Capítulo 46 – As razões que o coração desconhece

E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração
E quem me irá dizer
Que não existe razão

Música: Eduardo e Mônica – Legião Urbana


"O que está acontecendo no meu hospital?". Cuddy perguntou indignada quando House entrou em casa naquela noite.

"Boa noite pra você também!". Ele disse dando um selinho na namorada.

"House, não desvie o assunto".

"Posso dar um oi para a minha filha?". Gwen já estava se agitando no carrinho de bebê porque ouviu a voz do pai.

Ele foi em direção a pequena que estava sorrindo.

"Ei minha bonequinha, como foi o seu dia de bebê? Descobriu que você tem cinco dedinhos em cada mão?". Ele pegou a pequena no colo.

Ele balançou a filha em seus braços. Ela adorava isso.

"Eu senti saudades de você pequena Calça de festa".

"Ei, não a chame assim". Cuddy contestou.

"Por quê? Tem a Calça de festa original e a calça de festa Junior".

Cuddy balançou a cabeça.

"House é sério. Diga-me que não é verdade que você encheu uma sala com candidatos as vagas em aberto da sua equipe".

"É mentira".

Ela olhou pra ele desconfiada.

"É mentira que eu enchi uma sala, sobrou espaço...".

"House!".

"Eu estou falando a verdade".

"Você só tem que contratar três funcionários".

"E como isso é fácil? Como eu vou contratar alguém baseado em uma folha de papel que mostra a vida profissional e em uma conversa de quinze minutos?".

"E por conta dessa sua dificuldade você pretende transformar o meu hospital em um palco de um show de rock?".

"Eu pretendo fazer uma avaliação mais detalhada, afinal, todos querem trabalhar com o grande doutor House".

"Eu não vou permitir isso".

"Que bom que você está de licença maternidade então".

Ela riu nervosa. "Eu ainda mando naquele lugar".

"Cuddy, cada semana um será eliminado, até que sobre os melhores para trabalhar com o melhor. É um processo seletivo sério, com fundamentos".

"Você não vai fazer um reality show no hospital".

"Eu já fiz até vídeo com aquele garoto cabeçudo. Aquilo era um reality show".

"Olhe como fala do seu paciente. Aquele garoto estava tendo o tratamento pago, era diferente...".

"Era um reality show estúpido. O meu processo seletivo não terá nada de estúpido. Não é filha? Você não acha que o papai está certo?". A menina sorriu e babou um pouco.

"Está vendo? A minha filha e eu nos entendemos, nós temos aquela conexão especial".

"Cala a boca. Pare de falar dessa conexão especial porque isso quem tem sou eu e ela. Afinal, eu sou a mãe...".

"Eu carreguei ela no meu ventre por nove longos meses... é eu sei toda a história", House interrompeu Cuddy e falou imitando a voz dela. "Mas isso não muda o fato de que nós, pai e filha, somos como um só". Ele falou dramático.

Cuddy riu. "Vocês são como um só?".

"Sim, pode nos chamar de Howen".

Ela riu alto dessa vez, Cuddy não conseguia conter a gargalhada.

"Sua mãe é louca! Vamos trocar essa fralda fedida". House falou e levou a menina para a troca de fralda. Ele estava ficando perito nisso, House sabia como trocar fraldas como ninguém.

"House, eu não terminei de falar com você". Ela foi atrás dele. "Você não pode começar a fazer o que você quer só porque eu não estou lá no hospital".

"Para que você não pense que eu estou fazendo algo nas suas costas, eu faria o mesmo se você estivesse por lá".

Ela bufou.

"Eu sei que você continua sendo a reitora, e que aqueles idiotas fofoqueiros do hospital ligaram correndo para te contar todas as coisas, mas acredite em mim, no final eu terei os três melhores médicos".

"O final será... amanhã!".

Ele respirou fundo enquanto trocava a fralda de Gwen.

"E você vai escolher três deles e mandar o resto embora?". Cuddy queria confirmar com o namorado se ele entendeu realmente que era uma ordem.

"Claro que sim".

Cuddy respirou aliviada.

"Ao final do processo é isso o que eu farei". Ele disse desviando o assunto, afinal, ele pretendia concluir o processo no tempo dele.


"Oh não, aí está o homem que namora a foca". House falou quando viu Wilson.

"Eu acho que você está me confundindo com outra pessoa". Wilson falou sarcástico. "A falta de sono paterno está te deixando louco".

"É você quem está pegando Rita, certo?".

"Como você sabe?". Wilson perguntou baixo.

"Todo o hospital sabe".

"Eu sai com ela duas vezes...".

"Oh Jimmy, você está tão desesperado com o período de seca desde Emily - A casta, que está apelando para mulheres com bigode agora?".

"Rita não tem bigode". Ele respondeu irritado.

"Você está cego então, o apelido de Rita é Foca, você não sabia?".

Wilson arregalou os olhos em choque.

"Até Big Love percebeu os bigodes dela". House falou referindo-se a um dos integrantes do seu processo seletivo.

"Você está mentindo!". Wilson argumentou.

"Olhe por si mesmo". House falou e saiu com um sorriso, ele sabia que desse ponto em diante ele tinha arruinado o relacionamento de Wilson com a enfermeira.

Quando ele passou pela recepção ele teve certeza de que viu Chase. E horas depois ele viu Cameron... loira?

Mais tarde ele entrou na sala de Wilson.

"Ei".

"Ela tem bigodes!". Wilson falou frustrado.

"Eu te disse".

"Oh meu Deus. Como eu não percebi isso antes?".

"Você pode pedir para ela depilar".

"Não... Eu já desmarquei meu encontro com ela".

House riu.

"Eu não vou mais conseguir... Você sabe...".

"Wilson, você é tão preconceituoso. Qual o problema se você está saindo com Frida Kahlo?".

"Cale-se!".

"O que Chase está fazendo aqui no hospital? Aliás... Ele e Cameron?".

"Oh meu Deus! Você viu Chase aqui?".

"E Cameron, mas ela estava loira".

Wilson riu alto. "Chase e Cameron estão trabalhando longe daqui, você está alucinando? Ou é a culpa falando mais alto?".

"Eu vi Chase e Cameron em pessoa, aliás, porque eu veria Cameron loira?".

"Porque a sua consciência estaria colocando o cabelo de Chase nela? Por que será?".

House ficou confuso, não seria possível. Seria?


"Como está o tratamento de controle da dor?". A psiquiatra de House perguntou.

"Eu estou tentando manter a fisioterapia diária, apesar de ser muito chato e doloroso".

"Eu sei, mas é importante. Faz parte do processo".

"Todo mundo me diz isso, 'faz parte do processo, faz parte do processo'". Ele falou imitando vozes.

"Eu sei que não é agradável, mas é a realidade".

"Em alguns dias a dor está pior, eu tento me distrair e uso o Fenatil quando não tenho saída. Gwen me distrai". Ele confessou.

"Como você tem se sentido com a paternidade?".

"É tudo muito intenso: Medo, insegurança. Se algo acontecer com ela eu não sei como irei reagir".

"Isso é a paternidade. Isso é o amor incondicional de que conversamos".

"Eu não sei... Eu olho pra ela e ela é tão pequena e depende de mim e de Cuddy pra tudo. Eu não sei como será quando ela entrar no carro do namorado num sábado a noite".

Dra. Layla riu. "Você está um pouco avançado, hein? Sua filha ainda não completou seis meses e você está pensando nos quinze anos?".

Ele arregalou os olhos. "Ela não vai entrar no carro do namorado aos quinze anos!".

"Desculpe, foi só um exemplo".

"Um exemplo muito ruim. Você poderia ter dito... aos trinta anos".

Dra. Layla riu alto. "Boa sorte com isso!".

"Eu acho que estou vendo coisas...". House confessou.

"Como Gwen e um namorado?".

"Não! Como meus ex-funcionários rondando o hospital com cores de cabelo diferentes".

"O que você quer dizer?". Ela perguntou curiosa e House comentou o assunto.

"Você tem certeza de que não existe possibilidade deles terem ido até o hospital para alguma coisa? Burocracia?".

"Cuddy teria me dito. Ou Wilson...".

"Talvez você tenha visto alguém que se assemelhava a eles".

"Não, eles eram idênticos!".

"Aguarde os próximos dias e me diga se isso acontecer novamente, tudo bem?".


Em casa Gwen estava cada dia mais esperta. Os olhos dela estavam ficando mais claros, mas ainda não era possível dizer a tonalidade exata do azul, só parecia que seriam claros como os olhos do pai. Os cabelos ralos e castanhos, lábios bem formados e bochechas que todos queriam apertar.

Cuddy estava se preparando para voltar ao trabalho, doía em seu peito pensar em abandonar Gwen durante o horário comercial, sim, pois esse era o sentimento dela, ela iria abandonar a filha.

"Olá! O macho dessa casa chegou!". House entrou em casa naquela noite e encontrou Cuddy chorando com Gwen no colo.

"O que aconteceu?". Ele perguntou assustado largando a mochila no sofá.

"Nada. Ainda...".

"O que você quer dizer?".

"Vai acontecer em breve. Eu terei que voltar ao trabalho".

Ele continuou olhando para ela.

"Vou precisar abandonar a minha filha com alguma pessoa estranha".

Gwen estava se agitando nos braços da mãe, pois ouviu a voz de seu pai.

"Ei filha, vem aqui!". Ele a pegou e começou a brincar com a filha que gargalhou para ele.

"Oh meu Deus! Ela está rindo?". Cuddy parou de chorar imediatamente e se voltou para a filha.

"O papai é bom assim, não é Gwenola House?". Era estranho falar o nome completo de sua filha.

Então Cuddy começou a chorar novamente.

"O que foi isso? Foi você quem escolheu o nome dela".

"Eu não estou chorando por conta do nome dela, que é lindo afinal. Eu estou chorando porque... se estivermos o dia todo fora iremos perder momentos assim, quem terá esses momentos será a babá e não nós".

"E o que você sugere? Abandonar tudo para ficar cuidando de Gwen? Levá-la para trabalhar com você?".

"Eu não sei... Só não estou me sentindo pronta para voltar ao hospital".

"Então não volte!".

"Mas eu sempre me sentirei assim. Nunca estarei pronta para voltar!".

"Então volte!".

"Você não pode me ajudar?".

"O que você espera que eu fale?".

"Eu não sei".

House franziu a testa. Aquela noite seria difícil.

"Vamos ver o que Gwen tem a dizer". E ele começou a fazer cócegas na filha. Depois pegou a abelha de pelúcia e começou a imitar vozes. Gwen ria alto.

"Olha só isso, eu sou o máximo! O pai mais engraçado da fase da Terra". Ele falava orgulhoso. Isso alegrou Cuddy um pouco. Ela ria e chorava ao mesmo tempo.

House continuou curtindo as gargalhadas de sua filha, ele se sentia poderoso em ser o responsável por tirar tantas risadas da pequena.

Quando estavam prontos para dormir Cuddy puxou o assunto novamente.

"Eu não sei o que fazer... Eu preciso e quero voltar a trabalhar, mas eu não quero deixar Gwen...".

"Cuddy, eu não vejo como você conciliar as duas coisas".

"Eu também não sei como fazer isso".

"Talvez você possa negociar um dia de home office por semana... Assim você ficaria com ela um dia inteiro".

Cuddy arregalou os olhos brilhantes.

"Eu te amo, sabia disso?".

"Fale novamente que eu vou gravar para usar quando necessário". Ele falou divertido.

"É sério, você me deu uma grande ideia".

"Eu sou um gênio".

"E agora eu quero fazer sexo com você!". Cuddy disse se insinuando.

"Você não precisa pedir duas vezes".

Ela havia voltando aos anticoncepcionais, então o preservativo não era mais necessário.


No dia seguinte...

"Você sabe que eu vou voltar e que aquela palhaçada de reality show vai ter que terminar, não sabe?".

O processo seletivo que House instituiu para escolher os integrantes de seu time se tornou a sensação do hospital. As apostas corriam soltas para saber quem era o próximo a sair.

"O meu processo de contratação está fluindo muito bem, obrigado!". Ele respondeu.

"Você tem dias para concluí-lo. Eu estou te avisando". Ela disse antes dele ir trabalhar naquele dia.

"Gwen, sua mãe está muito irritada, não sei por que já que ontem ela teve sexo muito quente e relaxou...".

"House!". Ela falou tampando as orelhas da menina.

House riu e saiu.


Horas depois, House estava discutindo com um paciente na frente de todos os aspirantes a vaga no seu time.

"Você é um idiota!". O paciente gritou.

"E isso é sexualmente transmissível? Se for, reclame com a reitora desse hospital". Ele falou e saiu.

Minutos depois todos os pretendentes as vagas disponíveis no time de Diagnóstico estavam aguardando por ele.

"Lisa Cuddy, a famosa reitora de medicina desse hospital?". Dr. Travis questionou.

"Sim, eu soube que ela voltará de licença maternidade em breve. Você acha que ela vai gostar do que Dr. House está fazendo?". Amber provocou. "Ela pode querer encerrar o processo e nós perderíamos a chance a uma vaga para trabalhar com ele".

"Ainda mais sabendo que eles estão juntos". Dr. Cole disse. "Isso pode complicar as coisas".

"Eles estão juntos? Como assim 'eles estão juntos'?". Treze perguntou.

"Você não sabe?". Cole continuou.

"Sabe o que?". Treze perguntou confusa. "Ele adora fazer insinuações sexuais com ela, mas até aí...".

"Dr. House e Dra. Cuddy são namorados". Cole informou. "Eles são de fato um casal".

"O quê?". Kutner quase tropeçou.

"Namorados oficiais?". Taub perguntou surpreso.

"Namorados? Namorados?". Treze perguntou chocada.

"Sim!". Cole disse.

"Eu sabia". Amber mentiu.

"Dra. Cuddy está de licença maternidade, certo?". Taub perguntou. "Isso que dizer que...".

"Que a menina é filha de House". Henry confirmou.

"Não!". Kutner quase gritou. "House é um pai?".

"E dizem que a menina é linda!". Cole complementou.

"Eu estou chocada!". Treze disse.

"Wow! Ele é um bastardo, mas puta merda! Eu já vi fotos da Dra. Cuddy e ela é gostosa, oh, desculpe!". Kutner falou.

"Se House souber que você acha a namorada dele e mãe da filha dele gostosa, você pode ter problemas". Amber o assustou.

"Eu não... eu só...".

"Relaxa Kutner, ela está te provocando". Treze disse.

"Eu entendo Dra. Cuddy". Amber disse.

"O que você quer dizer?". Taub perguntou confuso.

"House tem o seu charme...". Ela falou maliciosa.

"Oh não... Agora é você quem está em um terreno perigoso. Dra. Cuddy tem fama de não ter medo de nada e nem de ninguém". Henry disse.

"Então ela irá cortar os seus ovários fora, temperá-los com ervas finas e comê-los cru". Kutner falou.

Todos olharam pra ele.

"É o que as mulheres fazem com as outras mulheres que dão em cima dos namorados delas". Ele se justificou.


House havia visto Chase e Cameron no hospital novamente, ele tentou alcançá-los sem sucesso. Mas dessa vez ele viu Foreman também. Ele estava confuso.

"Quer dizer que sua culpa está aumentando". Wilson disse. "Primeiro Chase, depois Cameron loira, agora Foreman".

"E Foreman não estava branco e nem loiro, logo, esse argumento de culpa não cola".

"A culpa está realmente no seu limite...". Wilson falou com voz dramática.

"Oh claro, minha culpa segue o ritmo do seu desespero por sexo". House saiu deixando Wilson sozinho.

Ele precisava entender o que estava acontecendo. Mas ele não precisou esperar muito tempo, Foreman entrou na sala de diagnóstico e ele entendeu tudo.

House tentou ligar para Cuddy, ele estava indignado, mas não conseguiu falar com ela. Então ele avistou novamente Cameron loira e correu até ela. "Eu sabia que eu não estava vendo coisas...".

"Olá pra você também!". Ela disse sorridente.

"Eu gostei do cabelo. Parece uma prostituta".

Ela riu alto. "Eu duvido que Cuddy goste de ouvir você falar assim com outras mulheres".

"Cuddy sabe que eu sou divertido e que eu larguei minha vida devassa".

"Isso é diversão então?". Ela o provocou.

"O que você faz aqui?". Ele mudou de assunto.

"Eu serei a responsável pelo Pronto Socorro".

"Que declínio. Do Diagnóstico para o Pronto Socorro".

"Eu vou ajudar a salvar vidas, ainda sou médica". Ela disse. "No mais, lembro-me de que eu disse que voltaria para ver a cor dos olhos de sua filha".

"Cuddy sabe que você voltou?".

"Creio que sim, afinal, ela é a reitora. Aliás, agora seremos colegas, você o chefe do Diagnóstico e eu o chefe do Pronto Socorro".

"Existe uma diferença muito grande aí entre as duas coisas".

Ela olhou feio para ele. "Você é um idiota".

"É o meu nome do meio".

"House...". Cuddy o chamou e ele se virou surpreso.

"Você por aqui grande soberana do reino?".

Cuddy ficou irritada ao chegar e vê-lo conversando com Cameron. Ela havia concordado com a contratação dos três integrantes do time de House, evitou falar para ele porque queria acertar todos os detalhes antes, mas ela não esperava vê-lo com Cameron logo de cara.

"Eu preciso de sua ajuda". Ela disse se dirigindo para a sua sala.

"E eu preciso esclarecer umas coisas também". Ele falou sério e a seguiu.

"Você contratou os três membros do meu time e nem me falou nada, eu moro com você, eu sou o pai da sua filha". Ele disse assim que entrou no escritório de Cuddy.

"Uma coisa não tem nada a ver com a outra".

"Ah é? Então quando eu mentir pra você para salvar um paciente eu vou te lembrar disso".

"Eu sou a sua chefa, é diferente".

"Ok, então agora vamos usar a carta da hierarquia?". Ele estava indignado.

"House, você não me obedeceu com relação ao processo para a contratação do seu time, por que eu deveria...".

"Eu não quero Foreman no meu time".

"Ele é um ótimo profissional...".

"Ele quis sair, você se lembra? Ele não queria ser como eu".

"Talvez ele tenha percebido que...".

"Eu não quero saber! Ele provavelmente não conseguiu arrumar nada melhor e voltou com o rabo entre as pernas".

"Ele ajudará House. Ele tem experiência, você não pode ficar com um time todo inexperiente, eu preciso de você, Gwen precisa de você. House, eu quero que tenhamos mais tempo para ficarmos juntos como uma família".

"E então você se decide sozinha e pronto? Eu tenho que aceitar? Eu ainda tenho minhas bolas no meio das pernas". Ele falou irritado e saiu.

Essa não era a volta ao trabalho que ela imaginava.


Naquela noite House estava se comportando de maneira seca com a namorada. Arlene iria jantar lá e Cuddy estava irritada.

"Ei pequena, quando a sua avó começar a chamá-la de Gwenola e a sua tia Julia começar a fazer aquela voz de taquara rachada para falar com você, chore que papai te salvará. Tudo bem?". Ele falou para a filha. "Ou faça um cocô bem fedido".

A menina gargalhou como se entendesse os conselhos do pai.

"Você gosta disso, não é pequena?".

"House, elas chegaram!". Cuddy avisou.

"Olá. Onde está a minha neta Gwenola? Eu trouxe um presente para você, Gwenola". Arlene chegou dizendo e House, que estava carregando a menina, fez cara feia. Ele tinha uma sincope cada vez que ouvia o nome completo da filha. Ele só aceitou esse nome porque poderia chamá-la de Gwen, mas ouvir o nome completo da filha era uma violência para os seus ouvidos.

'Essa menina vai sofrer bullying. Aceitar esse nome com certeza foi a minha primeira falha como pai', ele pensou.

"Olha a pequena da vovó!". Arlene pegou a menina.

Cuddy amava o nome da filha, para ela era um nome lindo e forte. Em nenhum momento ouvi-lo a irritava, pelo contrário. Ela só a chamava de Gwen porque era mais prático e usual.

Em pouco tempo Julia também começou a brincar com Gwen usando a voz infantilizada e extremamente aguda, tão aguda a ponto de machucar os tímpanos dos presentes. "Cadê a bebê mais fofa?".

"Me admira que você não tenha ficado surda, ou com problemas mentais com uma mãe que usava essa voz para falar com você". House disse para Cali que riu.

"House, eu preciso de um conselho". A jovem disse.

'Oh não!'. House pensou, House odiava dar conselhos, sobretudo conselhos sérios.

"Tem um garoto na minha sala que me incomoda, ele quer ter um encontro comigo, mas eu não quero. Eu já falei isso mais de mil vezes para ele... Eu não gosto dele, ele é idiota e além disso... Ele tem mau hálito".

House queria rir, mas se conteve.

"O que eu faço para ele parar de me incomodar?". Cali perguntou.

"Uh. Chuta as bolas dele e dê uma bala de menta". House respondeu.

Cali riu. "Aí eu terei problemas na escola".

"Então... Diz que você tem um pênis bem grande, maior do que o dele".

Cali corou.

"Eu estou brincando. Não sei... Eu nunca fui uma menina assediada. Acho melhor você perguntar para a sua tia".

"Mas o que faria você desistir de uma garota?".

"Se fosse uma garota gostosa? Praticamente nada!". Ele respondeu com sinceridade a fazendo rir.

"Talvez... Você possa dizer que vai processá-lo por assédio. Diga que tem um tio que é advogado. Sei lá... Hoje em dia tudo vira um processo... Isso pode assustá-lo. Eu posso combinar com você e ir até a escola na saída fingindo ser o advogado. Ou eu posso fingir ser o seu cafetão".

"Sério? Você faria isso?".

"Você não me conhece o suficiente. Com certeza eu faria isso!".

Eles foram interrompidos por Cuddy.

"O jantar está servido". Ela disse e depois foi pegar a filha para amamentá-la.

"Eu preciso amamentá-la, depois eu me junto a vocês". Ela explicou e se retirou.

House estava a mesa com Julia, Arlene e Cali.

"Onde estão as outras crianças?". House perguntou para Julia.

"Estão com John. Cali fez questão de vir".

"Ela sempre faz!". Arlene falou. "Lisa devia dar mama para Gwenola em outra ocasião, não durante o nosso jantar".

"Essa é a hora que Gwen costuma mamar". House respondeu irritado, Arlene sempre tinha que fazer um comentário desagradável, além de usar o nome completo de Gwen, ele pensou.

"Mas as visitas são prioridade, quando for assim, um ajuste na programação das mamadas se faz necessário".

"Mamãe!". Julia chamou a atenção dela.

"Nossa filha é a prioridade". Ele respondeu. "Deveríamos ter atrasado um pouco a janta, se você não estivesse com tanta fome".

"Eu não comi nada o dia todo, eu sou idosa, eu preciso comer".

"E ela é bebê, ela também precisa se alimentar". Ele respondeu. "Afinal, ela está crescendo e você... só se estiver crescendo para os lados".

Cali riu alto e Julia conteve a gargalhada.

"Muito engraçado". Arlene falou, mas com vontade de rir também. Aquele sujeito era um idiota, mas ela gostava dele, o que ela podia fazer?

"Uh essa salada de palmito está deliciosa". Julia tentou mudar de assunto.

Cuddy estava no quarto com a filha.

"Ei filha, você está com fome, hein?". Cuddy falou para a bebê que sorriu.

Cuddy adorava esse momento da amamentação, apesar de ser mais dolorido do que ela havia imaginado, no primeiro mês ela teve problemas de sangramento no mamilo, mas agora estava mais fácil. Quando ela voltasse a trabalhar o dia integral, ela deixaria mamadeiras com leite materno para a pequena, mas pensar em não estar por perto para amamentá-la no peito era algo que a fazia chorar.

"Eu te amo, você sabia? Eu te amo muito! E eu amo o seu pai também, apesar de que as vezes ele é difícil... Ele é um teimoso. Mas é o meu teimoso".

A menina balbuciou alguma coisa.

"Tudo bem Gwen, eu sei que eu também não sou fácil".


Blythe ligou para Cuddy na manhã seguinte. Esse seria o último dia de licença de Cuddy. Ela estava mal humorada, afinal, House e ela praticamente não se falaram na noite passada.

"Lisa, querida, eu estou com saudades de vocês! Gwen está tão linda! A foto que você me mandou semana passada já está no porta retratos na minha sala de estar. Como Greg está se portando no papel de pai?".

"Ele é ótimo com Gwen. Ele ajuda muito, Gwen o ama".

"Eu fico feliz por vocês estarem felizes. Pode apostar que meu filho vai pedi-la em casamento".

Cuddy se surpreendeu com aquele comentário. "Esse não é um desejo nosso".

"Ah querida, eu sei que toda mulher tem esse desejo em seu intimo quando encontra o amor de sua vida. Ele vai cair em si e parar com essa bobagem de ser contra o casamento, você verá".

"Tudo bem se ele não mudar de ideia, estamos bem assim".

"Escreva o que eu digo, querida. Eu conheço o meu filho".

Ela desligou meio abobada com o rumo que a conversa tomou. Ela estava bem com a situação atual, não estava? Afinal, ela não precisava de um anel no dedo para ser feliz.

De repente o telefone tocou novamente. Era do hospital. Dr. Rubben.

"Oi Lisa, desculpe incomodá-la, mas acho que você precisa saber. Lembra-se da Dra. Keyla?".

"Dra Keyla?".

"Sim, a reumatologista".

"A especialista em doenças autoimunes?".

"Ela mesma. Então, ela quer voltar para Princeton. Ela saiu três anos atrás por questões pessoais, mas agora ela quer voltar e eu pensei que seria uma boa adição ao nosso time".

"Ela é uma ótima profissional, muito competente e também muito responsável. Eu fiquei surpresa quando ela deixou o hospital".

"Pois é, dizem que ela deixou o hospital por conta de House...".

"Por conta de House? Dr. House? O que House tem a ver com isso?". Cuddy perguntou surpresa, afinal, House nem conversava com Dra. Keyla.

"Eles dormiram juntos".

Os olhos de Cuddy arregalaram e ela riu.

"Não, deve haver uma fofoca infundada aí".

"Oh, desculpe se você não sabia...".

"Eu não sabia desses rumores porque eles não são reais".

"Eu não acho que são rumores. Desculpe, eu não queria ser inconveniente".

Continua...