Capítulo 05

"Ah é? Será que você realmente tem medo de ouvir um 'não' a uma proposta de casamento? Ou será que você não pensa em mim para ser a sua esposa?".

Ele arregalou os olhos, tanto que quase saltaram das órbitas.

"O quê?".

"Você ouviu bem".

"De onde vem isso Cuddy?".

"Do mesmo lugar de onde vieram as suas perguntas e comentários recentes".

"Wilson te falou uma estupidez e agora...".

"Eu sabia que tinha falado algo sobe isso quando estava bêbada". Cuddy disse sentando-se na cama com uma mão no rosto.

"Eu... Eu pensei que você não me achasse um material para casamento, porque realmente eu não me vejo assim. Sobretudo depois de tudo o que você acabou de me dizer. Aparentemente eu não me importo com você e com Rachel, não é?".

"E por isso veio toda a conversa sobre Lucas e sobre a proposta de casamento?".

"Não sei... Sinceramente eu não sei mais nada".

Ela fez sinal para ele sentar-se ao lado dela na cama, ele obedeceu sem hesitar.

"House, eu não quero que pense que porque completamos um ano juntos você precisa ter a obrigação de me propor casamento. Você não é obrigado a nada, eu te conheço, eu sei que você não é convencional, que você não acredita em casamentos. Eu não espero nada diferente de você, nada diferente de quem você é".

"Você diz isso, mas será que você sente isso?".

"Sim, eu não preciso me casar para ser feliz". Ela mesma duvidava do que dizia, no fundo ela tinha o desejo de casar-se, por mais idiota que isso soasse.

"Nem você acredita no que diz...".

"Eu realmente penso assim...".

"Você acha que eu seria um bom marido? Apesar de mentir, roubar, trapacear e ser má influência para Rachel? Apesar de não levar o lixo pra fora de casa com frequência e faltar às suas premiações? Porque eu posso tentar melhorar, mas esse sou eu Cuddy. Muito prazer Gregory House".

Ela sorriu. "Maridos não costumam ser perfeitos. A pessoa não vira um poço de virtudes só porque se casa. Eu também não seria uma esposa ideal, continuaria sendo controladora, rigorosa...".

"... Louca por limpeza e maníaca sexual".

"O quê?". Ela arregalou os olhos.

"Eu gosto dessa última parte".

Ela riu.

"Nós somos dois idiotas por estarmos brigando em uma ocasião onde deveríamos nos divertir". Cuddy disse.

"O que você pensa sobre casamento? O que você espera? O que você esperava de Lucas?". Ele precisava saber.

"House, eu não quero mais falar sobre Lucas. Por favor".

"Ok, mas responda a minha pergunta".

"Eu não sei... Eu acho que casamento é quando duas pessoas querem oficializar o desejo de estarem juntas, de serem companheiros, compartilharem a vida. E nenhuma dessas pessoas precisa ser perfeita. Aliás, ninguém é. Mas... Eu só me casaria se eu sentisse que é a pessoa que realmente faz meu coração bater mais acelerado e meu cérebro derreter. Eu posso ter ficado noiva antes, mas eu não sentia nada disso".

"Você se casou...".

"Uma vez, há longos anos atrás e mais por meninice do que por amor. Você sabe disso".

"Existe alguma possibilidade de eu chegar perto de ser essa pessoa que você descreveu? Sim, pois eu estou longe disso. Nós brigamos e você não fala comigo, você se fecha e me coloca pra fora da sua vida. Como alguém vai se casar assim?".

"House". Ela corou. Ele tinha razão, ela o criticava com veemência, mas não era muito mais madura que ele. "Desculpe-me, eu não tenho sido uma grande namorada".

Ele ficou sério.

"Você atinge quase 100% da meta de marido pra mim. Só você já fez isso comigo e só você fará. Eu não sei, com você tudo fica mais intenso pra mim, inclusive minha inabilidade em relacionamentos amorosos".

"Então você está ferrada". Ele disse bem humorado e levou um tapa leve dela. "Estamos ferrados!".

"Não pise no coração de uma pessoa e depois tripudie".

"Como iremos nos casar se mal conseguimos namorar sem termos uma briga ou desavença?". Ele disse.

Lágrimas rolavam pelo rosto dela. "Eu não brigaria assim com ninguém. Antes... Eu simplesmente me afastava, terminava o relacionamento. Com você é diferente. Eu estou aqui com o coração apertado pensando que você pode se encher de mim".

"Cuddy... Eu não quero te magoar, mas como faremos isso? Não conseguimos lidar um com o outro. Eu te irrito, você se fecha e me afasta, eu minto, você finge que acredita, fazemos sexo muito bom e ficamos bem, no dia seguinte tudo novamente... Até quando?".

"Precisamos ser mais maduros. Precisamos confiar mais um no outro, aceitar mais um ao outro e nos comunicar mais. Wilson sabe mais de nossos sentimentos do que nós mesmos".

"E como faremos isso? Não vamos mudar do dia para a noite. Somos quem somos".

Lágrimas espessas rolavam pelo rosto dela.

"Cuddy, eu não tenho um anel aqui... Nem sei se eu teria condições de comprar o anel que você merece, pois se suas lingeries são tão caras... eu imagino uma joia como essa, teria que ser a joia perfeita pra você".

Ela franziu a testa sem entender.

"Mas... Eu me casaria com você também. Só com você, desde que não tivéssemos uma festa enorme cheia de gente estúpida que estaria lá só pra falar mal de nós e da festa. Pra você eu sempre digo sim, você não sabe disso? Você é a única".

"O quê?".

Ele olhou sério para ela.

"Essa é a sua maneira de me propor casamento?".

"Tão sem noção quanto eu...". Ele disse.

"Sério?".

"Cuddy, se eu tivesse um anel aqui e agora e me ajoelhasse a seus pés, você aceitaria ser a minha esposa? Mesmo sabendo que eu sou um cara ferrado com uma perna ruim e que provavelmente meu fígado apresentará algum problema sério em breve?".

Ela riu. "Você é convincente".

"Não é uma propaganda. É a realidade. Eu não sou o melhor currículo para marido".

"E porque você está me dizendo tudo isso?".

"Porque se você quiser se casar comigo, eu me casarei com você, mas quero que saiba que eu serei quem sou e isso vai te deixar tão frustrada a maior parte do tempo. Isso é suficiente pra você? Porque você merece muito mais".

"Tanto mereço que nunca consegui manter um relacionamento real e duradouro".

"Por que você é durona e exigente. Eu não sei como baixou a guarda comigo...".

"Ou será porque você sempre está no meu caminho? No meu coração e na minha mente?".

"Já ouviu a frase 'dedo pobre'? Você tem toda a mão podre".

Ela riu alto. Mas Cuddy estava extremamente nervosa, apesar de tentar disfarçar e levar uma conversa leve. Ele realmente estava fazendo aquilo? Eles estavam tendo aquela conversa ou ela estava sonhando? House não era de se abrir ou falar sobre sentimentos.

E ele... Ele jamais a pediria em casamento sem ter certeza de que ela diria 'sim'. Ele não arriscaria assim o que tinham, pois sabia que depois seria ladeira abaixo. No mais, ele estava disposto a se casar com ela? A resposta era assustadora: Sim!

"Eu não penso assim, House. Eu já estive em relacionamentos com caras normais e não fez a minha cabeça, não funcionou pra mim".

"Você está me chamando de anormal? Legal!".

"Você é impossível!".

Ele sorriu. Ela achava o sorriso dele lindo, pena que ele não o exibia com mais frequência.

"Então...". Ela disse encabulada...

"Então...". Ele estava também confuso.

"Se você tivesse um anel aqui... Continue de onde você parou". Cuddy pediu ansiosa. O seu coração estava na boca.

"Então, se eu tivesse um anel superluxuoso aqui e te propusesse casamento. O que você diria?".

"Como você faria isso?". Ela mordeu o lábio inferior.

"Talvez em frente à lareira...".

"Uh... Gostei!".

"Enquanto bebíamos vinho. Te embebedar me daria um caminho mais fácil".

"Tirando essa última parte do seu comentário, eu gostei. Você não quer simular como seria isso?".

"Você quer que eu simule a proposta de casamento?".

"Sim".

"Ok. Preciso de algo que sirva como anel...". Ele olhou ao redor e pegou um guardanapos e enrolou até virar um pequeno anel de papel. "Pronto!".

Cuddy sorriu. Eles caminharam até a lareira. House pegou um vinho da geladeira.

"Quem deixa vinhos caros na geladeira de um quarto de resort?".

"Quem vai cobrar caro por eles quando fecharmos a conta". Cuddy respondeu ansiosa pelo momento.

House abriu o vinho e os serviu. "Muito bom esse Merlot". Cuddy disse.

"Eu esqueço que você já fez curso de Sommelier". House falou.

"Há muitos anos atrás".

"Você quase não bebe...".

"Eu mudei meus hábitos alimentares".

"Não faz mal um vinho às vezes...".

"Não. Sobretudo em ocasiões especiais como em uma proposta de casamento". Ela falou divertida, mas muito nervosa.

"Que tal uma música?". House perguntou.

"Ótima ideia. Qual?".

"Uh... Alguma do Marvin Gaye?".

"Sem chance". Ela respondeu sorrindo. "Então que tal...". Cuddy pegou o celular e selecionou uma música. "Essa...".

Wise men say
Only fools rush in
But I can't help falling in love with you
Shall I stay?
Would it be a sin
If I can't help falling in love with you?

"Sério?".

"Por que não? É linda!".

"É... meio brega!".

"Brega?".

"Para essa ocasião é muito passada, muita gente já deve ter usado essa música".

"Então qual? Quem sabe Celine Dion".

"Nem continue…".

Ela riu.

"Essa!". House anunciou e deu play.

When my heart starts to beat like a hammer
And my eyes get full of tears
Oh when my heart starts to beat like a hammer
And my eyes get full of tears
You know you've only been gone 24 hours baby
And baby it seems like a million years

Now if I ever mistreated you baby
You know I didn't mean no harm
Oh if I ever mistreated you baby
God knows I didn't mean no harm
You know I'm just a little country boy baby
And I was raised right down on the cotton farm

"Essa serve… Talvez...". Cuddy disse tentando ouvir o que dizia a letra.

"Essa serve? Essa é anos luz mais apropriada que as anteriores".

"É um pouco... Diferente...".

"Eu sou diferente".

Ela sorriu. "Verdade".

"Se alguma vez eu maltratei você, baby. Você sabe que eu não quis fazer nenhum dano". Ele recitou parte da letra.

Ela balançou a cabeça.

"Um brinde a nós!". House propôs e eles brindaram com a taça cheio de vinho.

House queria postergar o momento da proposta, mesmo que fosse uma 'encenação', ele sabia que era perigoso, pois nada do que eles diziam deixava de ter um peso real.

"Ok... Continue...". Cuddy falou.

"Você está tirando a naturalidade da coisa".

Ela riu. "Desculpe!". Cuddy estava ansiosa.

"Vamos beber um pouco mais, porque eu te deixaria bêbada para que seu discernimento estivesse comprometido na hora da proposta".

"Eu acredito nisso". Ela riu.

Beberam, sorriram e o Blues continuou.

"Você tem um setlist ou coisa assim?".

"Claro que sim. Chama-se: Setlist de pedido de casamento, já que sempre uso". Ele respondeu e Cuddy riu.

A garrafa de vinho estava chegando ao fim e House pegou o anel de papel na mão. Ele se esforçou para ajoelhar em frente à lareira. Cuddy pensou que ele estava caindo e foi ajudá-lo.

"Cuddy, não tire completamente o meu orgulho másculo".

"Oh". Ela disse surpresa entendendo o que ele iria fazer finalmente.

"Lisa Cuddy, você seria louca o suficiente para se tornar a minha esposa?".

Ela mordeu o lábio e conteve um sorriso. Seu rosto estava ruborizado.

"Claro que sim!".

"Sério?".

"Sim!".

Ele sorriu de volta e colocou o anel de papel no dedo anelar dela.

"Acho que estamos noivos!".

Ela sorriu e eles trocaram um beijo apaixonado. Logo as roupas foram deixadas de lado e eles fizeram amor em frente à lareira, sobre os cobertores e edredons.

Dormiram ali mesmo, tomados pelo vinho e pelas emoções da noite. Às três da manhã Cuddy acordou e o despertou. "Vamos pra cama?".

Eles foram sem trocar palavras, apenas se aconchegaram nos braços um do outro e voltaram a dormir.

Cuddy sentiu raios de sol adentrando o quarto e massageando as suas pálpebras, então ela abriu os olhos. Era domingo. Ela passou a mão no rosto para tirar os cabelos que estavam sobe os olhos e viu aquele anel de papel em seu dedo.

'Oh meu Deus, isso foi real ou realmente só encenação?', ela pensou consigo mesma. Cuddy queria muito que tivesse sido real, mas não tinha certeza de nada. Então ela foi tomar um banho, mas tomou cuidado para não deixar o anel molhar.

Minutos depois House acordou e sentiu a falta dela ao seu lado. Então a lembrança de tudo veio a sua mente e ele não sabia dizer se a proposta foi ou não real. Como Cuddy reagiria? O que ele deveria dizer?

"Ei...".

"Ei... Você está com o anel?".

"Oh sim. Não posso tirar meu anel de noivado". Ela disse divertida e tentando especular.

"Oh claro que não, eu ficaria muito bravo".

Ambos riram sem saber exatamente o que aquilo significava afinal.

"Vou ligar pra Rachel". Cuddy tentou mudar o assunto e sair daquela situação desconfortável.

"Ok".

"Ei bebê, como você está? Sim, House está aqui. Quer falar com ele?".

Cuddy passou o celular para a menina.

"Ei macaca!".

"Eu não sou macaca".

"Ela não é macaca". Cuddy falou divertida ao mesmo tempo em que a sua filha falava o mesmo do outro lado da linha.

House sorriu, elas não compartilhavam vínculos biológicos, mas só, porque no resto eram iguais.

Continua...


Músicas:

Elvis Presley - Can't Help Falling In Love

B.B King & Eric Clapton - When My Heart Beats Like A Hammer


E aí? A proposta foi real ou foi apenas uma simulação?