Capítulo 2
Por mais que as coisas estivessem incríveis no que se referia ao relacionamento de Alan com seus pais e Sarah, assim como em sua confiança, ele ainda precisava seguir com seus estudos; e depois de discutir o assunto extensamente com seu pai, ele aceitou ir para Cliffside, o colégio interno frequentado por toda a sua família.
E, agora, quatro anos depois, por mais que sempre encontrasse alguma razão para querer voltar para casa logo, Sarah sendo um dos principais motivos, tinha que admitir que aquele colégio era bem melhor do que ele pensava; e a verdade era que Alan estava usufruindo bastante daquela experiência. Ele estava doido para contar como estavam sendo as coisas agora que estava prestes a iniciar seu último ano no ensino médio, porém ao chegar em Brantford e ver Sarah conversando com Billy em frente ao mercado, seus ciúmes afloraram de maneira quase descontrolada.
Alan sabia que não havia razão para isso afinal, se Sarah realmente estivesse interessada em outro, certamente já teria terminado com ele, mas, ainda assim, era difícil encarar aquela cena e não sentir vontade de obrigar Billy a se afastar dela.
Ele se aproximou dos dois agindo da maneira mais natural possível e deu um beijo rápido em Sarah e um aceno de cabeça na direção de Billy à guisa de cumprimento. Não confiava em si mesmo para falar algo naquele momento. A seguir a jovem se despediu de Billy e eles seguiram para a casa de Alan de mãos dadas, porém em um silêncio incômodo que logo fez Sarah perceber que alguma coisa estava errada.
Ao chegarem na residência Parrish, Alan informa seus pais de que está em casa e segue para seu quarto, deixando Sarah para trás conversando com eles, mas a jovem não permite que muito tempo se passe antes de ir atrás dele para descobrir o que estava acontecendo.
Congela o teu olhar no meu
Esconde que já percebeu
Que todo o meu amor é teu amor
Então vem cá
— O que foi, Alan? Você disse que estava ansioso pra voltar pra casa, pra me ver, e agora age como se não me quisesse por perto — a jovem falou um pouco irritada.
— Talvez seja você quem não me quer por perto — Alan respondeu no mesmo tom com o cenho franzido. — Afinal, parecia estar muito bem conversando com o Billy.
Sarah revirou os olhos e suspirou.
— É sério, Alan? Pelo amor de Deus, estávamos apenas conversando; e no meio da rua. Qual é o problema?
— O problema é que esse idiota não para de correr atrás de você e, aparentemente, isso não te incomoda.
Em pouco tempo, os dois discutiam de maneira levemente exaltada e Sarah dava graças a Deus pelos pais de Alan terem ido ao supermercado, ou seria difícil explicar o que estava acontecendo naquele momento.
Quando ambos já estavam vermelhos e sem fôlego pra prosseguir, Sarah se sentou na cama, parecendo cansada e murmurou:
— É impressão minha ou voltamos a Jumanji? — ela questionou e, apesar de ainda estar um pouco irritado, Alan não pôde impedir que um sorriso cruzasse seu rosto. Ao se encararem, Sarah e ele caíram na gargalhada, o que quebra a seriedade da situação.
Que nós, até Caio1 escreveu
Parece que nos conheceu
Em mel e girassóis te peço, só te peço
— Você está certa — Alan admitiu se sentando ao lado dela e passando a mão por seus cabelos. — Tenho a impressão de que quase todas as brigas que tivemos foram por causa do Billy.
— Na verdade, a culpa é sua — ela disse com um sorriso gentil. — Em nenhuma dessas brigas você tinha razão pra estar com ciúme dele — a jovem rebateu arqueando uma sobrancelha ao encará-lo.
— Quem disse que estou com ciúmes? — questionou Alan tentando sério, mas ao ver o sorriso irônico no rosto de Sarah ele não resistiu e sorriu também. — Ok. Admito que sou um pouco ciumento, mas...
— Um pouco? Uma das nossas primeiras discussões depois que você passou vinte e seis anos na selva foi justamente sobre o Billy, e a Judy me disse que você acreditava que eu tinha me casado com o Billy e morava em um trailer.
Nesse momento o rosto de Alan ficou vermelho.
— Aquela fofoqueira te contou isso? — ele perguntou emburrado e Sarah riu.
— Contou. Naquela hora que você fugiu do Van Pelt — a jovem explicou lembrando das aventuras que vivenciaram não muito tempo atrás. — Eu ainda cheguei a cogitar que pudesse ser uma brincadeira, mas ela não poderia saber o nome do Billy se você não o tivesse mencionado...
— Bom... em minha defesa, passei vinte e seis anos na selva lutando pra ficar vivo. Isso poderia ter acontecido nesse meio tempo, não é?
— Claro, muita coisa aconteceu em vinte e seis anos, mas nunca te passou pela cabeça que se eu quisesse estar com o Billy agora não teria beijado ele ou aceitado namorar ele ao invés de estar aqui com você? — ela indagou em um tom frustrado. — Que, mesmo depois disso, eu poderia ter terminado com você e ter ficado com ele? Você não poderia me impedir, Alan.
— Eu sei — ele concordou suspirando e tendo plena noção de que Sarah estava certa. — Mas quando eu vejo vocês dois juntos, sempre lembro de como ele vivia dizendo que vocês namoravam e o quanto eu tive que esperar pra estar com você novamente enquanto ele estava bem aqui. Eu...
— Alan... — ela disse segurando a mão dele e a apertando levemente. — Você chegou exatamente no ponto que eu queria. Você não acha que já perdemos muito tempo? Nós passamos vinte e seis anos separados e eu nunca parei de pensar em você durante esse tempo e, pelo que posso ver, você também não conseguia me tirar da cabeça — ela prosseguiu com um pequeno sorriso. — E agora que temos uma segunda chance, você realmente quer perder tempo discutindo por causa do Billy?
Alan a encarou sério.
— É óbvio que não quero, mas ele fica igual a um urubu em cima de você. — Sarah riu mais uma vez.
— Pelo amor de Deus, Alan. Ele se desculpou com nós dois e eu ainda estudo na mesma turma que ele. Somos amigos. Só amigos.
Fica
Fica, me queira e queira ficar
— Não acredito que ele queira ser só seu amigo... Você é incrível demais pra ele ter desistido assim. — O rosto de Sarah corou diante do elogio e ela encostou sua cabeça no ombro dele, feliz por estarem conseguindo se entender.
— Pode ser que não, mas você precisa confiar em mim — a jovem insistiu. — A única pessoa com quem quero estar é você, então vê se enfia nessa cabeça dura que o Billy não oferece nenhum perigo, seu bobo.
— Tem certeza?
— Alan!
— Ok. Ok. Me desculpe — ele pediu sorrindo enquanto aproximava seu rosto do dela e lhe dava um beijo. — Eu prometo que vou me esforçar pra não ser tão ciumento com relação a esse idiota.
— Alan...
— Tá bom. — Ele deu mais um beijo nela. — Sem perder tempo. — Alan continuou beijando-a em meio as palavras que dizia e, aos poucos, aprofundava o beijo.
— Sem perder tempo — murmurou Sarah enquanto Alan a deitava na cama e pressionava seu corpo contra o dela. — Você já está de férias? — Sarah indagou quando Alan parou de beijá-la e passou a fitá-la apaixonadamente.
Ele assentiu.
— Então temos dois meses pra fazer tudo o que quisermos? — a jovem perguntou animada, antecipando todos os passeios e atividades que havia planejados para eles.
— Sim. Vamos fazer tudo que você quiser. Tem algum lugar em mente pra hoje? — Ela assentiu.
— O que quer fazer?
Sarah voltou a beijá-lo.
— Acho que isso responde à sua pergunta — ela completou sorrindo. —Amanhã podemos sair. Hoje só quero ficar aqui com o meu namorado; pelo menos até os seus pais voltarem.
Os dois riram e Alan voltou a beijá-la.
Sabia que logo sua mãe apareceria reclamando por ele ter encostado a porta estando com Sarah no quarto, portanto, tinham que aproveitar aquele momento. Sua namorada estava totalmente certa: eles não tinham tempo a perder.
Faz o que quiser de mim,
Contanto que não falte tempo pra me amar
[Fica – AnaVitória e Matheus e Kauan]
1 Caio Fernando Abreu, é um escritor e o livro Mel e Girassóis é dele.
