Capítulo VI
Mais tarde, Kol estava em seu quarto, inquieto. Pensava sobre o convite que fizera a Elena, e se perguntou se seria capaz de se portar bem estando sozinho com ela. Como não se acalmava, ele decidiu sair em busca de uma bebida, um pouco de sangue o poria de volta nos trilhos. Ele precisava se alimentar.
Ele saiu do quarto e se pôs a andar pelo corredor escuro até que esbarrou em alguém, e antes que essa pessoa caísse, ele a envolveu com braços fortes e a abraçou sem pestanejar. Ele sentiu que era uma mulher, ele sentiu o cheiro dela, ele sabia exatamente quem era.
Elena imaginou que o homem com todos aqueles músculos e aquele odor amadeirado só podia ser um. Ele a guiou até a porta ao lado da que ela acabara de fechar. O perfume era conhecido. Era Lorde Kol.
— Perdoe-me milorde, não vi por onde estava indo.
— Chame-me Kol — Ele disse com a voz embargada.
— Perdoe-me Kol.
Ela se afastou do peito dele tentando secar as lágrimas que teimavam em molhar-lhe o rosto. Ele afrouxou o abraço, embora sentisse um enorme desejo de apertá-la mais ainda. E quando a soltou, ele apontou a poltrona para que ela se sentasse.
Elena se sentou e olhou para o bruxo a sua frente. Ele estava despido até a cintura. Talvez Bonnie tivesse razão. Talvez ela devesse se divertir com ele. Talvez essa fosse a única maneira de repreender a traição de Klaus. Talvez o único caminho para sua libertação daquela vida infeliz fosse através do sexo. Ela se forçou a encará-lo.
— O que houve, porque você está chorando? — Kol se viu perguntando.
— Sinto-me infeliz, embora não deva dizer isso. Minha filha me faz feliz, mas nesse momento...
Ela se curvou abatida, as lágrimas voltando a seus olhos com mais intensidade. Como era infeliz! Como queria ir embora e voltar para sua casa, para junto de sua filha. A única pessoa que lhe trazia felicidade neste mundo, além de sua tia e seu irmão.
Kol olhava para a mulher a sua frente com fascínio. Ela usava uma camisola branca e com a gola alta, tão casta quanto os vestidos que ela costumava usar. Os cabelos estavam soltos, escuros, lisos e brilhantes a luz da vela, a pele morena tinha um tom reluzente e atraente. Toda a pureza e virtude estavam personificadas a sua frente naquela mulher.
Elena se deu conta de que usava uma camisola e institivamente abraçou-se, como que para se esconder. Kol a considerava a mulher mais pura que ele já conhecera, mais casta. Ele sentiu o desejo aquecer-lhe o corpo. Ela era uma tentação, um pecado que ele queria cometer, um anjo que ele queria ver cair.
Elena desviou o olhar. Sentia-se meio inebriada com o perfume que emanava daquele ambiente e com o perfume que emanava daquele homem. Confusa, pensava agora em como cometeria adultério. Ela precisava de coragem, talvez de uma bebida.
Não importava se todos pareciam considerar essa prática banal e corriqueira, no fundo, ela acreditava que um amante só lhe traria amargura. Ou será que a busca de Bonnie pela gratificação pessoal oferecia alguma chance de felicidade? Enxugando as lágrimas ela decidiu.
— Gostaria de beber algo. — Elena murmurou um pouco insegura.
— Um momento.
Kol dirigiu-se para uma pequena mesa posta próxima da varanda e encheu dois pequenos cálices com algo que estava em uma garrafa. Quando ele estendeu a ela, Elena tomou de um só gole. Kol fez o mesmo. Ela devolveu a ele o cálice e observou enquanto ele os levava para a bandeja de bebidas.
Felicidade e amor ilícito? Não, jamais alimentaria esperanças de que uma coisa conduzisse à outra. Não havia mais espaço para a felicidade em sua vida, exceto pela alegria encontrada na filha. Mas talvez devesse experimentar a sensação de ser infiel, de se vingar de Klaus pelo menos uma vez na vida.
Elena ergue-se de repente e caminhou até Kol. Ele permaneceu imóvel, observando os movimentos dela. Ela parou diante dele e o encarou. O olhar dele era de desejo, embora ela também visse surpresa e confusão. Elena sentiu-se muito atraída e, antes que pudesse pensar, inclinou-se na ponta dos pés e beijou Kol, colando os lábios nos dele de uma maneira suave.
Quando os lábios dela encontraram os seus, Kol sentiu seu corpo doer ao contato de Elena. Ele esticou os braços e a envolveu pela cintura, trazendo-a para si. Kol imediatamente iniciou uma carícia sensual com a língua na boca dela. Elena agarrou-se a ele, devido a fraqueza e ao calor que sentiu quando ele correspondeu ao beijo com tanta intensidade. Nunca havia se sentido daquela forma antes. Nunca fora beijada daquela forma antes.
Elena acreditava que a qualquer minuto iria desmaiar. Se aquilo era o prelúdio da infidelidade, começava a gostar. Mas justo quando ela desfrutava, alguém bateu na porta. Ela se desvencilhou de Kol imediatamente, horrorizada com a ideia de que alguém pudesse vê-la ali.
Kol, vendo o pavor na face dela, guiou-a até o minúsculo compartimento que era o lavabo, escondendo-a atrás da cortina de banho. Ele abriu a porta e Kai entrou.
— Receei estar interrompendo algo. — Seu amigo disse.
— O que por exemplo? — Kol perguntou afastando-se do amigo, para que ele não visse sua excitação.
— Você poderia estar com alguém.
— Como vê, não estou. Embora esteja muito cansado e precise dormir para sair cedo amanhã para cavalgar. — Ele queria livrar-se do amigo e voltar a sua cunhada.
— Irá com a bela Elena? — Ele perguntou alegre.
— A condessa me dará o prazer de sua companhia. — Kol respondeu, irritado para o comentário do amigo sobre a beleza de sua cunhada.
— Oh! Prometa-me que será prazeroso para ela e eu o deixarei imediatamente. — Kai pediu malicioso.
— É impressão minha ou quer que eu seduza a essa dama?
— Sim, apesar de a ideia não ser minha. Estas são as mais profundas intenções de Bonnie e Caroline.
— Sua amante e a anfitriã.
— Sim, as melhores amigas da condessa. Elas acreditam que Elena necessita de um pouco de felicidade, considerando o casamento que ela tem.
— E o que tem isso? — Kol perguntou com curiosidade. Já tinha ouvido alguns comentários sobre o irmão, mas queria saber se Kai tinha algo novo a dizer.
— Oh, o marido dela, o grande e malvado híbrido, parece ser incapaz de amar a esposa, estando sempre em companhia de amantes. Ele anda com a cópia mais velha e leviana dela, um vampira que dorme com qualquer um. Eu mesmo já a tive em minha cama, e posso lhe garantir, já tive amantes melhores. Bonnie é infinitamente melhor.
— Entendo. — Kol realmente entendia a posição das amigas de Elena. Ele mesmo considerava que Nick não merecia a esposa que tinha.
— Bonnie sugeriu que eu mesmo a seduzisse, inclusive me ofereceu a condessa. Suas palavras exatas foram: quero que salve 500 almas do inferno fazendo Elena ter alguns momentos de prazer e alegria nessa vida infeliz que ela leva.
— Mesmo? — Kol estava surpreso. — E o que você fez?
— Nada. Bonnie conversou com ela e Elena disse que não tinha interesse nenhum em mim. Ela é realmente a única mulher casada que conheço que não tem um amante. E parece determinada a seguir assim.
— Creio que nunca terá um amante, ela é uma mulher muito virtuosa.
— E você não está atrás de virtude.
— Não.
— Pois eu tenho a impressão de que ambos sairiam satisfeitos dessa relação, assim como eu e minha baronesa. Em todo caso, boa cavalgada amanhã! Boa noite!
— Boa noite!
Kai partiu e Elena esperou alguns minutos escondida, temendo que o nobre voltasse. Depois, praticamente correra para fora do quarto de Kol, tamanha era sua vergonha por ter ouvido a conversa dele com seu amigo, considerando que o assunto era a infelicidade de seu casamento. Ela nem sequer se despediu dele.
Quando entrou em seu quarto ela se dirigiu a cama. Suspirando, ela lamentou que todos soubessem de sua infelicidade, das amantes de seu marido, de sua determinação em permanecer imóvel diante da humilhação que Klaus lhe impunha. Mas logo seus pensamentos fixaram-se nos comentários de Bonnie sobre a prodigiosa energia sexual do duque e o beijo que haviam trocado, que ela havia dado nele, minutos atrás.
Chocada com sua própria atitude e a reação à ideia de seguir o conselho de Bonnie e Caroline, Elena se obrigou a pensar que Kol usava as mulheres da mesma forma que Klaus. Entretanto, apesar de se esforçar, não conseguia colocá-los na mesma categoria. Alguma coisa nele, no lorde e bruxo, parecia diferente de seu marido.
Ela o queria beijar novamente. Abalada com a força do desejo que brotava em seu corpo, ela decidiu cancelar a cavalgada matinal. Porém, a perspectiva de um futuro povoado pelas infidelidades do marido a fez desistir de desmarcar o combinado. Talvez o duque se revelasse o perfeito antídoto para sua tristeza. Talvez, nos braços dele, experimentasse o sabor da felicidade, ainda que momentânea. Mas teria coragem de entrar neste mundo desconhecido das aventuras adúlteras? E ele dissera não estar interessado em virtude, talvez Bonnie estivesse errada e ele não tivesse interesse nela.
Elena fechou os olhos e tentou dormir, o coração agitado, tomado de ansiedade. Descobriria na manhã seguinte o que sentia o duque, e o que ela seria capaz de fazer com ele.
