Capítulo IV

Para sorte ou azar de Elena, ela não sabia dizer, o misterioso Duque havia se retirado para descansar depois de uma longa viagem. Lorde Kai explicara que seu amigo viera da Inglaterra, o que indicava que ele havia passado pelo menos dois dias viajando, como fizera ela.

Elena terminou por passar o dia em companhia das amigas, que tentavam distraí-la da partida de Klaus com sua amante. Elas caminharam pelos jardins, enquanto recordavam a época na escola, passando a falar sobre seus casamentos e suas desilusões. Elena percebera que não era diferente das demais, que seu casamento era infeliz como o de suas amigas, graças a indiferença dos maridos, homens a quem elas um dia amaram, e que no fim de tudo, as traíram.

— Em algum ponto, fomos felizes em nosso casamento, mas isso acabou. — Comentou Caroline. — Agora, quando olho para Stefan, não consigo esquecer a imagem dele na cama com outra mulher, quando os peguei juntos. Doeu tanto, que eu passei dias chorando. No fim percebi que não valeu a pena. Stefan não vale as lágrimas que eu derramei. Por isso não quero que você fique triste, Elena. Klaus também não vale as suas lágrimas, ou as noites que você passa sem dormir.

— Eu sinto como se meu mundo estivesse se desfazendo... — Elena suspirou.

— Eu senti o mesmo, Caroline também. — Bonnie garantiu — Depois de tudo, tivemos que encontrar algo que nos fizesse sentir melhor, que tornasse nosso mundo e a vida pós desilusão um lugar onde podemos viver, aproveitar a vida, obter prazer e paixão. Coisas que não encontramos em nossos casamentos.

— Desde que comecei a me relacionar com Tyler, eu me sinto muito mais feliz. As vezes que fazemos amor, o prazer que ele me dá, a forma como ele me trata, eu nunca tive nada assim com Stefan.

— Não sei se ter um amante é a melhor saída... — Elena duvidava.

— Eu também não sei — Bonnie suspirou — Mas é uma forma deliciosa de esquecer o casamento e tudo o mais que nos aflige.

— Mas é tão momentâneo! — Elena declarou.

— E o que na vida não o é? Hoje estamos aqui, amanhã não sabemos. Então porque não se entregar a tudo aquilo que possa nos dar prazer e satisfação agora?

— Acredito que Elena não se sinta tentada porque nunca teve uma experiência assim, com um homem que a levasse aos céus, que se dedicasse a ela, a fazê-la feliz na cama. Klaus não parece ser assim.

— Não quero falar sobre meu marido. — Elena gemeu, sabendo que as amigas tinham razão.

— Então não falemos. Mas prometa-nos que pensará em se divertir!

Elena sabia que Caroline, amiga de infância como Bonnie, a considerava uma verdadeira aberração na alta sociedade, infestada de infiéis, ainda mais considerando que muitos ali viveriam pela eternidade. Ambas tentavam fazer Elena render-se aos prazeres da infidelidade.

— Eu pensarei. — Elena garantiu.

— Bem, então acredito que o melhor será você descansar um pouco antes do jantar, tente dormir! Enviarei um chá para você, para deixá-la mais tranquila.

Elena concordou e se recolheu ao quarto que ocupava, tomando um banho e se deitando em seguida. Olhando para o teto, ela pensava sobre Klaus, sobre sua falta de consideração com ela, deixando-a sozinha e partindo com sua amante a vista de todos. Ela não merecia isso, não depois de toda a sua dedicação a ele, ao casamento. Ela dera seu sangue para que ele se tornasse um híbrido, arriscando perder a vida se um elixir que lhe manteria viva não funcionasse. Depois, continuara dando sangue a ele, para que ele obtivesse seu exército híbrido, porque o amava na época. Agora ela via que todos os seus sacrifícios foram para nada. Ela estava farta dessa vida! Se Caroline e Bonnie tinham amantes, e afirmavam que isso as faziam felizes, Elena poderia tentar.

Quando o chá chegou, ela tomou-o e finalmente tirou um cochilo, dormindo além do que pretendia. Quando uma criada a despertou, ela estava se sentindo melhor, menos triste. E enquanto se arrumava para o jantar, decidiu que se conhecesse um homem que a interessasse, ela provaria dos prazeres da infidelidade. Experimentaria essa excitação da qual as amigas sempre falavam. E foi com esse pensamento que Elena saiu para encontrar as amigas.

Enquanto descia as escadas, Elena localizou as amigas, lorde Kai e um homem desconhecido, que ela supôs ser o amigo bruxo e duque de quem as amigas falaram. Em uma breve avaliação, ela percebeu que ele era mais alto que Lorde Kai, tinha cabelos castanhos, vestia-se bem e tinha um porte elegante, além de costas largas e quadris estreitos. E quando Bonnie sorriu para ela, Elena teve certeza de que tratava do jovem e misterioso Duque.

— Oh, aí está ela! Venha Elena! Venha conhecer nosso novo amigo! — Caroline a chamou animada, atraindo a atenção de algumas pessoas que estavam ao redor.

Sem jeito e tendo a certeza de que estava corando, Elena se aproximou do pequeno grupo, enquanto o jovem bruxo se virava para ela.

— Eu sou Kol, Duque de Withmore, a seu dispor. — Ele fez uma mesura, pegando a mão dela e levando aos lábios.

— Elena, Condessa de Clare.

O homem era bonito, muito bonito, Elena tinha de admitir. Ele era realmente mais alto do que os homens presentes. A pele clara combinava perfeitamente com o terno negro que ele usava. O traje lhe caía perfeitamente, deixando ver que ele era um homem forte e musculoso. Os olhos castanhos dele, quase verdes, combinavam perfeitamente com os cabelos pouco longos e as grossas sobrancelhas. Os lábios eram rosados e finos, e o sorriso era inocente, os traços angelicais.

Apesar das feições juvenis inspirarem inocência, Elena viu o olhar naquele belo rosto, um olhar diabolicamente intenso. E o beijo que ele depositou em sua mão, mesmo com a luva, provocou um arrepio na coluna de Elena.

Kol a saudava, fascinado. Aquela era Elena Mikaelson, sua cunhada, a esposa de seu odiado irmão, de quem ele queria vingança por tê-lo deixado apunhalado por mais de um século. Ela era a doppelganger atual, cujo sangue libertou o gene lobisomem de seu seu irmão, transformando-o em um híbrido, o primeiro de sua espécie. A mulher com sangue mágico, que engravidara e proporcionara a seu irmão lobo uma família. Uma mulher fascinante.

Kol considerou um golpe de sorte quando se encontrou com seu amigo Kai, semanas antes, e descobrira que este iria a uma festa nos campos italianos, onde estaria uma jovem condessa chamada Elena. Ele suspeitou de que fosse a esposa de seu irmão, e imaginou que Nick estaria com ela.

Kol pensou que essa seria uma boa oportunidade de se apresentar a seu irmão. Passara horas imaginando qual seria a reação de Klaus, mas para sua surpresa, ao chegar, soube que Klaus havia partido com a amante, deixando a jovem esposa sozinha. Kol, então, planejou conhecê-la, ainda decidindo se iria usá-la em sua vingança.

Kol queria se vingar de Klaus e seus irmãos, Elijah e Rebekah. Passara anos esperando a hora certa para voltar para junto de sua família e os fazer pagar por terem o abandonado. Elijah, Rebekah e Klaus tinham feito o pacto de sempre e para sempre, deixando-o de fora, tratando-o como irresponsável e imaturo. Ele se sentira desprezado, irado, e extravasou toda a sua fúria realizando matanças, até que se cansou e decidiu, por fim, se empenhar em obter poder e riqueza.

Ele se alistou na marinha inglesa, adquiriu terras, estabeleceu relações comerciais e sociais, chegando a se tornar amigo íntimo do príncipe Inglês e sua família, do qual obteve o título de Duque de Withmore. Em uma de suas viagens pela marinha, conhecera Astrid, uma bruxa árabe poderosa que lhe apresentou uma forma antiga de magia, a Kemyia. Era magia e alquimia misturados, uma forma árabe única de feitiçaria que permite a uma bruxa transformar um elemento em outro e imbuir objetos com Magia Negra. Kol se dedicou ao aprendizado, e manteve a jovem bruxa como amante.

Astrid amara tanto ao vampiro, que, sabendo que ele sentia falta de sua natureza bruxa, usou de todo o seu poder para transformar Kol em um bruxo novamente, fazendo dele um híbrido de vampiro e bruxo, o primeiro de sua espécie, diferente dos hereges. O feitiço levou Astrid a exaustão, e Kol deveria transformá-la em vampira para que ela ficasse com ele, como uma híbrida igual a ele. Mas Kol não a amava, e simplesmente a drenou até que não restasse uma única gota de sangue mágico em seu corpo, garantindo que ela não contasse a ninguém o seu segredo.

Retornando à Inglaterra, Kol fora capaz de produzir um objeto, uma adaga, capaz de neutralizar klaus e seus irmãos. Ele também produzira um anel com o poder de deixá-lo sempre com a aparência de bruxo, ocultando todos os traços do vampirismo, de modo que ele se passou por humano facilmente.

Kol pensou que um dia seus irmãos o encontrariam, mas ninguém jamais o ligou ao poderoso Duque de Withmore: bruxo, membro da marinha inglesa, comerciante, grande latifundiário... Agora, passados tantos anos, Kol decidira que era hora de estabelecer contato com seus irmãos, e pensou que esta oportunidade seria perfeita para aparecer diante de Niklaus.

Lamentavelmente, o único membro de sua família atual que ele conhecera fora Elena, e ele não pretendia se revelar para ela. Pelo menos não ainda.