Capítulo 40 – A estranha conhecida

Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também

Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também

Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

Música: Depois – Marisa Monte


"Lisa?". Ela ouviu uma voz conhecida, mas não conseguia identificar.

Então ela virou-se e arregalou os olhos quando identificou quem era a dona da voz familiar. Da mesma forma a mulher se surpreendeu quando viu a barriga exuberante que Cuddy ostentava.

"Lisa, wow!".

"Oi Stacy".


House estava em casa sozinho e aproveitou para ficar só de cueca assistindo séries de televisão toscas enquanto bebia cerveja e fumava charuto.

"Lar, doce lar!". Ele disse alto. House já se sentia em casa na casa de Cuddy. Ela inclusive arrumou um espaço na sala para o piano e o trouxe como surpresa em um final de semana no mês anterior. House gostou tanto da surpresa que passou horas tocando naquele dia, quase adormeceu sobre o piano.

"Nada como poder coçar o saco no sofá sem uma mulher para reclamar dessa pratica tão comum e tão primitiva". Ele falou novamente em voz alta e depois arrotou. "Eu amo a liberdade de ser macho!".


De volta ao shopping...

"Lisa, meu Deus! Você está linda e gravidíssima". Stacy falou olhando admirada para a ex-colega.

"Ela deve nascer em duas semanas, no máximo".

"Ela? É uma menina?".

"Sim. Gwenola".

"Que nome lindo. Forte!".

Cuddy sorriu simpática. "Que coincidência você estar aqui no shopping em Princeton".

"Eu estou de passagem. Eu até pensei em ir ao hospital visitar vocês. Quero dar um oi para James e talvez para Greg".

'Você quer dar outra coisa para House, sua vadia', era o que passava pela mente de Cuddy, mas ela disfarçava com um sorriso amistoso. Mas quando ela notou a ausência de aliança na mão de Stacy ela gelou. Se bem que, muitos casais não usam aliança, esse devia ser o caso de Stacy e Mark, ela não se lembrava se Stacy usava aliança no passado ou não.

"Lisa, você está distraída". Stacy a chamou de volta a realidade.

"Desculpe, os hormônios do final da gestação, o cansaço...".

"Claro, você quer se sentar?". Stacy perguntou solicita.

"Não, logo eu irei embora...". Cuddy não conseguia parar de pensar. Obviamente Stacy não sabia que House e ela eram um casal, senão não teria dito que queria visitá-lo no hospital.

"Greg deve estar surtando, hein? Ele deve dar muito trabalho por conta da sua gestação, já que ele é uma criança que quer atenção o tempo todo. Como você está lidando com ele? Ele já adorava te importunar". Stacy perguntou com um sorriso bobo que fez Cuddy corar de irritação e ciúme. Definitivamente ela não sabia sobre eles serem um casal, definitivamente ela precisava deixar isso claro.

"Na verdade ele não está dando quase trabalho nenhum, já que ele é o responsável por esse crescimento anormal em meu abdômen".

Stacy ficou muda e paralisada por alguns segundos, logo depois ela começou a rir.

"Ótima piada, Lisa. Você quase me pegou".

A ira de Cuddy só ficou maior. "Não é uma piada".

"Você quer me dizer que Greg é o pai da sua filha?".

"Exatamente".

"Ele doou o esperma para você?". Stacy ainda não acreditava nessa possibilidade.

"Não. Ele depositou o esperma dele diretamente na fonte". Cuddy fez questão de ser clara.

Stacy ficou muda e abriu ligeiramente a boca.

"Algum problema, Stacy?". Cuddy perguntou com uma pitada de ironia.

"Ele nunca quis ser pai, ele tinha pavor de pensar em crianças...".

"As coisas mudam". Cuddy falou alisando a barriga e tentando disfarçar a irritação.

"Ele está lidando bem com isso então? Com uma gravidez inesperada?".

"Sim. Ele não me engravidou apenas, nós estamos juntos. Somos um casal, moramos juntos. E não foi uma gravidez inesperada. Agora eu preciso ir, estou de pé já há algum tempo e minhas pernas estão inchando". Ela tentou ser educada apesar da situação incomoda. "Foi ótimo vê-la!".

Stacy ficou parada no corredor do shopping com a cara de quem acabara de ver um fantasma.

"Quem era aquela?". Arlene perguntou curiosa, pois ela e Julia haviam avistado a filha conversando com uma mulher.

"A ex-namorada de House e ex-advogada do hospital". Ela tentou responder naturalmente.

"E você ficou conversando com ela?". Arlene estava indignada.

"O que você queria que eu fizesse? Que eu saísse rolando com ela pelo shopping só porque ela namorou com ele antes de mim?".

"Rolar seria possível para você". Arlene respondeu se referindo a barriga da filha.

"Mamãe!". Julia chamou a atenção da mãe.

"Eu não sei, mas você é educada demais. Você precisa aprender a defender o seu homem". Arlene continuou.

"Eu não preciso brigar com todas as ex-namoradas dos meus homens pra isso".

"Mãe, ela tem uma barriga enorme para marcar o território dela". Julia falou.

"Ela tem essa barriga enorme, ele não...".

"O que você está insinuando?". Cuddy perguntou começando a se irritar com a mãe.

"Vocês duas são muito ingênuas. Julia só tem John comendo na mão dela porque ele é praticamente um celibatário doméstico, nem sexo com a esposa ele faz".

"Mamãe!". Julia também começava a se irritar com Arlene.

"Mas House", Arlene continuou ignorando a filha. "Ele não é assim como John. Abra o olho!".

"Ótima coisa pra se dizer para a sua filha grávida, prestes a parir. Que consideração que você tem". Arlene havia conseguido deixá-la tensa e irritada. Toda a emoção que ela estava contendo desde o encontro com Stacy veio a tona e ela iniciou um choro compulsivo.

"Mamãe, olha o que você fez". Julia a recriminou abraçando a irmã enquanto se dirigiam para o estacionamento.

"Eu estou sendo sincera. Eu quero o melhor pra vocês". Arlene tentou se justificar.

"House não sai por aí dormindo com outras mulheres, se é o que você está insinuando. Eu confio nele e vice versa". Cuddy disse entre lágrimas. "Malditos hormônios!".

"Lisa respire! Você conhece mamãe". Julia tentava acalmá-la.

"Ele nem tem um anel no dedo...". Arlene continuava.

"E o que tem isso? Um anel não quer dizer absolutamente nada". Cuddy esbravejou.

"Tudo bem". Arlene calou-se porque percebeu que a filha estava ficando muito nervosa e, ela estava prestes a parir.

Foram para casa praticamente caladas. Chegando elas entraram com Cuddy para ajudá-la com as sacolas.

"Daqui a pouco não haverá mais espaço nessa casa para ninguém respirar". House surgiu reclamando bem humorado e ficou sério quando viu o rosto de Cuddy, era nítido que ela havia chorado.

"Você pode nos ajudar ao invés de reclamar?". Arlene perguntou para ele.

"Perna ruim". Ele respondeu para a sogra. "O que houve?". Ele perguntou preocupado para Cuddy.

"Sua filha não nasceu no shopping". Ela disse tentando disfarçar com um sorriso enquanto se aproximou e deu um selinho no namorado.

Cuddy nunca foi de demonstrar intimidade com os seus namorados em frente a família, mas com ele era diferente, ela simplesmente não podia evitar.

"E você chorou porque nossa filha não nasceu no shopping?". Ele perguntou confuso.

"Não, ela chorou porque a ex-namorada de alguém apareceu e ficaram de conversinha". Arlene se intrometeu.

"O quê?". House perguntou confuso.

Cuddy bufou, ela estava novamente irritada com a sua mãe. "Não é nada demais, eu encontrei Stacy no shopping. Mas eu estou bem, mamãe por outro lado me irritou".

House arregalou os olhos com a informação.

"Stacy no shopping?".

"Não. No puteiro. Claro que foi no shopping". Arlene falou sarcástica.

"Mamãe! Já chega. Vamos embora". Julia disse.

"Não foi nada demais, ela só me cumprimentou pela gravidez e disse que estava de passagem pela cidade. Falamos por dois minutos, não mais do que isso. Vamos preparar o jantar? Eu estou morrendo de fome e tenho uma cria para sustentar". Cuddy tentou mudar completamente de assunto.

"Nós estamos indo, Lisa...".

"Não Julia, eu vou jantar aqui. Estou com fome". Arlene contestou.

"Eu vou ao banheiro e já volto para preparar o jantar". Cuddy anunciou. Ela foi até o banheiro e se olhou no espelho. Jogou água no rosto e tentou se recompor. 'Lisa, você é adulta e mãe do filho dele, e ele está com você. Sua mãe é uma idiota as vezes, nada que você não esteja acostumada. Recomponha-se!'. Ela falou consigo mesma.

House estava tomado por algum sentimento misterioso e novo para ele. Como reagir quando a sua atual namorada se encontra com a sua ex-namorada? Isso já aconteceu antes, quando eles estiveram em Wisconsin, mas era diferente. Stacy sempre foi e sempre seria uma parte importante da vida dele.

Ele ficou mais quieto do que o comum durante o jantar, ele nem respondeu as provocações de Arlene. Cuddy notou a atitude do namorado e ficou preocupada. Será que ele ainda nutria sentimentos por Stacy?

Quando o jantar terminou, Arlene e Julia finalmente foram para casa. O casal foi para o quarto. House tomou um banho e quando saiu do banheiro ele deitou-se na cama junto com Cuddy.

"Você está estranho". Ela disse.

"Eu?".

"Sim, não se faça de desentendido. Eu notei que você ficou assim desde que soube do episódio com Stacy. Devo me preocupar com alguma coisa?".

Ele riu baixo. "Não. Você não deve se preocupar com nada".

"Então...".

Ele ficou calado.

"House, combinamos de tentar ser honestos um com o outro".

Ele respirou fundo. "Eu não posso negar que a presença dela me afeta".

Cuddy gelou e sentiu o seu coração apertar.

"Mas não porque eu a queira. Simplesmente porque muita coisa aconteceu. Longos anos... A dor depois do enfarto da minha perna... Ela partindo... Nossas brigas... Ela voltando... Eu me sentindo um aleijado com uma vida sem sentido e sozinho... Mark... É como trazer esses sentimentos de volta".

"Entendo". Ela tentou não chorar e manter-se firme.

"E ter vocês duas perto, eu não quero expor você a tudo isso. E eu não a quero, de jeito nenhum. Eu quero você!".

Ele foi o mais sincero possível, sem rodeios, até porque ele não conseguia definir exatamente o que sentia. Era uma mistura de memórias, medo, dor. Ele não queria misturar os mundos, o mundo de antes com o novo mundo com Cuddy e sua filha. Era como se ambos fossem incompatíveis.

"Stacy pode te procurar...". Cuddy o alertou.

"Ela te disse isso?". Ele perguntou. Cuddy tentava conter o ciúme e ter uma conversa madura com o namorado.

"Ela disse que pensou em passar no hospital para vê-lo".

"Ela sabe que eu sou o responsável por isso?". Ele perguntou colocando a mão sobre a barriga dela.

"Sim". Cuddy respondeu rapidamente.

"Então eu acho que ela não parecerá no hospital".

"Eu tenho as minhas duvidas". Cuddy respondeu se deitando de costas para a cama.

"Cuddy, eu não a quero". Ele tentou deixar isso claro para a namorada grávida.

Cuddy estava quase chorando novamente. 'Malditos hormônios', ela pensou em silencio. Mas ela não podia mais falar, ela resolveu calar-se. Pelo menos naquela noite.

House a abraçou e a puxou contra o seu peito. E eles ficaram calados, mas ambos permaneceram acordados ainda por algum tempo, cada um com os seus pensamentos.


No dia seguinte...

"Não Wilson... Minha namorada não me deixa sem fazer sexo com ela". House falou alto quando entrou na sala de seu amigo.

Wilson corou, pois estava se despedindo de um paciente.

"Obrigado por isso". Ele disse tão logo o paciente saiu tentando conter o riso.

"Minha namorada praticamente me estuprou. E olha que eu tentei apenas sentar e conversar com ela enquanto assistíamos a um filme, até me ofereci para pintar as unhas dela...".

"Você é um idiota".

"Por me oferecer para pintar as unhas dela?".

Wilson não respondeu nada.

"Wilson... Deixe-me ver as suas mãos". House pediu.

"Eu não pinto as unhas". Ele respondeu irritado.

"Não por isso, eu quero ver se você tem muitos calos na mão de tanto enforcar o ganso".

"Cala a boca!".

"Você é um cara. Eu sou um cara, e como um cara eu sei que não conseguimos ficar muito tempo sem sexo, você precisa se aliviar de alguma forma".

"E por acaso eu não posso estar me desapegando das necessidades carnais?".

House riu alto. "Eu estou falando sério, Wilson".

"Eu também estou falando sério".

"Tudo bem, não diga que eu não te avisei".

"O que você quer dizer com isso?".

"Ah... Tenho algo mais para te dizer". House falou ignorando completamente a pergunta de Wilson. "Cuddy se deparou com Stacy ontem a noite no shopping".

"O quê?". Wilson arregalou os olhos.

"Você sabia que ela estava na cidade?".

"Não!".

"Se ela vier te procurar, diga para ela sumir da minha vida. Eu estou bem com Cuddy".

"Por que você acha que ela viria me procurar?".

"Porque ela está na cidade e vocês são amigos".

"Eu não sou amigo dela, nós somos conhecidos...".

"De qualquer forma".

"Como Cuddy reagiu?".

"Foi estranho. É estranho".

"Entendo".

"Ok, agora vá fazer sexo!".

"Vá se foder!".

"Eu já sou comprometido, mas se você quiser... Pode encontrar outros homens...".

"Saia!". Wilson gritou com o amigo.


A tarde House invadiu o escritório de Cuddy.

"Temos que fazer algo a respeito de Wilson".

"Por quê? Só porque ele não está tendo sexo?". Cuddy já estava acostumada com as loucuras do namorado, mas nunca deixava de achar divertida algumas delas.

"E você acha isso normal?". Ele perguntou chocado.

"Você se surpreenderia...". Cuddy respondeu voltando sua atenção para o monitor.

"Você acha normal alguém estar em uma relação amorosa sem sexo?".

"Não, mas se Wilson está feliz...".

"Ele está possuído pelas ideias loucas e castas daquela tal de Eline". Ele falou indignado.

"É Emily!".

"Que seja! Independente do nome ela é o diabo em pessoa. Ela é a diaba das privações carnais".

"Por que isso te incomoda tanto?". Ela voltou a atenção para o namorado novamente enquanto apoiava os cotovelos na mesa. "Por que te incomoda tanto se Wilson tem ou não relações sexuais? Eu devo ficar com ciúme?". Ela perguntou bem humorada.

"Ele é meu amigo. E tem mais, ele pode explodir".

Ela riu alto. "Explique-se!".

"Esperma acumulado. Isso pode explodir as bolas dele".

Cuddy virou os olhos com a tolice daquele comentário. "Você sabe muito bem que isso não vai acontecer".

"Eu estou pensando em você e nesse hospital. Imagina ficar sem o chefe da Oncologia? Ou, ele pode passar o dia no banheiro esmagando o pescoço do frango para compensar a falta de sexo e os pacientes dele morrerão todos de câncer, e esse hospital será processado, isso fará com que percamos muito, muito dinheiro".

"House, deixe Wilson em paz e cuide da sua vida sexual que, por consequência, envolve a minha vida sexual. Agora eu preciso entrar em um call, saia da sala".

"Você está me expulsando?".

"Exatamente".

"Ótima namorada você é". Ele disse dramático e saiu a caminho do elevador.

House estava pensando em como poderia alertar Wilson sobre a relação fadada ao insucesso que ele estava mantendo com Emily, sua cabeça estava longe, até que...

"Greg?".

Continua...