Capítulo 14
"O que você faz levantado às seis e meia da manhã?". Cuddy estranhou quando saiu do banho e encontrou o noivo em pé.
"Tenho fisioterapia".
"O quê?". Ela pensou que tinha ouvido mal.
"Fisioterapia às oito horas".
"Você vai voluntariamente para uma sessão de fisioterapia?".
"Sim". Ele disse e entrou no banheiro para tomar um banho.
Cuddy ficou parada sem entender se ainda dormia ou se já havia acordado.
Quando ele saiu do banho Cuddy insistiu.
"Quando você decidiu fazer fisioterapia?".
"Ontem. Marquei com aquela... Helen, não é isso? Dizem que ela é boa".
"Helen Vegas. Ela é a melhor, por isso a contratei".
"Tive uma conversa com ela ontem e ela acha que pode me ajudar. De fato acho que ela tem mais interesse em mim do que demonstrou".
"House, ela é casada".
"Tire sua mente da sarjeta. Eu acho que ela tem interesse em usar o meu caso para o pós-doutorado: Como controlar dor crônica e trazer alguma funcionalidade para uma perna estragada".
"Você acha que pode ganhar funções na perna?".
"Não. Mas é um bom titulo para uma tese".
"Papai!". Rachel acordou e correu para ele. "Panquecas com carinhas felizes".
"Rachel, eu estou atrasado".
"Por favor!". Ela fez beiço.
"Ei senhorita, não vai nem dar um abraço de Bom Dia na mamãe?". Cuddy reclamou enciumada.
"SIM!". E ela foi até a mãe.
"Panquecas, por favor!". Ela pediu novamente para House.
"Ok, mas rápido porque eu tenho que sair". House disse e já começou a fazer as panquecas para a menina.
"Oba! Eu te amo papai!".
House paralisou. Cuddy arregalou os olhos. Era tão natural, ninguém pediu para Rachel chamá-lo de pai, muito menos para que ela se declarasse assim. Simplesmente era genuíno.
"Oh Rachel... Eu... Vou caprichar nas suas panquecas, prometo!". Era a única coisa que House podia dizer.
Cuddy sorriu. Esse era o jeito de House mostrar que se importava.
House chegou se sentindo um estranho no ninho.
"Olá Dr. House, vamos começar a fazer esse músculo se mexer". Helen disse.
"Se a intenção era me animar, saiba que o efeito está sendo o oposto".
Ela sorriu. "Não vai ser bonito e nem agradável, mas precisamos começar de algum lugar".
Ele respirou fundo. As coisas que ele fazia por Cuddy.
A sessão levou cinquenta minutos, House diria que foram cinquenta minutos de tortura. Ao final dos últimos cinco minutos ele estava transpirando muito.
"Eu posso estar louca, mas me parece que a sua noiva e reitora desse hospital está escondida atrás daquele pilar". Helen disse. House olhou e realmente, Cuddy estava escondida observando House.
Ele sorriu. "Ela não acreditou em mim, que eu realmente viria para a sessão de fisioterapia".
"Uh... Ver pra crer!".
"Exatamente". Ele disse e acenou para ela.
Cuddy saiu de trás do pilar corando de vergonha por ter sido notada em tal situação, mas tentou disfarçar fingindo que falava ao celular. Quando desligou a falsa ligação, ela abriu a porta da sala de fisioterapia.
"Olá! Eu estava passando por aqui...".
"Corta essa Cuddy, eu sei que você veio para ver se era mesmo real, não te culpo, eu faria o mesmo".
Helen riu. Cuddy corou.
"Como foi a sessão?". Ela tentou disfarçar.
"Horrível! Eu já odeio essa mulher".
Helen sorriu. "Ele foi muito bem".
"Nossa, você deve aplicar fisioterapia em idosos com mais de cem anos então para pensar que eu fui bem".
"Você tem um desenvolvimento muscular muito bom, talvez por conta do seu passado atlético somado a genética, você tem potencial".
Cuddy arregalou os olhos, ela estava orgulhosa.
"Só precisamos lidar com a dor pós estimulo. Espere um minuto...".
Helen saiu e House ficou ali, sem entender. Cuddy se aproximou e passou a mão na testa suada dele. "Você fica sexy como o inferno assim: Todo suado".
Ele sorriu. "Eu acho que são os seus hormônios falando".
"Não só...".
"Do jeito que você está me olhando, eu garanto que você está prestes a me atacar aqui".
"Não, eu sou reitora desse lugar, nunca se esqueça desse fato".
"Mas você quer, certo?".
"Nem sempre querer é poder".
"Eu sabia!". Ele se gabou.
Logo Helen voltou com Dr. Phil a tiracolo. Ele era especialista em dor. Helen explicou a situação, mostrou os exames mais recentes de House e pediu uma orientação de medicação para dor pós estimulo.
"Ei... O que?". House estranhou.
"Eu sabia que você jamais iria ao médico da dor. Então ele vem até você". Helen disse.
"Eu já gostei dela". Cuddy falou.
"Eu não posso tomar qualquer coisa...". House disse preocupado.
"Podemos tentar os adesivos, eles são eficientes. O que acha?".
"Eu não posso continuar com meus medicamente?". House perguntou.
"Você sabe que vai doer mais por conta do estimulo, principalmente no início. Se a dor for maior sua vontade de estimular será menor, precisamos trabalhar as duas coisas juntas". Helen explicou.
"House, eu acho que podemos tentar os adesivos". Cuddy disse.
Ele concordou sem entender porque estava passando por tudo aquilo por livre e espontânea vontade.
Após tomar um banho e começar seu trabalho Wilson invadiu a sala de Diagnósticos.
"É real?".
"Sim Wilson, Chase é um menino, apesar do cabelo".
Chase olhou feio. Taub riu.
"Você está fazendo fisioterapia?". Wilson explicou.
Todos arregalaram os olhos.
"Fala mais alto para que possam ouvir do térreo".
"É sério?".
"Sim. Agora o mundo pode acabar!". House falou imitando uma voz grave e um cajado em sua mão.
"OH MEU DEUS!". Wilson disse chocado.
De fato todos estavam chocados.
"O amor faz essas coisas...". Masters disse sorrindo.
House franziu a testa e a encarou. "Falou a conselheira do amor que ainda é virgem, que contraditório".
"Você ainda é virgem?". Wilson perguntou intrigado.
Masters corou. "Não interessa pra ninguém a minha vida intima".
"Nem as minhas sessões de fisioterapia". House aproveitou a deixa.
"Você está bem?". Wilson perguntou preocupado. "Sua perna não dói?".
"Estou com um adesivo de Fenatil. E, antes que me pergunte, eu estou sob orientação do Dr. Phil".
Wilson quase caiu pra trás. "O médico da dor que você sempre subestimou?".
"Acontece que eu revi meus conceitos, e hoje tenho uma missa católica pra ir inclusive. Preciso agradecer ao senhor pela criação. Agora se me der licença, eu tenho um paciente que precisa de mais do que um adesivo de Fenatil".
"Wow! Milagres acontecem!". Wilson disse surpreso.
"Cuddy deve ser muito boa mesmo". Taub falou.
"Olha lá como você fala da minha noiva". House respondeu irritado.
"O amor faz milagres. Eu disse!". Masters insistiu feliz.
O fato é que nos próximos dias House continuou assíduo à fisioterapia, contrariando as apostas que davam como certa a desistência dele depois da primeira semana.
"E aí, como está a perna?".
"Você vai me perguntar isso todos os dias, Wilson?". House disse com a boca cheia.
"Desculpe, eu não sabia que se importar era ruim".
"Como vai sua namorada?".
"Eu não tenho uma e você sabe...".
"É diferente. Você virou celibatário".
"Eu quero um tempo pra mim, e para Fofa".
"Você e sua nova gata...".
"O que tem de mal em ter uma gata?".
"Eu preciso mesmo listar todos os tópicos? Começando com... Uh... você parece gay".
"Que preconceito!".
"Wilson, vá atrás de uma mulher".
"Quanto tempo você ficou sozinho depois de Stacy?".
"Eu tinha prostituta. Você não é um homem solitário. Você precisa estar casado o tempo todo".
"Eu já estou solteiro há muito tempo...".
"Porque não aceitaram a sua proposta de casamento, senão você estaria casado agora, ou se divorciando…".
Wilson corou. "Vá se foder!".
"Precisarei da sua ajuda em breve". House anunciou.
"Por quê?".
"Eu e Cuddy vamos nos mudar".
"O quê?".
"Cuddy disse que a casa dela era pequena para todo mundo e achou outra casa".
"Cuddy estava procurando casa e ninguém me disse?".
"Eu não sabia que você deveria ser informado...".
Wilson sentiu-se magoado.
"Ela está louca atrás disso e das coisas para o casamento. Aliás, o casamento será daqui a três semanas. Já estou te avisando".
"O quê? Já?".
"Sim. Cuddy vai avisar a todos hoje. Quer dizer... Não serão muitas pessoas, então se sinta privilegiado".
"Isso é grande House! Você irá se casar e se mudar...".
"Depois dos gêmeos, isso de repente não parece tanto".
"Aonde vocês irão morar?".
"Perto da casa atual de Cuddy, mas a casa terá cinco quartos, cinco banheiros e uma masmorra. Cuddy é exagerada".
"Wow!".
"É mentira sobre a masmorra, infelizmente".
"É impressionante… Pois Cuddy ainda não acredita que essa gestação vai seguir adiante, ela ainda não se convenceu emocionalmente de que está grávida e já comprou uma casa maior".
"Cuddy é complexa. Na verdade ela não comprou ainda, ela fez uma oferta. Mas Cuddy sempre consegue o que quer, então eu já considero que ela comprou a casa. Mas eu ajudei, a casa é tecnicamente minha também".
"Você vendeu o seu apartamento?".
"Ainda não".
"Você irá vender?".
"Talvez".
"Você quer manter um lugar de segurança caso tudo dê errado com a sua nova vida, certo?".
"Wow, você me conhece mesmo".
"E Cuddy está bem com isso?".
"Ela não falou nada...".
"E o casamento? Como será?".
"Em um salão tão chique que tem a sua própria cascata. Cuddy conseguiu para sexta-feira, tudo estava ocupado, mas não sei como ela conseguiu. Ela só me garantiu que não precisou chupar ninguém para conseguir esse feito". House respondeu tentando esconder a admiração pela noiva.
"Você viu a casa e o salão de festas?".
"Claro que sim".
Wilson ainda estava ofendido porque não soube de nada antes, mas House e Cuddy combinaram de não mencionar absolutamente nada antes da hora.
"Wow House, isso tudo é ótimo. Nova casa, casamento, filhos, fisioterapia".
"Anote aqui que começo academia hoje".
"Sério?".
"Sim, faz parte do processo, só fisioterapia não vai resolver".
"O que Cuddy disse sobre isso?".
"Ela não acredita que eu realmente vá".
"E você vai?".
"Três vezes por semana intercalado com as sessões de fisioterapia".
"Wow! Bom pra você".
"É um saco!".
Wilson riu. Quem olhasse para House um ano atrás jamais poderia imaginar tudo isso.
"House me disse que vocês irão se mudar e se casar".
"Quando ele disse isso pra você?". Cuddy perguntou.
"Hoje".
"Uh...".
"O quê?".
"Eu estava pensando que House conseguiu se segurar por mais tempo do que eu previa, e que você conseguiu se segurar por muito menos tempo do que eu previa".
Wilson corou.
"Tudo bem Wilson". Cuddy falou dando algumas palmadas leves no ombro dele, como se estivesse o consolando.
"Você está sobrecarregada com tantas coisas?".
"Não. De fato tem sido bom focar nesses projetos".
"Você vai se casar e ter dois bebês, esses não são simples projetos".
"Eu sei". Ela respondeu séria.
"Qual o problema Cuddy?".
Ela começou a chorar.
"O que foi? Você não está feliz?".
"Eu tenho medo Wilson. Medo de decepcionar House. Medo de perder os bebês".
"House é outra pessoa agora Lisa, veja como ele está agindo".
"Então, um baque pode ser fatal e ele pode retroagir".
"Cuddy, confie!".
House continuava a sua saga. Ele começou a fazer academia e a intercalar com as sessões de fisioterapia. A dor na perna estava sendo controlada com os adesivos, House só usava quando precisava.
"House!". Cuddy entrou no escritório dele. "Pode falar?".
"Sim baby".
Eles foram para a sala anexo. "O que houve?".
"A nossa proposta foi aceita. A casa é nossa!".
"Mas já? Eu pensei que eles levariam mais tempo e que haveria mais negociação".
"Já! Eu estou feliz!". Ela pulou nos braços dele. Isso o surpreendeu. House conseguiu segurá-la graças a perna mais forte. Esse foi um sinal de progresso.
"Desculpe, sua perna...". Cuddy disse quando notou que se excedeu.
"Tudo bem com ela".
"Sério?".
"Sim".
"Eu fiquei muito empolgada".
"Eu posso dizer".
"Eu vou contratar um pintor. Quero também colocar papel de parede em alguns lugares". Ela falou empolgada.
"Ótimo!".
"Eu gostaria que nos mudássemos antes do casamento".
"Ok".
Ela sorriu e o beijou.
"Wow, desculpe!". Taub disse quando entrou.
"Ao invés de falar é melhor você dar a volta e sair, pois você está atrapalhando a continuidade...".
"Não haverá continuidade". Cuddy disse saindo.
House fez cara de choro.
"Depois conversamos...".
"É por isso que eu amo essa mulher!".
Naquela tarde Cuddy foi vê-lo.
"House, tem um minuto? Aqui fora?".
Quando ela o chamava no corredor o assunto era sério. Ele foi imediatamente.
"Você mudou de ideia sobre continuarmos o que estávamos fazendo?".
"Não. Lucas".
"O que tem esse cara?". House fechou a cara.
"Eu acho que ele está me perseguindo. Notei um carro suspeito atrás de mim há alguns dias, e agora esse bilhete estava sobre a minha mesa".
Ela o entregou para House, o bilhete dizia: Almoço terça-feira que vem, sem desculpas. Ginnos às 12hs.
"Eu vou com você".
"Não House...".
"Sim Cuddy!".
"Tudo bem, mas eu não quero brigas eu só quero colocar um ponto final definitivo".
House pensou que se o ponto final não acontecesse por bem, iria ser por mal.
A noite eles celebraram a nova casa com sexo, claro. Mas antes eles deram a notícia para Rachel.
"Pra onde vamos?".
"Uma casa bem maior". Cuddy explicou.
"Eu gosto dessa casa".
"Eu sei querida, e você vai gostar muito mais da outra casa".
"Vai ser a casa da Barbie?".
House riu.
"Não filha, vai ser a casa da Rachel".
"Papai vai também?".
"Sim ele vai conosco".
"Que bom!".
House sorriu. Aquela menininha poderia fazer coisas com o coração dele.
"Aliás, sabe quem fará aniversário logo?". Cuddy perguntou.
"EU!". Rachel respondeu animada.
"Isso filha, vamos fazer a festa na casa nova".
House arregalou os olhos. Aquela mulher estava louca: mudança, casamento e festa para Rachel?
"Cuddy...".
"Tudo vai dar certo!".
"Você não deveria estar sobrecarregada".
"Eu estou bem".
House começou a ficar preocupado, ele nunca via Cuddy acariciando a barriga, falando da gestação, era como se ela estivesse em negação. Naquela noite ele precisava fazer algo a respeito.
Então, depois do sexo, House aninhou-se ao lado dela, a estudou por um momento e começou a acariciar a barriga de Cuddy. Ela não reagiu bem, se afastou rapidamente. House ficou chocado.
"Desculpe... Eu não esperava por isso...". Cuddy tentou dizer.
"Você não quer os fetos?".
"Não é isso...".
"Precisamos falar a respeito Cuddy".
"Eu sei".
"O que acontece? Eu pensei que você seria como uma leoa defendendo a cria, mas você não fala sobre eles, não toca na sua barriga".
De repente ela começou a chorar.
"Cuddy... O que foi? Diz-me, por favor!".
"Eu os quero! Muito!".
"Então?".
"Eu tenho medo de me apegar e... frustrar-me. Tenho medo de te frustrar...".
House a puxou contra ele e a abraçou. "Você nunca me decepcionaria ou frustraria".
"Você diz isso agora, mas meu corpo já me traiu antes. E nem era o seu filho. Não sei o que faria agora...".
"Ei, nada vai acontecer de ruim. Faremos o ultrassom logo e você verá que os dois estão bem".
Cuddy ficou ali, abraçada com ele até parar de chorar.
"Toque neles...". House pediu.
"Eu não consigo...".
"Vamos Cuddy".
Ela colocou a mão direita com muito esforço sobre o abdômen.
"Ei... Vocês dois. Sua mãe está fazendo contato, sejam bem educados e digam algo". House falou.
Mas Cuddy tirou a mão rapidamente e correu para o banheiro.
House respirou fundo. Se ele tivesse fé em algo maior, ele rezaria pedindo a Deus que os dois fetos fossem saudáveis.
Continua...
