Um Ótimo 2022 pra nós! :)
Capítulo 58 – Pedaços que sobraram
I want you to know
That you don't need me anymore
I want you to know
You don't need anyone or anything at all
Who's to say where the wind will take you?
Who's to say what it is will break you?
I don't know which way the wind will blow
Who's to know when the time's come around?
Don't want to see you cry
I know that this is not goodbye
Música: Kite – U2
"O seu pai!".
"O que tem o meu pai? O que ele fez agora?".
"Ele... ele faleceu essa manhã".
House ficou paralisado, era estranho ouvir aquelas palavras. Tudo havia terminado afinal? Sem nenhum Gran Finale? Sem nenhuma última crítica ou uma briga de encerramento?
"House... Você está bem?". Cuddy colocou a mão no ombro dele.
Ele voltou a realidade. "Sim, por que não estaria tudo bem?".
"Porque o seu pai faleceu".
"Ele nunca foi um bom pai".
"Independente disso ele...".
"Vamos pra casa?". House perguntou.
"House... Não! Nós devemos ir ao funeral".
"Não, eu não vou".
Eles mal chegaram em casa e precisaram sair novamente. Deixaram as meninas com Julia e partiram.
"Por mim eu não iria". House falou para Cuddy a caminho da casa dos pais.
"Eu sei que você não faz questão de ir ao funeral do seu pai, mas apesar dele ter sido um péssimo pai, ele foi o seu pai".
"E por que ele veio?". House falou apontando para Wilson que dirigia o veiculo.
"Porque eu devo respeito à sua mãe". Wilson respondeu.
House bufou. "Você acabou de voltar de um funeral, não precisa ir a outro".
"House!". Cuddy chamou a atenção do noivo.
"Pode deixar Cuddy. Eu sei o quanto ele é insensível. Eu estou fazendo isso pela mãe dele apenas".
"Oh, claro. Como se você fosse muito intimo da minha mãe".
"House!". Cuddy novamente o alertou.
"O que foi? Vamos ser honestos. Ele sumiu, se envolveu com alguma coisa chata pra aumentar o peso do mártir Wilson e agora temos que ficar cheios de cuidado com o que dizemos pra ele?".
"Eu não irei reagir apenas pela simples razão de que o seu pai morreu". Wilson falou.
"Grande merda! Ele nunca foi um pai de verdade". House falou irritado.
"House, Wilson lidou com muita coisa atualmente. Respeite-o!".
"Eu não tenho respeito por alguém que foge e se esconde atrás das necessidades de outras pessoas. E agora ele só está nos levando para esse funeral porque ele não quer voltar a trabalhar".
"Você é um idiota!". Wilson falou alto.
"Ótimo, agora estamos sendo sinceros um com o outro. E você devia ter enchido a cara, batido em alguém e seguido a sua vida ao invés de sumir e se esconder atrás de um trabalho voluntário".
Cuddy arregalou os olhos.
"É a raiva falando...". Wilson disse balançando a cabeça descrente do que ouvia.
"Claro que sim, se for mais fácil para você lidar com o que eu digo. Coloque-me como uma vitima fragilizada".
"Vocês dois. Calem-se!". Cuddy esbravejou.
Então House começou a provocar Wilson. Ele jogou o tapete do carro de Wilson para fora da janela e deu um jeito para que parassem em uma loja de conveniência no meio da estrada, pois ele planejava nunca chegar ao velório do pai.
"Eu preciso ir ao banheiro e também preciso comprar algo para comer". Cuddy falou para os dois.
"Esse bebê deve ser o Shrek, você quer comer sem parar". House disse.
"Não chame o meu filho de Shrek!". Ela falou antes de sair.
"Eu soube que é um menino. Parabéns!". Wilson disse.
"Você... Sempre politicamente correto. Sempre educado e agindo conforme a conveniência social".
"O que você tem? Eu estou te parabenizando!".
"Pois é, porque diz a convenção que é isso o que você deve fazer nessa circunstância".
"Você é um idiota, mas eu não estou nem aí".
Cuddy retornou com um pacote de salgadinho e alguns doces.
House aproveitou a distração de Wilson para jogar a chave do automóvel longe. A chave caiu em um bueiro e era impossível pegá-la.
"Oh, desculpe por isso". House falou sarcástico.
Wilson bufou.
"Você não irá se safar assim. Nós iremos ao velório mesmo que tenhamos que alugar um carro, ou que chamar um táxi". Cuddy falou.
Dessa vez foi House quem bufou.
Wilson tinha tudo no porta-malas do veiculo, literalmente tudo, inclusive uma vara de pesca e, após muito esforço, ele conseguiu resgatar a chave usando a vara de pesca.
"Consegui!".
House balançou a cabeça frustrado. Cuddy, que estava ao telefone com Julia para saber das crianças, desligou.
"Ótimo Wilson!". Ela olhou para House com um sorriso sínico e entraram no carro.
"Eu não tenho ideia da razão pela qual vocês fazem questão que eu vá a esse funeral".
"Porque ele é o seu pai". Cuddy e Wilson responderam juntos.
"Ele sempre foi um péssimo pai".
"Você se arrependerá se não for a esse funeral". Wilson disse.
"Eu sentiria mais a morte do cachorro de nossa vizinha do que de John". House disse.
"Você não sabe o que diz...". Wilson balbuciou.
"Então é uma opção minha, se eu me arrepender é minha responsabilidade. Vamos voltar pra casa, eu não quero ir".
"NÃO!". Ambos responderam juntos.
"Eu prometi para a sua mãe que te levaria". Wilson disse.
"Eu também!". Cuddy falou.
"Como vocês podem prometer algo por mim?".
Ninguém respondeu. Então House resolveu agir novamente e usou sua bengala para acelerar o carro de Wilson assim que viu um carro da policia por perto. Obviamente eles foram parados e Wilson tinha um mandato de prisão naquele estado, logo, eles foram encaminhados para a delegacia de policia mais próxima.
Lá Wilson explicou a situação e Cuddy o ajudou.
"Ele é meu noivo e quer fugir do funeral do pai, nós só estamos tentando levá-lo para que o pai dele possa ser enterrado na presença do filho". Cuddy disse. "Ah, e eu estou grávida".
"Ele é filho único, a mãe dele está a espera dele". Wilson complementou.
"Um homem deve honrar o seu pai até o fim, e a sua mulher grávida não pode passar nervoso". E com isso o policial os liberou.
Quando estavam quase chegando ao destino, Cuddy reaplicava a maquiagem.
"Você comeu quase um boi inteiro desde que saímos de casa e agora reaplica o batom como se fosse uma dama". House a provocou.
"Eu não vou me justificar para você e nem levar em consideração o que você diz, você está mal humorado e frustrado". Cuddy disse tentando aplicar o batom sem borrá-la.
"Eu não obrigaria Barney Rubble a ir ao meu funeral". Ele disse.
"Eu nem vou perguntar quem é Barney Rubble". Cuddy respondeu tentando ignorá-lo.
"É o nosso filho!". Ele disse tentando irritá-la, mas não conseguiu.
"Você perdeu House!". Wilson o provocou.
"E você é o idiota sem bolas pra fazer o que tem vontade de fazer, você só vive a sua vida em função dos outros e dos desejos dos outros". House respondeu irritado.
Cuddy e Wilson tentava ignorá-lo.
Quando chegaram eles foram recebidos pela mãe dele. Blythe ficou muito aliviada ao ver o filho.
"Que bom que você veio querido!".
Enquanto a cerimônia acontecia, House fofocava com Cuddy.
"Aquele é meu pai biológico". Ele apontou para um militar que prestava sua homenagem para John. "Ele engravidou minha mãe e agora vem ao funeral de meu pai como se tivesse a maior consideração por ele".
"Eu duvido!".
"Duvida de que?".
"Duvido que ele seja o seu pai biológico".
"Por quê?".
"Ele não se parece com você".
"E quem você acha que se parece comigo?".
"Clint Eastwood".
"Ah claro, porque minha mãe conheceu Clint num dia de verão".
Cuddy segurou uma risada. "Quem sabe? E porque você acha que ele é o seu pai?".
"Porque eu via a maneira com que minha mãe olhava pra ele e vice versa. Eu presenciei isso a minha adolescência inteira".
"Não... Você se parece mais com aquele ali". Ela apontou para outro veterano da marinha.
"Eu nunca vi aquele. Ele não frequentava a nossa casa".
"Pode ser que a sua mãe já o tenha visto antes. Veja, ele tem seus olhos e é alto".
"Você está dando em cima dele?". House perguntou fingindo estar ofendido.
Cuddy segurou uma risada. "Sinto te dizer, mas ele é o pai desse bebê". Ela acariciou a barriga.
House arregalou os olhos fingindo espanto.
"Ei, vocês dois. Calem-se! Que falta de respeito". Wilson chamou a atenção dos dois.
"Ele sempre foi assim chato?". House perguntou para ela.
"Ele não é chato".
House precisou falar em homenagem a seu pai, e ele respirou fundo e foi. Ele disse palavras frias, que não significavam nada para ele. No final ele aproveitou a circunstancia para coletar uma amostra de tecido de John para o teste de DNA.
Wilson se aproximou e tentou dissuadi-lo da ideia, sem sucesso.
Mais tarde os dois amigos tiveram uma discussão e Wilson arremessou algo no teto de vidro do local, isso fez com que o vidro fosse estilhaçado e chamou a atenção de todos os presentes.
"Eu sabia que você ainda não era entediante". House disse aliviado.
Cuddy estava lívida com o acontecido.
"Desculpe Blythe". Ela falou quando a mãe de House apareceu.
"Querida, eu conheço o meu filho, mas me surpreende que foi Wilson o autor disso".
"A mim também". Cuddy falou chocada.
"É melhor irem embora antes que a policia chegue. Eu vou tentar contornar a situação". Blythe disse.
"Eu sinto muito!". Cuddy novamente se desculpou.
"Obrigada por terem trazido Greg até aqui, eu imagino que não foi fácil".
"Sinto muito pela sua perda!". Cuddy abraçou a sogra.
"Obrigada. Você está linda! Como está o meu neto?". Blythe perguntou mudando de assunto e de expressão facial.
"Ele está ótimo. Eu tenho muito apetite, eu não quero parar de comer um minuto. E tenho muito sono também".
"Eu também senti tudo isso na gestação de Greg".
"É impressionante como uma gestação é diferente da outra". Cuddy falou.
"Eu não posso dizer nada sobre isso porque só tive uma...".
Cuddy sorriu. "Eu vou indo Blythe, desculpe novamente. E sinto muito pela sua perda".
Os três estavam conversando em um restaurante.
"Vocês dois... Eu nem sei o que dizer". Cuddy não se conformava com o acontecido minutos atrás.
"Wilson não é chato, afinal de contas. Eu sabia que não havia me enganado. Lembro-me da última vez que o vi quando ele havia recebido o papel do divórcio". E House contou a história completa para Cuddy.
"Você é insuportável". Wilson falou. "Você me deixa no limite".
"Agora a culpa é minha?". House contestou.
"Mas apesar de tudo, essa viagem louca foi a coisa mais normal e interessante que eu fiz nos últimos tempos". Wilson assumiu.
"Bem vindo de volta Jimmy! Até um funeral é mais interessante do que aquele trabalho voluntário chato. Admita!".
"Vocês dois... os dois têm sérios problemas!". Cuddy falou com a boca cheia de comida.
Os três riram.
"Qualquer um que se relacione com House tem sérios problemas". Wilson disse.
Depois disso eles foram para a casa de Blythe.
"Nós não devíamos estar aqui. Nós devíamos ir pra casa". House contestou.
"Nós temos que dar um suporte emocional para a sua mãe". Cuddy disse.
"Eu não quero ficar aqui, nessa casa...".
"É só por uma noite...".
"Eu já fiquei aqui noites demais na minha vida".
Wilson estava calado, ele não queria se intrometer na conversa do casal.
Cuddy o abraçou. "Só essa noite, depois iremos para casa".
"Minha mãe ficou muito irritada porque eu não participei do ritual da cremação?".
"Não, ela ficou feliz que você tenha ido ao funeral". Cuddy explicou.
"Ela sabe que eu fui obrigado a ir?".
"Sim".
"Minha mãe sempre sabe tudo sobre mim". Ele disse conformado.
"As mães são assim...". Cuddy disse alisando a barriga.
"Gwen e Rachel estão bem?".
"Sim, Julia disse que as duas estão ótimas".
House sentia saudades delas, ele queria voltar logo para sair daquela casa, mas também para estar com as filhas.
Horas depois Blythe chegou.
"Apesar da circunstancia, é ótimo tê-los aqui".
Cuddy a abraçou e Wilson também.
"Desculpe Blythe, por aquilo".
"Tudo bem James, eu não esperava que o melhor amigo do meu filho fosse muito normal, finalmente entendi a razão da amizade de vocês".
Cuddy riu.
"Ei mãe, é do seu filho que você está falando".
"Por isso mesmo". A senhora respondeu. "Greg, eu tenho algo para você".
"Eu não quero dinheiro de John".
"Não é dinheiro. Tome". Ela entregou uma caixa embrulhada para o filho.
"O que é isso?".
"Eu não faço ideia. Pouco antes de morrer John me pediu para que eu te entregasse isso quando ele partisse. Eu acho que as pessoas sentem alguma coisa antes de morrerem, é como se elas soubessem".
Para House aquilo era uma bobagem, mas ele estava focado no objeto em suas mãos. O que será que era aquilo?
"Não parece uma bomba". Ele disse.
"Abra!". Wilson falou curioso.
"Não agora". E ele guardou o pacote.
Eles comeram uma refeição rápida e foram dormir. House e Cuddy ficaram no antigo quarto de House com a cama de solteiro, e Wilson ficou no sofá da sala.
Ele não dormiu a noite inteira. Ele sentia um misto de coisas, John morreu, o seu pai morreu, mas ele não era o seu pai biológico... O que havia naquela caixa afinal? Ele a pegou nas mãos mais de uma vez, mas não teve coragem de abrir o embrulho. Aquilo explicaria a sua história? Aquilo traria mais frustração? E se John estivesse fazendo uma piada de mau gosto?
Cuddy acordou de madrugada e percebeu que House não dormia.
"Está tudo bem?".
"Meu pai morreu".
"Sim, eu sinto muito!". Ela disse e o abraçou.
"É estranho. Nós não tivemos nunca um bom relacionamento. Talvez quando eu era bem pequeno. Mas essa casa está impregnada da energia dele e das lembranças".
Cuddy não sabia o que dizer, não era comum que ele ficasse tão aberto para o dialogo. Então ela deitou a cabeça no peito dele e lá ficou até que eles adormecessem.
No dia seguinte eles tomaram café e se preparavam para partir.
"Lisa, eu quero estar lá para quando o bebê nascer. Vocês já decidiram o nome?". Blythe perguntou.
"Chewbacca". House respondeu.
Wilson arregalou os olhos.
"Ele sempre faz isso para me provocar". Cuddy explicou. "Não, nós ainda não escolhemos o nome".
"Que tal John em homenagem ao seu pai?". Blythe propôs.
"Você não está sendo séria, não é?". House perguntou inconformado com a sugestão da mãe.
"Por que não?".
"Por tantos motivos que eu gostaria de evitar falar nesse momento".
Cuddy percebeu que o clima ficaria ruim e tentou mudar o assunto.
"Ele é bem mais ativo do que Gwen, ele se mexe o tempo todo...".
"Eu te falei que tivemos sorte com Gwen... Esse não nos deixará pregar os olhos".
"Ou não, as vezes muda depois de nascer...". Wilson disse.
"Falou o pai do ano". House caçoou.
"Não é porque eu não tenho filhos que não posso dar a minha opinião". Wilson retrucou.
"Baseado nos livros?". House continuou a provocação.
"Vai se foder! Oh... desculpe!". Ele disse envergonhado para Blythe.
"Tudo bem, é bom ter pessoas divertidas nessa casa. Essa tem sido uma casa triste e sem vida há anos".
"Desde que o papai a comprou". House falou.
"Não". Blythe disse. "Você trazia vida para essa casa, mas desde que você se foi...".
"Por que vocês nunca se mudaram?". Cuddy perguntou curiosa.
"John não queria. Ele dizia que uma casa é como um membro da família".
House bufou. "Que bobagem!".
"Blythe, você fará o que agora? Continuará aqui? Já teve tempo para pensar em algo? Desculpe se estou sendo precipitada...". Cuddy perguntou preocupada com a senhora.
"Eu ainda não sei, talvez eu me mude para mais perto de meus netos".
Minutos depois eles partiram, House levou com ele aquele embrulho. Pedaços misteriosos que sobraram e que perturbavam o seu coração. Aquilo era tudo o que restou de John, seria uma decepção total, assim como a relação de uma vida entre os dois?
O que será que tem na caixa que John deixou para House?
