Capítulo V

Durante o jantar, Elena descobriu-se sentada ao lado do bruxo e duque, Lorde Kol. Por um instante, perguntou-se se não fora obra de Bonnie. Mas logo descartou a ideia, quando sua anfitriã, Caroline Salvatore, lhe sorriu e apontou discretamente o nobre, deixando claro ter sido a única responsável pela distribuição dos lugares.

Indecisa sobre como agir, Elena permaneceu calada, até que seu vizinho de cadeira puxou conversa. O mesmo aconteceu com o duque. Ela viu quando se Kol virou para lady Lookwood, instalada à sua esquerda e, muito cortesmente, pôs-se a ouvir a dama discorrer sobre os méritos dos serviçais que sabiam reconhecer seu lugar.

Quando ele dirigiu a palavra a Elena, no meio do jantar, ela estava a ponto de morrer de tédio com a conversa de um lorde francês que ela não conhecia, um fervoroso defensor da superioridade da marinha francesa.

— Você está a par dos últimos feitos da marinha francesa agora? — ele indagou baixinho, mudando de assunto.

— Nos mínimos detalhes — Elena murmurou. — E você, pelo visto, foi instruído sobre como tratar os serviçais.

— Com mão firme e pomposa arrogância.

— Imagino que irá adotar o conselho de lady Lookwood — ela retrucou.

Kol a encarou sorrindo. Ela tinha senso de humor.

— Você gostaria de mais vinho? — indagou, fazendo sinal para o servo se aproximar.

— Eu não deveria... Talvez só um pouquinho.

— O vinho italiano é um dos melhores do mundo. Mas os vinhos ingleses estão na disputa.

— Você é inglês? — Ela perguntou curiosa.

— Americano, mas vivo na Inglaterra há muitos anos.

— Oh! Eu também sou americana! Caroline e Bonnie também, assim como lorde Kai.

— Sim. Você costuma visitar nosso país natal?

— Não, fui apenas uma vez visitar minha tia e meu irmão. Agora eles vem até mim. Você costuma ir até lá?

— Sim, pelo menos duas vezes ao ano. Tenho alguns negócios nos Estados Unidos, e estou planejando investir em outros.

— A família de meu marido possui minas de carvão em vários países, incluindo o nosso de origem. Mesmo contando com bons administradores, uma supervisão dos donos é necessária. Meu marido está sempre viajando para cuidar disso.

— Eu tenho bons empregados, homens de confiança, que cuidam de tudo quando estou fora.

— Isso é bom. Assim você não precisa se ausentar tanto da Inglaterra.

— Não. Você gostaria de ir mais vezes aos Estados Unidos? — Ele questionou com curiosidade.

— Sim. Sinto muita saudade de minha família que está lá.

Kol notou que Elena ficara triste ao falar sobre sua família. Ele buscou na memória por informações a respeito, mas não conseguiu se lembrar de nada sobre ela. Ele ouvira falar de Elena Gilbert, morena e linda. Sem dote, mas belíssima, ela havia se casado com um homem pertencente à nata da aristocracia Irlandesa, que Kol descobrira ser seu irmão Klaus. Depois, ficara sabendo que ele havia quebrado a maldição, tornando-se híbrido, e que gerava novos seres como ele graças ao sangue da esposa. Ele concluiu que ela era a doppelganger.

— Você disse sua tia e seu irmão. E seus demais familiares?

— Meus pais morreram anos atrás, juntamente com os pais de Jeremy, meus tios. Restamos apenas nós e tia Jenna, que depois se casou com Alaric e tornou-se uma espécie de mãe para nós.

— Eu lamento. — Kol segurou a mão de Elena por baixo da mesa, fazendo com que ela o encarasse.

— Obrigada. — Ela murmurou, corando pelo contato.

A expressão dela era indisfarçável e Kol observou a melancolia embutida nas palavras da bela dama a seu lado. Outra coisa que Kol notou, foi a reação dela ao toque dele. Ela era suscetível, como todas as mulheres que ele conhecera. Mas diferente destas, Elena era fiel a seu marido, embora ninguém entendesse o motivo.

Ele ouvira que a bela Elena enfrentava um casamento infeliz. Ele sabia que os rumores eram verdadeiros. Ele não tinha acreditado, nem por um momento, que Klaus amava a doppelganger e por isso se casou com ela. E Kai tinha contado que naquela manhã bem cedo, seu irmão fora embora com a amante a vista de todos, deixando a esposa para trás.

Olhando para Elena, ele pensava em como ela diferente das duas doppelgangers anteriores. Ambas eram desinibidas, promiscuas, e estavam sempre envolvidas com vários homens, além de geralmente dividida entre seus irmãos Elijah e Niklaus. Mas ele ouvira que Elena Gilbert era diferente, que ela nunca tivera olhos para Elijah, que se apaixonara e se casara com Nick, permanecendo fiel a ele.

Antes que qualquer um dos dois pudesse retomar a conversa, o protocolo exigiu que os homens permanecessem na sala de jantar e as mulheres se retirassem para o salão. Bonnie não perdeu tempo em caminhar ao lado da amiga.

— Foi ideia de Caroline, não? Colocar-me ao lado do duque à mesa? — Elena questionou, assim que se sentou com Bonnie.

— Nossa amiga gosta de brincar de Cupido. Ela queria garantir que Kol conversasse com você, para que pudessem se conhecer melhor. Ela ficou impressionada com ele, e suponho que se você o rejeitar, Caroline vai acabar arrastando-o para sua cama, ou eu. — Bonnie riu com malícia.

— Você não tem jeito! Nem você e nem Caroline.

— Bem, pois decida se dará uma chance a ele ou não. Garanto que todas as outras mulheres não desperdiçariam essa oportunidade.

— De que oportunidade você fala? — Elena ergueu uma sobrancelha enquanto olhava para a amiga.

— A de estar na cama do duque.

— Por deus Bonnie, fale mais baixo!

— Bem, ele está interessado em você. Sugiro aproveite! — Bonnie afirmou.

— Você realmente acredita que esse homem da nobreza, um bruxo que eu não conheço e que não me conhece, se interessaria por mim?

— Ele está interessado. Acredite! Eu vi a forma como ele a olhou quando vocês se conheceram, e mesmo a forma como ele a olhava a pouco durante o jantar.

— Nós mal nos falamos!

— Ele lhe interessou, pelo menos um pouquinho? — Bonnie questionou, enquanto encarava a amiga. Elena desviou o olhar. — Vejo que sim. Isso me alegra. Aproveite, minha amiga. Garanto que ele mudará seu mundo, se você permitir.

Quando Bonnie se retirou, para atender a uma criada que trouxe uma mensagem para ela, Elena ficou sozinha. Olhando ao redor, ela percebeu que algumas das damas presentes a olhavam com pena. Ela até ouviu alguns sussurros, chamando-a de a pobre condessa abandonada. Fechando os olhos, ela suspirou, magoada com a atitude de Klaus.

— Você parece estar precisando de outro drinque.

Elena abriu os olhos e se deparou com a figura bonita do jovem duque, cujo sorriso gentil a fazia querer cair em prantos.

— Posso me sentar ao seu lado?

Sem esperar resposta, Kol acomodou-se na cadeira vaga, deixada por Bonnie.

— Não sei sobre você, mas estou irremediavelmente sóbrio enquanto todo mundo está quase caindo de bêbado. Será que deveríamos tentar alcançá-los? — Disse Kol em tom brincalhão.

— Uma ideia esplêndida. — O sorriso que ela lhe ofereceu era hesitante, porém já não havia tanta tristeza nos belos olhos melancólicos, que Kol percebeu serem de um castanho amendoado.

— Bonnie e Caroline parecem boas amigas. Você as conhece há muito tempo? — Kol planejava falar apenas de assuntos agradáveis, a tristeza da bela mulher era tão óbvia que fora atraído para ela com o objetivo de fazê-la se sentir melhor, ao invés de usá-la para se vingar de seu irmão.

— Desde que éramos meninas. Eu, Bonnie e Caroline crescemos juntas, estudamos na mesma escola, na Virgínia. Somos como irmãs, embora elas sejam bem mais corajosas do que eu. — Enrubescendo, Elena apressou-se a explicar. — Isto é, não que as atividades de Bonnie e Caroline sejam da minha conta ou que... — Ela calou-se enrubescendo.

— Kai também é meu amigo há muitos anos, embora não a tanto tempo quanto você e suas amigas, mas ele é um dos poucos amigos que eu tive durante toda a minha vida. — o lorde comentou calmamente, tentando fazê-la ficar confortável.

— Elas são as únicas amigas que eu tenho.

Sentindo-se como se tivesse quinze anos outra vez e a ponto de seduzir sua primeira mulher, Kol inspirou fundo, repreendendo-se silenciosamente. Por mais que Elena fosse a esposa de seu irmão, e fazê-la sua amante fosse algo que com certeza atingiria Klaus, ela era maravilhosamente bonita, elegante, educada e doce.

Com tantas mulheres disponíveis, não seria justo corromper a única inocente, a única que acreditava na santidade do casamento, como ele ouvira falar, e que era da família dele, de certo modo. Ele havia pensado nisso, em seduzi-la para ferir Klaus, mas agora, vendo a melancolia nos olhos dela, ele desistiu.

Decidido a evitar qualquer embaraço, ele passou a conversar com ela sobre amenidades, sobre o que ela gostava, sobre o que ela fazia de sua vida. Isso deu certo, Kol a vira sorrir e relaxar. Ele se viu considerando ela cada vez mais bela e encantadora, enquanto a ouvia falar da filha com orgulho e muito amor. Ela dissera a ele que a menina era tudo para ela, a alegria de sua vida, e ele teve certeza de que ela não era feliz com Klaus, que estava com ele por sua sobrinha.

— Minha filha e eu gostamos muito de cavalos, amamos cavalgar. — Elena afirmou sorrindo, o olhar perdido no salão.

— A propósito, você pretende participar da caçada amanhã de manhã? — Kol questionou.

— Estou esperando ansiosa. Adoro cavalgar bem cedinho, quando o ar está fresco e o sol brilha suave. Faz-me pensar nas alegrias simples da vida.

— Então deveríamos tomar apenas mais um cálice de champanhe. Dei ordens ao meu criado para me acordar às seis. Eu pretendo cavalgar cedo.

— Neste caso estarei de pé antes de você. Minha serva irá me acordar às cinco e meia.

— Você gostaria de uma cavalgada matinal? — Kol a convidou, as palavras saindo de sua boca sem que houvesse planejado. E percebendo-a vacilar, desculpou-se, irritado consigo mesmo por ter tomado tais liberdades. — Perdoe-me. Talvez eu tenha bebido mais do que supus.

— Eu gostaria de cavalgar — Elena murmurou, o olhar em suas mãos, que estavam sobre suas pernas.

Por um instante Kol permaneceu em silêncio, perguntando-se se seria mesmo sensato sair em companhia de uma mulher honrada, se ele poderia se comportar como um verdadeiro cavalheiro. Mulheres tímidas e esposas virtuosas não eram seu tipo, e ele não pensava mais em usá-la para chegar a seu irmão. No entanto, a simples proximidade daquela mulher o estava provocando de uma forma sutil e inesperada.

— Eu devo esperá-la no halI, ou nos encontramos nos estábulos?

— Nos estábulos será melhor. Agora, com sua licença, devo me retirar, ou não acordarei na hora esperada.

Elena fez uma mesura e saiu, sem nem mesmo se despedir de suas amigas. Ela chegara ao seu quarto com o coração batendo forte. Havia tomado a liberdade de aceitar o convite do duque, algo que ela julgaria inapropriado. Mas naquele momento, nada mais parecera mais certo. Se ela iria desfrutar do pecado da infidelidade, que fosse com um homem interessante e que mexesse com ela.

Lorde Kol era esse homem. Ele fora tão atencioso e cavalheiro durante o jantar, conversando com ela sobre sua filha e até as convidando a cavalgar em sua propriedade quando estivem em Londres. E a proximidade dele fazia o corpo de Elena aquecer. Ela suspirou e pôs-se a se preparar para dormir.

Sozinho, Kol sorveu devagar até a última gota de champanhe. Ele sabia o que as amigas dela queriam para ela, mas sabiam da fama que ela tinha, de correta e puritana. Ele se perguntava se em algum ponto ela iria ceder.

Ele nunca se envolvera com mulheres virtuosas e precisaria ter cuidado na manhã seguinte para não dizer, ou fazer, algo que a encorajasse. A última coisa na qual estava interessado era na virtude. Agora ele recordava do que pensou quando ouvira comentários sobre Elena e seu comportamento, não acreditando nem por um momento. Kol pensou que irmão não se casaria com alguém assim, porque Klaus, assim como ele, não estava interessado em virtude, mas em belas e experientes mulheres que lhes satisfizessem o apetite na cama. No fundo, ele esperava encontrar uma mulher leviana, mas Elena era tudo o que diziam de bom dela e muito mais.

Ele pensou em fazê-la sua amante para que Klaus fosse ferido em seu ego e seu orgulho, mas conhecendo-a, mesmo tendo conversado tão pouco com ela, ele pensou que ela não merecia ser instrumento de sua vingança. Embora Kol não fosse conhecido por ter um bom coração, e não fosse do seu feitio levar as pessoas em consideração, ele sentia que não podia fazer algo para machucar Elena.

No entanto, ele não podia negar que ela despertava algo nele, instintivo e perigoso, que o fazia querer convertê-la em sua amante pelo simples desafio de vê-la pecar, e mais ainda, de vê-la feliz e satisfeita, nem que fosse por um momento.