Capítulo II

Naquela noite, durante o jantar, Elena se viu sentada ao lado da amiga bruxa e, resignada, foi atualizada de todos os casos amorosos dela e de Caroline, bem como de outras fofocas sociais.

— Vê como Caroline está radiante? — Bonnie indicou a jovem vampira loura, na cabeceira da grande mesa de jantar — Isso é graças a lorde Tyler.

— Tyler, nosso amigo?

— Sim. Agora o primeiro híbrido criado por seu marido.

— Não me lembre disso... Ainda bem que Tyler conseguiu quebrar o vínculo.

— Sim, apesar de seu marido não estar feliz com isso, não é mesmo?

— Você sabe que não. Ele não quer que Tyler incite outros híbridos a fazer o mesmo. Klaus quer o poder e o domínio sobre eles.

— Ele quer um domínio geral, isso sim. Não bastam os híbridos, ele quer os vampiros e as bruxas a seu lado.

— Eu sei dos planos de dominação do meu marido, mas não quero falar sobre isso nesse final de semana. Só quero descansar realmente.

— Eu já lhe disse sobre uma ótima forma de relaxar, Elena. — Bonnie falou com malícia e Elena revirou os olhos.

— Eu sei que conhecemos Tyler a vida toda, mas Caroline não tem medo?

— Por que teria?

— Ele é um híbrido, pode machucá-la com seu lado lobisomem.

— Seu marido é o mesmo, Elena, e não vejo você com medo dele. Ou você esconde isso?

— É diferente, eu sou humana.

— Não, não é. Klaus poderia matar você, novamente, porque ele fez isso no sacrifício, mas sem trazê-la de volta dessa vez. E Caroline me confidenciou que Tyler é sempre cuidadoso com ela. Ele consegue manter o domínio sobre seu lado lobisomem, mesmo quando eles estão no auge do sexo. Nossa amiga disse que ele é maravilhoso na cama, uma fera, se é que me entende.

Elena lutou para não revirar os olhos outra vez. As conversas com Bonnie sempre iam para esse lado.

— E Stefan? Eu pensei que ele e Caroline eram de verdade, que o amor deles seria diferente.

— Ora Elena! Você sabe que Stefan só se casou com Caroline porque você o rejeitou, e ela sempre fora apaixonada por ele.

— Bonnie... — Elena advertiu a amiga. Ela não gostava de falar sobre isso também.

— O que importa é que seu querido Stefan tem viajado muito, como hoje, você o vê aqui? Não... E sabe porque? Porque ele está em Florença com sua amante de longa data, Lady Valerie Tule.

— Ele não é meu querido Stefan. Somos apenas amigos. E custa-me acreditar que Stefan faça algo assim...

— Stefan não é um santo.

— Não posso imaginar como Caroline está se sentindo. — Elena lançou um olhar avaliativo sobre a amiga loira.

— Por que você pensa que ela pode estar sofrendo mais do que você? — Bonnie questionou a amiga.

— Primeiro, porque eu não estou sofrendo. Klaus pode ter as amantes que quiser, eu sei que elas não significam nada para ele. Mas Stefan e Valerie tiveram um romance na juventude, quando humanos. Eles têm uma história.

— Se você quer saber, ela não se importa. Caroline passou a desfrutar mais da vida e pensar menos em Stefan desde que ela descobriu sobre eles.

— Isso deve ter partido o coração dela. — Elena lamentou pela amiga.

— Talvez, mas agora, mesmo que Stefan fosse seu amante, Caroline não se importaria.

— E Vicky? Apesar de não sermos tão próximas, eu pensei que ela realmente gostava de Tyler e ele dela.

— Vicky tem seus amantes, assim como Tyler. É normal, você sabe. Inclusive Damon já esteve com ela, o que é algo bom, considerando que ele traiu Katerina. Meu atual amante, lorde Kai, também já desfrutou de Vicky.

— Isso é tão estranho...

— Não Elena, é comum. A diferente aqui é você, mantendo-se fiel e casta para um marido que não valoriza suas virtudes.

Elena não retrucou, porque sabia que o que Bonnie dissera era verdade. Talvez ela devesse ter feito escolhas diferentes, e então poderia estar mais feliz nesse momento. Mas no fundo ela sabia que terminaria com Klaus, de uma maneira ou de outra. Ele precisava de seu sangue, e faria o possível para tê-lo.

Sobre Stefan, ela conhecera o jovem vampiro Stefan Salvatore logo após a morte de seus pais, quando ela estava deprimida e desolada. Ela ainda vivia em Mystic Falls, nos Estados Unidos, e Stefan tinha ido visitar um tio, que ali vivia, para passar um tempo e esquecer uma decepção amorosa. Ele estava apaixonado por Katerina Petrova, a noiva de seu irmão.

Durante o tempo em que passaram juntos em Mystic Falls, ela e Stefan se tornaram amigos. Ele fora seu primeiro contato com o mundo sobrenatural, fora quem lhe contara sobre vampiros e outros seres, antes de Bonnie se descobrir uma bruxa. Elena, em seus 15 anos, havia se apaixonado por ele, mas era jovem demais para se permitir ser cortejada, além de estar de luto pela morte dos pais. Um ano depois ela conheceu Klaus e se apaixonou por ele.

— Quando você se permitir viver, como Caroline, eu, Vicky e tantas outras, vai levar uma vida muito mais leve e divertida. Alguns homens, quando bons amantes, podem nos fazer viver o paraíso na terra.

— Por Deus, às vezes acho que você é obcecada por sexo! Por favor, falemos de outro assunto.

— Preciso de mais champanhe, se vamos falar de coisas menos agradáveis. — Bonnie decretou. — A menos que Caroline acrescente um pouco de conhaque ao chá. Mas querida, não é minha intenção ser inoportuna. Desde que você esteja feliz, fico contente.

As duas mulheres se encaminharam para o bar, onde Bonnie obteve uma taça de champanhe para ela e outra para Elena. Nesse momento, o jovem bruxo amante de Bonnie, aproximou-se das duas mulheres, cumprimentando-as, enquanto Enzo, o marido de Bonnie, a chamava do outro lado da sala.

— Eu ficaria feliz em me desculpar, se você achar necessário, senhora.

— Sou eu quem lhe deve um pedido de desculpas, milorde. — Elena sorriu diante da expressão surpresa do bruxo. — Já me desculpei com Bonnie. Senti-me terrivelmente embaraçada por ter errado a porta de meu quarto.

— Foi um engano plausível, mas lamento tê-la deixado embaraçada.

Elena sorriu para o jovem bruxo.

— A propósito, nunca a vi aqui antes, na casa de Caroline, ou na de Bonnie.

— Enquanto eu já ouvi falar a seu respeito, mesmo na Irlanda.

— Sem dúvida palavras elogiosas. — O sorriso franco iluminou os olhos azuis, acentuando a beleza máscula do rosto marmóreo.

— Minhas amigas o apreciam muitíssimo. Com certeza por causa de seu charme e educação.

Kai sorriu e beijou a mão de Elena em cortesia. Como tinha terminado a refeição, os homens permaneciam na sala de jantar para degustar um cálice de Porto e charutos, as damas se retiravam para o salão. Bonnie não perdeu tempo em abordar Elena.

— Kai não é maravilhoso?

— Ele é muito gentil e discreto.

De repente, a risada estridente de Katerina Salvatore ecoou pelo ar, fazendo todas as cabeças se voltarem para a vampira.

— A propósito — continuou Bonnie — que horas Klaus chegará hoje? Já está tarde!

— Não sei. — Ela admitiu timidamente. O marido não dissera.

Klaus Mikaelson, Conde de Clare, o híbrido original e marido de Elena, chegou um pouco depois, quando os cavalheiros já haviam se reunido às damas no salão. Ainda com o traje de viagem, conversou com Caroline alguns minutos e cumprimentou vários dos convidados antes de se aproximar da esposa. Ele beijou-a rapidamente no rosto e em seguida buscou a companhia de Katerina Salvatore.

Magoada por ter sido ignorada e desprezada em público, Elena, à medida que as horas se arrastavam, sentia-se cada vez mais humilhada pela descarada atenção com que o marido cercava a amante. Saber era uma coisa, presenciar, era outra completamente diferente.

— Querida, não entendo essa sua calma absurda. — Bonnie comentou, notando a atitude escandalosa de Klaus e Katerina, entretidos numa conversa obviamente íntima.

— De que adiantaria fazer uma cena? — Elena suspirou amuada.

— Por que não se vingar?

— À sua maneira?

—É a única maneira que conta.

— Então o sexo tornou-se um jogo? Uma disputa? — Elena tentava conter as lágrimas que queriam cair.

— Não estou falando em você tentar derrotar seu marido neste jogo, adotando vários amantes. — Sabendo que Klaus emendava um caso no outro, não havia chance de Elena vir a vencê-lo. — Estou falando em você, pelo menos uma única vez na vida, se divertir um pouco na companhia de alguém, em fazer amor por prazer, não por dever, em ser feliz por algumas horas.

— Eu adoro minha filha. Ela é a minha felicidade.

— Eu imagino que sim, mas você precisa desfrutar de alguma felicidade pessoal também, algo unicamente para si. Ou quer olhar para trás, daqui a vinte anos, e amargar o arrependimento?

— Você não se arrependerá de nada?

— Estou tentando evitar tal coisa. — Bonnie suspirou — Ouça, nós duas compreendemos muito bem os motivos pelos quais nos casamos. — Bonnie falou, compreensiva.

— Mas eu realmente amava Klaus quando nos casamos. Ele era gentil e educado anos atrás, quando o conheci. Ele era apaixonado por mim, tenho certeza.

— Mas você o ama agora?

Elena baixou os olhos para o chão. Diante do silêncio da amiga, Bonnie prosseguiu.

— Caso sirva de consolo, não estamos sozinhas em nossos casamentos sem amor. Com certeza somos a regra, não a exceção.

— Meus pais eram felizes juntos — argumentou Elena. — Portanto, não é algo impossível.

— Os meus não são. Nós não somos.

— Minha tia é feliz com Alaric.

— Pode ser, mas isso não a impediu de entregar a sobrinha para um vampiro que queria seu sangue para quebrar uma maldição. E olha que Alaric é um caçador.

— Eles esperavam que eu proteção por meu sangue. Klaus prometeu que não me machucaria, ou a eles.

— É uma mísera recompensa, não?

— Não sei, não tenho certeza... Oh, amiga, não me peça para pesar o amor que sinto por minha filha contra as infidelidades de Klaus.

— Se não fosse por sua filha você partiria, não?

— A questão é que não posso. Ainda que discutíssemos esse assunto até o amanhecer, nada mudaria os fatos.

— Então arranje um amante!

— Um amante me traria a felicidade? É simples assim? Você é feliz?

— Às vezes. Por que você não considera Kai? Estou sendo generosa porque a considero uma amiga querida e ele é a perfeição personificada.

— Agradeço sua generosidade, mas ao invés de ficar aqui, insistindo nisso, deveria ficar de olho no seu amante. O lorde parece interessado em lady Sybil. Você não deveria ir até lá e reclamá-lo para si?

— Não quero acorrentá-lo a mim. Quero apenas fazer amor com ele. E garanto-lhe que Kai tem energia suficiente para saciar um harém. Nós dois chegamos ao clímax várias vezes essa tarde.

— Por favor, Bonnie — murmurou Elena, corando — fale mais baixo! Além disso isso não ajuda em nada, compartilhar um homem com tantas!

— Pense em como me viu com Kai esta tarde, querida. Pense em como um homem poderia fazê-la se sentir assim. Você alguma vez já gritou ao atingir o clímax?

— Não pretendo discutir minha vida sexual no salão de Caroline. — Mas o que Elena não queria, era revelar que Klaus não aprovaria seus gritos, disso tinha certeza.

— Pois muito bem, mas qual foi a última vez em que Klaus a procurou em sua cama? Não quero vê-la morrer de frustração. E este é o fim de meu sermão. — Bonnie levantou-se. — Vou tentar ganhar algum dinheiro na mesa de bridge. Você me acompanha?

— Ainda não. Ficarei aqui mais um pouco, até terminar o cálice de champanhe.

— Enquanto isso, pense em se divertir um pouco! — Disse Bonnie com um sorriso cumplice.

Sozinha, Elena achava cada vez mais difícil suportar a visão do marido e da amante. Enfim compreendia por que ele decidira aceitar o convite de Caroline para o fim de semana. Klaus só aparecera por causa de Katerina. Oh, como odiava esse mundinho hipócrita, onde maridos e mulheres fingiam não perceber as traições mútuas, onde as trocas de parceiros eram tão frequentes que todos davam a impressão de já terem se deitado com todos.