Capítulo 21 – Um jantar para se lembrar
Família, família
Papai, mamãe, titia
Família, família
Almoça junto todo dia
Nunca perde essa mania
Mas quando a filha quer fugir de casa
Precisa descolar um ganha pão
Filha de família se não casa
Papai, mamãe não dão nenhum tostão
Família ê
Família ah
Família
Família ê
Família ah
Família
Música: Família - Titãs
Quando entraram no restaurante de mãos dadas o casal notou John e Blythe em uma mesa bem localizada, então eles caminharam até lá.
"Lisa Cuddy?". Blythe falou surpresa quando os viu.
"É um prazer vê-los novamente". Ela chegou simpática cumprimentando os sogros.
"Ela é sua chefa. Onde está a sua namorada?". John perguntou. "E porque você não está vestindo uma gravata?".
"Além de ser a chefa dele, eu também sou a namorada". Cuddy explicou enquanto se sentava à mesa ao lado de House.
"Você namora o meu filho?". John perguntou surpreso.
"Sim". Ela respondeu com um sorriso.
Blythe arregalou os olhos e sorriu feliz. "Que ótima escolha Greg, eu sempre gostei de Lisa. Ela é linda e ótima pessoa".
"Eu concordo plenamente". House falou malicioso.
Cuddy corou, mas tentou disfarçar.
"Mas você é a chefa dele, isso não é errado?". John não se conformava.
"Errado em que sentido?". Cuddy perguntou simpática.
"Antiético".
"Não. Nós somos homem e mulher além de sermos profissionais". Ela explicou.
"No exército isso jamais aconteceria". John estava indignado.
"Você é que pensa". House falou enquanto comia os aperitivos que John havia pedido.
"O quê?". John parecia irritado com o comentário do filho.
"Eu já li alguns livros e também assisti a alguns filmes que relatam histórias reais de relacionamentos entre integrantes das Forças Armadas. Em muitos deles o caso tórrido aconteceu entre subordinado e sua chefia". House explicou.
"Isso não existe. Com certeza são materiais fantasiosos para angariar audiência". John falou nervoso.
"Você realmente pensa assim? Você é muito ingênuo... Desde que o mundo é mundo essas coisas acontecem". House disse se divertindo com a situação.
"Greg, John, não vale a pena seguirmos com esse assunto desagradável". Blythe interveio.
"Você também pensa que quando eu levava aquelas garotas em casa eu ficava estudando?". House provocou o pai relembrando seu tempo de adolescente quando levava algumas garotas para 'estudar' em sua casa.
"Greg!". Blythe falou mais alto e logo mudou de assunto. "Então Lisa, desde quando vocês estão namorando?".
"Estamos juntos... Há quase três meses". Cuddy respondeu.
"Ainda não deu tempo para ela se cansar dele". John resmungou.
"John!". Blythe novamente.
Cuddy podia imaginar o desgaste que era a convivência daquela família há anos atrás, quando todos habitavam o mesmo teto.
"Eu conheço o seu filho há quase vinte anos, eu estou muito feliz com ele". Cuddy falou pegando a mão de House.
Ele corou, mas tentou disfarçar.
"Vou pedir uma costela suína para nós". John decretou. House odiava o fato de que seu pai sempre queria ser a pessoa a fazer as escolhas de todos.
"Cuddy é vegetariana". Ele disse para o seu pai.
"O quê? Por quê?".
"Por razões pessoais". Cuddy disse.
"Você tem alguma doença que a impeça de comer carne?".
"Não. É uma opção minha".
"Eu não entendo. O corpo precisa de proteínas". Ele insistia.
"John, vamos respeitar a opção dela". Blythe novamente tentava contornar a situação.
"Vocês podem pedir a costela suína, eu vou pedir outra coisa". Cuddy falou.
"Eu também não quero costela". House disse, ele jamais se submeteria as caprichos de seu pai.
"Não vai me dizer que você também é um bicha que não come carne?". John perguntou.
"John...". Blythe novamente.
"Não são só homossexuais e mulheres que optam por não ter uma alimentação carnívora, muitos homens heterossexuais, pessoas bissexuais, transexuais, etc. também optam por uma alimentação vegetariana ou vegana". Cuddy respondeu irritada, mas tentando disfarçar.
"Obrigado por explicar". John respondeu com cinismo na voz.
"Por nada...". Cuddy disse de uma forma sexy e imperturbável.
House estava adorando aquela interação. Pela primeira vez em anos ele não estava querendo matar o seu pai, mas se divertindo.
"Eu pedirei a costela suína para nós dois". John informou sua esposa que não contestou.
"A costela daqui é muito bem servida". Cuddy avisou.
"Eu tenho apetite de homem". John disse altivo.
Cuddy pediu salada e uma massa, House pediu um bife bovino e uma massa, John pediu a costela inteira para ele e Blythe, mais uma salada completa e batatas assadas.
Assim que fizeram os pedidos John foi ao banheiro.
"Desculpe o John, as vezes ele não sabe se portar". Blythe falou para Cuddy.
"As vezes?". House perguntou rindo.
"Tudo bem senhora House, eu sei lidar com homens difíceis". Cuddy falou olhando para o namorado.
"Oh querida, me chame de Blythe, por favor".
"John não é difícil, ele é insuportável!". House disse.
"Greg...".
"É verdade mãe. Aliás, você comerá metade da costela suína? Você quase não tem apetite". House perguntou para a mãe.
"Eu nem queria comer costela...".
"Então porque você não disse?". House perguntou.
"Porque John queria". Blythe respondeu.
"Mãe, você precisa começar a se impor. A vida inteira atrás de John, fazendo tudo o que ele quer...". House contestou.
"Greg, não tem problema. Nem todas as mulheres são tão independentes e seguras como Lisa".
"É claro que é um problema...". House estava indignado.
John voltou para a mesa.
"Falavam mal de mim?".
"Claro que sim". House respondeu.
"Não. Lisa estava nos contando algumas coisas sobre o hospital". Blythe mentiu.
"Você não se importa que meu filho chegue para trabalhar perto das dez horas? Você como chefa dele não deveria fazer algo a respeito dessa falta de disciplina?". John perguntou.
House riu alto envergonhando o pai. John sempre foi um homem sério e bem portado, ele nunca conseguiu lidar bem com as atitudes escandalosas e espontâneas do filho.
"Esse é o processo de House... De Greg". Cuddy achava estranho chamá-lo assim, mas haviam Houses demais naquela mesa e ela precisava especificar. "Ele chega às dez horas, mas as vezes vira a noite trabalhando no caso de algum paciente".
"Quando você vai se conformar de que eu sou um gênio e que gênios são excêntricos e não são chatos como os militares?". House perguntou fazendo cara de louco.
"Greg, não hoje...". Blythe pediu.
"Então quando mãe?".
John ficou vermelho de nervoso, mas nesse momento o garçom chegou com os pratos.
Cuddy apertou a mão do namorado para tentar acalmá-lo.
"Quando vocês pensam em se casar?". John perguntou.
"Nós estamos juntos há menos de três meses". Cuddy falou.
"Mas foi você mesma quem disse que se conhecem há anos". John a provocou.
"Você não precisa se justificar Cuddy, isso só diz respeito a nós dois". House falou.
"Vocês querem viver uma vida promiscua?". John não desistiu.
"Acho que ele andou falando com Arlene". House falou de boca cheia.
"Gregory, se porte a mesa". John o criticou.
Cuddy sentiu-se como se tivesse regredido alguns anos e presenciasse um jantar à mesa da casa dos House. Ela conseguia finalmente entender algumas das atitudes rebeldes e não conservadoras de seu namorado. Era realmente tudo uma questão de provocação.
Depois de alguns minutos...
"Eu quero sobremesa. Vou pedir profiteroles, alguém quer?". House falou tão logo acabou de comer o prato principal.
"Eu quero". Cuddy disse acariciando a barriga. Ela fez isso de forma inconsciente algumas vezes durante o jantar e Blythe reparou.
"Ainda nem terminamos o nosso prato, é falta de educação vocês pedirem a sobremesa". John contestou.
"Os deixe em paz". Blythe disse para o marido que a olhou feio. "Deixe que eles peçam a sobremesa, eu já estou satisfeita".
John ainda estava devorando a costela. Ele não aguentava mais, mas não se daria por vencido jamais, ele tinha que provar que conseguiria comer tudo. E House percebeu o sofrimento do homem e estava se divertindo com a situação.
"Você deixou cair um pouco de carne". House apontou para a mesa. "Não desperdice". Ele dizia imitando o seu pai no passado.
John o olhou furioso, mas calou-se.
House pediu café junto com a sobremesa, quando chegou Cuddy ficou muito enjoada com o cheiro do café e se retirou rapidamente para o banheiro. Blythe a seguiu.
Quando Blythe entrou no banheiro Cuddy estava molhando sua nuca com a água da pia.
"Você está grávida há quanto tempo?".
"O quê?". Cuddy perguntou surpresa.
"Há quanto tempo você está grávida?". Blythe repetiu simpática.
"Como você? ...".
"Eu tenho meus talentos. Greg deve ter puxado a mim nas habilidades de observação".
"Nove semanas". Cuddy respondeu impressionada. "Foi o café que me denunciou?".
"E as caricias que você fez na barriga".
"Eu fiz?". Cuddy não havia notado, foi algo inconsciente.
"Sim. É... meu neto, certo?".
"Sim".
Blythe teve ímpetos de chorar. "Muito obrigada!".
"Por nada". Cuddy respondeu confusa.
"Eu sempre sonhei com um neto, com uma boa esposa para o meu filho. Ele merece tanto...".
Cuddy não tinha palavras.
"Como Greg está lidando com a gestação? Ele sempre foi contrario a concepção, aos casais que optam por terem filhos".
"Passos de bebê".
"Claro. Você vai conseguir, ele será um pai maravilhoso. Posso te dar um abraço?".
"Claro". Cuddy respondeu surpresa.
Enquanto isso, na mesa do restaurante...
"Você pode parar de comer, ninguém vai te achar menos homem por isso". House falou para o seu pai.
"Eu ainda estou com fome".
House riu. "Então morra de congestão".
"Você e sua chefa? Isso só podia vir de você que nunca respeitou hierarquia".
"Eu e minha chefa gostosa".
John corou. "Mais respeito com o seu pai".
"Como se você não reparasse em mulheres, você fala como se fosse um santo".
"Eu tenho educação e respeito".
"Ah... babaquice!".
"Como ela pode estar com você? Na verdade, ela tem jeito de ser um tanto... aberta demais".
"Fale outra vez uma vírgula de Cuddy e eu te arrebento". House o ameaçou.
Nesse momento dois garçons se aproximaram.
"Por favor senhores, mantenham o tom de voz baixo".
John estava indignado com o fato de seu filho, o rebelde sem causa que não gostava de disciplina, ter chegado a se tornar um médico renomado, que tinha flexibilidade suficiente em sua profissão para escolher a hora de começar o seu expediente e ainda por cima namorar a sexy reitora de medicina do hospital. O sujeito ainda tinha coragem de aparecer em um restaurante três estrelas Michelin sem vestir uma gravata, rir alto e falar de boca cheia.
"Sua perna, como está?". John perguntou tentando conter-se.
"Bem". House foi monossilábico.
"Você continua se entupindo de remédios?".
Antes de House responder as mulheres retornaram do banheiro, Cuddy estava com um semblante estranho que House percebeu imediatamente.
"Tudo bem?". Ele perguntou discreto.
"Você não me disse que sua mãe tinha um dom". Ela também respondeu baixo.
"Um dom?".
"Da observação".
House estava confuso, mas Cuddy fez um gesto indicando a barriga e ele entendeu.
Eles terminaram suas sobremesas quase completamente calados, John estava sofrendo, mas não desistia de terminar de comer a costela.
"Mãe, eu preciso ir, tenho um paciente e logo os exames ficarão prontos". House avisou. "Você vai continuar insistindo nessa costela?". Ele perguntou para o pai.
"Eu vou terminar de comer tudo". John era teimoso.
"Ótimo, nós precisamos ir". House falou já se levantando. "É uma pena não poder ficar para vê-lo passar mal".
"Filho, foi ótimo te ver. Espero te encontrar em breve e não quando o bebê tiver dezoito anos". Blythe falou rindo e John achou que era uma piada interna.
House arregalou os olhos.
"Pode deixar que eu não falarei nada para ele". Ela disse baixo. "Parabéns!".
House balançou a cabeça sem saber o que dizer.
"Lisa, eu estou muito feliz por vocês dois, por... tudo! Obrigada!".
"Eu também estou feliz, não precisa me agradecer senhora House... desculpe... Blythe".
E eles foram embora.
"Sua mãe estava falando a verdade quando disse que estava feliz e que gostava de mim?". Cuddy perguntou curiosa quando estavam dentro do carro.
House sorriu. "Sim, fique tranquila, ela te ama".
"Que bom que pelo menos ela me ama". Cuddy falou sarcástica.
House sorriu. Ele também amava aquela mulher, de todo o seu coração.
Continua...
