Capítulo Dois

Em vez de ir direto para a casa onde Klaus e Caroline viveram, em um dos bairros mais elegantes de Nova Orleans, Elena, deliberadamente, dirigiu até um restaurante e passou uma hora e meia beliscando um prato típico local. Enquanto todos os seus instintos gritavam para se apressar e ir ver Klaus o mais depressa possível, uma parte de si relutava em entrar na casa onde ele vivera com Caroline, onde ela e a amiga riram e brincaram com as bebês. Não entrava lá havia dois anos... Desde o acidente...

Durante todo esse tempo, ela e Klaus se falaram poucas vezes. Ele nunca ligara para ela, ela era quem ligava para ele. A primeira vez foi um mês após o enterro de Caroline e das crianças. Ela queria saber como ele estava se sentindo, se ele precisava de alguma coisa. Foi uma ligação curta, de apenas alguns minutos. No mês seguinte ela ligou novamente, e isso se repetiu todos os meses.

No aniversário de um ano do acidente, Elena compareceu a homenagem realizada em Mystic Falls. Fora a primeira vez que ela viu Klaus após o acidente. Ela recordava de como seu coração se acelerou dentro do peito ao olhar para ele, e de como suas mãos suaram quando ele conversou com ela. Ele estava tão bonito quanto ela recordava, ou até mais, com uma barba por fazer e um terno preto. Elena achava Klaus perfeito. Fora um momento breve, embora emocional, por trazer lembranças dolorosas a ambos.

Dois meses depois, quando ela ligou para ele como sempre fazia, Klaus a convidou para o casamento de seu irmão mais novo, Kol, em Nova Orleans. Elena pensou em recusar, mas a vontade de ver Klaus novamente tomou vantagem. Ela se viu dirigindo até a cidade duas semanas depois, onde ficara hospedada em um hotel durante o final de semana.

Klaus a buscara no hotel, mas durante todo o caminho até a igreja eles ficaram em silêncio. Durante o casamento, embora ela fosse a acompanhante de Klaus, ele pouco ficara ao lado dela, sempre conversando com algum conhecido da família. Nessa ocasião, Elena também pôde ver Stefan, casado com a irmã de Klaus, Rebekah. Eles a cumprimentaram e Elena respondeu educadamente. Elena tinha imaginado tudo de uma maneira diferente, ela ansiava por falar com Klaus, mas eles conversaram pouco, principalmente sobre Caroline e as meninas. As recordações ainda eram dolorosas e isso parecia ser a única coisa que tinham em comum.

Elena se perguntava como Klaus estaria agora, meses depois. Se continuava bonito, atlético e encantador como sempre. Ela tinha certeza de que sim. Mas o que realmente ela se perguntava, era se ele estava vendo alguém, se tinha seguido em frente. Esse segundo pensamento a abalava, deixando-a desorientada. Ela não estava preparada para ver Klaus com outra mulher, embora ela soubesse que isso aconteceria um dia. Ele era jovem, bonito, educado, rico e muito sedutor para ficar sozinho.

Suspirando, Elena olhou no relógio, que marcava 14 horas. Ela pagou a conta e dirigiu lenta e cuidadosamente até a casa em que vivera sua amiga. Seu coração voltou a disparar, fazendo-a sentir um aperto no peito. As palmas de suas mãos estavam úmidas. Ela apertou o volante com mais firmeza para se certificar de que não deslizavam. Ela tentou respirar fundo, precisava se acalmar.

Elena se olhou no espelho. Não conferira a aparência antes de sair e não se arrumara muito. O batom havia saído enquanto comia, mas não se preocupara em retocá-lo. Com uma das mãos ela passou os dedos nos cabelos, presos em um rabo de cavalo que parecia estar razoavelmente em ordem. Seus olhos estavam cansados, ela quase não dormira a noite pensando em se encontrar com Klaus. Então, exalou um suspiro. Ela não tinha motivos para se preocupar com sua aparência. Não estava indo a um encontro, estava indo ver um velho conhecido.

Alguns minutos depois, Elena chegou ao local de destino. O Toyota Land Cruiser J60 azul-escuro de Klaus estava estacionado em frente à casa. Elena parou atrás dele e saiu do carro. Em seguida, caminhou devagar, subiu os cinco degraus e pressionou o dedo no botão da campainha. Dava para notar que a grama havia sido aparada e os arbustos podados. A casa não parecia vazia, mas estava. Dolorosamente vazia.

Após um momento, Klaus abriu a porta e se afastou para deixá-la entrar. Ao fitá-lo de relance, Elena sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. De alguma maneira havia esquecido como o corpo dele era perfeito, o quanto aparentava ser extremamente viril com apenas uma calça jeans. Ele estava usando tênis sem meia e uma calça jeans surrada, sem camisa, mostrando seu torso musculoso, embora magro. Parecia absolutamente lindo para ela.

Klaus a fitou.

— Veio direto de casa? — perguntou.

— Não. Parei para almoçar em um restaurante.

— Então saiu bem cedo de Mystic Falls.

— Sim. Não queria pegar trânsito.

Klaus assentiu e começou a andar, conduzindo-a ao andar superior. A casa estava incomodamente quente. Klaus abriu algumas janelas, mas não ligou o ar-condicionado central. Elena não pôde deixar de lembrar de que quando visitava Caroline, que odiava o calor, o ambiente estava sempre com uma temperatura agradável.

Enquanto subiam as escadas, ela sentia seu corpo tremer devido à proximidade dele. Klaus estava tão bonito quanto ela recordava, com seus cabelos loiros sujo, sua barba por fazer e seu corpo bem definido. O cheiro dele, almiscarado, fazia com que ela sentisse vontade de se aproximar ainda mais, mas para resistir ao impulso, Elena tentou se manter a uma distância segura.

Klaus parou junto à entrada do quarto que compartilhara com Caroline, e Elena quase esbarrou nele. Ela percebeu, quando ele se virou para ela, que a tristeza sombreou seus olhos claros ao olhar para a porta fechada.

— Entre. A caixa está lá no closet. Vou até o quarto das meninas pegar as coisas delas. Fique o tempo que quiser para olhar o conteúdo e decidir o que você vai levar.

Elena esperou até ele entrar no outro quarto, antes de abrir a porta lentamente e entrar no quarto que fora de Caroline. Ela ficou parada por um longo momento, olhando ao redor. Tudo permanecia do mesmo jeito que estava no dia do acidente. O livro que ela estava lendo ainda se encontrava sobre o criado mudo. A camisola lançada aos pés da cama.

Elena caminhou até o closet. Ele ainda continha os sapatos, bolsas, joias e roupas de Caroline. A amiga sempre se vestira muito bem. Em cima da bancada de joias estava uma caixa rosa. Elena pegou a caixa caminhou até o quarto, sentando-se sobre o tapete no chão para olhar o conteúdo. Lágrimas toldaram sua visão ao pegar a primeira fotografia dela e Caroline, juntamente com Bonnie. Deus, se para ela era tão dolorido ter perdido uma amiga, como Klaus devia estar se sentindo? Ele perdera a esposa e as duas filhas.

Ela e Caroline sempre foram muito amigas, como irmãs. Juntamente com Bonnie, elas formavam um trio de adolescentes bem diversificado. Caroline era agitada, empolgada, estava sempre rindo, festejando e tagarelando o tempo todo. Não havia tempo ruim para ela e qualquer coisa era motivo de alegria. Seus olhos azuis brilhavam, os cachos dourados balançavam e ela contagiava todos que a cercavam com seu entusiasmo pela vida, que costumava brilhar diariamente para ela. Oh, e os planos que fazia! Caroline queria ser uma jornalista famosa e viajar pelo mundo.

Elena era tímida, retraída e insegura, além de muito emotiva. Desde a morte de seus pais e seu irmão, ela nunca mais fora a mesma. Sua tia passou a ser responsável por ela, mas Jenna era mais como uma irmã mais velha do que uma mãe. E quando a tia morreu inesperadamente em um incêndio, Elena sentiu que nunca mais teria uma família de verdade. Ela sentia que era amaldiçoada e sempre escrevia isso em seu diário. Elena queria ser escritora.

Bonnie era a mais retraída e a mais estudiosa das três. Era extremamente bondosa e amigável, capaz de tudo por aqueles que amava. Era a menos festeira, menos namoradeira, mas muito companheira. Ela amava crianças e queria ser professora. Bonnie tinha perdido o pai, e sua mãe a deixado com sua avó, por isso ela desejava muito no futuro ter um marido e filhos, a família que ela não teve.

Era surpreendente como a vida tinha sido diferente para elas!

Quando Caroline conheceu Klaus, ela considerou a fascinante carreira de jornalista perdida. Ser a esposa de Klaus Mikaelson, dar à luz a duas crianças adoráveis e se aquecer nesse amor, tornara-se o único desejo da amiga. Ela o amara e fora amada de volta. Klaus a adorava. Ele a pintava, escrevia poemas para ela, a levou para conhecer todos os lugares que ela desejava pelo mundo. Era o homem mais atencioso que Elena já conhecera. Ele cercou a amiga de tudo o que ela queria, sempre a mimando. E quando as gêmeas nasceram, o casal passou a transbordar ainda mais felicidade. Caroline tivera muita sorte.

Bonnie se mudou para morar com a mãe em Nova York quando elas terminaram o ensino médio. Isso as afastou um pouco, embora sempre se falassem por telefone, e se vissem quando Bonnie ia a Mystic Falls. Bonnie começara a faculdade de educação, onde conhecera um professor universitário por quem se apaixonou, Enzo. Eles se casaram quando Bonnie concluiu o curso, e passaram a viajar pelo mundo, como ela sempre quis, antes de se estabelecerem em Nova York e tentarem ter filhos. Para tristeza de Bonnie, ela tinha problemas e não conseguiria ser mãe naturalmente, isso a deixou arrasada. Ela decidiu que iria se dedicar totalmente ao trabalho e a viajar com o marido.

Já Elena sempre tivera sonhos diferentes dos de Caroline e Bonnie. Ela queria ser escritora e se dedicar somente ao trabalho. Temia ter uma família e perdê-la, como acontecera antes. Mas em algum momento no tempo, seus planos foram trocados. Ela decidiu estudar medicina, como o pai, e seguiu essa carreira. Quando ela se casou com Damon, ela se permitiu sonhar com uma família amorosa, apenas para descobrir que havia se casado com um homem que a traíra e enganara, que nunca quisera filhos, embora tivesse engravidado a amante. E para finalizar, ela se apaixonou por alguém proibido, alguém que nunca seria dela. Então, Elena perdeu as esperanças de constituir uma família, de ter seus próprios filhos. Conformada, ela se dedicou ao trabalho, seu único consolo. Nem um marido ela tinha, para ao menos viajar como Bonnie e Enzo!

Elena tentou não se apaixonar por Klaus, mas logo descobriu que emoções não eram facilmente controladas. Quando começou a se sentir atraída por Klaus, ela tentou refrear seus sentimentos, não queria que se transformassem em algo mais sério. Mas ela o conhecera mais intimamente quando mudara para Nova Orleans depois do divórcio com Damon, e não foi capaz de se impedir de se apaixonar por ele.

Eram os olhos dele, pensou. Profundos e claros, de um azul esverdeado com uma intensidade ardente. Klaus Mikaelson tinha energia e muita ambição, aliadas a uma inteligência que o fez se tornar um grande empresário antes dos trinta anos. Além disso, era um excelente artista. Pintava e desenhava com grande talento. E não bastasse isso, era um homem muito bonito, com lábios rosados e convidativos, e um sorriso inocente com covinhas. Conseguia o que queria na vida e a moldava de acordo com a sua vontade. Sempre fora bastante agradável com ela, mas Elena sabia que era muito apagada e reservada para atrair a atenção de um homem com a personalidade forte de Klaus, mesmo que ele não fosse casado com Caroline.

Elena era completamente diferente de Caroline. A loira era quem impulsionava a tímida e retraída Elena a seguir em frente. Fora assim quando os pais de Elena morreram, e fora assim quando o casamento dela com Damon terminou. Caroline sempre fora a melhor amiga, sempre disposta a ajudá-la. Mesmo depois do casamento e do nascimento das gêmeas, continuaram íntimas, tanto que Elena era a madrinha de Josie, uma das duas lindas garotinhas que se pareciam muito com a mãe e tinham a personalidade do pai. Bonnie era a madrinha de Lizzie.

Elena ainda se recordava daquele dia. Ela falara com Caroline bem cedo naquela manhã, haviam combinado de se encontrarem para jantar no Grill. Caroline estava indo com as crianças para Mystic Fall, para visitar sua mãe, a xerife. Próximo a Whitmore, um motorista bêbado, voltando para casa no tráfego da manhã, atravessara a pista atingindo-a de frente. Liz morrera com o impacto. Josie dois dias depois. Duas semanas após o acidente, fora a vez de Caroline, sem ao menos recuperar a consciência ou saber que as filhas haviam morrido. Se o homem não tivesse morrido na hora, Elena achava que Klaus o teria sufocado com as próprias mãos, tão louco que ficara ao saber do ocorrido. Klaus era devotado à Caroline e as meninas. O acidente na autoestrada, quase dois anos antes, praticamente o aniquilara. Destruíra sua alegria de viver, o fogo feroz em seus olhos.

Durante essas duas semanas em que Caroline ficara no hospital em coma, Elena passou tanto tempo quanto possível ao lado da cama da amiga, segurando a mão flácida e tentando trazê-la de volta à vida. Mas receava que Caroline não quisesse acordar do seu sono da morte depois de ter perdido as filhas.

Klaus era uma presença permanente do outro lado da cama, segurando a mão da esposa, que ostentava a aliança de casamento dos dois. Tinha a fisionomia abatida e distante, parecia fechado dentro de si. Caroline era a sua única esperança, seu último raio de sol. Mas sua luz delicada tremeluziu e apagou, deixando-o na escuridão.

Enquanto morou em NOLA, Elena estava sempre com Caroline e as crianças, e muitas vezes, também com Klaus, embora ela sempre tivesse o cuidado de não infringir o tempo que Klaus passava com a família. Ele sempre a tratara bem, sempre fora simpático e atencioso com ela, e ela respondia da mesma forma. Mas as coisas mudaram quando Elena passou a se sentir atraída por Klaus, ela passou a evitá-lo, como uma forma de afastar os sentimentos que se desenvolviam por ele. Klaus parecia fazer o mesmo, passando a reclamar mais tempo com Caroline e as meninas.

Com o tempo, Elena decidiu que era hora de voltar a Mystic Falls e deixou o emprego em Nova Orleans. Ela se despediu da amiga com um aperto no coração, mas ela precisava estar longe de Klaus. Elena pensava que longe dos olhos significava longe do coração, mas não fora bem assim. Mesmo após dois anos da morte da amiga e do pouco contato que ela tivera com Klaus, ela continuava apaixonada por ele.

Elena não entendia como pudera se apaixonar por ele. Ela nunca revelara nada a Caroline sobre os seus sentimentos. Não havia sentido naquilo. Só teria afligido a amiga e prejudicado uma amizade tão duradoura. Ela também não dissera nada a Bonnie, com medo de a amiga repreendê-la. E para esquecer Klaus, Elena saíra com alguns rapazes e ainda saía, casualmente, quando sentia vontade, deixando claro que não queria compromisso, apenas diversão. Não era justo encorajar outro homem a uma relação mais íntima, quando não havia chance de ela retribuir o amor que lhe era dedicado.

Quando a provocavam, perguntando quando ela iria se casar novamente, Elena dava sempre a mesma resposta: amava demais o trabalho para dar outra chance a um homem de decepcioná-la. Era uma resposta despreocupada e comum, que servia ao propósito de proteger seu coração vulnerável, mas que não passava de uma mentira.

Elena não mais almejava viver para o trabalho, mas era tudo o que lhe restara depois de tantas perdas. A farsa enganava a todos, menos a ela. Ela queria sim um marido, filhos, uma casa, um lar. Mas não acreditava que teria isso na vida. No fundo, Elena pensava que não merecia, que de alguma forma, ela vivia para estar só, porque as pessoas que ela amava, em algum ponto da vida, partiam. Assim foi com seus pais, seu irmão, seu marido e sua melhor amiga. Elena não queria perder mais ninguém.