Capítulo 48 – Cuide bem de seus amores
A vida sem freio me leva, me arrasta, me cega
No momento em que eu queria ver
O segundo que antecede o beijo
A palavra que destrói o amor
Quando tudo ainda estava inteiro
No instante em que desmoronou
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
A um segundo tudo estava em paz
Cuide bem do seu amor
Seja quem for
Cuide bem do seu amor
Seja quem for
E cada segundo, cada momento, cada instante
É quase eterno, passa devagar
Se o seu mundo for o mundo inteiro
Sua vida, seu amor, seu lar
Depois de tudo que for verdadeiro
Depois de tudo que não for passar
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
A um segundo tudo estava em paz
Música: Cuide Bem do Seu Amor – Os Paralamas do Sucesso
"Ei filha, eu sei que a mamadeira não é tão legal quanto o seio da sua mãe, mas é o que temos". House falou para Gwen. Ele estava cuidando da menina, pois Cuddy ficou no trabalho até mais tarde e emendou com a sessão de terapia.
"Você precisa comer tudo para que quando a sua mãe chegar ela não fique louca comigo, tudo bem?".
A menina ria.
"Não é para você rir, Gwen, é para você mamar".
Mas a menina achava muita graça de seu pai. Era só ela ouvir a voz dele que começava a se animar toda.
Com muita insistência ele conseguiu fazer Gwen mamar. Depois da filha arrotar, ele se sentou com ela no sofá.
"Gwen, eu vou colocar em um programa muito bom para nós dois assistirmos. É um reality show onde um sujeito tem um carro velho e eles reformam o carro e depois o entregam novo e todo customizado para o seu dono".
A menina chacoalhou as mãozinhas.
"Eu sabia que você iria gostar, afinal, você tem os meus genes".
Então ele começou a comer a pizza de peperoni e Gwen chorou porque queria um pedaço.
"Você não tem idade para comer peperoni". Ele disse, mas a menina continuou a chorar.
"Tudo bem, eu vou parar de comer para que você não fique com vontade". Ele disse e colocou a pizza de lado.
"Que tal comermos uma fruta?". House pegou banana maça e amassou para dar a filha. A menina devorou como se tivesse com fome há dias.
"Wow, você gostou mesmo hein? Mas não conte para a sua mãe, ela quer que você só se alimente de leite materno até os 6 meses, eu sou a favor de diversificar, mas eu sou voto vencido aqui... você sabe".
Ele ouviu o barulho da fechadura e tratou de esconder a casca de banana e a limpar a boca de Gwen.
"Oi mamãe!". Ele disse assim que Cuddy entrou.
"Oi meus amores!". Ela respondeu sorridente.
Ela deu um selinho no namorado e pegou Gwen no colo assim que entrou.
"House, você deu banana pra ela?".
"Eu?".
"House, eu falei que esperaríamos até o sexto mês e daríamos exclusivamente leite materno até lá". Ela estava chateada.
"Eu... Eu que comi a banana".
"Não minta pra mim! Você não tem hálito de banana, Gwen por outro lado...".
"Desculpe!". Ele sabia que Cuddy ficaria muito irritada e sabe-se lá o que isso traria de consequências para ele.
"Eu queria ter visto isso... A primeira vez que ela comeu algo sólido. Como foi?".
Ele se surpreendeu com a pergunta dela.
"Ela devorou tudo em segundos". Ele disse.
Cuddy riu. "É filha? Você é uma comilona?".
'Ela não ficou brava?', ele pensou consigo mesmo, mas não ousou perguntar nada.
"Ei meu amor, eu trouxe aquela comida chinesa que você adora. Está na sacola que deixei em cima da mesa". Cuddy o informou.
'Meu amor?', House estranhou. O que estava acontecendo com a sua namorada?
"Obrigado?". House perguntou.
"Eu que te agradeço por ficar com Gwen enquanto eu estava fora".
"Ela também é minha filha, esqueceu? Isso não é nenhum favor".
"Essa camiseta cai muito bem em você por sinal". Ela falou referindo-se a camiseta branca com um desenho de pássaro que House vestia.
Ele ficou parado a encarando.
"Ela realça o seu bíceps. Eu gosto disso!".
Ele estava confuso. Quem era essa mulher? O que aconteceu com a sua namorada?
"O que aconteceu?". Ele finalmente perguntou.
"O que você quer dizer?". Ela perguntou.
"Você está... diferente".
"Não aconteceu nada demais". Ela falou enquanto pegava um rolinho primavera. "Uh... Isso está delicioso".
House não sabia se a nova atitude de sua namorada era um bom ou mal sinal, mas a fome era tanta que ele focou na comida chinesa, já que a pizza que ele pretendia comer era do dia anterior.
Nos próximos dias Cuddy continuou com a mesma postura. Elogiando o namorado.
"Você disse que precisamos ser honestos um com o outro. Então me diga o que aconteceu com você". House exigiu.
"Por quê? Nada aconteceu!".
"Você está diferente. Definitivamente".
"Diferente bom ou diferente ruim?".
"Bom... Muito bom... Até demais e isso está me assustando, pois pode vir a ser ruim... muito ruim...".
"Então relaxe e aproveite, pare de pensar no futuro".
"O que aconteceu?".
House não conseguia mais viver com essa duvida.
"Eu percebi que eu estava exagerando com você. Com nós". Ela falou.
Ele franziu a testa.
"Eu sou controladora, perfeccionista e muitas vezes deixo de viver as 99% das coisas boas para tentar encontrar o 1% de coisas imperfeitas. Eu estou tentando mudar isso".
"Wow, de onde isso veio?".
"É uma reclamação?". Ela perguntou maliciosa.
"Absolutamente!".
"Então venha aqui... Meu namorado gostoso!".
Ele achava que ela estava exagerando na atitude recentemente, mas não iria dizer nada. Melhor aproveitar o momento.
"House, Marina está doente e não virá hoje". Cuddy falou para ele em modo desespero.
"Qual o procedimento quando isso acontece?".
"Não temos procedimento para quando isso acontecer".
"O quê? Você não pensou em um plano B?". Ele perguntou dramático.
"Não...". Ela respondeu envergonhada.
"Oh meu Deus! Lisa Cuddy, a controladora, está sucumbindo".
"House, pare!".
"Ei filha... Vamos ter que deixar você sozinha hoje porque mamãe não pensou em um plano B".
"Por quê só eu tenho que pensar aqui? Você não é o pai dela? Você é tão responsável quanto eu".
"Porque você é a controladora louca".
Ela arregalou os olhos irritada.
"Tudo bem. Eu ficarei com Gwen aqui em casa". Ele decidiu.
"Você tem paciente e tem que definir de uma vez por todas o seu time".
"Então você ficará com Gwen?".
"Não. Eu tenho uma reunião importante essa manhã".
"Então levaremos ela conosco para o hospital?". House perguntou. "Ei filha, vamos trabalhar com o papai? Sim, porque o trabalho da mamãe é muito chato...".
"Você cuida dela essa manhã? Após o almoço eu trago ela pra casa comigo". Cuddy perguntou.
"Com certeza. Se você não se lembra, eu e ela temos uma conexão especial".
Cuddy saiu e o deixou falando sozinho. Ele riu.
Quando chegaram ao hospital, Cuddy deu uma série de recomendações para House.
"Não a deixe perto de nenhum paciente... Não deixe a sua equipe tocar nela se eles tiverem tido contato com algum paciente... Não a deixe sozinha nenhum minuto, nem se você tiver uma epifania...".
"Eu sei tudo isso mamãe ursa".
"Qualquer coisa me ligue, não importa se eu estiver em reunião...".
"Vai dar tudo certo, Cuddy. Eu sou o pai dela e tenho as mesmas responsabilidades que você, lembra?".
"Tudo bem. Me desculpe".
House chegou a sala de Diagnóstico empurrando o carrinho de bebê com a sua filha.
"Oh meu Deus!". Treze correu para ver a menina. "Ela é linda! Ela é mais linda do que nas fotos".
"Onde você viu fotos da minha filha?".
"Todo mundo no hospital tem fotos da sua filha". Ela respondeu.
"O quê?". House estava indignado.
"Ela é a mascote do hospital". Taub falou.
"Minha filha não é mascote de lugar nenhum".
"Relaxe, Cuddy tem fotos na mesa dela. Fotos da família feliz". Treze explicou.
Kutner começou a brincar com Gwen e ela gargalhou.
"Ela percebeu que você tem cara de palhaço". House disse. "E olha que ela não tem nem um ano de idade. Ela puxou esse poder de observação de mim".
"Como pode ser?". Foreman perguntou.
"O quê?".
"A sua filha ser tão fofa?".
"Ela não é fofa, ela é extremamente linda e inteligente". House respondeu orgulhoso.
"Gwen balbuciava "ahhh... ehhh.".
"Ela é tão inteligente que já está quase falando". House disse.
"Eu nunca imaginei House sendo um pai coruja". Cameron entrou na sala dizendo e trazendo Chase com ela. "Eu soube que sua filha estava aqui e eu tinha que vê-la. Ela é linda! Posso segurá-la?".
"Higienize as mãos antes. E os antebraços... e use máscara". Ele disse e Cameron olhou para ele rindo. "Não olhe pra mim, ordens da reitora".
"Oh meu Deus! Ela tem os seus olhos!". Cameron observou.
Os olhos de Gwne estavam cada dia mais parecidos com os de seu pai. Além disso, a menina tinha cabelos castanhos ainda ralos e o lábio carnudo que formava um beicinho.
A sala de House nunca esteve mais movimentada. Todos queriam ver e pegar Gwen no colo. Ela ria para todos. A menina era sociável.
"Gwen é extremamente fofa, mas também... é a minha sobrinha". Wilson falou orgulhoso para uma enfermeira enquanto segurava Gwen no colo.
"Ela não é fofa, ela é linda!". House falou alto do outro lado da sala.
"Ok... ok... Ainda assim ela é fofa". Wilson insistiu.
"E pare de usar a minha filha para se dar bem com as mulheres". House falou alto fazendo todos os presentes na sala rirem e Wilson corar.
"PESSOAL. Eu sei que a minha filha é irresistível assim como o pai, mas nós temos um paciente morrendo, não temos?". House perguntou.
"Sim. Eu tenho os resultados dos exames". Amber aproveitou que todos estavam entretidos com Gwen e se antecipou com os exames para ganhar pontos com House.
"É claro que você tem os resultados...". Treze comentou sarcástica.
Gwen pediu o colo de seu pai.
"Ela quer você". Cameron a entregou pra ele.
"Ehhhh... Beeee". Gwen balbuciava e babava.
"Venha aqui pequena". Ela sorriu enquanto o seu pai a pegava nos braços e enxugava a baba da filha.
"Inacreditável!". Chase falou espantado. "Milagres acontecem".
Foreman concordou.
Quando a reunião terminou Cuddy subiu imediatamente para o escritório do namorado e o encontrou dormindo na poltrona com Gwen em seu colo. Ela sorriu com a cena e se preparou para fotografar.
"Quem diria que House seria um pai atencioso?". Chase chegou dizendo e assustou Cuddy. Após se recuperar do susto ela sorriu para Chase.
"Eu já tirei umas dez fotos e irei chantageá-lo com elas". O loiro disse fazendo Cuddy rir.
"Isso vale muito dinheiro". Chase explicou.
"Eu sei". Ela concordou. "Mas se você pega dinheiro dele, você pega dinheiro da minha filha e isso eu não admito".
"Entendido". Chase respondeu e saiu intimidado.
Cuddy se aproximou dele.
"Ei... Docinho de coco, eu vou levar Gwen pra casa. Acorde!". Ela falou divertida.
"Do que você me chamou?". Ele perguntou sonolento.
"Docinho de coco".
"Ow, isso não é legal...". Ele disse e ela riu.
"Como foi passar a manhã com Gwen?".
"Agitado. Ela é popular".
Cuddy riu. "E olha que ela não está nem na adolescência ainda".
"Não me lembre disso!". House falou dramático.
"Você terá bastante tempo para se acostumar". Cuddy dizia quando foram interrompidos.
"Oh... Não se enganem. O tempo passa voando!". Blythe entrou na sala.
"Mãe? O que você faz aqui? Está tudo bem?".
"Tudo está ótimo! Eu vim porque estava com saudades. Oh meu Deus, minha pequena". Ela disse quando viu Gwen dormindo.
"Blythe, eu estou indo pra casa com Gwen, você nos acompanha?".
"Com certeza!". A senhora disse e foi com elas após dar um abraço no filho.
Semanas depois House havia escolhido o time, finalmente. Taub e Kutner. Cuddy exigiu uma mulher e Treze foi escolhida. Depois ela percebeu que ele fez um jogo para ter uma vaga a mais. Ela não ficou brava, por incrível que pareça, ela ficou orgulhosa pelo intelecto do namorado.
Naquela noite eles estavam no meio do sexo quando o celular dele tocou.
"Deixe tocar!". Cuddy falou enquanto perseguia o seu orgasmo.
"Eu não pensei em atender". Ele respondeu ofegante.
O telefone insistia, era o toque do seu time, ele sabia disso, mas eles estavam focados nas próprias necessidades. Quando finalmente atingiram o orgasmo, House pegou o telefone e viu que havia cinco chamadas não atendidas de seu time. House ligou de volta.
"Espero que o paciente esteja morrendo...".
"E ele está". Treze respondeu.
"House, precisamos de você aqui!". Foreman disse.
"Mas eu não irei!".
"Ele urinou um liquido azul". Kutner respondeu.
"Eu estarei aí em trinta minutos". Ele respondeu contrariado.
"Você vai para o hospital?". Cuddy perguntou frustrada quando o namorado desligou o telefone.
"Tenho que ir!".
"Como é difícil namorar um médico". Ela falou divertida.
Ele a beijou mais uma vez e levantou-se para tomar um banho e se vestir.
House estava no hospital desde a madrugada, era um sábado ensolarado. Cuddy levou Gwen para o parque, mas percebeu que a menina estava sonolenta e manhosa, diferente do normal. Então ela colocou a mão no rosto da filha e percebeu que ela estava ardendo em febre.
Ela se desesperou, tentou ligar para House sem sucesso. Então ela a colocou no carro e se dirigiu para o hospital. Gwen chorava bastante mostrando que havia algum desconforto, isso deixou Cuddy mais nervosa. Quando chegaram ao hospital ela foi atrás dele e o encontrou na sala de ressonância.
"O que houve?".
"Gwen... Ela está ardendo em febre".
House assustado e saiu imediatamente em direção a filha. Ele colocou a mão na testa dela e percebeu que Cuddy estava certa.
"Realmente".
"O que fazemos?".
Gwen chorava de tempos em tempos e House notou que ela passava a mão pelo ouvido com frequência.
"Vamos examiná-la". Ele disse.
"É melhor um pediatra". Cuddy falou.
"Você quer levá-la ao pronto socorro?".
"Não... Mas eu vou chamar o Dr. Charles". Ela informou. Dr. Charles era o pediatra de Gwen.
House examinou a filha minuciosamente.
"Duas coisas... A primeira é que está nascendo o primeiro dente dela".
"Sério?". Cuddy perguntou emocionada.
"A segunda coisa é que ela tem uma otite".
"Oh... Coitadinha". Cuddy falou abraçando a filha.
"Deve estar incomodando muito". House disse e seu coração estava muito apertado em saber que a sua filha estava experimentando dor. Tão pequena... Ele daria tudo para ser ele no lugar dela.
Dr. Charles chegou nesse meio tempo e confirmou o quadro de otite e receitou a medicação. Pai, mãe e filha voltaram para casa.
Aquela noite foi difícil, Gwen não dormia e os pais também não.
"Ela já tomou remédio para a dor, não está resolvendo". Cuddy estava chorando junto com a filha. O seu coração estava em pedaços.
"Leva tempo Cuddy". Ele tentava acalmá-la.
"Vamos levá-la para a cama conosco?". Cuddy propôs.
"Sim". Ele concordou.
O casal deitou e deixou a filha entre eles. No calor da presença dos pais Gwen se acalmou e pegou no sono. Cuddy respirou aliviada e House também.
Os três dormiram.
O dia seguinte foi mais tranquilo, Gwen estava reagindo bem as medicações e os pais estavam aliviados. As coisas mudaram de sentido para House, ele finalmente entendeu os pais que agiam de forma insana quando os seus filhos estava enfrentando o risco de uma morte eminente. Ele nem queria pensar nessa possibilidade.
"Tudo bem?". Cuddy perguntou quando encontrou o namorado olhando pensativo para Gwen que dormia no berço.
"Por quê alguém em sã consciência decide se tornar um pai ou uma mãe?".
Ela respirou fundo. "Porque os filhos trazem alegria para a nossa vida?".
"Mas a alegria pode virar uma enorme tristeza se algo de ruim acontece".
Ela sentou-se ao lado dele na poltrona e deitou a cabeça no ombro do namorado.
"Mas a vida não seria nada sem os altos e baixos".
"Sério? Você gosta dos altos e baixos?". Ele perguntou sarcástico.
"É lógico que eu prefiro as alegrias da vida, mas ninguém pode ter só isso. E entre abandonar as alegrias para não sentir dor, eu prefiro a dor eventual".
"Sério?".
"Você voltaria atrás e não teria Gwen se pudesse?".
"Agora é estranho pensar nisso porque eu a tenho".
"E você escolheria esquecer-se dela e voltar para quando ela não existia?".
"Como naquele filme: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças?".
"Isso. Eu amo esse filme". Cuddy disse.
"Eu não sei. Agora não, agora eu quero me lembrar dela, de tudo. Mas se eu a perdesse... Não sei se eu conseguiria suportar a dor mantendo as minhas lembranças dela".
Ela calou-se, pois entendia perfeitamente o que ele sentia.
Dias depois Gwen estava totalmente recuperada e Cuddy estava em sua sala no hospital quando ouviu batidas na porta.
"Pode entrar". Ela disse.
"É um prazer estar de volta, Dra. Cuddy".
"Olá, Dra. Keyla".
Continua…
