Capítulo Quatro
Aos poucos, Klaus se acalmou, os soluços diminuindo. Elena permaneceu calada, ainda segurando o homem por quem estava apaixonada em seus braços. Ele se moveu, puxando-a mais para si, as mãos deslizando pelas costas dela. Elena sentiu a respiração profunda estufar o tórax dele e então uma lufada de ar quente foi expelido contra os seus seios. Agindo por impulso, ela lhe afagou os cabelos, como quem consola uma criança.
Klaus ergueu a cabeça, com os olhos ainda úmidos. Ele não a soltou, enquanto se erguia e tentava encará-la de frente. O tom azul de seus olhos estava cinzento, o verde havia desaparecido. Ele a olhava de uma maneira penetrante, hipnotizadora e ela o encarou de volta, incapaz de soltá-lo também. O coração de Elena batia acelerado, suas mãos começaram a tremer. Ela nunca tinha estado tão próxima dele antes, apesar de terem se abraçado algumas vezes.
— Elena... — Klaus murmurou em meio a um suspiro, encostando os lábios suavemente nos dela.
Imóvel, ela mal conseguia respirar. Aquilo parecia irreal, ela nunca pensou que pudesse acontecer algo assim entre ela e Klaus. Suas milhares de orações haviam sido atendidas naquele toque sutil. Beijá-lo, mesmo que assim tão sutilmente, era um sonho que se realizava. Fora um simples beijo de agradecimento, mas o suficiente para abalar-lhe, ela pensou.
Deslizando as mãos pelos ombros dele, ela se deixou sentir e explorar as linhas dos braços bem definidos. Num movimento inconsciente, ela se aproximou mais dele, inclinando o corpo macio de encontro ao dele, enquanto os dois continuavam sentados na cama. Automaticamente, Klaus a segurou, os braços firmes ao redor das curvas femininas, puxando-a para si, pressionando-a para obter um contato mais íntimo.
Afastando-se, voltou a fitá-la. Elena o encarou de volta, perdida nos olhos cinzentos cuja expressão exibia um brilho diferente. Klaus era um homem bastante experiente para não reconhecer aquela reação feminina, ele sabia que Elena estava excitada com o contato dele.
Klaus deixou seu olhar recair sobre os lábios generosos e trêmulos de Elena, levemente apartados. Ela estava nervosa, ele podia perceber, e o instinto o levou a inclinar a cabeça para provar novamente a doçura dos lábios rosados. Dessa vez, não havia leveza em seu toque. Não era um simples roçar de lábios, mas um beijo faminto e ansioso.
Klaus segurou a cabeça de Elena com uma das mãos, e ela ofegou quando a língua de Klaus invadiu-lhe a boca, passando a explorá-la com desejo e exigência. O outro braço a mantinha fortemente presa a ele e, sem parar de beijá-la, deitou-a na cama.
Senti-lo sobre ela quase a fez desfalecer de prazer. Os sentidos de Elena ficaram fora de controle. Tudo estava acontecendo tão igual aos seus sonhos proibidos, que esqueceu onde estava, esqueceu o mundo ao redor, concentrando-se apenas no homem que se deitava sobre ela, na boca quente com sabor de paixão, no toque firme e possessivo dele em seu corpo. Suas unhas cravaram-se na pele dele em resposta a reação que ele provocava nela. O corpo aceso arqueava de encontro ao dele, buscando o inebriante peso daqueles músculos.
Não havia mais noção de tempo ou lugar, nada além do desejo físico, inesperado e descontrolado, que ardia entre os dois. Elena sentiu quando Klaus a ergueu mais sobre a cama, para que ele pudesse se posicionar entre as pernas dela. As mãos dele passaram a vagar por seu corpo, tocando-lhe os seios, ou acariciando-a intimamente entre as coxas, o que arrancou um murmúrio de satisfação dos seus lábios. Nenhuma palavra de protesto surgiu em sua mente. Deixou-o fazer o que queria, desligando-se de tudo que não fosse o prazer que aquelas mãos lhe proporcionavam, assim como os lábios dele.
Klaus conhecia as mulheres e sua experiência a estava enlouquecendo. Ele viu como Elena ofereceu o corpo para o deleite dele, sem pensar em mais nada, exceto no quanto era doce e agradável estar em seus braços, provar seus beijos e suas carícias.
Elena o abraçava, atordoada com o desejo que ele lhe despertava, a boca macia e quente sob a dele. Amava-o há tanto tempo e, no momento, sentia como se todos os desejos que fizera às estrelas cadentes estivessem se tornando realidade. Estava disposta a deixá-lo fazer qualquer coisa com ela e sabia perfeitamente o que ele queria. Podia sentir a rigidez viril do corpo que a pressionava de encontro ao colchão. As camadas de roupas entre eles eram barreiras insuportáveis, que mantinham suas carnes ardentes separadas.
Então, de repente, o paraíso chegou ao fim. Klaus enrijeceu sobre ela, rolou para o lado e se sentou na extremidade da cama, curvando-se para enfiar a cabeça entre as mãos.
— Maldita seja Elena! — disse num tom tenso, a voz cheia de desgosto. — Você era amiga de Caroline, a melhor amiga da minha esposa, mas não se importa de rolar comigo na cama que era dela.
Elena sentiu como se tivesse levado um tapa. Estupefata, Elena se sentou, endireitou a roupa e afastou os cabelos dos olhos. Apesar do tom acusatório, ela não conseguia ficar brava com ele. Entendia o quanto Klaus se sentia culpado e como estava vulnerável depois da tempestade emocional que vivenciara. No entanto, ela se sentia um pouco magoada. Não fora ela quem iniciou tudo aquilo, fora ele, quando a beijou.
— Eu era a melhor amiga de Caroline — disse trêmula.
— Não está agindo como tal!
Elena se ergueu da cama, com as pernas bambas.
— Eu... Me desculpe Klaus... Estamos ambos muito emocionados e nervosos — disse ela com a voz hesitante. — Um pouco descontrolados. Você sabe que Caroline era como uma irmã para mim e sinto muita falta dela também. — Elena começou a se afastar, incapaz de permanecer ali por mais tempo. Sentia como se tivesse suportado tudo que podia por uma noite, sua língua estava pesada, balbuciava sem ela escolher as palavras que ia dizer. — Não há necessidade de se sentir culpado por isso. Não houve nada realmente de sexual no que aconteceu.
Klaus se ergueu, a face colérica.
— Nada de sexual? Inferno! Eu estava entre as suas pernas! Mais um pouco estaríamos fazendo sexo! Ou o que chamaria a isso então? Diria que estávamos "confortando" um ao outro? Eu queria fodê-la Elena, e eu sei que você queria que eu a fodesse. Meu Deus, você não entende nada de sexo! É realmente fria e indiferente para entender de homens ou o que eles querem!
Elena se virou e o fitou, a face pálida e os olhos castanhos feridos.
— Eu não sei por que você está me atacando Klaus, mas eu não mereço isso — murmurou Elena.
Ela fugiu pela porta, voando pelos degraus, antes que ele percebesse que ela estava partindo. Quando ele notou, Klaus rugiu e a seguiu.
— Elena! — gritou ele furioso, alcançando a porta da frente ao mesmo tempo em que ela engrenava a marcha e deixava a calçada cantando pneus.
Klaus ficou parado na porta, vendo o brilho vermelho das luzes traseiras do veículo desaparecerem quando ela virou a esquina. Irritado consigo mesmo, bateu a porta e se amaldiçoou violentamente por vários minutos. Droga! Como podia ter dito aquilo a ela? Elena tinha razão. Ela não merecia aquilo. Ele a censurara, mas a culpa era dele, não apenas pelo que acabara de acontecer, mas pelos anos que passara prestando atenção nela e desejando levá-la para a cama, mesmo sabendo que ela era a melhor amiga de Caroline.
Será que Elena não percebia o desafio que era para os homens? Era tão fria, fechada e distante. Tão dedicada à carreira, sempre deixando claro que não precisava de um homem para nada além de um relacionamento casual. Durante os anos que se seguiram ao divórcio dela com o Salvatore, vários rumores davam conta de que ela fora amante do presidente do hospital onde trabalhou, em NOLA, mas Caroline não acreditava nisso, e ele confiava no julgamento da esposa.
A verdade, era que Klaus sempre se sentira atraído por Elena. Não apenas pelo seu corpo esguio e curvilíneo, mas pela inteligência, pela dedicação ao trabalho, pelo amor que ela tinha por sua esposa e suas filhas. Ele via a doçura dela, o coração grande, a bondade. Ele amava Caroline, mas sentia que se tivesse conhecido Elena primeiro, teria ficado com ela.
Klaus lembrou-se da primeira vez em que desejara Elena. Fora no dia do próprio casamento. Estava impaciente para partir com Caroline em lua-de-mel, quando vira Elena, aparentando estar tão solitária como sempre. Ela estava linda, com um vestido tomara que caia bordô, os cabelos ondulados presos de lado, a maquiagem leve e o porte altivo. Ela parecia uma rainha, alheia a festa que acontecia ao seu redor, uma expressão sempre cortês enquanto cumprimentava as pessoas.
Klaus sabia que ela era casada, mas o marido estava sempre viajando. E Elena agia como se isso não fosse importante, sorrindo e caminhando entre todos como se o mundo fosse cor de rosa. E fora naquele momento que Klaus se perguntou como ela era na cama, se ficava excitada, nervosa e desarrumada. Se ela fazia sexo com entrega e paixão, ou com reservas.
Ele não conseguiu conter sua imaginação, pensando em como seria se a levasse para a cama. Os cabelos castanhos e lisos desalinhados pela selvageria da paixão, a boca vermelha intumescida pelos seus beijos, o corpo esbelto úmido pela transpiração. E aquilo de repente fez seu próprio corpo ficar excitado de desejo, levando-o a se virar para disfarçar sua reação.
Na ocasião ele ficara ressentido com ela, por tê-la desejado no dia do seu casamento com Caroline. Mas os anos não haviam mudado a situação. Elena sempre se mostrara distante com ele, apesar de tratá-lo com cortesia. Eles conversavam e saiam juntos quando ela estava em Nova Orleans, e muitas vezes ele a observava com suas filhas.
Klaus amava a esposa, era fiel e se sentia totalmente satisfeito com ela na cama, mas sempre soubera, no fundo da sua mente, que desejava Elena. Se ela tivesse correspondido, ele teria permanecido fiel a Caroline? Queria acreditar que sim, mas não tinha certeza. Veja só o que acontecera na primeira vez que a beijara! Estava pronto para possuí-la lá mesmo, na cama que ele dividiu com esposa! Ainda bem que ele conseguiu pensar e parar o que estavam fazendo.
Ele sabia que por Elena, eles teriam ido até o fim, e fora isso o que o surpreendeu. Elena não ficara fria e reservada em seus braços. Pelo contrário, se mostrara morna e suscetível, abrindo as pernas e o acolhendo sem hesitação. Tinha a face corada e algumas mechas dos belos cabelos castanhos livres e emaranhando-se ao redor das suas têmporas. Era assim que a desejava. A imagem distante e indiferente totalmente arruinada.
Ele lembrou de certa vez, chegara de uma viagem mais cedo e ela estava na piscina com Caroline e as meninas, rindo e brincando como uma criança. Os cabelos longos soltos pela primeira vez, flutuando ao seu redor como uma nuvem mágica. Ela usava um biquíni azul, pequeno, mas nada minúsculo. Ele decidiu se juntar a elas, colocando um traje de banho e descendo para a piscina. Mas no momento em que ele apareceu, Elena parou de rir. Agiu com bastante casualidade, evitando a proximidade e o contato com ele, até que ela se despediu de Caroline com a desculpa de que tinha trabalho a fazer.
Ele a seguiu com o olhar enquanto ela saia da piscina, secando-se rapidamente, colocando um vestido florido que só acentuara ainda sua figura curvilínea e esbelta, as pernas longas e adoráveis. A visão de Elena em um biquíni azul claro o excitara tanto que precisou mergulhar depressa na água, e quando voltou à superfície, ela já havia partido.
Um homem não poderia ter desejado uma esposa melhor ou mais amorosa que Caroline. Mas por mais que a tivesse amado, por mais que sofresse por tê-la perdido, por mais que tivesse sido feliz com ela em todos os sentidos, ainda assim desejava Elena.
Não era uma questão de amor. Não havia emoções envolvidas. A atração que sentia por ela era puramente física. Censurava-se porque, com ela, sexo seria uma traição muito mais grave do que com qualquer outra mulher, sem nome, sem cara. Eram apenas corpos, sem personalidade. Mas ele conhecia Elena e não podia apagar sua identidade da mente. Desejava fazer sexo com ela. Desejava contemplá-la quando ela enlouquecesse embaixo dele. Queria ouvi-la murmurar o nome dele durante o clímax, quando ele a fodesse tão intensamente que ela esquecesse quem ela era. Mas ele não poderia esquecer, ela era a melhor amiga de Caroline.
