Capítulo 13
"Gêmeos?". House perguntou em pânico.
"Ainda é cedo, mas eu só estou visualizando uma placenta, mas me parece que temos duas bolsas. Isso seria uma gestação Monocoriônica e Diamniótica".
"Gêmeos idênticos". House disse para si mesmo em voz alta.
"Ainda é cedo, no próximo ultrassom poderemos confirmar. Seria bom sem realmente tivéssemos duas bolsas, isso mitiga alguns eventuais problemas".
De tudo aquilo Cuddy só ouviu a palavra 'problema'.
"Algum problema?". Ela perguntou com a voz vacilante.
"Não, está tudo bem aqui Lisa. Fique tranquila". Dra. Sara notou que ela tremia muito. "Você está grávida aproximadamente de sete semanas. Como são gêmeos não podemos considerar quarenta semanas gestacionais, sabe que gêmeos completar 38 semanas é uma benção".
"Mas está tudo bem?".
"Sim Lisa. Por enquanto está tudo ótimo. Você pode ir até o banheiro para limpar o gel e vestir a sua roupa".
Enquanto ela se vestia House imaginou todos os possíveis cenários perigosos. Gestação gemelar redobrava a preocupação, e univitelinos? Ele tentou calcular a probabilidade de algo ruim acontecer, Cuddy não suportaria. O que ele poderia fazer para evitar? Acima dos quarenta anos a mulher tem 15% mais chances de parto prematuro. Gestação gemelar o risco é de 50% de parto prematuro. Pré-eclampsia já é um risco em gestação tardia, quanto mais em gêmeos... Diabete gestacional, descolamento da placenta, anemia materna, restrição do crescimento intrauterino, malformação fetal, sem contar anos de abuso de drogas por parte dele, será que isso influenciou seus espermatozoides? A mente de House estava quase explodindo.
"House!". Cuddy colocou a mão no ombro dele e desviou sua atenção para ela.
"Ei. Você está bem?".
"Sim". Ela mentiu.
Eles sentaram-se nas cadeiras em frente à mesa de Dra. Sara.
"Como eu havia dito, está tudo bem, mas vamos acompanhar com mais frequência, é o padrão para gêmeos. Gravidez gemelar exige mais da mãe, muito mais. Lisa, eu preciso que você se alimente muito bem, vou reajustar as suas vitaminas e repouse sempre que possível. Sem muito stress".
"Eu posso fazer ioga?". Cuddy perguntou e House queria morrer. Ioga? Era isso que a preocupava?
"Só movimentos leves que são apropriados para grávidas e que não demandem muito esforço físico".
"E quanto... E quanto ao sexo?". Cuddy se sentiu uma adolescente ao perguntar isso. Ela notou que corou. Ela era uma médica, mas... Nesse momento ela havia esquecido tudo o que aprendeu e sentia-se uma mulher insegura, sobretudo por ter mais de quarenta anos e com o seu histórico de aborto e dificuldades de concepção. Além disso, sexo com House era sempre muito intenso.
"Sexo está liberado desde que com bom senso. Nada de se pendurar no lustre do teto". Dra. Sara falou bem humorada.
Cuddy corou e House segurou as piadas, afinal, ele também estava assustado agora.
Quando deixaram o consultório House estava branco e Cuddy sentia-se em outra dimensão.
"Gêmeos idênticos?". Cuddy puxou assunto.
"Pois é".
Cuddy tinha visto as imagens do ultrassom, ela havia recebido as imagens que estavam em suas mãos, mas por alguma razão nada parecia real. Já House sentia que era tudo muito real e muito assustador, ele mal podia respirar. E o pior, só ele sabia quem era o irresponsável que gerou isso tudo: ele quando trocou o anticoncepcional dela. Cuddy tinha mais de quarenta anos, o que ele estava pensando?
"Você está bem?". Cuddy perguntou notando que House estava cada vez mais branco.
"Cuddy, você precisa voltar à nutróloga".
Ela franziu a testa, por essa Cuddy não esperava.
"Gêmeos Cuddy, isso muda tudo". House explicou aterrorizado.
"Eu irei".
House passou o resto do dia quieto e pensativo.
"Ei. Como foi o ultrassom?". Wilson perguntou durante o almoço.
"Aterrorizante".
"O quê? Algo errado?".
"Gêmeos"
"O QUÊ?".
"Dois. Univitelinos".
"Wow! Só... Wow!".
"Pois é! Seja lá o que isso significa".
"Só... Vocês não fazem nada pela metade. Você e Cuddy chegam e chutam a porta". Wilson falou bem humorado.
"Nós somos bons assim". House parecia desanimado.
"O que foi? Você não ficou feliz? Não vai se exibir em como você é bom?".
"Você sabe dos riscos envolvidos em gravidez de gêmeos para uma mulher acima dos quarenta anos?".
"Mas está tudo normal?".
"Sim, mas ainda é cedo pra saber".
"Vai dar tudo certo".
"Você não sabe disso".
"Dê tempo ao tempo".
"Algo que obviamente eu sou bom em fazer: dar tempo ao tempo".
"Cuddy está bem?".
"Ela está... estranha".
"Bom, dê espaço e tempo".
"Será que ela não queria engravidar? Eu sempre pensei que fosse algo que ela quisesse". House perguntou perturbado.
"Antes de Rachel. Depois eu acho que ela deixou de lado. Mas ela quer esse bebê... esses bebês. Eu tenho certeza disso. É só questão de tempo".
"Não há tempo Wilson, ela precisa mudar radicalmente a vida dela agora, imediatamente. Isso se ela quiser de fato ter dois diabinhos correndo pela casa".
Wilson notou a preocupação do amigo. Era legitima quem iria contestar?
"Ou será que Cuddy só não queria filhos... comigo?".
"House, isso é insano! Ela te ama, com quem mais ela iria querer filhos?".
"Não sei. Mas eu devia ter pensado em tudo antes...".
"Você parece que se culpa por ela estar grávida. O que você iria fazer? O método anticoncepcional falhou, soube que Cuddy até informou o laboratório".
"Ela fez isso?". House não sabia dessa parte da história.
"Sim. Ela não te disse?".
"Não".
"Ela deve ter se esquecido de comentar".
"O laboratório respondeu?".
"Claro que sim, afinal, ela é a reitora de medicina".
"O que eles disseram?".
"Que seria preciso receberem mais informações. Acho que Cuddy preencheu um formulário, algo assim".
"Maravilhoso…". House respondeu sabendo que ele criou a 'falha' daquele método anticoncepcional.
Wilson arrumou a sua maneira de falar com Cuddy no final da tarde.
"Gêmeos, hein? Vocês não podiam ser normais e irem com uma gravidez regular? Não... Claro que não". Wilson falou bem humorado quando encontrou com ela depois de uma rápida reunião do conselho.
"Pois é".
"Ei... Você sempre quis um bebê. Terá dois deles!".
"Três. Não se esqueça de Rachel".
"Você não está feliz?".
Ela respirou fundo. "Eu sinceramente não sei o que sentir. É como se essa vida não fosse minha, não pertencesse a mim. Eu sinto como se fosse acordar a qualquer momento e descobrir que House é um viciado em opióides e eu estou sozinha em casa com Rachel. Durante o ultrassom, era como se eu estivesse no corpo de outra pessoa".
"House acha que você não quer esse bebê... esses bebês porque são dele".
"Que estupidez!".
"Mas é como ele se sente".
"E por que ele não vem falar comigo diretamente?".
"E por que você não vai falar com ele?".
Eles continuavam os mesmos adolescentes inseguros e imaturos? Cuddy pensou.
"Wilson, por favor, você é o único que sabe dessa gestação".
"Eu não vou contar nada a ninguém!".
"Wilson, isso é sério. Eu preciso esperar pra ver se essa gestação vai... vingar, e então anunciar oficialmente ao conselho antes que todo o hospital saiba".
"O hospital ficará alvoroçado".
"Eu sei, e isso tem que esperar".
"Ok, eu prometo que não irei divulgar absolutamente nada".
Naquela noite...
"House nós precisamos conversar". Ela disse se aproximando da cama e ele retirou os óculos de leitura.
"Não teremos espaço suficiente nessa casa".
"Você quer que eu deixe a sua casa?".
"O quê? Não! Por que você pensou isso?".
"Não sei... Atualmente está tudo tão estranho. Você está... estranha".
"Eu não vou te colocar na rua por qualquer coisa, nós já falamos sobre isso".
"A minha experiência diz o contrário".
"Parece que nossas conversas de antes não adiantaram nada... Por que somos tão teimosos? Por que não enfrentamos nossos problemas juntos?".
"O que você quer dizer com tudo isso?". House perguntou inseguro.
"Precisamos mudar se quisermos que isso funcione. E eu quero! Eu te amo e não vou te expulsar por qualquer coisa, eu prometo. Nós iremos nos casar, pelo amor de Deus".
"Você está bem com essa gravidez?".
"Eu não sei. É uma surpresa, e tenho medo de que algo dê errado. Eu tenho medo de me desapontar novamente. E dessa vez será pior, pois eu desapontarei você também".
"Cuddy pare com isso. Você não me desapontará".
"Dois House... É muita coisa pra quem não esperava engravidar jamais na vida".
"Eu sei. Desculpe-me...".
"Desculpar você? Pelo quê?".
Ele corou. "É uma maneira de dizer".
"Nós não temos responsabilidades. Foi uma falha do anticoncepcional, pode acontecer com qualquer um. Eu só não entendo como fui engravidar tão rápido se eu sempre tive tantos problemas...".
"Preciso falar novamente sobre o meu esperma fantástico?". Ele tentou não pensar na resposta obvia 'porque eu troquei as suas pílulas'.
Ela sorriu. "Como estava dizendo antes, nós precisamos de mais espaço. Pensei em nos mudar para uma casa maior".
"Já?".
"Por quê? Você acha que eu vou perder os bebês?". Ela perguntou em pânico.
"Não é isso. É que... Eu não esperava por isso".
"Pelo visto as coisas tem nos surpreendido demais atualmente, não?".
"Sim".
"Dois! Vamos ser honestos. Dois não te assusta?". Cuddy perguntou curiosa.
"Demais!".
"Não parece real ainda...".
"Pra mim parece muito real. O dobro da realidade".
"Eu preciso de algo para me distrair e procurar uma casa vai me ajudar. No mais, mesmo que algo dê errado, não fará mal ter mais espaço pra nós e para Rachel".
House não sabia como reagir, o que dizer...
"Eu tenho algum dinheiro guardado e vendendo essa casa… você vendendo o seu apartamento, nós podemos somar um bom dinheiro. Você tem algum dinheiro guardado?". Cuddy perguntou.
"Sim".
"Você pode me dizer aproximadamente de quanto estamos falando?".
House disse e ela ficou espantada. "Wow!".
"Apesar de eu não ter aumento nos últimos anos...".
"Sim, vamos pensar nisso também". Ela respondeu ainda tentando entender como ele guardou tanto dinheiro.
"É bom surpreender as pessoas as vezes". Ele disse. "Se bem que, estamos nos surpreendendo demais atualmente".
"Desculpe... É que essa quantia realmente me surpreendeu".
"Não é como se eu tivesse gastado todo o meu dinheiro com prostitutas, drogas e jogo de azar". House disse.
Cuddy corou. "Desculpe... é que...".
"Não precisa se preocupar, qualquer pessoa pensaria isso. Até a minha mãe".
De repende ela se lembrou de Arlene. Um dia, em breve, ela teria que contar sobre tudo isso para a mãe. Isso trouxe mais arrepio ao estomago dela.
"Cuddy, você precisa voltar para uma consulta com a nutróloga". House mudou de assunto.
"Eu sei. Eu farei isso".
Ele não queria irritá-la com a insistência, mas ele esperava que ela já tivesse agendado um horário.
"House... Nós também precisamos falar sobre outra coisa".
"O quê?". Já não tinha sido demais? House pensava.
"Casamento. Se as coisas seguirem... Eu estarei muito gorda em pouco tempo".
"E o que você sugere?".
"Casar-nos no final desse mês".
De repente aquele assunto não apavorava mais House, ele não sabia exatamente a razão, nem tinha percebido isso até esse momento, talvez todo o resto era muito mais impactante.
"Se você quiser podemos nos casar amanhã. Funciona pra mim".
Ela não pode deixar de sorrir. "Eu vou procurar um espaço para uma recepção simples e ver se conseguimos agendar tão perto da data. Nem que tenhamos que nos casar em um dia da semana, ao invés de um final de semana".
"Sua mãe será convidada?".
"Infelizmente sim. E a sua também".
"Oh, minha mãe nem sabe que estamos namorando".
"Você nunca contou isso a ela?". Cuddy perguntou chocada.
"Não havia razão".
"Não havia razão?".
"Eu não converso sobre essas coisas com ela Cuddy, não é natural".
"Pois trate de falar".
"Quando definirmos tudo eu falarei com ela". House respondeu contrariado.
"A sua mãe nem sabe que estamos em um relacionamento sério por mais de um ano?".
"Não é como se fossem dez anos... Você quer um casamento judeu? Tradicional com rabino e tudo mais? Pois eu não vou deixar que cortem meu pau".
Ela não pode deixar de rir. "Não necessariamente".
"Não necessariamente o casamento ou cortarem o meu pau para que eu me torne um de vocês?".
"As duas coisas".
"Eu não vou me converter!".
"Eu sei".
"Sua mãe não ficará feliz com isso".
"Que se dane a minha mãe!".
House arregalou os olhos. "Vai Cuddy!".
"Então eu vou começar a pesquisar as duas coisas: a casa e locais onde podemos nos casar".
"Ok".
House sabia que aquelas distrações fariam bem a ela. Cuddy sorriu e já pegou uma agenda para anotar algumas coisas.
"Você não pensa em convidar Carl para o casamento, certo?".
Ela sorriu. "Não. Só os amigos mais próximos".
"Obrigado Deus!".
Ela riu.
Cuddy não havia sorrido muito nos últimos dias era muito bom vê-la sorrir.
"Algo em mente para a casa? Algo que você ache mandatório?". Ela perguntou.
"Uh... Um banheira grande em um banheiro grande para nós. Um espaço para o meu piano e guitarras e onde eu possa tocar sem que ninguém reclame do som alto. Poderíamos ter uma masmorra também...".
"Ok, entendido". Cuddy o cortou. "Eu te amo!".
House sorriu. "Eu também! Vai dar tudo certo".
"Sim".
Mas nenhum deles estava muito seguro com isso.
Continua...
