Capítulo 35 – O mundo é rosa

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você

Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor

Música: O Mundo Anda Tão Complicado - Legião Urbana


No dia seguinte Cuddy liberou sua agenda pela manhã porque ela queria falar com House. Ela fez um café da manhã caprichado e aguardou ele acordar perto das nove horas.

"O que você faz aqui? Está tudo bem?". Ele estranhou, pois ela chegava ao hospital diariamente antes das oito horas da manhã.

"Sim, está tudo bem. Fiz o café. Têm panquecas, ovos mexidos, pães...".

"O que aconteceu?". Ele perguntou com o cabelo bagunçado e com a cara amarfanhada de sono.

"Precisamos conversar".

"Oh, sobre aquilo?".

"Sim, sobre aquilo. Vendo as coisas do seu ponto de vista eu poderia não ter gostado também, mas não houve nada, nenhuma intenção de flerte de minha parte. Eu nunca trairia você, nem agora e nem nunca. Eu tenho uma filha sua no meu ventre, eu esperei anos para ficarmos juntos, como eu poderia flertar com outro homem?".

"Eu sei. Eu confio em você, mas as vezes eu sinto que não te mereço, eu não mereço essa felicidade. Dr. Clerickson parece ser mais merecedor do que eu".

"Eu nunca estive mais feliz em minha vida. Eu não quero mais ninguém, não quero ninguém que não seja você. Não interessa se ele tem o sorriso tão branco que machuque os meus olhos". Cuddy falou bem humorada, mas House não sorriu. "Eu não vou te abandonar se você não souber como ser um pai, porque eu também não sei como ser uma mãe. Vamos aprender juntos. Eu não vou te abandonar se você fizer alguma bobagem, a menos que seja uma bobagem homérica como me agredir ou me trair".

"Eu nunca faria isso".

"Então acho que estamos bem".

"Mas eu posso ter uma recaída com o Vicodin, eventualmente".

"Estaríamos juntos para resolver".

"Você diz isso agora...".

"Não. Eu não me esqueço nenhum dia de que você está em abstinência. Eu evito tomar qualquer remédio mais forte, evito trazer qualquer coisa pra casa".

House não tinha percebido isso, mas então ele sentiu-se menos merecedor ainda.

"Está vendo? Você precisa moldar a sua vida de acordo com as minhas necessidades".

"Eu não me importo, eu faço tudo isso muito feliz por estar com você". Ela se aproximou dele. "Eu te amo e eu também tenho os meus medos".

"Quais?".

"Você me largar por medo. Você fugir de nós... Eu sinto que estou em suas mãos em muitos momentos. Por favor, não fuja de nós!".

"Eu nunca fugiria de você".

"Sim, você faria isso. Você precisa entender que você merece ser feliz. Que você merece estar conosco". Cuddy falou alisando a barriga.

"Você está certa". Ele disse olhando para baixo.

"Eu te amo, seu idiota!".

"Eu também te amo".

"Beije-me?". Ela pediu e ele assim o fez. Foi um beijo que começou suave, mas em pouco tempo havia intensificado.

"Temos tempo para ...?".

"Não agora. A noite!". Ela disse sorrindo.

"Só não... Por favor, mantenha distancia de Clerikson". Ele pediu.

"Eu vou me atentar quando estiver perto de ERICKSON e de qualquer outro homem ou mulher, deixarei claro que eu estou comprometida e muito feliz". Cuddy disse sorrindo. "Se isso trará menos dinheiro para o hospital, aí será outro problema".

"Não queremos dinheiro desses idiotas que só querem entrar nas suas calças".

"Consegui muito dinheiro de idiotas que queriam entrar nas minhas calças, mas eles nunca conseguiram o que queriam comigo". Ela falou maliciosa indo para o quarto o deixando louco com a provocação. "Como você acha que eu criei o seu departamento, afinal?". Ela gritou do quarto.

"Você fala assim e depois vai embora? Volte aqui!". Ele falou e ela riu alto. "Provocadora!".


"Eu sinto que ele é parte de mim. Eu tenho medo dessa dependência emocional". Cuddy desabafou para a sua terapeuta.

"Você é uma mulher forte e independente, Lisa. Você está apaixonada e vivendo o relacionamento mais significativo de sua vida, isso trás insegurança, fragilidade".

"Veja... Eu estou dependente de minha terapeuta também". Cuddy falou causando risadas em ambas as mulheres.

"Você não está dependente de mim, você quer a minha opinião, quer entender o que está acontecendo. É diferente". Flora disse.

"House me disse que se sente vulnerário e que está em minhas mãos, e eu me sinto nas mãos dele. Por razões diferentes estamos sentindo a mesma coisa. Ele acha que eu vou perceber que mereço alguém melhor do que ele, eu acho que ele vai fugir quando concluir que não é digno de ter uma família".

"E no final vocês se amam loucamente e só querem ficar juntos". Flora sorriu.

"O que estamos fazendo? Estamos loucos?". Cuddy perguntou confusa.

"Vocês estão loucos como qualquer ser humano apaixonado".

"Eu nunca me senti assim...".

"Conversem. Mostre pra ele como ele te faz sentir, mostre como ele é importante para você e como você o quer a seu lado".

"Eu faço isso sempre...".

"Mostre também que você confia nele e que não imagina que ele irá fugir ou sucumbir às drogas".

"Mas eu tenho medo dessas possibilidades".

"Mostre que você confia nele como homem, como o seu companheiro e como pai. Mesmo que você tenha dúvidas, mostre que você tem fé nele, que você tem fé em vocês".


House contou os últimos episódios para a sua psiquiatra.

"O que mais te incomodou? A atitude dela com esse médico te lembrar de como era a atitude dela com você antes de vocês dois serem um casal?". Dra. Layla perguntou instigando House.

"Talvez. Se bem que... Eu não era tão bobo como esse médico".

"Você não se sentiu mais tão especial dado ao fato de que ela compartilhou alguma atenção com esse médico?".

"É uma possibilidade".

"Vocês conversaram. Ela disse que iria se atentar nas próximas ocasiões, que ela está acostumada a agir assim a vida inteira por conta de sua posição profissional e que não há nada além disso".

"Então eu entendi tudo errado desde o início?".

"O que você quer dizer?".

"Eu entendi errado quando era comigo? Ela agia assim como ela sempre agiu com todos? Naturalmente? Não havia nada de especial entre nós?".

"Obviamente você não entendeu errado, caso contrário vocês não estariam juntos".

"Então eu entendi errado só agora? Eu estou confuso...".

"As reações humanas não são simples. Acho importante que vocês mantenham o dialogo aberto. Ela disse que vai se atentar com essas atitudes no futuro, você não confia nela?".

"Sim, claro que sim. Cuddy é a mulher mais correta que eu conheço, já que eu não conheci pessoalmente a Madre Teresa".

Dra. Layla riu. "Você sempre tentando desviar o foco da profundidade do tema".

"Esse sou eu!".

"É importante que você confie em Lisa, e se ela disse que não houve nenhuma outra intenção, certamente não houve. Tudo está resolvido, certo?".

"Não... Não está certo. Homens a perseguem, sempre foi e sempre será assim. Ela é uma mulher de sucesso, ela é bonita, ela é inteligente, independente, tem senso de humor quando quer...".

"E o que você sugere? Deixá-la em uma caverna? Presa em uma masmorra?".

"Talvez sim, e retirá-la de lá apenas quando eu quiser me mostrar".

Dra. Layla não disse nada. Continuou o encarando.

"Wilson sugeriu que eu colocasse um anel no dedo dela".

"E o que você pensa sobre isso?".

"Eu nunca quis me casar, eu penso que o casamento é uma instituição retrograda e fadada ao insucesso".

"Então você recusou a ideia do seu amigo?".

"Sim".

"No entanto você trouxe esse assunto a tona".

"Não sei... Foi uma sugestão dele e eu estou compartilhando com você porque estou te contanto sobre todos os acontecimentos". House falou irritado.

"Isso não quer dizer que você considerou a sugestão dele?".

"Claro que não". House respondeu com desdém.

"Veja... O casamento tem o significado que você quiser dar a ele, não necessariamente se resume a um anel". Dra. Layla disse.

"Eu não preciso de um anel e de um pedaço de papel para sentir-me comprometido. Ninguém deveria precisar disso".

"Eu tenho certeza de que Lisa também não precisa".

"Eu também".

"Então não há mais discussão sobre esse tema". Ela disse encerrando o assunto.

"Sem mais discussões".

"No entanto isso ainda te incomoda".

"Você quer me deixar louco?".

Ela ficou séria. "De maneira nenhuma, eu estou tentando ajudá-lo a entender".

"Eu não consigo mais pensar racionalmente. Eu sinto coisas que eu não sei definir".

"Bem vindo à raça humana!". Ela disse sorrindo.


No final de semana seguinte Cuddy quis pintar o quarto da filha e tentou convencer House.

"Eu me nego a pintar uma parede de rosa. Já tem coisas rosas demais nessa casa. Daqui a pouco eu vou sair e deixá-las na casa da Barbie". Ele reclamou.

Ela riu. "Você será o único macho alfa da casa, isso não te deixa feliz?".

"Deveria?".

"Sim". Ela o beijou demoradamente.

"Será uma parede rosa que servirá como uma lousa, ficará lindo! As outras terão papel de parede com o desenho de algumas girafinhas super fofas".

"Eu não vou colocar papel de parede".

"Eu contratei um especialista para aplicar o papel de parede. Mas temos que pintar essa parede rosa antes disso".

"Teremos praticamente um zoológico em casa. Já temos girafas, tartarugas, golfinhos".

"Também temos sapinhos, corujinhas e borboletas". Cuddy respondeu bem humorada.

House arregalou os olhos e balançou a cabeça descrente.

"É fofo!".

"Nossa filha será uma menina mimada que ficará insuportável".

"Não, ela será fofa". Cuddy disse abraçando o namorado.

House olhou para a barriga de Cuddy e algo o motivou a acariciá-la. Ele não sabia o que era exatamente esse impulso, mas ele queria desesperadamente cuidar de suas mulheres.

Cuddy se derreteu no carinho dele. "Eu te amo, meu macho alfa!".

Ele sorriu e assim ela o ganhou. Ele iria pintar a parede.


"Pega a fita métrica pra mim". Cuddy pediu de cima da escada.

"Você pode cair daí". House a alertou pela décima vez.

"Eu não vou cair. Pega logo a fita métrica".

"Eu não sei onde está".

"Veja no meu guarda-roupa. Tem uma caixa vermelha, deve estar lá". Cuddy orientou.

House foi mal humorado até lá, sua perna estava doendo um pouco com o esforço e a fisioterapia do dia anterior.

"Aquele Dr. Newman tão renomado está me deixando com mais dor ao invés de aliviar a minha dor". Ele reclamou alto para Cuddy.

"Você o ouviu, é parte do tratamento".

"E aquela fisioterapeuta está acabando comigo ainda mais".

"Jen é uma ótima profissional". Cuddy respondeu.

'A única boa coisa nela é a bunda grande', House pensou alto.

"O que você disse?". Cuddy ouviu ele murmurar alguma coisa, mas não entendeu o que era.

"Eu? Nada!". Ele despistou.

House olhou na caixa vermelha e não encontrou nada, depois olhou dentro de uma caixa de madeira e arregalou os olhos com o que viu. Ele o pegou e começou a sorrir 'oh, isso é muito bom!', ele pensou.

"Cuddy".

"Você encontrou?".

"Não o que eu procurava, mas encontrei o meu concorrente".

Cuddy olhou para ele sem entender nada.

"Achei o seu consolo".

"O quê?".

"Isso!". House mostrou para ela o que tinha nas mãos. Um vibrador rosa.

Cuddy corou e ficou sem palavras por algum tempo.

"Até o vibrador é cor de rosa?". House a provocou. "Oi concorrente a vagina apertadinha da minha namorada. Isso deve ser considerado traição? Se você ainda fizer sexo com ele eu posso considerar que ele é o seu amante?".

"Só se você considerar a sua mão como a minha concorrente". Ela desceu da escada para pegar o vibrador.

Ela tentou arrancar o objeto das mãos dele, mas ele resistiu.

"House...".

"É uma questão legitima a que temos aqui. Esse objeto pode ser classificado como o seu amante? Se bem que... Eu sou maior e mais largo. E menos rosa...".

Ela riu alto.

"Quer comparar?". House propos.

"Eu não preciso ver para saber, eu tenho a imagem do seu pênis na minha mente. Imagem mental com detalhes". Ela falou maliciosa.

"Ah é?". Ele perguntou malicioso.

"Aham".

"E o Vib? Você também tem a imagem mental dele na sua mente?".

"Quem é Vib?".

"O vibrador, meu concorrente".

"Ele estava na caixa por uma razão, antes ele ficava na minha gaveta do criado mudo".

"Você quer dizer...".

"Que eu não uso o Vib desde... nós...".

"Nunca mais?".

"Não".

"Nem quando brigamos?".

"Você vive aqui em casa, você teria visto se eu tivesse feito uso do vib".

Ele sorriu. Ele não sabia o porquê mas era bom saber disso.

"Pois eu vou usá-lo essa noite, para te divertir".

"Eu não quero isso, eu quero o que você tem. É muito maior e mais largo". Ela disse bem humorada imitando ele. "No mais, eu não posso beijar de língua um vibrador e nem senti-lo me abraçar com os braços fortes".

"Sabe que podíamos fazer uma parada para lanche". House disse malicioso.

"Só se depois do 'lanche' o senhor prometer que vamos terminar de pintar essa parede".

"Promessa é divida!". House disse cruzando os dedos.

Ela sorriu e o levou até a cama deles onde fizeram amor. Sem o vibrador.


Cuddy estava com 35 semanas de gravidez e House começou a colocar música todos os dias para Gwen ouvir. Ele encostava uma caixinha de som na barriga de Cuddy antes dela dormir. Cuddy achava muito fofo e aproveitava para acariciar os cabelos do namorado durante esse processo diário.

"Ela já pode ouvir, então que ouça algo de qualidade e já se acostume com isso. Já chega a chatice que ela ouve todo dia no seu dia a dia no hospital".

"O meu trabalho não é chato". Cuddy contestou bem humorada.

"Se eu pudesse levá-la comigo ela ia perceber que ser médico é legal, pois ela pensa que ser médico é muito entediante levando em consideração a experiência que Gwen está tendo com o seu dia a dia enfadonho de administradora".

"Ah é?". Cuddy deu um tapa leve no braço dele. "Sabe o que ela ouve também? Aqueles realities shows chatos que você me obriga a assistir".

"Alto lá! Você finge que não gosta, mas adora. E outra... Ela já nascerá com um extenso conhecimento sobre a psique humana, esses programas são ricos nisso".

"Você sempre tem argumento pra tudo".

"E você me ama por isso".

"É verdade". Eles começaram a se beijar.

"Sabe outra coisa que ela ouve também?". House interrompeu o beijo.

"Ela ouve tudo, House. Ela está ouvindo isso agora. Ela só não tem discernimento nenhum...".

"Ela nos ouve fazendo sexo. Ela te ouve gritando durante o sexo 'mais House, mais. Oh House, você é um Deus do sexo'".

"Cale-se!". Ela falou sorrindo.

De repente o telefone de Cuddy interrompeu a conversa.

"Lisa Cuddy". Ela atendeu sorrindo.

"Oh, John?". Cuddy perguntou surpresa e mudando o semblante.

House arregalou os olhos.

"Ela está bem?". Cuddy perguntou preocupada.

"Tudo bem, eu vou informar House... Greg... Obrigada".

"O que houve com minha mãe?". House perguntou assim que desligaram.

"Ela está bem".

"Fala Cuddy!".

"Sua mãe sofreu um AVC".

"O quê?".

"Dias atrás. John não tinha o meu telefone e não conseguia falar com você".

"E o hospital?".

"É domingo. Isso aconteceu sexta-feira a noite".

"Ele podia ter deixado recado, eles nos avisariam".

"Ele não pensou nisso, provavelmente".

"Em que hospital ela está agora?".

"Ela está indo para casa".

"Já?".

"Ela está bem, aparentemente não houve nenhuma sequela". Ela falou acariciando as costas do namorado. "Foi só um susto".

Ele estava indignado. "Eu sou médico, eu poderia ter ajudado. Como ele não me avisou?".

"Ele disse que não conseguia falar com você".

"Eu não fico na minha casa mais e... eu o bloqueei no celular".

"House!".

"É.. é.. é... Agora não é hora de sermão. Eu quero falar com o médico dela".

"House, vamos até a casa deles?". Ela propos.

"Até a casa dos meus pais?". Ele franziu a testa.

"Sim".

"Você tem certeza de que pode se afastar do hospital novamente?". Ele tentava arrumar um pretexto para não irem.

"Sim, eu dou um jeito".

"E você está com 35 semanas de gestação. A casa é em Wisconsin".

"Eu sei".

Continua...