Capítulo 59 – Planos
Que os braços sentem
E os olhos vêm
E os lábios beijam
Dois rios inteiros
Sem direção
E o meu lugar é esse ao lado seu, meu corpo inteiro
Dou o meu lugar, pois o seu lugar
É o meu amor primeiro
O dia e a noite, as quatro estações
Música: Dois Rios - Skank
A semana passou e House não chegou perto do embrulho que John deixou para ele. Estava bem guardado e longe do alcance de todos. Cuddy percebeu que ele estava resistente, mas não disse nada, ela sabia que era um tema delicado para o noivo, então ela nem questionou.
"Bebê dois". Gwen falou apontando para a barriga de Cuddy.
"Bebê um". Ela apontou para Rachel agora.
"A minha filha é um gênio mirim, ela não tem nem dois anos e já sabe contar e entende a ordem cronológica dos eventos". House falou chocado e orgulhoso.
Cuddy sorriu. Ela amava ver House se orgulhar dos filhos.
"Papai". Gwen correu e se jogou no colo dele. A menina era muito apegada ao pai, em contrapartida, Rachel era muito grudada na mãe. A menina estava em uma fase que só queria o colo de Cuddy e House tinha ciúme disso.
"House, você pode pegar Rachel, por favor?". Cuddy pediu, pois a menina estava chorando.
Ele colocou Gwen no chão e se aproximou de Rachel, mas a menina o recusou.
"Ela não me quer". Ele disse magoado.
"Ela está fazendo manha. Pegue ela e traga aqui".
Rachel se debatia, mas House a pegou mesmo assim.
"Ela não gostou que eu a peguei".
"Ela não tem que gostar, ela é uma bebê e você é o pai dela". Cuddy o informou.
"Rack gosta papai!". Gwen dizia.
"Eu não sei filha. Rack gosta só de sua mãe".
Cuddy riu. "Isso não é verdade, e você está com ciúme?".
"Eu? Não! Eu estou expondo um fato".
"Gwen só fica grudada em você, se for assim eu também teria que ter ciúme".
"Eu gosto mamãe". Gwen disse abraçando Cuddy.
"Gwen, você gosta do papai?". House perguntou.
"SIM!". A menina respondeu com um grito.
"Quanto você gosta do papai?".
"Bastante". Ela abriu os braços para mostrar o quanto ela gostava dele.
"Muito, muito?".
"Muito, muito".
Cuddy sorriu.
"Muito igual ao infinito?". House continuou a sua conversa com a filha.
"SIM!". Gwen gritou novamente.
"Você sabe o que é o infinito, filha?". Cuddy perguntou curiosa.
"Eu já expliquei pra ela, Cuddy. Só não expliquei em termos físicos ainda porque seria um exagero, quando ela tiver dois anos e meio farei isso".
Cuddy riu e balançou a cabeça.
"E da mamãe? Você gosta da mamãe?". House perguntou para a filha.
"SIM!".
"Quanto você gosta da mamãe?".
"Infinto". Ela disse fazendo os pais rirem.
"Me dá um beijo?". House pediu e sua filha deu um beijo estalado nele.
"Ai!". A menina reclamou passando a mão na boca.
"O que foi?".
"Espeta!". Ela respondeu e House riu.
"A sua mãe nunca reclamou, ela adora a minha barba".
"House!".
"O que foi?".
"É com a sua filha que estamos falando". Ela arregalou os olhos.
Ele fez uma careta e Gwen gargalhou.
"Não tem problema a sua filha saber que você gosta que a minha barba...".
"House!". Novamente Cuddy chamou a atenção dele e Rachel gargalhou.
"Essa menina adora ver você brigando comigo. Eu tenho medo de Rachel". House disse.
"Bobo!". Gwen falou.
"O quê? Você está chamando o seu pai de bobo?". House perguntou em um tom dramático.
"Rack é bebê". Gwen explicou.
Agora foi Cuddy quem riu alto. "Aprenda sobre a vida com a sua filha que nem dois anos tem".
Gwen beijou o pai e fez carinho nos cabelos dele.
"Eu só não vou responder a altura porque Gwen está aqui e porque eu e ela temos uma conexão especial".
Cuddy tirou o chinelo e arremessou nele.
"Olha o exemplo que você está dando para as suas filhas. Exemplo de violência".
Ela bufou e saiu com Rachel gargalhando em seu colo.
"Finalmente!". House disse quando invadiu o escritório de Wilson e o encontrou.
"Tudo voltando ao normal e nada normal...".
"James Wilson, o filosofo!".
"Vamos beber uma cerveja hoje?".
"Claro! Me pegue as oito".
"Por que você não me pega as oito?".
"Tudo bem, eu vou de moto então...".
"Não, eu te pego as oito". House riu satisfeito e saiu.
Então Wilson passou para buscá-lo as oito horas.
"Cuidem-se!". Cuddy o orientou. "Já que você deixará uma mulher grávida e com duas crianças sozinha em casa, a última coisa que preciso é ter que ir buscá-lo na delegacia".
"Chantagem emocional?".
"Não, duas crianças e outra no ventre". Ela respondeu séria.
"Eu voltarei logo, prometo!".
E ele saiu.
"Ei, que demora!". Wilson reclamou quando House entrou no carro.
"Não é você quem tem que se justificar para uma mulher grávida e com duas crianças para cuidar".
"De fato!".
Minutos depois eles entraram no pub e pediram duas cervejas e alguns petiscos.
"Como estão os planos para o casamento?". Wilson puxou assunto.
"Não estão".
"O quê?".
"Ainda não planejamos nada".
"Vocês não falaram sobre isso?". Wilson parecia surpreso.
"Não".
"Mas... por que você a pediu em casamento?".
"Para me casar. Eventualmente".
"House!".
"Wilson, pare de ser chato e beba a sua cerveja".
"Vocês vão esperar o seu filho nascer para se casarem?".
"Não sei...".
"Vocês precisam saber!".
"Você será o meu padrinho de qualquer forma, não precisa insistir". House falou sarcástico.
"Eu? Sério?". Wilson estava emocionado.
"E quem mais seria?". House fez cara de 'Duh'.
"Wow! Obrigado! É uma honra".
"Agora eu não sei onde e quando será. Mas você já está avisado. Esteja lá!".
Wilson balançou a cabeça.
"E Blythe? Como ela está?".
"Ela deve estar bem. Melhor agora sem John".
"House, não seja insensível".
"É verdade. Por que a verdade assusta tanto as pessoas?".
"Porque temos empatia pelas pessoas e somos seres humanos...".
"Ok, foi uma pergunta retórica".
"Você já abriu aquele pacote que o seu pai deixou para você?". Wilson estava curioso.
"Não e eu não quero falar sobre isso. Que tal falarmos sobre... A Pocahontas?".
"Quem é Pocahontas?".
E assim House cortou o assunto.
"Ficamos mais de um mês sem nos ver e na primeira consulta presencial você se atrasa?". Dra. Layla reclamou bem humorada para o seu paciente.
"Eu te liguei semanalmente do outro lado do oceano".
Ela riu. "Como foi a viagem para o funeral de seu pai? E eu sinto muito por sua perda".
"Não é uma perda, ele era um idiota".
"Então é um alivio?".
"Não... Nós quase não nos víamos. É como se nada tivesse mudado".
"Mas mudou. Ele não está mais nesse mundo".
"Ele não está em nenhum mundo, se você acredita em vida após a morte, sinto dizer, mas isso não existe".
"Então de acordo com a sua filosofia John não existe mais em canto algum".
"Só na memória dos que ficam. E garanto a você, não são boas memórias".
"Então não importa o que fazemos de nossa vida afinal, não existe consequência".
"A consequência é aqui".
"Então Deus é injusto?".
"Deus não existe!".
"Somos aleatórios então?".
"Você acha mais fácil acreditar em uma figura divina que criou tudo e todos do que na aleatoriedade do universo?".
"A questão não sou eu, mas você".
Ele bufou e calou-se. O silencio imperou no ambiente por alguns segundos tortuosos.
"Ele me deu uma coisa". House disse.
"Quem?".
"John. Quer dizer... Ele pediu para a minha mãe me dar algo".
"E o que é isso?".
"Eu não sei".
Dra. Layla olhou para ele curiosa.
"É um pacote fechado, embrulhado. Eu ainda não o abri".
"Uh. Você voltou há uma semana e ainda não abriu o embrulho?".
"Existe um agendamento para essas coisas? Um calendário? SLA?".
"Por que você ainda não abriu?".
"Por que eu ainda não me joguei de um avião em movimento?".
"Deflexão não ajudará".
"Eu não sei". Ele respondeu com sinceridade e voz fraca.
"Você tem medo do que encontrará?".
Ele riu. "Nada que John faça me chocará".
"Tem certeza disso?".
"Eu não sei o que eu encontrarei".
"E isso te assusta?".
"Eu não sei o que eu sinto".
"O que pode acontecer de pior? Qual é a sua pior expectativa sobre esse embrulho?".
"Que eu não ache nada útil".
"Útil?".
"Algo que me explique porque John me odiava".
"Então você espera encontrar respostas?".
"Talvez".
"E você está com medo de abrir esse pacote, pois isso é a sua última esperança. Você não terá outra chance de falar com o seu pai depois disso".
Ele ficou calado por um tempo e depois disse: "Aí estará tudo acabado, definitivamente".
Naquela noite House entrou em casa e encontrou Gwen brincando no chão da sala e Rachel brincando no colo da mãe.
"Ei meninas!".
As três sorriram para ele.
House comeu alguma coisa, depois brincou um pouco com as filhas e as meninas foram colocadas para dormir.
"Eu estava pensando...". House começou. "Você tem alguma ideia sobre o casamento?".
"Que casamento?". Cuddy perguntou confusa.
"Como assim 'que casamento?', o nosso casamento".
Cuddy arregalou os olhos, eles nunca mais tinham falado sobre o assunto. Tanta coisa aconteceu nas últimas semanas que sua mente estava tomada por outras questões.
"Eu não pensei sobre nada ainda. E você?".
"Eu só não queria uma festa com um monte de desconhecidos". House disse.
"Nem eu!".
Ele balançou a cabeça concordando com ela. "Vamos nos casar antes ou depois de Arnold nascer?".
"Antes? E não será Arnold".
"Então temos que pensar em algo rapidamente".
"Eu só quero me casar com você. Não precisa de mais nada".
Ele olhou para ela suspeito. "Tudo bem, eu acredito".
"É sério!".
"Vamos pensar em algo".
Cuddy se surpreendeu com o dialogo, mas não iria reclamar. Eles ficaram em silêncio arrumando a cama para dormirem, mas alguns minutos depois House teve uma ideia brilhante, pelo menos ele pensou que seria uma ideia brilhante.
"Por que não nos casamos nesse final de semana?".
"Nesse final de semana você quer dizer... depois de amanhã?". Ela perguntou chocada.
"Então no próximo...".
"Por que de repente você quer se casar com tanta urgência?".
"Eu não quero, eu pensei que você queria se casar antes de Lars nascer".
"Eu não pensei sobre isso... Não tivemos tempo para pensar. E não, nosso filho não se chamará Lars".
"Como você espera que seja esse casamento? Muitas pessoas? Comida? Dança?". Ele não queria nenhuma dessas coisas, mas o que ele faria agora? Foi ele quem propôs casamento e essas coisas estavam no pacote, não estavam? Apesar dela ter concordando no início do dialogo com algo simples, ele desconfiava que não era esse o desejo real de sua noiva.
"Eu só espero poder viver com você e com as crianças como uma família. Eu só espero poder chama-lo de meu marido. Isso pode parecer bobo pra você, mas... Ok, falando assim é bobo mesmo, mas eu sempre quis me casar por amor, e eu te amo. Eu te amo muito!".
O coração de House derreteu naquele momento, ela tinha o poder de fazê-lo se desmanchar.
"Eu quero o que você quiser. Eu quero te fazer feliz!". Ele respondeu com sinceridade.
"Eu não quero uma festa chique e pomposa. Eu não quero convidar metade do pessoal do hospital e a outra metade ficar irritada comigo porque eu não os convidei. Eu não quero gastar rios de dinheiro dando festa para as pessoas ainda falarem mal ao final. Eu quero nós! Eu quero a nossa família e quem é importante para nós".
"Então Arlene ficará fora...".
Ela riu. "Algumas pessoas não conseguiremos excluir de nossas vidas, pelo bem ou pelo mal. Mas a maioria não precisa estar presente. A maioria nem acreditava em nós!".
Ele balançou a cabeça em sinal de concordância.
"Pra mim é importante que você esteja lá. E nossas filhas. O nosso filho estará lá de qualquer maneira". Ela disse alisando a barriga.
"Então o que você acha de nos casarmos no próximo sábado? Podemos nos casar em Michigan, onde nos conhecemos, onde tudo começou".
"Michigan?". Ela perguntou surpresa, mas ao mesmo tempo feliz com o gesto romântico dele.
"Sim! Eu pensei em casar no Campus".
Ela riu.
"É sério!".
"Eles têm aulas e atividades no Campus aos sábados e eu não quero ser uma distração para a educação dos jovens". Ela respondeu bem humorada.
"Você não gosta da ideia?". Ele perguntou magoado.
"Eu amo a ideia! É tão romântica! Mas não podemos nos casar no Campus... Talvez... Possamos passear pelo Campus só nós dois para recordarmos... Mas podemos nos casar em um salão de festas perto de lá".
O rosto dele voltou a se iluminar.
"Eu vou pesquisar amanhã mesmo algum salão perto do Campus, senhor House". Cuddy falou resoluta.
"Uh... Futura senhora House, como sempre no controle".
"Eu não disse que mudarei o meu nome". Ela respondeu divertida.
"Você não ficará com o nome diferente do nome de seus filhos...".
"Todos me conhecem como Cuddy".
"Cuddy-House funciona pra mim". Ele respondeu. "Aliás, eu mal posso esperar para trocarem a placa de identificação da sua sala: Lisa Cuddy-House".
Ela riu alto. "Eu te amo!".
"Eu sei!".
Ela deu um tapa no braço dele e logo um beijo profundo.
Naquela noite ele esperou Cuddy dormir profundamente e então levantou devagar, se arrastou até o guarda-roupas, lá no fundo estava o embrulho. House respirou fundo e o pegou, depois ele foi em direção à sala, ele sentiu que precisava de algum apoio para ter coragem de continuar a saga, então ele abriu uma vodka para ser a sua companheira e desenrolou o papel que guardava o mistério.
Continua...
