará sendo monitorado e acompanhado constantemente". Ela falou para House. "Temos diversas opções de lazer, você poderá escolher algumas delas e aproveitar sua estadia". Agora ela falou para Cuddy.
Nesse momento o médico entrou, examinou as informações no prontuário de House e conversou com ele para dar início ao processo. As malas de ambos foram recolhidas para analise, tudo era monitorado de perto.
"Vamos iniciar com o MAT para desintoxicação, Naltrexona e Buprenorfina será nossa associação escolhida aqui".
"Você tem que entender que a minha dor é maior do que você imagina e não sei se essas drogas irão suportar".
"Eu não estou desmerecendo a sua dor, mas ela é maior na sua mente do que realmente é. Por essa razão temos ajuda psiquiátrica durante e após a desintoxicação". O médico informou. "Você será acompanhado de perto e a principio o seu quarto ficará totalmente disponível, por isso temos um quarto anexo para a sua acompanhante caso ela queira descansar sem interferências".
"Estou me arrependendo por ter vindo". House disse bem humorado.
O médico riu e também comentou divertido. "Você fez o melhor para você. Agora você não tem como fugir, as janelas têm grades".
Cuddy pegou a mão dele. "Eu estarei com você durante todo o processo".
Continua...
