Capítulo 30 – Fantasmas

And I must be an acrobat
To talk like this
And act like that
And you can dream
So dream out loud
And you can find
Your own way out
You can build
And I can will
And you can call
I can't wait until
You can stash
And you can seize
In dreams begin
Responsibilities
And I can love
And I can love
And I know that the tide is turning 'round
So don't let the bastards grind you down

Música: Acrobat – U2


Cuddy estava radiante desde a noite anterior, House finalmente tinha tido uma interação real com a filha deles, isso encheu o coração dela de esperança.

Cuddy acordou mais cedo e ele ainda dormia, ela não o acordou, apenas o beijou suavemente antes de sair para o hospital, mas deixou um bilhete.

Bom dia! Deixei um sanduiche pronto em cima da mesa da cozinha. Ah, ligue para a sua mãe. Beijos! C

House sorriu quando leu o bilhete, mas ignorou totalmente a instrução para que ele ligasse para Blythe.

Quando ele chegou ao hospital Wilson veio rápido.

"Quer dizer que agora você será o fornecedor?".

"O quê?". House não estava entendendo nada.

"Você será pai de menina, logo... Você será o fornecedor".

House olhou para o escritório de Cuddy com os olhos vermelhos de ira e partiu para lá.

"Cuddy, você contou para Wilson?".

"House, eu adoraria se você batesse antes de entrar, pois eu estou ocupada". Ela apontou para o telefone. "Eu estou aguardando para entrar em uma conferencia".

"Então tranque a sua sala na próxima vez. Agora, me responda, você contou para Wilson?".

"Sim, não só para Wilson, eu contei para algumas pessoas".

"Por quê? Você não disse que não devíamos fazer nada sem o consentimento do outro?".

"Estamos quites agora". Ela disse sorrindo.

"Você... Você é uma mulher maligna".

Ela deu uma risada alta e pediu para ele sair, pois a conferencia iria iniciar.

"Então fornecedor?". Wilson continuou a provocação.

"Vá se foder Wilson". House falou irritado e saiu.

Wilson sorriu. Isso seria divertido.

Quando House chegou a sua sala notou um enorme banner:

Eu sou a menina do papai, e logo um menino mal virá atrás de mim.

House não disse nada, arrancou o banner e rasgou com raiva antes de arremessar no lixo.

"Alguém mais tem alguma piada machista sobre a minha filha que ainda nem nasceu?".

Todos olharam sérios para ele.

"Ele tem razão, vocês são todos um bando de machistas e sexistas". Cameron disse.

"Que bom que finalmente concordamos em algo". House disse para ela.

"Você também é machista e sexista, e agora está sofrendo do próprio veneno". Ela disse fazendo Chase rir.

"Olha, se essa menina puxar a mãe, e espero que puxe, você está ferrado". Chase comentou.

"Vocês todos, vão se foder!". House falou irritado mais uma vez e saiu.

O dia de House não seria fácil...


"Você falou com a sua mãe?". Cuddy perguntou quando estavam em casa após o expediente.

"Não. Mas eu falei com muitos homens hoje e todos me irritaram porque eu serei pai de uma menina. Isso graças a você".

"Não senhor". Ela respondeu rindo. "Foi o seu espermatozoide quem definiu o sexo do bebe".

"Não isso... Graças a sua boca grande de contar para todos eu estou sofrendo bullying".

Ela riu mais alto.

"Aprendi com o mestre!".

House bufou.

"Ligue para a sua mãe". Cuddy ordenou.

"Farei isso depois".

"Agora!". Ela deu o telefone para ele.

"Você acha que manda nas minhas bolas só porque estamos namorando?".

"Não. Eu sei que mando nas suas bolas porque estamos fazendo sexo". Ela disse maliciosa.

"Mulher atrevida".

Ela piscou para ele e deu uma risada sexy. "Vamos House, se você fizer isso logo podemos fazer outra coisa mais interessante logo também...".

"Isso é chantagem".

Ela sorriu.

House digitou o número.

"Mãe".

"Greg? Oh meu Deus, aconteceu alguma coisa? Lisa está bem?".

"Está tudo bem mãe, Lisa está bem".

"Você nunca me liga, o que aconteceu?".

"Eu... Eu estou ligando porque descobrimos o sexo do bebê".

"Oh, meu Deus. Diga logo! Eu mal posso esperar".

"Será uma menina".

"AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH".

House tirou o telefone do ouvido. "Acho que eu fiquei surdo".

Cuddy riu, pois ela ouviu em alto e bom som o grito de Blythe mesmo estando distante do telefone.

"Uma menina! Eu sempre sonhei em ter uma filha e agora terei uma netinha".

"Sim mãe, você poderá comprar todas as coisas cor de rosa do mundo para ela". House falou conformado. Cuddy estava contendo a risada.

"Pois eu vou mesmo, quero enchê-la de presentes".

"Não mãe, a minha filha não será uma menina mimada insuportável". House disse e Cuddy não segurou a risada.

"Você vai ver, nada como uma menininha para derreter o coração de um pai". Blythe disse e House corou.

"Deixe-me falar com Lisa. Parabéns filho!".

"Ok...". Ele passou o telefone para Cuddy. Já havia sido estranho o suficiente ligar para sua mãe e dar essa notícia, era bom se livrar de mais dialogo.

"Lisa, parabéns! Tenho certeza de que será uma linda menina como a mãe".

"Obrigada Blythe, eu estou tão feliz".

"Eu também tenho certeza de que o meu filho será um ótimo pai".

"Eu também tenho certeza disso".

"Eu quero vê-la em breve, vou tentar convencer John a me levar novamente para Princeton. Aliás, porque vocês não vem pra cá? Seria legal que você conhecesse a casa onde Greg passou a adolescência".

"Vou falar com ele sobre isso, agradeço o convite".

House arregalou os olhos e moveu a cabeça em sinal negativo.

Cuddy desligou. "Sua mãe nos convidou para ir a casa dela".

"Nunca!".

"Desde quando você não volta pra lá?".

"Desde que eu sai para a faculdade".

"Você nunca mais voltou pra lá?". Cuddy perguntou chocada.

"E pra que eu voltaria?".

"Os seus pais moram na mesma casa ainda?".

"Sim, eles ainda moram em Wisconsin".

"E quando você estudava em Michigan você estava do lado deles, nem assim você ia vê-los".

"Pra que eu iria Cuddy? Meu sonho sempre foi sair de lá".

Cuddy ficou muda olhando para ele.

"Podemos ir para Wisconsin no próximo réveillon e teremos a mesma festa chata que tivemos na casa da sua irmã esse ano".

"Foi uma festa familiar normal".

"Chata!".

"Me desculpe por isso". Ela respondeu irônica.

"Sua mãe me provocando, os filhos de sua irmã gritando, John só falava de negócios, a única que se salva lá é Cali".

"Sabia que você gostaria dela". Cuddy falou sorrindo. "Mas sua mãe...".

"Eu não quero falar sobre isso". House disse e Cuddy entendeu e parou de pressionar.

Pela segunda noite seguida eles dormiram juntos, mas não fizeram amor. Isso não era usual, mas Cuddy começou a perceber que coisas muita mais profundas estavam vindo à tona para House, e ela ficou tensa com as possibilidades, afinal, House nunca foi bom em lidar com sentimentos.


"Hoje eu tenho uma conversa com o board sobre o planejamento para a minha licença maternidade, Dr. Rubben ficará no meu lugar". Cuddy informou House no dia seguinte enquanto ela se vestia.

House estava notando como a barriga dela havia despontado, mas ficou distraído pelo anuncio.

"Dr. Rubben? O chefe de Endocrinologia?".

"Sim".

"Existe um tratado ou algo assim sobre Endocrinologia e reitoria? Todos os endocrinologistas acabam na reitoria dos hospitais?".

Ela riu. "Dr. Rubben tem experiência com administração e muitos anos em Plainsboro".

"E se ele tomar o seu lugar?". House a provocou.

"Isso não irá acontecer".

"Claro que não, onde eles irão encontrar alguém que assuma todos os problemas, que se mate e resolva tudo por eles enquanto eles ficam na praia curtindo a vida e vivendo com os dividendos?".

"Vou tomar isso como elogio".

"Pois não devia!". House falou.

"Vamos House, se apronte, você irá comigo".

"Eu vou dormir mais um pouco".

"Não, você já está acordado. Tome um banho, se troque e vamos".

"Você realmente acha que é dona das minhas bolas". Ele reclamou e levantou-se.


"Olha só quem chegou cedo, agora além de Cuddy mandar em você, também terá a sua filha mandando em você? Duas mulheres será o seu fim". Wilson o provocou na frente dela.

House forçou um sorriso.

"Isso até que os meninos se interessem pela pequena, porque depois disso ela nem vai mais querer saber de você". Wilson continuou a provocação.

"Wilson, se você falar de minha filha novamente, eu vou arrancar as suas bolas". House disse e caminhou irritado até o elevador.

Cuddy achou fofo e sorriu.

"Você está achando graça nisso?". Wilson perguntou para Cuddy.

"Você o provocou e ele defendeu a honra da filha". Ela disse bem humorada e foi para a sua sala.

Wilson foi atrás de House.

"O que você quer?".

"Calma House, eu estava brincando antes".

"Pois não brinque com isso".

"Tudo bem, eu não pensei que você ficaria tão bravo".

House ficou calado.

"Você irá se casar com Cuddy?".

"O quê?".

"Agora que você será pai da filha dela e que vocês estão juntos...".

"E só porque eu a engravidei significa que devemos nos casar?".

"Não mas...".

"Eu devo recorrer a uma instituição quebrada que é o casamento, sujeitar-me a assinar um papel para atestar o meu comprometimento com ela só porque o meu espermatozoide fecundou um óvulo dela?".

"Hei, calma House, você está... agressivo".

"Eu estou com dor, porra! Eu tenho que fingir que minha perna não dói, eu tenho que fingir que não quero Vicodin a todo o momento e que está tudo bem ter uma filha no meio disso tudo". Ele desabafou e Wilson se assustou.

"Você quer conversar?".

"Pra quê? Eu já pago terapia".

"Estou sugerindo uma conversa como amigo, conversar faz bem".

House apertou o botão do último andar, Wilson percebeu que ele estava indo para o telhado e resolveu se juntar ao amigo.

"Independente do que eu te falar, isso ficará entre nós". House disse assim que chegaram ao telhado.

"Tudo bem". Wilson aceitou.

"Eu estou apavorado. Eu tenho dores fortes há dois dias, todos estão felizes a minha volta e eu estou na miséria e morrendo de medo de ser um pai de merda. É suficiente para você?".

"Sim".

"Ótimo".

"Você falou com Cuddy?".

House riu. "Se eu falar tudo o que eu penso e sinto, Cuddy me largaria".

"Eu não acho isso".

"Você vive em um mundo romantizado de Wilson, é quase o Mundo de Bob". Por isso você se divorciou tantas vezes".

"House, Cuddy é diferente".

"Cuddy está grávida e eu não posso levar merda pra ela o tempo todo".

"Converse com ela, inclua ela em sua vida".

"Deixe-me aqui Wilson, por favor".

Wilson entendeu que ele queria um tempo a sós e saiu. Apesar de sua preocupação ele iria cumprir a sua promessa e não contaria nada para ninguém.


Naquela noite House foi para a sua casa tocar o seu piano e ficar um tempo a sós, aproveitando que Cuddy iria encontrar-se com uma amiga em uma cafeteria.

"Lisa, você está gravidíssima". Liz disse quando chegou.

Liz era a amiga que Cuddy encontrava-se habitualmente no Tênis Clube.

Cuddy sorriu.

"Não me diga que é do sujeito bom de cama?".

Cuddy confirmou com a cabeça.

"Oh meu Deus! Vocês estão juntos então?".

"Sim, somos oficialmente namorados".

"Ah! Que máximo!". Liz estava muito feliz por sua amiga.

"É uma menina". Cuddy falou.

"Oh meu Deus! Oh meu Deus! Posso tocar?".

"Claro".

"E como vocês estão? Você e o homem gostoso?".

"É House, o nome dele".

"Espere! House é aquele bastardo do hospital? Aquele de quem você sempre reclamava?".

Cuddy corou.

"Eu sabia que havia algo mais aí. Ele te deixava muito indignada para ser só raiva".

Cuddy sorriu ainda envergonhada.

"Sua safada!".

"Eu não sou safada".

Elas riram.

"Eu me sinto perdida as vezes. Eu nunca me importei tanto com alguém antes. É perturbador pensar que ele me tem nas mãos". Cuddy desabafou.

"Quem diria que a grande e independente Lisa Cuddy estaria tão apaixonada algum dia".

"Não tem graça".

"Meio que tem sim". Liz falou rindo. "Eu me lembro de inúmeros rapazes aos seus pés, lembro-me de que você não ligava pra nenhum deles".

"Claro que eu me importava".

"Não de verdade".

"Eu até namorei Evan".

"Aham... Você o namorou porque ele era fofo, mas não o amava. Encare isso Lisa, você fez os homens sofrerem e agora está encarando o seu karma".

"Você é má". Cuddy falou assustada.

"Você agora está de quatro por esse tal de House".

"Pior é que eu estou apaixonada por ele desde Michigan". Cuddy admitiu com um sorriso tímido.

"Ele é o cara de Michigan? Greg?".

"Sim. Gregory House".

"Oh meu Deus! Agora o negócio não está só bom, agora está no nível: filme de cinema premiado com o Oscar".

Elas riram.

"Tudo faz sentido agora". Liz continuou.

"Liz, sem analise psicológica".

"Você nunca se apaixonava por ninguém porque você já estava apaixonada. Você devia comparar todos os outros com ele e ninguém era bom o bastante. Faz todo o sentido".

Cuddy corou.

"Você, Lisa Cuddy, é muito mais romântica do que eu podia imaginar. Eu sempre te achei desapegada demais, mas na verdade você era a mais apegada. Nunca desapegou da sua paixão da faculdade".

"Liz...".

"Esse homem deve ser mesmo muito bom".

Lisa riu alto.


A noite quando ela chegou House ainda não havia chegado, ela mandou mensagem para ele.

Oi, eu já estou em casa. Saudades.

Cuddy foi para o banho pensando se deveria ter enviado a mensagem, se ele não se sentiria pressionado, mas foda-se, ela era a namorada dele.

Quando ela saiu do banho levou um susto ao encontrá-lo em sua cama.

"Oi".

"Oi, você me assustou".

"Desculpe".

"Você chegou faz tempo?".

"Cinco minutos".

"Oh...".

Ela notou House pensativo e calado. Isso a estava incomodando demais.

"O que você tem? Fale comigo, por favor!".

House olhou para ela por algum tempo sem dizer nenhuma palavra.

"Eu tenho dor e estou inseguro".

"Oh House... Vamos ver o que podemos fazer com a sua dor, você não precisa sofrer calado". Ela falou comovida enquanto se sentava na cama.

"Um dia eu vou perder essa perna, você sabe. Você me abandonará?".

"Nunca!". Ela disse o abraçando com força. "Nunca te abandonarei por conta de uma perna, e não é certeza que você precisará de amputação um dia".

"Sim, porque eu já precisei e fui estúpido o suficiente para não fazer".

"Vamos pensar em algo juntos, por hora você quer que eu aplique um adesivo de Fenatil?".

"Seria bom".

"Vou fazer isso".

Cuddy se aproximou gentil para aplicar o adesivo. Ela foi tão amorosa e delicada que House sentiu-se tão bem só com a aplicação, era como se sua dor e a ansiedade reduzissem drasticamente.

"Cuddy...".

"Sim?".

"Eu quero falar sobre o meu pai".

Ela estava surpresa, mas não queria demonstrar nenhuma expressão que o afastasse desse momento de abertura tão raro.

"E eu quero ouvir".

Continua...