Ela destacou o comprimido e ingeriu com um bom gole de água, repousando o copo logo, em seguida, sobre a mesinha da sala. Usando um par de meias fofas e confortáveis e pijama, Hinata puxou parte das mechas de cabelos soltas para trás da orelha, olhando novamente o celular e dando um novo suspiro.
— Ai, meu Deus, para com isso! Parece que tá morrendo! — Ralhou Tenten de mal humor, fazendo com que a amiga arregalasse os olhos. — Tá... Desculpa! — Abaixou um pouco o tom. — TPM é um inferno e ainda escolheu uma hora de cão pra chegar. – Puxou o ar, tirando os fones do ouvido.
A Mitsashi havia tido uma pequena, quase leve discussão com Hinata sobre sexo no apartamento no dia anterior. Até porque Tenten não dormiu em casa, mas humilhantemente fora chamada de devassa pelo vizinho do lado, dentro do elevador. Bem, essa deveria ser Hinata.
Como se não bastasse, a velha, que morava no andar de baixo, mandou ela usar uma mordaça. Que velha mais... Escrota! Claro que ela não perdeu a chance de dar os recados a Hyuuga, que quase caíra roxa, sem ar, no chão. O fato era que ela apoiava sim uma vida sexual sadia para a azulada, óbvio que sim. Apenas estava em um mal momento, por causa de suas baixas hormonais que eram muito acompanhadas de um ar ranzinza. Tenten tinha quase certeza que, em algum momento da vida, ela seria a velha tia solteirona que tem uma porção de gatos...
— Eu já pedi desculpas! — Resmungou Hinata enquanto suas bochechas eram tingidas de um leve rubor.
— Que se foda! — Ralhou, voltando a atenção para a televisão ligada. — A questão não é você dar um espetáculo para a vizinhança toda, tô com ranço de você olhando pra essa foto o tempo todo.
— Ranço? — Inocentemente, Hinata questionou, arqueando uma sobrancelha.
— Inveja, que seja! Foda-se! Quer saber? Da próxima vez que meu crush me comer igual uma cadela no cio, eu vou tirar uma foto fofa assim pra ficar suspirando igual uma idiota apaixonada. Embora eu já faça isso, olhando pra foto que eu tenho do pau dele.
— Tem foto do pau dele?
— Você não tem do seu? Olha, tá perdendo tempo. Ajuda muito a concentrar naqueles momentos...
— Momentos? Que...
— Masturbação, Hinata! Sabe? Siriricar, tocar umazinha, dar uma clicada... você escolhe.
Talvez Hinata descobrisse novos tons de roxo convivendo com Tenten. Céus, como aquela amizade funcionava mesmo?! Como se lesse as expressões da companheira de moradia, a Mitsashi arqueou a sobrancelha, inclinando-se mais.
— Você se masturba, certo? Diz pra mim que você faz isso.
— Ten... Por Deus!
— Hinata Hyuuga, me diga que tem um vibrador lilás escondido em alguma gaveta, ou que pelo menos exercita os dedos de forma apropriada.
— Isso não é uma conversa... Apropriada.
— Masturbação é sadio. Hinata, me diga...
— Eu não vou dizer!
— Eu não acredito que você não se toca!
— Eu não disse que não fazia.
— Ahh! Então você se siririca também!
— Meu deus! Eu juro por Deus que um dia você me mata!
A Mitsashi deu um risinho vitorioso mediante aquilo, então fitou a garota, que tornou a olhar para a bendita foto, suspirando.
— JÁ CHEGA! MEU DEUS O QUE TEM DEMAIS, NISSO?!
— EU NÃO SEI! É só… fofa... — A Hyuuga formou um pequeno bico com os lábios. — Quer dizer, é uma foto que não mostra nada demais, mas, ao mesmo tempo, mostra tanta coisa e... intimidade. Eu deveria morrer de vergonha, mas olha-lá só me faz lembrar como ele foi... doce...
Sim, agora Tenten gargalhou.
— "Sasuke Uchiha" e "doce" na mesma frase são incondizentes.
— Mas ele é fofo. Quer dizer... — Ela largou o celular no colo e virou-se para a amiga. — Eu não sei explicar... tipo, ele é grosso...
— Deu pra notar, pelos seus gritos. — Disse maliciosa, fazendo a amiga fritar o rosto em uma agonia vermelha.
— Não seja uma pervertida, Tenten!
— Tá, tá, parei. Continua sua análise do Shrek, quer dizer, Sasuke.
— Então... Como eu ia dizendo. Ele é rude, mas também é sincero. Tem aquele jeito todo... arrogante, mas tem pequenos gestos tão... altruístas. Fora que, às vezes, ele sabe a coisa certa a dizer. Quanto eu to com ele, eu me sinto... meio que despida, sabe? Ele é controlador e acaba tirando o meu próprio controle e eu deveria mesmo ficar uma fera com isso, mas acontece que...
— Poder confiar seu controle em outra pessoa te faz sentir coisas. — Completou a Mitsashi e virou um tanto de chá morno. — É... sei como é isso.
— Sabe?
— Não. — Riu sem jeito, corando pela primeira vez. — Quer dizer, sei o que tá sentindo. — Pigarreou, tirando o foco de si. — Tá se apaixonando por ele. É isso que tá rolando.
Hinata sorriu e negou.
— Não... quer dizer. Não é paixão, paixão… Eu diria que se enquadra em... desejo. Uma atração mútua. E, obviamente, a ciência explica esse interesse e também o porquê da companhia dele, de repente, se tornar mais agradável pra mim. Tem mais a ver com meus óvulos e hormônios, que com meus sentimentos.
— Uau! Analisava o Naruto assim também?
— Era diferente. E, depois, não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Obviamente eu era uma garota iludida, apaixonada e incapaz de diferenciar emoções profundas de... prazer carnal.
— Pelo visto, ainda é. — Resmungou Tenten, de forma que ela não pôde ouvir. — Ótimo! Estou feliz, de todo modo, que essa sua "atração mútua" com o Uchiha vem te soltando um pouco mais. Já fez algumas coisas legais, dá até pra escrever um diário com aventuras da pequena Hyuuga. — Provocou.
— Você é terrível!
— E você uma tarada disfarçada! — A almofada finalmente acertou Tenten. – Ora sua...
(...)
Ela tomou o espelho de mão da loira e o jogou na bolsa, fechando a cara com uma notória zanga. Odiava ter que passar por aquilo, ainda mais em público, mas repetia que era por uma boa causa: ferrar a vida de um certo alguém. Ino, que arregalou os olhos ao ter seu objeto tomado à força, abriu e fechou algumas vezes os lábios, porém nada falou. Não que não tivesse nada a dizer, mas, àquela altura da vida, Sakura se tornara uma imensa fábrica de rugas para si. Pelo bem de sua bela pele, ela não ia se estressar, fora que estava treinando seu lado harmônico, como a Ioga ensinava.
Ela inspirou e expirou. Sorriu com um tom de ironia.
— Não tenho culpa se com esse nariz você não pode se olhar no espelho. — Provocou, recebendo um olhar felino de Sakura.
— Cala a merda da boca, Ino, ou juro por Deus que...
— Que o quê? Ah, Sakura! Sejamos francas, ninguém te atura. Vai enxotar a única amiga que te atura e te ajuda?! Me poupe e se poupe. Você anda muito estressada, vou dizer... Não tá transando como se deve, não? — Tornou-se maliciosa. — Achei que o Uzumaki fosse mais... humm... quente.
Sakura puxou o ar intensamente e cerrou os punhos. Sorriu forçadamente e respondeu:
— A gente tá ótimo. Minha vida íntima é perfeita, mas, acontece, Porquinha, — ela deslizou os dedos pelos fios loiros — que tem problemas na vida que não se resolvem com um pau. Mas isso é muito pra uma garota como você entender.
Ino gargalhou com a ironia.
— Você é mesmo horrenda! Vamos pensar um pouquinho só, Testuda, — levou os dedos aos lábios — seu problema, pra início de história, tem a ver com um pau e sua obsessão por ele. Então, tem razão, talvez devesse pensar menos no pau do Uchiha e mais em... sei lá como deixar esse nariz novinho para as fotos de formatura ou, ao menos, em se formar.
Sakura agora abriu e fechou a boca algumas vezes. Desistiu de falar e tornou a olhar o horário. Ia matar Naruto pelo atraso!
— Vem cá, isso vai ser uma simples vingança, certo? Quer dizer, não vejo muito sentido nisso aqui. O que planeja afinal?
Sakura ajeitou os fios rosados e olhou mais adiante para a fachada do quarto departamento de polícia de Konoha.
— Não é bem uma vingança, só quero mostrar para todos que ela é insignificante e não é nada do que pensam. Aquela sonseira dela... jeitinho todo... Uh! "Não me toque, sou de cristal e estilhaço". Nesse mundo, credibilidade é tudo, e isso aqui, Porquinha, é apenas um pequeno passo para a construção de um ato complexo. Aprenda, "Seja extremamente sutil, tão sutil que ninguém possa achar qualquer rastro". Eu construo toda uma situação em torno dela que será impossível dela fugir disso. E, claro, eu me construo também.
— Isso é trabalho demais, na minha opinião.
— É porque você não entende as sutilezas da coisa. Enfim, não vou ter só Sasuke, mas toda a família Uchiha bem aqui. — Estendeu a palma da mão. — Logo, não precisarei me preocupar com o futuro. Sabe, vou tentar algo dentro da corporação Sharingan.
— Uau... B-boa sorte?
— Eu não preciso de sorte. — Piscou. — Eu me preparo, essa é a diferença. Como aquelas tapadas deram um jeito na filmagem; sabem o problema, isso pesa ainda mais pra elas.
— Pesa pra quem? — A voz do loiro, que chegara, assustou Sakura, que estava concentrada demais.
Então ela virou-se, sorrindo e abraçando o loiro, tomando os lábios lentamente.
— Eu estava dizendo que aquelas garotas se sentem tão culpadas que compraram a filmagem da loja. E isso é pior, porque pesa pra elas. Afinal, quem não deve, não teme, né, príncipe?
Ele apertou mais o enlaço na cintura delgada dela e a beijou novamente.
— Tem toda razão!
Ela, lentamente, tirou as mãos de Naruto de si e afastou-se.
— Vamos logo com isso. Tenho alguns compromissos mais tarde e preciso dar um jeito de cobrir isso com maquiagem. — Disse, apontando para o nariz.
Com todos concordando, os três seguiram, assim, para dentro da delegacia.
(...)
— Então é isso. Um protótipo bem básico do qual podemos ver como funcionaria. — Ele apontou novamente pelo notebook, mostrando para a garota que tinha os olhos perolados vidrados na tela e uma expressão travada entre a incrédula e a eufórica.
Quando Hinata chamou Kankuro para ser seu parceiro de trabalho de conclusão, ela realmente não estava colocando ficha alguma naquele peso morto... bom, não exatamente um peso morto. Kankuro era um aluno mediano e nada além. Nada de imensas expectativas, nada de super notas, nada de absolutamente nada. Até porque, as notas dele vinham despencando no último semestre, então considerá-lo um barco furado era completamente plausível.
Vários dias atrás, Sasuke havia lhe dado um puta gatilho de ideia. Genial, para dizer o mínimo. A partir daquilo, a garota havia rascunhado centenas de ideias até chegar à que considerou melhor. Sentou-se com o colega e parceiro que, surpreendentemente, tornou-se participativo.
Embora Kankuro fosse um sujeito estranho e invasivo demais... impertinente era a palavra. Ainda assim, ele comprou mesmo o projeto. Vendo que Hinata dava-se muito bem na parte burocrática da coisa, ele ficou responsável pela prática e ali estava o primeiro resultado. Algo que realmente chocou-a. Ia além de suas expectativas. Se aquilo engatilhar mesmo, eles não teriam apenas um projeto embrião funcional, mas, de fato, uma pequena empresa startup capaz de gerar receita, lucro...
— Isso está... — Ela balbuciou enquanto seus olhos prestavam atenção aos detalhes.
— Um coco, né? — Desanimou-se.
Sabia que aquilo havia dado um grande trabalho, afinal, era algo absolutamente exclusivo e do zero.
— Tá incrível, Kankuro! — Ela sorriu abertamente.
— Mesmo? — Ele sorriu, sem jeito. Estavam sentados em um canto mais afastado do anexo do prédio, discutindo. — Quer dizer... Você notou que é algo bem meia boca e falta ver o que vamos incluir e...
— Quando eu disse que tá incrível, eu não tava brincando. Quer dizer... tem tanto potencial! — Ela o olhou nos olhos e, por um instante, os olhos dele vidraram.
Nunca havia reparado para valer na Hyuuga. Nada além da sala ou do fato dela ser irritantemente perfeita aos olhos acadêmicos. Em outras palavras, Hinata era uma puta chata de merda que atraia a atenção do "vai se ferrar'' de todos os colegas, mesmo que, de forma estranha, nunca os provocasse.
A verdade é que já a julgavam de vista e construíram suas verdades sobre a garota sem nem mesmo dá-la a chance de se mostrar realmente.
— Eu já tenho uma lista de coisas para colocar. Vou preparar toda uma apresentação e... — Ela mordeu o lábio, o encarando – conseguiria fazer essas mudanças para a próxima semana já? Eu sei que está em cima, mas...
— Eu faço! Quer dizer, eu dou meus pulos.
— Sério? — Hinata surpreendeu-se imensamente.
— Claro, quer dizer, eu estou ajudando. Quem está fazendo a parte difícil mesmo é o meu primo, Gaara. Ele está se formando esse ano também. É engenheiro de software.
Hinata torceu um pequeno bico nos lábios. Sabia quem era o ruivo, e, sinceramente... Bom, era um dos colegas idiotas de Naruto e isso bastava para que ela tivesse, agora, o pé atrás. Felizmente aquela parte do trabalho cabia a Kankuro, e se o ruivo estava ajudando, que fosse então.
— Olha só, eu recebi isso aqui há uns dois dias atrás. — Falou a Hyuuga, abrindo o e-mail no celular. Entregou, então, para que Kankuro lesse — Existem alguns grupos de patrocinadores. Eles meio que escutam a nossa ideia, avaliam e se for atrativo, eles patrocinam, tipo investem.
— Hm… saquei, tipo um shark tank? — Ponderou.
— O quê? — Ela espantou-se com o comparativo. Ninguém era tão tapado assim, ou era? — Não! É mais como um grupo coletivo de patrocínio. Enfim, vai ter um encontro em alguns dias e eu vou me preparar com toda a papelada de apresentação, os registros… sabe o que isso quer dizer?
— Que você é bem eficiente? — Hesitou, franzindo o cenho confuso.
— Não! Quer dizer que a gente pode realmente fundar uma empresa ou vender a ideia, ganhando dinheiro com isso.
— Tá falando sério? — Os olhos dele arregalaram-se.
— Eu achei que estava. — Falou, com uma pitada de sarcasmo. Logo chocou-se consigo mesma. Pelo visto, estava andando demais com Sasuke. Pigarreou ao se reorganizar. — Bem, é isso. Eu vou te mandar a lista do que eu preciso na página e no App. Você cuida dessa parte, certo?
— Eu tô muito empolgado. Pode deixar, Hyuuga, a gente vai estourar! — Olhou para ela — então, estamos acertados? O projeto tá indo… a gente forma uma boa dupla, né? — Concluiu de forma bem interesseira.
Havia um fundo de admiração genuína, mas a parte externa estava de fato... Bem, estava tendenciosamente atraído pela garota. Talvez estivesse andando demais com ela ou stalkeando o Insta. Talvez… Só sabia que Hinata deixava o lado solitário da sala lentamente, recebendo sobre si um certo holofote. Começava a ser notada.
Hinata, que ajeitava os papéis de volta na pasta para guardá-la na bolsa, o olhou. Sorriu.
— É… acho que sim. Está funcionando e isso que importa. Vamos entregar o trabalho perfeitamente concluído antes da data. Temos tempo para corrigir falhas, e se tudo der certo, um negócio.
— Certo, certo. Então... — Ele coçou a bochecha, ela era técnica demais. Tão certinha e precisa, mas tão... fofa? Sim, pequena e fofa. Curioso demais e empolgado com os rumos possíveis da parceria, ele arriscou tudo. — Você tá transando com o Uchiha?
Hinata estagnou, deixando a pasta cair. Que raio de pergunta era aquela?! A sutileza passou longe daquele energúmeno.
— Oi? — Os olhos arregalaram-se enquanto ela sentiu as bochechas aquecerem. Faltavam-lhe palavras para se expressar corretamente.
— Isso. Tá transando com ele? Quer dizer, tão juntos? — Perguntou, como se não fosse tão inconveniente quanto de fato estava sendo. Bom, isso é bem constrangedor.
— Por que quer saber? — Ela indagou, com uma pitada de ferocidade e irritação.
— Bom, todos estão falando. — Disfarçou, plantando verde. — Vocês andam muito juntos, tem toda uma atmosfera aí. Algumas pessoas juram que já viram vocês se agarrando às escondidas. Fora aquela publicação gêmea de vocês no Insta.
— Que tipo de fofoqueiro é você? — Indagou chocada, roxa de vergonha, coração acelerado e mãos trêmulas, pegando sua pasta novamente.
Ela merecia, Deus, merecia mesmo! Só atraía problemas.
— Só estou curioso e… curioso?
— E-eu… olha, isso é pessoal e completamente irrelevante no momento. — Ela gesticulou, nervosa enquanto fechou a bolsa e deslizou uma parte dos cabelos para trás da orelha.
Começava mesmo a sentir-se nervosa e irritada.
— É totalmente relevante! — Protestou — Porque se tá sozinha, depois do pé na bunda do Uzumaki, é lógico que a gente pode sair. Normalmente, garotas fragilizadas com rompimento são mais... acessíveis.
Os olhos dela arregalaram-se ainda mais e, dessa vez, a boca junto.
— Oi? — Sair? Acessível? Sua mente estava fazendo um nó.
— É… tipo um encontro, sabe? Olha, você sempre foi fechadona, calada, sem graça e cheia de mimimi, e aí tem tudo isso... — Ele apontou para as roupas dela, que se olhou. — Quer dizer, agora que a gente conversou, eu vi que é uma garota legal, esperta, bonitinha, e não uma adolescente esquisita. Pode ser meu tipo.
Poderia existir um nojo maior? Para Hinata, não! Aquilo era um elogio, uma crítica, uma comparação, um... Já era permitido mandá-lo a Marte ou às merda?
— Obrigada?
— De nada! — Sorriu — Viu? Você não é como aquelas garotas esnobes, mesmo que pareça entojada.
— Eu pareço entojada?
— É… talvez só um pouco. Mas você é bonita. Aliás, depois que eu vi sua última foto mesmo, deu pra ver que é bem gostosa, entende? É difícil garotas de peito e personalidade.
Hinata levantou-se de uma vez. Seu limite havia chegado mesmo.
— Sabe o que é? Eu odeio relacionamentos, e não… estou pronta para nada do tipo.
— E curtir? — Perguntou, bastante esperançoso.
Hinata abriu e fechou os lábios várias vezes, mas o ranço fora maior
— Eu já tenho preocupações demais na minha vida pra curtir. Sinceramente? — Olhou de baixo para cima. — Você é um… cara diferente das minhas expectativas emotivas.
Virou-se, querendo se afastar o mais rápido possível ou talvez morrer? Claro. Haviam caras sem senso, havia caras sem noção, haviam Narutos na vida e... Haviam coisas como Kankuro.
— Eu pareço desesperada ou sofrendo, por acaso? — Murmurou consigo mesma enquanto franzia o cenho.
Empertigou-se, voltando a andar, quando sentiu-se ser agarrada firmemente. Antes que tivesse a chance de gritar de desespero e susto, sua boca fora tapada fortemente.
Poucos instantes depois, ela estava contra o aço da porta de incêndio, que dava em uma das saídas para escada de emergência do prédio, encarando o par de olhos mais negros e intensos que já viu, bem como o sorrisinho mais provocador e diabólico que conhecia.
— Você é muito distraída, Hyuuga — Ele sussurrou contra os lábios dela, ao pressionar ainda mais o corpo pequeno entre o seu e a porta. — Sabia que o índice de tarados é enorme?
Primeiro, seu coração disparou de nervoso e susto, mas, agora, ele disparava por outra razão. O perfume de Sasuke penetrou seu sentido enquanto o trato bruto e rude dele atiçou sua pele.
— Jura? — Ela deu um sorrisinho. — Bom, eu ando com spray de pimenta na bolsa. — Disse, orgulhosa e ele gargalhou, enquanto os dedos escorreram para a nuca, enlaçando os sedosos cabelos negros dela.
— Spray de pimenta, é? — Os lábios roçaram contra o maxilar dela, indo em direção ao ouvido. Hinata sentiu o meio de suas pernas pulsarem, suplicando por alívio e aquilo piorou desesperadamente, quando a mão grande de Sasuke agarrou com força a poupa de sua bunda, apertando, bruto. – E se o malfeitor te agarrar assim? — Sussurrou contra o ouvido dela, mordendo deliciosamente provocante seu lóbulo da orelha.
— Sa...Sa-su... — Gemeu, manhosa, enquanto fechava os olhos.
As mãos pequenas agarraram o tecido da camisa do Uchiha com força e desespero para quase imediatamente ter seus lábios tomados com fome e gula por ele.
Os lábios formigaram, pulsavam, ardidos, enquanto as línguas acariciavam-se mutuamente infames. Afastaram-se por duas razões: uma, o celular dele começou a tocar; e duas, o ar faltou. Com a mão apoiada contra a porta, mantendo o corpo dela pressionado, ele atendeu a chamada de Suigetsu, confirmando o já acordado: o final de semana deles em Kumo.
Ofegante, ela o encarava, tendo aquelas bochechas rosadas tão tentadoras naquela carinha inocente e fofa. Sasuke abaixou a cabeça mais um pouco, curvando-se ao ponto de capturar aqueles lábios, já inchadinhos, mais uma vez e os chupando demoradamente.
— Eu te pego na sexta no final da tarde. — Confirmou, tendo ela apenas consentindo.
Estava ansiosa e nervosa. Afinal, aquela era a primeira vez que se dava ao desfrute de viajar assim com um cara. Já viajara com uma amiga, com família, mas assim? Ok que Kumo não era tão longe assim, mas... Quando ela finalmente pensou naquilo, sua face esquentou absurdamente com uma constatação ingenuamente boba:
— A gente vai dividir quarto?
Ele sorriu, malicioso, mas, provocando-a, nada disse, apenas se afastou dela e colocou-se a abrir a porta.
— Sasuke! – Ela chamou um pouco mais alto, o fazendo olhá-la — Vamos?
— Leve biquíni, Hyuuga! Nunca se sabe do clima ou das oportunidades.
O coração dela disparou absurdamente no peito enquanto aquela sensação esquisita no estômago se formou prolongadamente.
(...)
Eles estavam compartilhando a mesma sala enquanto ainda focavam na discussão de um dos projetos que tinham divergências entre ambos. Sasuke estava com a cabeça ligeiramente cheia naquele dia, afinal, tinha uma lista para cumprir, trabalhos extras da pós, e pensamentos no final de semana que se seguiria… especificamente em Hinata.
Depois da postagem no Insta, as coisas andaram um pouco mais, ele tinha ciência, mas quanto mais? Era inexato. As perguntas chegaram tão rápido quanto a um possível relacionamento, no entanto, não havia muito o que se explicar, até porque ele e Hinata estavam de comum acordo quanto àquela situação de ambos.
O lado bom da coisa toda em si, era que aquele tempo lento que a Hyuuga pedira também servia para ele, afinal, ele fora apaixonado platônicamente por Hinata durante o seu ensino médio. Porém eles nunca tiveram de fato grandes interações e era normal você projetar ideias e expectativas. Agora, no entanto, eles estavam tendo uma real oportunidade de convivência a dois, de troca de experiência e uma possibilidade crível de verdadeiramente se odiarem ou se amarem.
Era ali, não mais como um garoto com problemas de comportamento, e, sim, como um homem, que ele teria a chance de não apenas se permitir envolver com alguém, mas de conhecer a si mesmo e aquela garota.
Suspirou longamente, soltando a caneta digital sobre a mesa enquanto massageava a têmpora relaxando, assim, na cadeira que estava sentado. Itachi olhou para o irmão e não conseguiu esconder um pequeno sorriso arteiro.
A convivência com o Uchiha mais novo o fazia notar, de fato, imensas mudanças de Sasuke, mesmo que ele próprio ainda não fosse capaz de notá-las. Claro que o tempo no estrangeiro contribuiu, ao mesmo tempo que, para um afastamento de ambos, também, ainda que contraditoriamente, houvesse uma maior proximidade.
A decisão de Sasuke de sair não fora apenas uma fuga de si mesmo, mas de todo o controle que Fugako Uchiha exercia sobre os filhos e aquela fora a forma que Sasuke encontrou de livrar-se dele por algum tempo antes de finalmente estar bem ali, com o peso do nome da família nas costas e trabalhando como um cão na Corporação & Empreendimentos Sharingan. No entanto, diferente das expectativas, ele parecia mais calmo e comprometido ali. De fato, estava trabalhando como um cara que se importava e construía algo.
Pegando um tablet, Itachi abriu algumas fotos e empurrou o aparelho para o irmão. Imediatamente, o Uchiha mais novo arqueou o cenho, pegando o aparelho.
— Embora seja uma bagunça, vamos ficar em um casarão. Esse final de semana em Kumo vai ser divertido. — Começou a explicar. — Parece que o padrinho do Yahiko não vai tá por lá, mas além de deixar os ingressos, deixou também a chave de casa pra gente.
— Idiota. — Sasuke deu um meio sorriso.
— Ah, parece que ele não é muito apegado. Yahiko disse que ele é um desses caras excêntricos. Um autor famoso que usa pseudos.
— Autor?
— É... De romances... hm... eróticos. – Os olhos de Sasuke arregalaram-se em surpresa enquanto Itachi ria. — É… eu sei, e, acredite, são muito bons. Inclusive, aquele que eu te recomendei é um. — Sasuke voltou a olhar para as fotos sob o olhar do irmão mais velho, que cruzou os braços e voltou a falar. — E então... quando convidou a Hyuuga, ela gostou? Precisou ser convencida?
Sasuke negou.
— Ela surpreendentemente topou de cara. Pareceu ter adorado. — Falou meio inexpressivo.
— Isso não é bom?
— Aparentemente sim, é só que...
— Tá nervoso? — Riu, malicioso. — É a primeira vez que faz algo assim...
Sasuke riu nasalado.
— Eu queria só que fosse... hum… legal pra ela. — Ele baixou o tablet e encarou o irmão. — Ela me contou que o pai costumava levar a família para ver esses jogos. Eles jogavam também e se divertiam, mas antes da mãe dela morrer, sabe?
— Ela precisa construir novas memórias boas, e — Itachi tocou no ombro do irmão — um cara tão alegre e engraçado como você é perfeito! — Zombou e Sasuke deu um tapa na mão dele, tirando-a de si.
— Tô falando sério, idiota.
— E eu também! Tá na cara que você precisa de tanta diversão quanto ela. Façam coisas legais.
— Eu não sei fazer tão bem coisas a dois, diversão, socializações...
— Ah, isso é o de menos. Você se solta, caçulinha. Vai ver. E se pensar pelo lado bom, se for muito divertido, talvez podemos até marcar uma partida de baseball Uchihas versus Hyuugas... Papai ia adorar, ele é tão competitivo. — Riu e viu Sasuke o acompanhar.
— Isso ia ser um desastre. — Murmurou.
— Nada novo em uma reunião de família. A propósito, quando vai conhecer oficialmente seu sogro, maninho? Já tão até com fotinho de casal no Insta e tudo mais. Diz aí, vai ter daqueles cordões legais com pingente par? Isso é tão fofinho, sério mesmo. Quem te viu, quem te vê, Sasuke Uchiha!
— Tsc, Itachi! — Rosnou, estreitando o olhar para o irmão.
— É sério! Hyuuga bem me quer, Hyuuga mal me quer… — Gargalhou o provocando — Será que meus sobrinhos vão ter olhos pretos ou branquinhos? Será que terá cabelos tratáveis ou essa bagunça sua?
Sasuke não soube como ou porque, apenas reagiu se levantando rápido e dando um soco no ombro do irmão a fim de calá-lo, porém no exato momento Fugako entrou na sala, pegando os dois brigando como quando crianças.
— Mas que porcaria é essa?! – Ralhou, mal-humorado. — Eu coloquei vocês dois nesse projeto, porque é muito importante. Deveriam estar empenhados no projeto dos Fūma e não brigando como duas crianças estúpidas.
Separando-se, ambos desviaram o olhar.
— Desculpa. — Falaram em tom baixo e uníssono.
O homem de cabelos negros tão escuros quanto os dos filhos encarou-os e ajeitou o terno que usava. Limpou a garganta e prosseguiu.
— Nossa empresa está crescendo e ganhando visibilidade, sabe por quê?
— Trabalho duro — Resmungou Itachi, ciente que não era uma pergunta retórica, mas, sim, mais um dos momentos adestradores de Fugako.
— Exatamente! — Apontou. — Tornar-se número um exige comprometimento. Uchihas são conhecidos pelo trabalho exímio, pela excussão complexa, por precisão e pontualidade. — Ele passou a ir de encontro a uma das estantes da sala, dando as costas para os filhos.
Nesse momento, Itachi virou um pouco para Sasuke e gesticulou uma aliança no dedo e recebeu, como resposta do mais novo, o dedo do meio levantado com um: vai se ferrar! Silabado sem som.
(...)
Era por volta das seis da tarde quando ela abriu aquela bolsa sobre sua cama, se preparando para colocar tudo aquilo que previamente havia listado como importante. Ela gostava de listas, a fazia sentir no controle da situação. Sim, às vezes ela exagerava nelas, no entanto, era a forma mais segura das coisas seguirem a sua linha de programação.
Um pequeno kit de higiene pessoal era obrigatório, é claro, o problema se dava na escolha das roupas. Ela enumerou quais as possibilidades mais viáveis, entretanto, havia um ser capaz de quebrar completamente sua programação: Tenten Mitsashi. Essa havia, por exemplo, tirado da sua cama as suas primeiras opções e agora revirava seu guarda-roupas, mesmo diante dos protestos da Hyuuga.
Tenten segurou a escolha muito apropriada de Hinata para roupa de banho: dois maiôs simples e bem confortáveis. Sentia-se muito segura naquelas peças que tinham mangas longas e eram fechadas no pescoço, porque contavam com proteção UV. É claro, ninguém queria sardas ou um câncer de pele no café da manhã, mas Hinata sentiu-se uma alienígena diante da careta da amiga segurando as peças como trapinhos diante de si.
— Mas nem fodendo vai usar maiô! Aliás, essas coisas são tudo, menos maiô, né?
Com a face quase escarlate, Hinata encolheu-se na cama, abraçando os joelhos enquanto o novo bico formava-se nos lábios.
— Qual o problema com eles? São confortáveis e seguros, Ten…
— Hahaha, confortável e seguro. Hinata, meu amor, ninguém quer transar com conforto e segurança.
— Que horror, Tenten! Você fala como um cara. Depois… bem, não quero me sentir um pedaço de carne exposto no açougue.
— Ai que coisa mais… vamos aos fatos e sem discursos moralistas e feministas, ok? Vai por mim, você quer, sim, se sentir um pedaço de carne, um com tempero Uchiha. — Piscou, provocando-a. — Você, inconscientemente, almeja isso. No fundo, você não quer esse maiô horrendo "espanta-caras"
— Não?
— Não! Você quer aqueles olhos perversos te olhando como um suculento pedaço de carne, você quer que ele te olhe e pense desesperadamente: sou carnívoro e estou morrendo de fome! Olha, uma Hinata, vou comê-la porque ela é... — Incentivou em um gesto a continuidade daquilo.
— …Gostosa, mas…
— Shii! Sem mais. Deixa a frase morrer aí, tá bem?
Hinata mordeu o lábio com aquilo. Cruzou os braços frente ao peito em um claro protesto, mesmo sabendo que aquela discussão já havia sido ganha pela Mitsashi. A garota de cabelos castanhos foi no seu quarto e voltou de lá com duas combinações de biquínis muito bonitos, cores vivas e bem… pequenos.
— Tenten, não vou ficar confortável usando isso. É tão pequeno! Não sei nem se cobre minha piriquita direito.
A garota gargalhou e colocou as peças na bolsa da Hyuuga.
— Para de drama! Credo. Falando assim, até parece que tem piriquitossauro. Credo! E, depois, tem as saídas, tem shortinhos… vai ficar muito bem.
Tenten viu algumas peças das quais ela também já tirou da frente de Hinata.
— Pelo amor dos céus! Calcinhas novinhas e provocantes, e nada de camisetão. Leve blusinhas. — Ela viu a morena abrindo os lábios, mas, conhecendo-a bem demais, interpôs. — Nada de conforto outra vez! Leve camisolas… bem, Kumo tem um clima muito agradável, quase sempre, então vamos abusar de shortinho, blusinha, vestidos curtos... — Ela ia tirando as peças do armário da Hyuuga e jogando para ela arrumar na bolsa. — Você precisa aproveitar isso. Tem uma pele linda de bundinha de bebê, aproveita!
— Não vou continuar tendo, já que você tirou meu maiô de proteção UV. — Cantarolou baixinho, ganhando um olhar mortal da melhor amiga, que arremessou em nela mais um short jeans. — Olha, você não existe!
— Claro que eu existo! E, por acaso, sou uma puta gostosa sortuda, sabe por quê?
— Não. — Negou, sorrindo, enquanto dobrava as peças, as organizando na bolsa.
— Porque vou ter um final de semana inteirinho de casa vazia só pra mim e, claro, vou me divertir pra caralho bem longe de você. Agora termina isso ai e vaza logo!
Hinata, que tinha o sorriso faceiro nos lábios, fingiu-se de chocada.
— Tô sendo expulsa?!
— Humm, odeio ser rude, mas, sim, Hinata, tô chutando essa sua bunda redonda perfeita pra fora.
— Vamos ter problemas com os vizinhos? — Indagou, fechando o ziper.
— Comm sorte, vão me mandar usar mordaça com razão agora. — Gargalhou, maliciosa. — Enfim, geladeira cheia de vodka e energético, o número do cara da pizza tá grudado na geladeira… vai ser perfeito.
Havia passado poucos minutos quando a campainha do apartamento fora acionada e, enquanto Hinata estava trocando de roupa, Tenten foi atender a porta já ciente de quem deveria estar ali. Uma rápida troca de olhares bastou.
— Uchiha!
— Mitsashi!
— Tá animadinho pra cair na gandaia, né? — Ele estreitou o olhar para a garota. — Presta muita atenção no que vai fazer. Se magoar a Hina, eu te mato; se pisar fora da linha, eu castro você, entendeu?
Ele deu um pequeno sorriso zombeteiro, tão discreto, mas notável.
— Cuidado, Tenten, ouvi dizer que as duronas são as primeiras a adotarem gatos, e, como vai ficar um final de semana inteiro sozinha… a Hinata pode voltar e achar muitos deles aqui.
Ela ergueu o dedo do meio pra ele
— Bundão!
— Bocuda!
Logo surgiu uma Hinata sorridente, segurando sua bolsa. Olhou para os dois disse:
— Eu tô pronta, podemos ir!
