Ela estava tão distraída caminhando em direção a sala, que não percebeu a presença tão próxima de si. Divagava ainda sobre o trabalho e um certo moreno de um e oitenta que a perseguia com afinco, quando sentiu o braço ser puxado. Os olhos prateados arregalaram-se ao ser puxada para o canto justamente por aquele da qual ela fugiria a vida toda se fosse preciso. Sentiu o coração bater terrivelmente acelerado, os lábios secarem-se ligeiramente e a face esquentou num misto de mágoa, raiva e amor. Cacete! Eram quase sete anos apaixonada pela mesma pessoa que não tivera um pingo só de consideração por ela.

—A gente precisa conversar. – ouviu a voz do loiro e só então conseguiu encarar os olhos azuis. Estava desnorteada ainda, e percebendo o toque dele quente ainda sobre sua pele, ao segurar seu braço, ela esquivou-se saindo daquele contato.

Seu corpo tremia.

—Não temos nada pra falar, Naruto. Me dá licença tenho que entrar. – Ela deu um passo a fim de afastar-se dele, mas ele a segurou novamente a encostando contra a parede.

— É claro que temos que conversar! – Ele sorriu charmoso olhando nos olhos, ela pensou como ele poderia ser tão cínico? Sentiu os lábios trêmulos, o coração apertado, mas ela o amava e por isso tinha ódio. – Hina... – silabou - precisamos conversar, ainda somos amigos, certo? – ele levou a mão ao rosto dela que piscou algumas vezes encarando o sorriso quente dele como se buscasse digerir; os olhos azuis de um céu de verão sem nuvens...

Era inevitável não sentir seus olhos ardidos e pesados. Como ele poderia representar luminosidade e ainda assim, ser o ser humano mais frio que ela convivera? Sentiu seus lábios ligeiramente trêmulos em uma luta entre a razão e a emoção, entre o sentimento de amor e ódio. Num ato de impulso agressivo diferente de si, ela empurrou a mão dele de si dando um tapa.

—Você me deu um fora por mensagem, Naruto! Mensagem! Você não conversou comigo, não... Me respeitou nem um segundo, você me trocou! – ela bradou áspera e levou a mão aos lábios. – Você teve uma consideração tão pequena por mim.

—Não é bem assim, Hinata – ele mudou o semblante, o sorriso quente desfez-se, o brilho azulado de verão, deu lugar ao azul gelado – eu tentei conversar contigo, você que fugiu. – Acusou-a.

Chocada, ela gargalhou irritada demais.

—Quase três anos de relacionamento e você só tem isso pra me dizer? – Havia uma imensa indignação no tom de voz dela. Naquele instante ela realmente cogitou se valia a pena aquela discussão, aquela perda de tempo, dar a ele mais do seu tempo que era precioso demais, afinal, já perdera demais. Não… ele não valia seu tempo e esforço, ela tinha o mínimo de orgulho próprio, que aliás, orgulho esse parecia algo natural da sua família. Negou com a cabeça e tentou sair dele novamente, e outra vez fora impedida. E isso estava começando a irritá-la pra valer.

—Você superestima muito as pessoas. Deposita expectativas demais. Mas tudo bem, gosto de você assim. – fez uma pausa e deslizou a mão livre pelos fios loiros os jogando para trás enquanto ainda a encarava - Eu não sou ruim, Hinata, só vi a chance de ser feliz e agarrei, você faria o mesmo. O egoísmo é algo humano.

Os olhos dela arregalaram-se e ao mesmo tempo sentiu o coração ser partido outra vez pela mesma pessoa, só que de forma que nunca achou que fosse possível.

—Mas mal caratismo é individual – ela o empurrou com a força do ódio, mas ele não se moveu em nada. Quem queria enganar? Ele era muito mais alto, mais forte e ainda era atleta.

—Ei, ei... Porque tá agressiva assim? Eu só quero ser seu amigo, eu quero me desculpar.

Intragável. Qual era aquele papo mesmo?

—Só... Me deixa em paz e tá tudo bem. Seja... Egoistamente feliz. – Ela gesticulou, mas queria do fundo do seu coração o manda-lo a merda. Talvez por azar, era recatada demais para tal, ou travada demais ainda.

Irritado com a teimosia da garota, ele passou as mãos sobre o rosto.

—Desculpa te decepcionar, só aconteceu.

—Você fez bem mais que me decepcionar, mas tudo bem. – Ela se afastou dele finalmente sem ser impedida, não olhou para trás, ou de fato se propôs ao menos a pensar em desculpa-lo, mas era irônico que ele também não fizesse esforço algum por ela.

Hinata entrou na sala e sentou no canto; pensou no seu surto no sábado, ainda na bad, quando pegou todas as lembranças de Naruto em sua vida e as picou numa caixa a colocando no lixo. Eram fotos, bilhetes, anotações, presentes... Tudo foi para o lixo sem dó, era como se ele nunca tivesse em tese existido em sua vida e sinceramente, ela pensou que seria a melhor coisa se ele realmente nunca tivesse existido. Nunca tivesse ido para aquele colégio, e tivesse feito como Sasuke, optado por uma bolsa externa.

Que bela porcaria de ironia!

Suspirou e viu Naruto finalmente entrar.

Foda-se ele!

...

Ela alisou o blazer próximo a barriga enquanto a máquina de expresso terminava de encher seu copo térmico. A Hyuuga estagiava na seguradora Otsutsuki a quase dois anos, e embora o dono dela, Hamura, fosse um velho conhecido do seu pai, sua entrada ali foi mérito próprio, pois, fora recomendada por um dos seus professores. Os Hyuuga também tinham uma empresa, essa em escala bem menor, era uma prestadora de serviço que era sempre contratada por empresas maiores, tentavam crescer no mercado e Hinata era uma das apostas do seu pai, junto com Neji.

Naquele momento, ela estava tendo mais uma das suas conversas com Toneri, o filho mais novo de Hamura, que era tecnicamente seu chefe no departamento pessoal. Mais cedo ela havia falado do seu fiasco romântico com Naruto e ouviu o platinado concordar consigo que Naruto merecia apenas desprezo.

Toneri era um cara legal, não como a maioria dos caras eram. Fora que ele havia se formado junto com seu irmão Neji, e eram amigos. O que fizera ele frequentar bastante sua casa. Seria um cara perfeito para se namorar e até casar, se não fosse o principal: eles não tinham nem uma gota de química. Ele não fazia seu tipo e ela também não fazia o dele, tinham personalidades ligeiramente parecidas e isso os aproximou mais. Ela chegou até mesmo a cogitar que ele fosse gay, mas não era o caso. E falando em relacionamentos, lá estava o platinado ao seu lado suspirando novamente vendo a loira do departamento jurídico que estava lendo algo com aquela mesma face agressiva de sempre.

Hinata achava extremamente improvável aquilo, mas né? Quem manda no coração?! Temari era uma das advogadas sênior da empresa, era linda, forte e dona de um humor carregado de provocação e sarcasmo.

Quebrando aquele silêncio momentâneo entre eles, assim que ela pegou o seu café, ela falou:

—Já falou com ela?

Toneri suspirou longamente e desviou o olhar da mulher loira que usava um belo terninho com saia e um scarpin alto... Tinha pernas longas e bonitas da qual ele babava sempre.

—Ela é tão... Direta. - Ele estremeceu.

—Ela te deu um fora? – arqueou a sobrancelha bebericando o café logo em seguida.

—ainda não, mas quem garante que ela não vai dar?

Hinata deu uma risadinha.

—Só vai saber se a chamar para sair.

—O último cara que chamou ela pra sair, ainda tá curando o ego escorraçado.

Hinata quase gargalhou se lembrando do sujeito que pediu transferência de departamento.

—ahhh ela não é tão mal assim... – disse Hinata o incentivando, então o grito feroz de Temari fizera ambos saltarem-se estremecendo, Hinata quase deixou o café derramar.

Viram a loira intimidar um cara que se encolhia diante dos argumentos que ela falava apontando o papel que lia minutos antes, e a Hyuuga reconheceu o sujeito.

—Aquele é...

Engolindo em seco, Toneri falou:

—é sim... É o chefe do setor jurídico.

—Caramba... Ela meio que...

—Dá medo.

—é... Quer dizer – pigarreou – ela é uma mulher de... Personalidade forte

—E pratica muay thai. Eu sou muito imbecil de me apaixonar logo por ela.

—Como isso aconteceu em nome de Deus? — ela quase gargalhou.

Ele deu de ombros.

—Vai ver que, lá no fundo eu tenho fantasias masoquistas.

—Ai que horror! – ela queria lavar a mente com o que pensou - eu preciso trabalhar. Preciso sair no horário hoje, tenho compromisso.

—Encontro? – ele virou-se para ela e arqueou o cenho.

— Não, eu vou só sair com um amigo.

—é o mesmo que você agarrou no palco da Gedo Mazo?

Ela corou-se, até que ponto aquele maldito vídeo seria lembrado?

—Talvez...

—Então não é amigo.

...

Ela reforçou um pouco do lápis nos olhos, havia usado um tom meio azulado metálico e esfumaçou. Não era nada tão chamativo, mas como seus olhos eram claros, sempre que fazia algo assim eles ganham algum destaque melhor. Ela estava pronta para sair depois de Tenten atormenta-la com sua escolha de roupa e finalmente a convencendo a usar aquele short jeans. Não estava tão mal. Colocou uma sandália meia pata, uma blusa de manguinha e os cabelos soltos com as pontas ligeiramente cacheadas. Um batom de tom nude e pegou sua bolsinha transversal de alça metálica guardando o celular dentro. Quando saiu, Tenten estava em uma videoconferência com mais dois colegas de sala, provavelmente fazendo algum trabalho ou discutindo algo, então ela apenas mandou um beijinho e até logo baixinho.

Desceu as escadas e quando chegou na portaria saindo do prédio quase teve um mini infarto, não pelo Uchiha, afinal ele estava bonito, inegavelmente ele era um cara descolado, mas era aquele monstro que ela encarava que era o problema: uma moto. Já ele, ainda estava babando na garota. Definitivamente ela tinha pernas lindas e deveria as deixar mais expostas.

— Eu me recuso a subir nisso!

—Tsc!

—Eu tô falando sério, Sasuke! Você tem noção da quantidade de mortes no trânsito decorrentes de imprudência em motocicletas? E tem muitos documentários sobre lesões agravantes, isso não tem proteção e...

E quanto mais ela falava, mais os olhos dele reviraram... Senhorita certinha demais. Como era irritante. Cansado daquilo, ele pegou o capacete reserva que havia trago para ela, e enquanto ela falava, ele, sem nenhuma gentileza, enfiou na cabeça dela e imediatamente ela começou a se debater, mas ele a agarrou pelos ombros e olhou-a bem nos olhos pelo visor aberto.

—Vou cuidar bem de você, prometo.

Ela parou com os movimentos de repente e sentiu as bochechas quentes.

Não estava tão convencida assim, mas suavizou enquanto ele ajustava o capacete em si. Então ele subiu na moto, e ela, ainda muito receosa, montou parecendo tão pequena para a moto grande e potente. Agarrou-se então bastante apertada contra o corpo do Uchiha. Tudo bem, ela estava nervosa, mas agora ele pedia a Deus serenidade para resistir aquilo, bastava a mão dela forçar mais um pouquinho de nada... Estavam sobre os gomos de seu abdômen.

Ele apertou o acelerador queimando um tanto e sentiu ela aperta-lo mais e um sorrisinho nasceu nos lábios do Uchiha por baixo do próprio capacete. Arrancou de uma vez.

Começaram a percorrer rapidamente as ruas até caírem na estrada expressa.

—Curte aí Hyuuga. Olha pelo menos a paisagem – ele gritou enquanto pilotava.

Hinata negava-se até mesmo abrir os olhos, mas virou a cabeça de lado e abriu os olhos vendo a moto dançando rápido demais no corredor cortando os carros em alta velocidade, estava perto demais e isso a fez surtar em gritos, mas ele gargalhou até sentir os soquinho revoltados dela em suas costas.

—Não tem graça!

—ahhh tem sim, tá toda medrosa. – Ele gritou de volta.

—eu to – ela confessou corada.

—Não precisa ter medo não. É adrenalina... Para de ver só o copo meio vazio, garota!

—Morta eu não posso ver copo nenhum!

Ele desviou o caminho rapidamente e então acessou seu lugar favorito: a ponte arco-íris. Reduziu a velocidade. A noite aquele lugar ficava ainda mais bonito.

—Olha isso – ele a chamou. – Vamos lá, dá uma chance.

Ela afastou-se um pouco das costas dele e viu as luzes deslumbrada, bem como o contorno da imponente construção. Começaram a atravessar o lugar que ficava sobre o rio Ashiro que terminava no mar, as luzes batiam da forma certa ali e era incrível. Ela já passou ali várias vezes na correria do dia-a-dia, mas nunca havia de fato se dado conta de como era simplesmente bonita, tanto que era cartão postal de Konoha.

—é... Lindo... – ele sorriu cativado com a constatação dela e sentiu que o aperto diminuiu um pouco, e embora isso fosse bom, porque ela confiou um pouco mais, também era ruim, porque gostou se sentir o calor dela misturando-se ao seu.

—é sim...– disse ele olhando pelo retrovisor vendo os contornos da silhueta dela pelo reflexo com os cabelos esvoaçando ao vento.-

...

Eles foram ao cinema do outro lado da cidade, e mesmo lutando contra tudo, ele a deixou escolher o filme que foi zero surpresa ao ver se tratar de comédia romântica. Ele comprou um combo de pipoca e refri pra eles e afundou-se na poltrona sabendo que mal chegou já querendo sair. À medida que o filme rolava, ele a via completamente envolvida com aquilo, mas a cabeça dele estava claramente em parafuso, afinal, as ações do cara do filme na maioria das vezes era tão diferente do real, era aquele tipo de coisa que meninas sonhavam afinal?

Bom, sua resposta veio rápido com Hinata chorando.

—Você tá bem? – ele sussurrou ao arquear o cenho.

—E-eu tô... É só que... É tão bonito isso, né?

—É? – franziu o cenho, questionava-se se realmente estavam vendo o mesmo filme.

—é que... Ele a amou até o fim e... É perfeito faz a gente se perguntar se existe esse tipo de... Amor como eles...

O que seria aquele tipo de amor, exatamente? Os romances? As coincidências? Os clichês? Qual parte ela se referia? Aquilo ficaria um bom tempo em sua cabeça. Fora que, Hinata estava claramente emotiva, e ele tinha quase certeza que tinha algo a ver com o recente término com o babaca do Uzumaki. Era engraçado, o cara que foi seu melhor amigo por tantos anos, desde o colegial, tornara-se um estranho e odiado para si.

Quando o filme terminou, eles saíram e no estacionamento ele viu a mesma careta dela olhando para a moto.

—Deveria perder logo o medo, vai andar bastante nela – ele disse meio rude a sua maneira.

—Perder o medo… — ela resmungou de forma tão adorável que ele quis rir — fala como se fosse assim, né? – ela disse estalando os dedos.

— É fácil, é só você começar a pilotar também.

—O que? – ela arregalou os olhos. – Tá maluco! Nem em sonhos, isso é uma máquina de morte.

Ele virou-se e segurou o queixo dela.

—Quem sabe um dia a gente tenta praticar – se aproximou do ouvido da Hyuuga – começa bem devagarzinho... E aceleramos até você chegar lá – ela roçou as coxas, questionava-se como ele conseguia ser tão sexy e provocante mesmo sendo tão frio e rude? Aquele jeitinho dele a fizera até considerar montar naquela coisa só para tê-lo daquele modo no seu ouvido novamente

Pera, o que ela tava pensando?

Bateu no peito dele que gargalhou, ela então sentiu o coração mais quente e as bochechas também!

—Pervertido!

—Quem pensou maldade foi você, Hyuuga – ele pegou uma mexa do cabelo dela e cheirou, ainda com o mesmo sorrisinho sacana ronronou – tá caidinha por mim e não aceita.

—Não tô não! Acho que tá mal acostumado com seu fã clube – ela disse pegando o capacete e enfiando na cabeça, jamais o deixaria vê-la corada naquele momento.

—Ficaria feliz só com você nele – disse ele colocando o capacete também enquanto tinha um sorriso nos láios.

Eles foram ao restaurante tailandês como planejado, e quando voltaram já estava bem tarde. Sasuke parou em frente ao prédio dela e estabilizou a moto se encostando na mesma tirando assim o capacete e vendo a garota parada a sua frente tirando o seu, ela o entregou e ele prendeu. Hinata parecia um pouco mais leve, mais ansiosa e hesitante.

—Sabe... Até que... Foi bem divertido... E...

Ele não respondeu em palavras, apenas enlaçou a cintura dela de uma vez e a trouxe para si a beijando pra valer. A língua pediu passagem de uma vez e a mão dele agarrou a nuca dela apertando. Sentiu as mãos dela envolveram seu pescoço e os dedos deslizaram suave em seus cabelos. Explorava todo espaço da boca pequena e as línguas tocavam-se provocando o desesperado impulso excitante, a mão dele deslizou além da curva do quadril dela e então afastaram-se ofegantes. Ela completamente desnorteada abrindo os olhos sentindo as pernas bambas pra valer, bem como um desejo quente que pulsava em seu baixo ventre.

— Isso é um obrigado convincente – ele deu um risinho e colocou o capacete montando na moto e saindo dali a deixando ainda desnorteada com o que acontecera e como sentia-se.

Aquilo foi mesmo um encontro?

Bom, se sim, foi um programa… diferente...

As coxas tornaram-se a roçar com forças enquanto ela mordiscou o lábio inferior.

(...)

Ela digitou mais uma vez algo no seu bloco de anotações no celular e abaixou a mão sobre os joelhos. Sentada na arquibancada da quadra aberta, ela bufou mais uma vez. Estava com uma concentração fraca demais, talvez por conta de todas aquelas coisas que passavam em sua mente. Era um fato, sua cabeça estava uma zona. Se recapitulasse, tudo que ela considerava certo e normal havia se partido. Sempre foi uma boa garota, daquelas que cumpriam horário, ia bem no colégio, participava do coro da igreja, ajudava com o serviço comunitário, em fim. Ela sempre aprendeu que coisas boas aconteciam com pessoas boas, que elas eram de alguma forma recompensada por Deus por serem boas, não que ela fosse assim apenas esperando por tais recompensas, não era essa questão, mas ela aprendeu desde que criança por exemplo, que se você estudasse e se dedicasse bastante, você se destacaria e lógico conseguiria melhores oportunidades, e foi em cima de tal comportamento que ela cultivou-se. Ela decidiu se privar de tantas coisas para colher os frutos lá na frente e era certo que colheria. Então ela se apaixona por um garoto que parecia um dos príncipes encantados dos livros que sempre a liam quando criança. Ela nunca havia realmente se apaixonado para valer até chegar ao ensino médio, então, como se os contos fossem reais, ela, a princesa em perigo e acuada por um grupo de valentões fora salva por ele.

Ela se lembrava com detalhes daquele dia como uma câmera lenta, de como a luz batia da forma certa iluminando os cabelos loiros dele ou de como o sorriso ladino dele ao socar os garotos parecia incrivelmente sexy ao ponto de estremecer suas pernas. Ou de como os olhos azuis dele eram tão frios e quente ao mesmo tempo como fogo e gelo e ela sentiu o coração acelerar tão intenso. Era o seu príncipe encantado que viera a salvar. Talvez fora ali que ela acreditou em amor à primeira vista. Questionou-se mentalmente se talvez fosse outro, teria se apaixonado da mesma forma?

Talvez ele tivesse razão, mesmo sendo um babaca de merda. Ela idealizava demais.

Hinata se lembrava que apartir daquele dia, ele trocou poucas palavras com ela, que estava acuada e tímida demais, talvez ela achasse que ainda era medo pelos garotos, mal sabendo que era os efeitos do primeiro amor que a sufocavam em uma avalanche. Depois daquele episódio não foi difícil ela não se tornar devota dele, como diz o ditado: o amor é cego. E ela agora se dava conta que realmente era, e meninas boas só se ferram.

Naruto havia a magoado muito depois de tudo, e agora ela sentia-se não só traída como usada, manipulada... E a culpa certamente não era dele, claro que ele era um merda, mas a culpa era dela porque simplesmente fechou os olhos diante de tantos apelos dos verdadeiros amigos, das inconstâncias dele, dos subterfúgios. Ele nunca a olhou exatamente como uma daquelas garotas como aquelas que estavam bem lá embaixo adiante treinando, já que faziam parte da equipe de torcida da faculdade. Hinata entrou na faculdade por mérito de notas e atividades acadêmicas competentes, com boas cartas de recomendação e uma redação impecável, já elas? A grande maioria era por talento desportivo e nada mais. As médias? Poderiam ser as mais básicas possíveis, e no final, se houvesse um peso de formatura, ocupariam o mesmo lugar, ela que se empenhou tanto, e qualquer uma das meninas ali. Porque no final, ela se esforçou e se formariam juntas. Não que ela tivesse nada contra elas, aliás, só a algumas, como uma garota de cabelos rosa chiclete.

Voltou a digitar mais algumas coisas e então olhou para o treino das garotas ao longe novamente e suspirou.

Se sua vida não estivesse por si só uma bagunça, ainda tinha ele: Sasuke Uchiha, para piorar tudo. Porque era ele naquele momento que fazia o mix agitar-se empurrando todas as suas certezas, tão convictas antes, agora ralo a abaixo. Ele era a combinação mais errada para ela, era rude, arrogante, direto, sombrio... Uma mescla de badboy e lobo mau... Ele surpreendia sua racionalidade e expectativas. Despertava uma curiosidade ruim e sinceramente ela ainda questionava o que ele tanto via nela e o que esperava? Porque decepcionadamente, Hinata vivia agora pé atrás, e depois das grossas palavras de Naruto sobre ela colocar expectativas demais nas pessoas...

Seria o Uchiha mais uma dessas expectativas furadas?

Fechou os olhos passando a mão na testa pela franja e nesses pequenos segundos devaneou no exato instante que o Uchiha a agarrou em um dos corredores da biblioteca, bem como do amasso que tiveram ali, aquilo literalmente a desestabilizou as pernas, mas então ele meio que subitamente desapareceu criando uma distância e ela buscou razões. Razões pela qual ele se afastou e principalmente, razões pela qual ela parecia não querer prolongar essa distância. Sentia falta dele, afinal. Ela hesitou muito a mandar qualquer mensagem ou ligar, ou procurá-lo. Era como se ele houvesse desaparecido da universidade, mas numa noite ela não se segurou mais e mandou um "oi" que fora respondido apenas duas horas depois. Segundo ele, era apenas a especialização cobrando preço, e isso aliado ao fato de estar trabalhando mais aqueles dias.

Se era uma desculpa para só a afastar, era bem convincente. Tão convincente quanto Naruto fora tantas vezes em meio as ausências, mas o que ela esperava? Afinal, ambos foram melhores amigos por muito tempo, era claro que deveriam ser muito parecidos, e isso de alguma forma a incomodou e frustrou.

Abriu os olhos de uma vez ao sentir o calor e aperto de um par de mãos em suas pernas. Encontrou um par de olhos negros a encarando por trás dos fios negros dele.

—Você vacila demais, Hyuuga – ela ouviu o tom rouco e provocador dele soprar quando esse a roubou um beijo rápido se sentando ao seu lado.

—O-o que está... – ela desviou o olhar corada. Subitamente seu coração ainda estava bastante acelerado. A mente repetia: não coloque expectativas, não tenha expectativas.

E a mente logo pensou: porque ela estava tendo expectativas? Afinal, havia interesse de fato?

—Pensa rápido – ele disse jogando algo que as mãos pequenas agarraram rápido ao deixar o celular sobre o colo.

Sorriu ao ver a barra de chocolate branco com cookie, mas se fez de durona.

—Você acha que vai me comprar com isso?

Ele arqueou a sobrancelha a olhando.

—Tudo isso é saudades, Hyuuga?

Ela corou-se completamente, e virou o rosto.

—Não seja arrogante e tão cheio de si! Só...

—Tsc... O que tá fazendo?

Ela voltou a encarar o celular, e mesmo tentando resistir, abriu o chocolate o mordendo com uma certa zanga.

—Um projeto embrião, para finalização de curso.

Ele reclinou-se e jogou as pernas no banco da frente enquanto cruzava os braços frente ao peito.

—Chato...

—Ah, me desculpe se eu preciso dessa chatice para me formar, não sou o prodígio Uchiha que fez isso com um ano de antecedência.

—Hahaha, claro... – ironizou por igual, os olhos negros estavam focados no treino das cheers e Hinata não pode deixar de notar.

Será que ele ainda gostava de alguma forma dela, da Sakura? É claro que gostava, que cara não gostava de garotas como ela? Toda sempre segura, durona, cheia de si, bonita e descolada, super popular...

Então o som da voz dele a despertou daquele invólucro de insegurança.

—Sabe... Garotas assim tem um padrão de consumo, porque não foca seu embrião nessas coisas... Sabe?

Ela piscou algumas vezes como se estivesse digerindo a fala do Uchiha. Olhou em direção às garotas e divagou: padrão de consumo + garotas + tecnologia = startup.

Os olhos arregalaram-se com um brilho intenso.

—Você é um gênio! Deus, eu poderia te dar um beijo! – disse por força de expressão totalmente empolgada. Ele dera um meio sorriso.

—Não seja por isso – disse e a puxou contra si tomando os lábios da garota que tinha as mãos apoiadas no peito forte dele na intenção de empurrar aquele abusado de uma figa, mas quando sentiu o contato demoníaco e molhador de calcinhas da língua dele, suas mãos apenas deslizaram pela extensão do tórax até pararem nos ombros e ela enlaçou o pescoço dele sentindo sua nuca sendo agarrada firmemente.

A língua dele parecia tão fugaz e experiente, explorava sua boca com dominância e parecia capaz de roubar-lhe todo o ar. Mentiria se dissesse que não ficava molinha nos braços masculos, era como se o Uchiha fosse simplesmente capaz de levá-la a um estado fora de si, como se ele fosse completamente capaz de controlá-la. Quando finalmente quebraram aquele contato, ela ainda permaneceu de olhos bem fechados sentindo o efeito dele por todo o seu corpo enquanto sentia a testa dele contra a sua.

Que loucura!

Afastou-se corada com suas próprias reações.

—N-não deveria ficar fazendo essas coisas... São... Muito... Comprometedoras. – Murmurou ela voltando a pegar o celular para fazer suas anotações.

Ele ficou ainda a olhando alguns instantes. Os olhos um pouco cerrados avaliaram.

—Tsc! – pegou sua mochila novamente levantando-se. – Tanto faz! – disse simplesmente.

Hinata arregalou os olhos o vendo se erguer, sentiu o coração apertar-se no peito, os lábios estremeceram ligeiramente e os mordeu. Intimamente queria dizer algo, qualquer coisa, queria mandá-lo ficar, queria apenas transparecer sua insegurança e suas incertezas mas não sabia como. Tinha tanto medo de sentir novamente tudo aquilo outra vez, ou medo dele a achar tão idiota, ou patética ou… ela não era como aquelas garotas, ela não era como a Haruno…

Então ela só temia, afinal, que experiência teria uma garota que teve apenas um único namorado a vida toda?

Como separar emoções ruins das boas? Como transformar experiências ruins em boas oportunidades e aprendizado? Em negócios eram fáceis, mas em se tratar de sentimentos?

Tudo parecia tão acelerado, todos os seus temores, todas as suas inseguranças, suas incertezas e anseios, todas as palavras gritadas em sua mente, a conversa com Naruto e com Tenten…

Sem saber o que falar exatamente, ela soltou a primeira coisa que passou em sua mente:

—E-eu costumo correr! – ele já tinha dado dois passos saindo dali, mas ao ouvir a voz dela, ele parou. Respirou fundo. Ela entendeu que poderia continuar, então prosseguiu – geralmente no final da tarde no parque. – Ela batia os indicadores nervosamente um contra o outro. Sasuke observou isso por cima do ombro, mas ele nada falou. Houve uns instantes de silêncio. – Me ajuda a acalmar a mente.

—Hm... Você tem a mente acelerada demais – disse em tom baixo e saiu.

Ela suspirou observando ele se afastar.

—Sua besta! Idiota! – rosnava baixinho consigo mesma – eu costumo correr... Que conversa mais... Imbecil, Hinata Hyuuga! Qual é o seu problema? E também qual é o problema dele? – esfregou o rosto frustrada – quer saber? Eu tenho muita coisa demais pra me preocupar do que com... Garotos idiotas!