Capítulo III
Alguns minutos depois, Elena surpreendeu o marido e lady Salvatore trocando beijos ardentes e carícias ousadas do lado de fora do salão.
— Eu apreciaria se você procurasse um quarto, Klaus — ela falou, seca. Imediatamente o híbrido soltou a amante. — E você, Katerina, não preferiria o conforto de uma cama? — acrescentou Elena.
Naquele instante a porta se abriu para dar passagem a vários cavalheiros.
— Klaus! — um deles gritou — Venha jogar bilhar conosco. Tyler acha que conseguirá recuperar o dinheiro perdido ontem à noite.
— Com sua licença. — O homem curvou-se diante de lady Salvatore, lançou um olhar gelado para a esposa e se afastou.
— Agora você terá que esperar, Katerina. Embora, claro, ainda existam homens disponíveis no salão para atender às suas necessidades.
Apesar de saber das traições do marido há anos, Elena estava admirada com a intensidade de sua raiva. Talvez porque sempre a represara e porque nunca tinha visto algo assim antes. O fato de Klaus esfregar a amante em sua cara, sem respeito algum por sua presença ali a irritara por completo.
— Algo do qual você não sabe nada a respeito. — Katerina comentou maldosa.
— Dormir com os maridos de outras mulheres? Tem razão, não sei nada sobre isso.
— Refiro-me não apenas a maridos alheios, mas a dormir com o seu próprio marido, querida — Katerina devolveu, venenosa.
— Nem todas podem ser tão generosas quanto você e seu marido... Parece-me que Damon não se importa a mínima em dividi-la com outros.
— Creio que Klaus tampouco se importaria em partilhar você.
— O que ele aprovaria, ou não, não me interessa. Eu me importaria. E agora, boa caçada essa noite! Não lhe faltarão parceiros, afinal você está sempre disponível para qualquer um, não?
— Não sou a única com quem Klaus vai para a cama. — Katerina rebateu ressentida.
— Não me importa, porque no final das contas, eu sou a única com quem ele se casou.— De cabeça erguida, Elena se retirou.
Ela ainda estava acordada, incapaz de dormir após a cena no corredor, quando Klaus apareceu nos aposentos do casal horas depois. Encontrar o marido e Katerina atracados fora a culminação de anos de traição, a gota d'água. Estranhamente ela sentiu como se um peso saísse de seu corpo, já não se importava com essas infidelidades. Queria uma solução final para um casamento que só existia no papel.
— Não desejo mais continuar vivendo assim, Klaus — ela falou muito calma, sentando-se na cama.
— Não me venha com sermões. Não estou com humor para aguentar tolices.
— Pois trate de mudar de humor. Estou farta de suas traições e quero que você pare com isso. — Ela disse insegura.
— Você não pode estar falando sério! — Klaus debochou.
— Nunca falei tão sério.
Atirando o paletó sobre a cadeira, o loiro fitou a esposa como se a uma estranha, a voz destituída de qualquer emoção.
— Que diabos você está querendo dizer?
— Que você tem que dar um basta nas suas aventuras amorosas.
— Não tenho nenhuma intenção de abdicar de minhas amantes.
Por um instante, o coração de Elena se apertou, cheio de mágoa e ódio.
— Então desejo o divórcio.
— Você perderia sua filha.
— Talvez não.
Adotando um tom condescendente, Klaus continuou:
— Querida, você não possui renda própria e divórcios são caros. E, caso tenha se esquecido, nosso contrato de casamento prevê que qualquer criança nascida de nossa união pertence a mim. Agora eu apreciaria se parássemos com essa discussão idiota.
— Como você se sentiria se eu dormisse com qualquer homem que me agradasse?
Fosse por indiferença, ou por considerar absurda a possibilidade de Elena cometer adultério, Klaus simplesmente não se deu ao trabalho de responder, começando a despir-se.
Vendo-o apenas de cueca. Elena desprezou o marido e seu corpo, que embora atlético, só lhe causava repulsa por ter estado com tantas mulheres por aí.
— Talvez eu passe a traí-lo também. Se você pode, por que não posso? — Ela insistiu raivosa.
— Provavelmente porque sua mãe desaprovaria e você sempre foi uma filha obediente e ciosa de seus deveres. — O deboche embutido no comentário era evidente.
— E sua mãe não desaprovaria seu comportamento?
— Com certeza ela compreenderia, minha mãe conhece as prerrogativas de um homem. Agora chega dessa conversa estúpida. Preciso dormir.
— Desejo-lhe boa sorte com Katerina. — Elena deitou-se e encarou a parede, ela não queria olhar para o marido, não queria que ele visse as lágrimas que saíam de seus olhos, sabendo que, para não perder a filha, estaria para sempre acorrentada àquele casamento. — Embora, com certeza, ela não deva distinguir um homem do outro, tantos são seus amantes.
— Não estou buscando exclusividade, amor. Apenas uma parceira competente para fazer sexo.
— Odeio você Klaus! — Elena comentou, magoada pela menção de que ela não era uma esposa competente.
Furiosa e cheia de mágoas, recentes e antigas, Elena não conseguia dormir. Pela primeira vez pensava seriamente nas palavras de Bonnie, sobre arrependimentos. Dalí a vinte anos, como se sentiria ao olhar para trás e constatar que se conformara com tão pouco? Dali a vinte anos, sua filha seria adulta e estaria vivendo a própria vida. O que faria, então, para conservar a sanidade? Klaus e ela ainda estariam sob o mesmo teto, mal se falando e relacionando-se como estranhos?
Como se precisasse de encorajamento para seu primeiro adultério, minutos depois, Klaus se levantou, deixando Elena sozinha na cama. Como ainda podia se sentir tão enraivecida, tão machucada, depois de tantas traições? Klaus não tivera sequer a decência de passar uma única noite nos aposentos do casal. E a vida dos dois continuaria assim para sempre, ele não lhe dando nada, ela aceitando tudo, a menos que ela tomasse uma atitude.
Cheia desses pensamentos, ela não conseguiu dormir. Elena passou a noite inteira pensando sobre seu casamento e sobre sua vida. Em como se casara apaixonada por Klaus, para ver seu sonho de amor desfeito quando ela descobriu que ele tinha amantes. Elena lembrou de várias noites em que passara como essa, sem dormir, imaginando onde seu marido estava e com quem, nas inúmeras viagens que ele fazia quando se ausentava de casa.
Ela estava cansada, e quando amanheceu, ela estava decidida a não se importar mais, como Caroline, e a aproveitar mais, como Bonnie. Trêmula, Elena tirou a camisola e escolheu um vestido para o dia, banindo da mente qualquer indecisão sobre o certo e o errado, sobre moral e imoral, e quando a serva chegou para ajudá-la a se arrumar, dispensou-a, não querendo que a ausência de Klaus se transformasse em fofocas para o deleite da criadagem.
Sozinha novamente, olhou-se no espelho, procurando uma resposta para seu terrível dilema. Poderia ir até o fim? Apesar do comportamento infame do marido e das desfeitas públicas às quais ele a submetia, seria capaz de um ato tão vil? Como que em resposta as suas divagações, Bonnie entrou em seu quarto, seguida de Caroline.
— Bom dia, Elena! Ia perguntar como você dormiu, mas pelas olheiras em sua face, já sei a resposta. — Bonnie dissera.
— Eu e Klaus discutimos ontem a noite. Ele não dormiu aqui.
— Disso sabemos. Agora não sei se já soube, mas seu marido partiu essa manhã bem cedo, umas 6 horas. Parecia cansado, como se não tivesse dormido. E o pior, ia em companhia de Katerina Salvatore.
— Eu sei que ele passou a noite com a amante, mas sair cedo com ela, dando a todos motivo para comentários, sem nem sequer deixar um bilhete de despedida? Não sei como pude aguentar por tanto tempo.
— Eu não sei, mas imagino que seja porque sua mãe a ensinou a ser uma esposa obediente e submissa — Bonnie decretou.
— Meu deus, o que farei? Eu me sinto tão... humilhada. — Elena tentava conter as lágrimas.
— Acredite-me querida, sabemos como você se sente. Isso aconteceu comigo e com Caroline. É doloroso, mas não é o fim do mundo. Não deixe que seja. Esqueça-se de Klaus!
— Não posso, ele é meu marido. E pensar que terei que aguentar isso para sempre me deixa desolada... Não quero ficar aqui, onde as pessoas logo irão comentar o que aconteceu, se já não estão comentando.
— Bem, para sua sorte, as pessoas comentaram sobre a partida de Klaus com Katerina por apenas meia hora. — Bonnie informou-a.
— Sim, isso foi até o amigo do lorde Kai chegar. O Duque de Withmore. Um belo bruxo, se me permite dizer. — Caroline comentou.
— E com uma fama tão esplêndida quanto a de Kai. Ouvi de Mary-Alice que ele é muito experiente e dedicado as amantes. Ela ja esteve na cama dele. Foi a única que o reconheceu aqui.
— Pelo que pude avaliar, ele é diabolicamente sedutor, considerando que todas as damas presentes suspiraram quando ele as cumprimentou.
— Ele é tão pecadoramente atraente quanto Kai. Confesso que estou tentada a provar dos prazeres dele esta noite, e deixar lorde Kai livre para outras aventuras.
— Você não tem jeito Bonnie! — A vampira loira revirou os olhos — Agora Elena, vamos melhorar essa sua face e arrumar seus cabelos para que você desça e conheça o nosso recém-chegado. — Caroline disse a amiga.
— Sim, e esqueça essa ideia de ir embora. Você vai aproveitar esse final de semana, Elena, nós vamos garantir isso! — Afirmou Bonnie, enquanto piscava para Caroline.
Elena pensou em protestar, mas então, pensou que não daria a Klaus a satisfação de estragar sua viagem e a visita as amigas. As palavras de Bonnie, sobre arrependimentos futuros, estavam em sua cabeça, impulsionando-a a agir. Os mansos nem sempre herdam a terra, e se a discrição e o dever conduzissem à felicidade, não teria passado a maior parte da noite anterior aos prantos.
