Se Hermione somasse todas as coisas horríveis que ela encontrou até agora, desde que a busca pelas Horcruxes começou, a soma ainda seria insuficiente para igualar a quantidade de medo que ela experimentou atualmente. Escapando dos Comensais da Morte no casamento de Gui e Fleur; escapando por pouco do Ministério da Magia quando ela, Ron e Harry entraram sorrateiramente sob o disfarce de Polissuco; um encontro próximo com mais Comensais da Morte em Londres; quase sendo mortos em Godric's Hollow. A ideia de que Ron estava morto e lidando com um susto de gravidez que felizmente acabou sendo um alarme falso, também foi o suficiente para deixar Hermione suficientemente abalada, mas isso...era só o começo.
O par de mãos mais áspero que Hermione já havia encontrado estavam presas em ambos os pulsos, dolorosamente mantendo os braços presos atrás das costas. Às primeiras palavras de "Menina deliciosa ... que delícia ... eu gosto da suavidade da pele ..." a bile subiu para o fundo de sua garganta e a fez engasgar.
Fenrir Greyback era famoso por atacar crianças, mas a maneira assustadora como ele murmurou 'garota deliciosa' bem perto de sua orelha, a fez se perguntar se ela estava prestes a ser mordida com sangue ou fodida com sangue. Para seu crédito, Ron não pensou em gritar com o homem intimidante e muito maior para sair de cima dela, mas acabou sendo atingido e desabando no chão enquanto Hermione gritava, o tempo todo tentando ignorar a maneira como Greyback estava cheirando seu pescoço e soprando seu mau hálito em seu rosto.
Hermione tentou desesperadamente se lembrar de tudo que Severus havia dito a ela caso ela encontrasse Comensais da Morte ou outras pessoas insalubres. Infelizmente, o medo a deixava pasma e ela não conseguia se lembrar de nada. Ela não se lembrava, no entanto, de Severus dizendo que os Comensais da Morte homens tinham uma tendência a forçar mulheres jovens, já que eles estavam mais preocupados em matá-las ou amaldiçoá-las, sem fazer perguntas. Mas, a julgar pela maneira como Greyback a segurava com firmeza, mantendo seu traseiro pressionado com força contra a frente de seu corpo enorme, o estupro estava inevitavelmente em sua mente.
Para alguém que era notavelmente brilhante às vezes, Hermione se perguntou como Harry podia ser tão completamente estúpido quando se tratava de outros assuntos. Ou talvez fosse o puro orgulho e ser excessivamente presunçoso que o fez sentir que poderia fazer qualquer coisa sem o risco de consequências. Não que isso importasse no momento; era um ponto discutível para insistir em como eles foram capturados.
A não ser tatuá-lo em uma área facilmente visível do corpo de Harry como um lembrete permanente, Hermione não tinha ideia de como fazê-lo entender que falar o nome de Voldemort em voz alta não significava nada de bom. Ela e Ron entraram em pânico quando a primeira metade de 'Voldemort' casualmente deixou os lábios de Harry, e quando ele chegou ao 't', meros segundos se passaram antes que sua tenda fosse cercada por Comensais da Morte e Ladrões.
Seu idiota! Hermione enfureceu-se mentalmente com seu melhor amigo por seu erro. Os pensamentos ruins em relação a Harry duraram pouco, porque assim que seu Sneakoscope acendeu e começou a girar em uma mesa, uma voz horrível e áspera pôde ser ouvida fora da tenda, exigindo que eles saíssem.
De acordo com Ron, quando se tratava de raciocínio e bom senso, os Ladrões tinham a ponta curta do bastão. Embora fossem idiotas, isso não os tornava menos assustadores. Por um segundo ela pensou que o ladrão chamado Scabior havia descoberto que um Feitiço Picante tinha sido usado no rosto de Harry. Enquanto alguns dos outros Ladrões saqueavam sua barraca, procurando o que, ela não tinha ideia, Scabior e Greyback permaneceram do lado de fora com os outros, tentando descobrir a identidade do trio.
- Penelope Clearwater, você diz que é? – Scabior estava agora respirando no rosto de Hermione enquanto Greyback continuava a manter seus braços dolorosamente amarrados na parte inferior das costas. Embora seu odor corporal fosse um pouco menos ofensivo que o de Greyback, apenas ligeiramente, já que o cheiro de suor e roupas azedas incrustadas de sujeira se apegava a ele, era seu hálito que cheirava como se ele estivesse no escuro quando se tratava de usar uma escova de dentes. - Algo me diz que você está mentindo, garota, mas Greyback está certo: você tem um cheiro delicioso.
Hermione queria virar a cabeça, mas Scabior deslizou a mão sob seu rosto, segurando seu queixo com força entre seus dedos sujos e forçando-a a encará-lo. Seus joelhos quase cederam quando o medo tomou conta dela, perguntando-se o que diabos ele havia planejado, e então seus olhos estavam cheios de seu cabelo comprido e emaranhado não lavado, seu fedor o suficiente para fazer o resto da comida que ela tinha comido saltar para a parte de trás de sua garganta e ateou fogo.
- O que me diz de você e eu sairmos um pouco? – Scabior sussurrou próximo ao ouvido dela, dando um sorriso meio torto: - Acha que Ginger vai se importar?
Hermione não sabia se Scabior estava perguntando ou dizendo que queria uma trepada; independentemente disso, enviou uma onda de pânico vertiginoso para correr por ela. O sangue havia drenado completamente de seu rosto enquanto ela olhava para ele, o horror crescente da situação a deixando em silêncio.
- Não? – Scabior pressionou, levantando uma sobrancelha sugestiva e suspirando em falsa derrota quando Hermione não se mexeu. - Que pena.
Ele agora estava tocando o lenço rosa em volta do pescoço, outra de suas criações de malha feitas à mão. Foi um dos projetos de mais sucesso de Hermione; ela se debruçou sobre cada fio de lã, esperando que algo chamasse sua atenção até encontrar a cor perfeita. O fio era rosa empoeirado e incrivelmente macio, e o processo de criação do lenço demorou três semanas, pois tricotar à mão era mais difícil do que tricotar com magia. A coisa continuou toda bagunçada e sua mãe ensinou-lhe como mantê-la correta, aplaudindo os esforços da filha. Agora os dedos nojentos de Scabior, que tinham uma quantidade obscena de sujeira presa sob as unhas, estavam desenrolando o amado lenço do pescoço dela e enrolando-o no dele.
- Humm, ainda está quente. – Ele ronronou, levantando um canto, pressionando-o contra o nariz e inspirando profundamente. Ele então moveu seu rosto a centímetros do dela, demorando-se perto o suficiente para que ela pudesse ver a sujeira revestindo as rugas de sua pele. - E tem o seu cheiro. Acho que vou guardar isso como um pequeno lembrete. Sempre torna as coisas muito mais agradáveis quando você tem algo bom em que se concentrar.
Greyback fez algum tipo de rosnado atrás dela, e Hermione rezou para que ele não estivesse planejando terminar o que ela tinha certeza absoluta de que Scabior começaria. Só depois de ser jogada em uma árvore, com as mãos e as pernas amarradas com uma corda antes de ser forçada ao chão, ela começou a respirar livremente.
- Ei, você está bem? – Uma voz familiar à sua direita perguntou.
Demorou um pouco para arrastar os pés, mas a figura alta de Dino Thomas podia ser vista no escuro, e Hermione descobriu que ele também estava amarrado de maneira semelhante. Ela não percebeu que estava tremendo e à beira de hiperventilar até que Dean se afastou desajeitadamente. A visão de seus quadris estreitos balançando para frente e para trás no chão poderia tê-la feito rir, se não fosse por sua situação pegajosa.
- Eles não te machucaram, não é?
A ameaça de Scabior, Greyback, ou ambos, forçando-se sobre ela ainda estava fresca na mente de Hermione, e ela não conseguia falar. Depois que Dean a questionou pela segunda vez, Hermione balançou a cabeça.
- Não... – Ela finalmente disse em uma voz baixa e rachada. - Eu pensei... pensei que eles iam...
Ou Dean sabia o que ela estava tentando dizer, ou ele pensou que Hermione queria dizer outra coisa.
- Eles estão apenas procurando ouro. – Disse Dean, no que provavelmente deveria ser um tom reconfortante. - Eles podem ser um pouco ásperos com os caras, mas que eu saiba, ninguém foi morto.
- Sim? Então o que eles fazem com as meninas?
- Esperançosamente, nada além de nenhuma ideia, para ser honesto. Até agora, foram apenas caras e goblins. Goblin, na verdade. – Dean acenou com a cabeça para o outro lado, e Hermione viu que realmente havia um goblin em frente a eles.
Houve uma rápida pausa na conversa quando um Harry assassino, mas silencioso, e um beligerante, roncando em voz alta, foram arrastados até a árvore pelos cabelos, amarrados e chutados para o chão frio da floresta.
- Bem, bem, olhe o que temos aqui.
Havia alegria na voz de outro ladrão sem nome que preocupou Hermione. Ele caminhou até o grupo amarrado por uma árvore, e um brilho de metal chamou sua atenção.
- Ei! Olha isso, Greyback!
Hermione não precisava olhar para Ron ou Harry para saber que todos eles compartilhavam olhares de horror semelhantes.
- Muito bom. – Disse Greyback com apreço, pegando a espada de seu companheiro. - Oh, muito bom mesmo. Parece feito por goblins, isso. Onde você conseguiu algo assim?
- É do meu pai. Nós pegamos emprestado para cortar lenha.
A mentira de Harry era transparente como os fantasmas de Hogwarts. Não importava, porque Scabior estava brandindo uma cópia amassada do Profeta na direção de Greyback.
"- Ermione Granger, a sangue-ruim que é conhecida por estar viajando com' Arry Potter". – Leu Scabior, olhando para Hermione por cima do papel. - Sabe de uma coisa, garotinha? Esta foto se parece muito com você.
- Não é! – Hermione protestou estridente, sabendo que sua mentira não era melhor que a de Harry. - Não sou eu!
O tremor de Hermione não havia diminuído totalmente, mas agora era forte o suficiente para abalar Harry, que estava encostado ao lado dela. Scabior e Greyback trocaram olhares conhecedores, e segundos depois Greyback estava agachado na frente de Harry, pressionando os dedos sujos com garras em sua testa e puxando o cabelo para trás.
Não havia dúvida: eles foram pegos. Seguiu-se um breve momento de deliberação, a maioria dos quais envolvia quanto o grupo de Ladrões receberia por entregar seus prisioneiros e a espada da Grifinória. Quando tudo foi dito e feito, ficou decidido que eles seriam levados para a Mansão Malfoy, e Hermione sentiu seu coração saltar para a garganta.
Se Snape tivesse a capacidade de pagar a alguém para respirar por ele, então ele o teria feito com alegria.
Era óbvio que o Lorde das Trevas estava mais aborrecido do que o normal, mas esta noite ele estava em uma forma rara. Parecia que Rabicho estava prestes a encontrar seu fim quando ele escapuliu de seu canto e abriu a boca para falar, mas ao invés disso recebeu um feitiço que o fez gritar e correr de volta contra a parede. Até mesmo Bellatrix parecia estar do lado ruim de seu mestre; a quantidade usual de beijos na bunda dele não fez nada, exceto irritá-lo, e Riddle não tinha se incomodado o suficiente para usar magia para forçar Bellatrix para longe dele. Um forte empurrão a jogou no chão, caindo com força sobre ela, e ela soltou alguns gemidos antes de esconder o rosto atrás do cabelo bagunçado.
Um sentimento de pavor tomou conta do diretor quando sua Marca Negra começou a queimar. Mesmo que tivesse se passado mais de um mês desde seu último encontro com o Lorde das Trevas, era bastante suspeito que seus seguidores fossem todos convocados naquele momento. Snape estava meio que esperando que algo assombroso acontecesse após a destruição da taça, mas algumas semanas se passaram e ainda não havia nenhuma dica ou sussurro sobre Voldemort saber que algo querido para ele tinha sido eliminado. Alguns afirmavam que nenhuma notícia era uma boa notícia, mas Snape sabia mais, o Lorde das Trevas nunca admitiria ter feito uma Horcrux, muito menos denunciar que uma havia sido destruída, simplesmente porque isso iria mostrar sua fraqueza.
O diretor ficou silenciosamente agradecido durante toda a reunião, quando o discurso cheio de assobios do Lorde das Trevas nem uma vez se voltou para a taça, mas sua ira deixou todos em suspense. Snape manteve a mesma máscara que usava desde que decidiu mudar de lado em particular, mas mesmo sua quantidade usual de deferência para com o Lorde das Trevas não foi o suficiente para salvá-lo de receber sua própria cota de feitiços.
Snape não se importava que o Lorde das Trevas descarregasse sua frustração nele lançando vários feitiços, contanto que isso significasse não ter que responder por ele e Lucius lidando com a taça. No entanto, esse pequeno conforto não foi suficiente para diminuir a dor que estava sentindo.
Voltar para o ponto de aparatação fora de Hogwarts e então encontrar o caminho de volta para dentro da escola demorou mais do que o normal. O corte na perna estava sangrando e encharcando o lado esquerdo da calça, mas esse não era o pior de seus ferimentos; parecia que cada músculo de suas costas tinha paralisado. Se ele planejava fazer qualquer tipo de movimento amanhã, então esta noite era definitivamente uma daquelas noites em que passaria pelo menos duas horas em um banho quente.
- Severus? O que você fez? – Foi a saudação de Dumbledore quando Snape tropeçou na torre do Diretor. Ele teria ido diretamente para seus aposentos na masmorra, mas este escritório era mais perto. Além disso, Dumbledore sabia para onde Snape tinha ido e esperava um relatório.
- Suponho que você queira me dizer outra coisa além de ajudar nessa armadilha mortal planejada para Potter e seus amigos? – Snape perguntou ironicamente, fazendo uma careta enquanto se abaixava cautelosamente em uma das cadeiras mais macias.
Mesmo de sua posição atrás da moldura, estava claro para os olhos de Dumbledore que algo não estava certo com seu sucessor.
- Eu fiz o que precisava ser feito. – Snape ofereceu em um tom que sugeria nenhuma explicação adicional. Outro lampejo de dor pontudo percorreu seus membros, e ele estremeceu enquanto obstinadamente mudava seu peso.
- Eu não posso ajudá-lo se você não for totalmente aberto comigo.
Eu pedi sua ajuda? Snape pensou amargamente, desejando ter superado sua dor e feito a jornada para seus próprios aposentos.
- Severus...
- Aqui não.
- Devemos nos reunir em um ponto mais alto?
A menção sutil de um 'ponto mais alto' foi a maneira de Dumbledore sugerir a sala privada um pouco afastada da Torre de Astronomia que ele e Snape usavam para encontros secretos. No entanto, a única maneira de chegar lá era a pé, e subir vários conjuntos de escadas móveis não estava nos planos do diretor.
- Caso você não tenha notado, Albus, eu não estou exatamente pronto para uma conversa esta noite.
- Amanhã à noite?
Snape deu um aceno brusco antes de fechar os olhos, tentando ao máximo ignorar a sensação latejante em sua perna e calculando quanto tempo ficaria sentado ali antes de escorregar para as masmorras.
Hermione se lembrava vagamente de ter ouvido Draco dizer que morava em Wiltshire. Pela descrição da casa dele, ela esperava algo que fosse nojentamente ostentoso, e a caminhada do ponto de aparatação até a própria casa foi tão longa que Hermione questionou se eles estavam realmente em uma residência. Finalmente, eles se aproximaram de fileiras e mais fileiras de cercas vivas imaculadas e elevadas que pareciam tocar o céu noturno, e uma longa entrada de automóveis do outro lado de um enorme portão de ferro forjado.
O trio foi privado de suas varinhas, uma ocorrência que deixou Hermione desequilibrada por dentro. Em seguida o grupo foi desfeito, afastando um do outro, e mesmo que Ron e Harry pudessem ajudá-la, eles não conseguiam evitar, já que todos estavam com as mãos amarradas. Hermione ainda estava grata pela presença deles, mesmo que estivessem alguns passos atrás dela.
Ao longo da caminhada, Scabior girou a varinha dela entre os dedos como se ela fosse nada mais do que um brinquedo. A única vez que Hermione se separou de sua varinha foi quando ela a emprestou a Harry, e mesmo assim, pelo menos foi com alguém em quem ela confiava. Mas ter esse tipo completamente desagradável se apossar de sua varinha, declarando que uma coisa de sangue sujo como ela não tinha uso para varinhas, a deixou fervendo de raiva. A raiva rapidamente deu lugar a uma profunda sensação de estar sendo violada quando Hermione pensou sobre o feitiço que Severus lançou com as duas varinhas.
Ter esses indivíduos invejosos colocando suas patas sujas em algo tão pessoal deixou os dentes de Hermione no limite, mas a necessidade de sobreviver a fez manter os olhos retos e a boca fechada. Não que ela não tivesse muito a dizer. O próprio Scabior teria levado uma bronca, já que entre o roubo de seu lenço e a varinha, Hermione estava pronta para atacá-lo, mas ela mordeu a língua, dizendo a si mesma que agora não era hora de bater de frente com alguém que tinha vantagem. Ron foi o único corajoso o suficiente para continuar lutando contra os ladrões, e sua teimosia o levou a levar outro golpe no estômago. Mesmo que Hermione ainda não tivesse recebido abuso físico severo, ela tinha a sensação de que Scabior e os outros não teriam escrúpulos em recorrer a socos para mantê-la na linha.
Logo ficou claro para Hermione que ser espancada por Scabior, Greyback ou os outros era o que menos lhe preocupava.
O grupo permaneceu no terreno escuro da Mansão Malfoy, e o coração de Hermione continuou a bater forte em seu peito enquanto esperavam no portão alto. Ele se abriu assim que Greyback gritou que estava com Potter, seu punho enorme puxando o colarinho de Harry para dar ênfase e quase o fazendo cair de joelhos. Quando o portão se abriu para permitir a passagem deles, Hermione e seus amigos foram empurrados como gado.
Em mais de uma ocasião, Hermione ouviu Draco falando sobre os jardins exuberantes ao redor de sua casa e quanto de tudo que havia. Ela tinha certeza de que ele estava exagerando sobre ter um casal de pavões albinos, mas lá estavam eles, sua forma branca fantasmagórica quase brilhando ao luar.
Talvez se ela não tivesse achado a família Malfoy tão repugnante, e talvez se ela não tivesse temido por sua vida, Hermione poderia ter ficado impressionada com a mansão reconhecidamente impressionante. Tudo isso se dissolveu quando Narcissa Malfoy, resplandecente em vestes de seda e emitindo um perfume adocicado, encontrou o grupo na porta e olhou para eles com antipatia.
- Traga-os. – Ela ordenou com uma voz fria, depois que Scabior apontou uma varinha para ela. Narcissa girou a varinha em sua mão antes de desaparecer atrás da soleira, descendo o vasto e mal iluminado corredor da mansão, deixando para trás uma nuvem de seu perfume enjoativamente adocicado.
Harry, Hermione, Ron, Dean e Griphook foram todos empurrados sem cerimônia por um conjunto de amplos degraus de pedra, antes de entrarem em um longo corredor repleto de retratos. Hermione presumiu que fossem pinturas de familiares falecidos, já que a maioria das figuras possuía o mesmo cabelo loiro claro e rosto pontudo dos Malfoys atuais. Cada retrato fez uma careta para o grupo que entrava. Uma bruxa idosa com um topete e um vestido com babados de gola alta ficou tão ofendida ao vê-los que zombou, pegou as saias e saiu de seu quadro. O companheiro dela permaneceu, talvez o esposo, mas ele examinou a todos com nojo, seus olhos ficando tão estreitos que seu monóculo quase se perdeu nas dobras de seu rosto.
Só por um segundo Hermione pensou que devia ser muito desconfortável ter um grupo tão desagradável de pinturas olhando carrancudo para você enquanto passava. Esse pensamento logo se foi quando eles foram empurrados pelo corredor e para outra sala.
Narcissa mencionou que Draco estaria em casa para a Páscoa, e que se Potter realmente estivesse no grupo, ele seria capaz de apontá-lo. Hermione lamentou ser forçada a andar atrás de todos os outros; não que importasse muito. Mesmo se ela estivesse ao lado de Ron ou Harry, nada menos que um milagre os salvaria dessa situação.
A sala de estar em que agora estavam era espetacular. Grande, teto alto, e cheio de móveis antigos de aparência cara, Hermione não conseguiu deixar de olhar ao redor. Um grande lustre de cristal pendurado no teto, lançando feixes de luz em retratos mais hostis pendurados nas paredes roxas escuras.
A visão da maior lareira de mármore ornamentada que Hermione já vira chamou sua atenção, mas foram as duas pessoas sentadas diante dela em poltronas de couro Wingback que a fizeram querer fugir.
- O que é isso? – Disse uma voz fria e arrastada.
Hermione não precisava ver o rosto de Lucius Malfoy para saber que era ele quem estava falando. Depois de ouvi-lo fazer ameaças de morte para matar Harry e seus amigos no Departamento de Mistérios, não havia como ela esquecer aquele tom sarcástico e paternalista.
- Eles dizem que pegaram o Potter. – Narcissa informou ao marido, olhando para as outras varinhas que Scabior acabara de entregar a ela. Ela então colocou as varinhas do trio em um bolso de suas vestes de seda antes de se virar para seu filho. - Draco, venha aqui.
Enquanto Scabior empurrava Harry para que ficasse no meio da sala, Lucius veio atrás de seu filho e o chamou. Ambos os membros masculinos da família Malfoy pareciam extremamente doentes, Hermione notou. Draco parecia pior do que quando ela o vira pela última vez na escola, mas em comparação com seu pai, ele poderia ser a imagem brilhante da saúde. Nas poucas vezes que Hermione pôs os olhos em Lucius Malfoy, o bruxo estava elegantemente vestido com vestes personalizadas perfeitamente ajustadas. Seu rosto magro e pálido estava sempre bem barbeado, e seus cabelos penteados e brilhantes, presos em uma bela mecha ou caídos sobre os ombros, as mechas tão ordenadas que parecia que cada mecha tinha medo de sair do lugar.
O cabelo do homem antes elegante estava agora mole, desgrenhado, caindo em seu rosto e precisando desesperadamente de uma boa lavagem e penteado. Círculos escuros estavam sob seus olhos e ele parecia bastante abatido. Ele vestia uma calça preta cujos vincos quase haviam caído. Sua camisa branca parecia amarrotada, como se ele tivesse dormido com ela, e o colete de veludo parecia ter sido jogado de um lado para outro antes de ser deixado no chão. Considerando que Lucius estava normalmente abotoado, nunca expondo nem mesmo uma sugestão de pescoço, seu colarinho estava agora completamente aberto e suas mangas penduradas livremente devido à ausência de abotoaduras. Era semelhante ao feiticeiro andar completamente selvagem e um choque para a maioria dos que estavam familiarizados com sua aparência meticulosamente cuidada.
O traje de Draco era um pouco mais limpo, apenas um pouco, embora seu corpo já esguio parecesse estar sendo engolido por sua jaqueta preta muito grande. Ele parecia estar com medo de sua própria sombra, porque se encolhia sempre que seu nome era chamado, e suas vestes enormes pouco faziam para tentar esconder o modo como ele tremia. Sua palidez acinzentada combinava com a de seu pai, e ele realmente parecia se assemelhar ao furão inquieto que Hermione uma vez se referiu a ele. Estava claro que os últimos meses haviam sido rudes com a família Malfoy, embora de alguma forma Narcissa Malfoy conseguisse se recompor, pelo menos em termos de aparência.
Lucius, os dedos agarrados ao pulso de Draco, estava agora em pé bem na frente de Harry, olhando para o que Hermione sabia ser a cicatriz irregular em sua testa. Seus olhos cinzentos estavam iluminados com uma sensação macabra de excitação, o completo oposto dos de seu filho. Draco estava com medo? E se sim, ele estava com medo de seu pai ou de outra pessoa?
- Olhe bem, Draco. – Lucius sibilou para seu filho, sua mão livre segurando a nuca do jovem enquanto a outra mão segurava com força uma taça. O que quer que Lúcio estivesse bebendo, ele obviamente não bebeu o suficiente, porque sua angústia assumiu a forma de um leve tremor em seus membros, e Hermione se perguntou quanto tempo levaria para que sua taça caísse no chão.
E...eu não sei. – Draco gaguejou, parecendo ter medo de admitir isso para seu pai. - Não posso ter certeza. O que há de errado com o rosto dele?
Hermione prendeu a respiração quando Lucius mencionou um Feitiço Ardente, ainda olhando com entusiasmo para o rosto de Harry.
- É melhor termos certeza, Lucius. Completamente certos de que é Potter, antes de invocarmos o Lorde das Trevas. – Narcissa parou para erguer a varinha de abrunheiro que Greyback havia tirado de Harry. - Eles dizem que isso é dele, mas não se parece com a descrição de Olivaras ... Se estivermos enganados, se chamarmos o Lorde das Trevas aqui para nada, ... lembra o que ele fez com Rowle e Dolohov?
Ao ouvir aqueles dois nomes familiares, Hermione experimentou um pequeno lampejo de satisfação presunçosa, lembrando o feitiço de memória que ela usou neles. Bom para eles, ela pensou, sabendo que qualquer punição que eles receberam não era nada bom.
Mas então Greyback mencionou o nome de Hermione, em vez disso, ele se referiu a ela como uma 'sangue-ruim' enquanto a empurrava com uma mão enorme e suja.
- Espere. – Narcissa interrompeu, girando para ver a aparência de Hermione. – Sim, sim, ela estava na Madame Malkin com Potter! Eu vi a foto dela no Profeta! Olha, Draco, não é a garota Granger?
Os olhos de Draco piscaram entre os de sua mãe e os de Hermione.
Não diga, Draco, por favor, não diga .
- Eu... talvez... sim. – Draco admitiu relutantemente, agora se recusando a encontrar os olhos de Hermione.
- Mas então ... aquele é o garoto Weasley! – Lucius gritou, afastando-se de Harry e indo na direção de Ron. - São eles, os amigos de Potter. Draco, olhe para ele, não é o filho de Arthur Weasley, qual é o nome dele?
- Sim. – Respondeu Draco. - Poderia ser.
Não importava que Draco parecesse completamente separado de seu ambiente, ou que ele continuasse dando respostas ambíguas: Hermione sabia que seus pais não tinham intenções de deixá-la e seus amigos irem. Embora as maneiras de Narcissa permanecessem frias, era seu marido que ficava mais animado à medida que as coisas se desenrolavam. Agora era apenas uma questão de quanto tempo passaria antes que Hermione e Ron fossem mortos e Harry passasse para Voldemort.
Além da morte, Hermione começou a se perguntar como essa situação poderia piorar, mas não deu certo. As unhas curvas, compridas e imundas de Greyback quase cravaram em sua pele, e Scabior continuou demorando-se ao lado deles de uma maneira muito próxima para ser confortável.
A porta da sala se abriu, e a voz da mulher que entrou fez a pele de Hermione arrepiar.
- O que é isso? O que aconteceu, Cissy?
Bellatrix Lestrange caminhou lentamente até os prisioneiros amarrados. Ela fez uma pausa perto de Harry, que lutou contra seu captor enquanto lançava a Bellatrix um olhar misto de ódio e medo, mas nenhuma vez seus olhos de pálpebras pesadas se voltaram para ele. Hermione viu que Bellatrix estava olhando diretamente para ela, e seu olhar penetrante foi o suficiente para fazê-la esquecer as unhas de Greyback.
- Mas com certeza, essa é a garota sangue-ruim? Essa é Granger?
Lucius confirmou que sim, e Bellatrix gritou algo sobre informar o Lorde das Trevas. Isso fez com que o olhar animado do rosto de Lucius desaparecesse, e ele impediu Bellatrix de tocar a Marca Negra em seu braço, agarrando seu pulso.
- Vou convocá-lo, Bella. Potter foi trazido à minha casa e, portanto, está sob minha autoridade.
- Sua autoridade! – Bellatrix zombou, tentando arrancar sua mão do aperto de Lucius. - Você perdeu sua autoridade quando perdeu sua varinha, Lucius! Como você ousa! Tire suas mãos de mim!
Lucius parecia completamente ofendido e, ficando inchado, parecia pronto para uma luta. - Isso não tem nada a ver com você, você não capturou o menino.
- Perdão, Sr. Malfoy. – Greyback interrompeu por cima da cabeça de Hermione. – Mas fomos nós que pegamos Potter, e somos nós que reivindicaremos o ouro...
Bellatrix gargalhou alto ao ouvir isso, embora estivesse claro que ela estava tudo menos divertida. Talvez Greyback tenha pensado que ele não seria pago, porque Hermione foi esquecida, sendo empurrada para o lado dele enquanto ainda mantinha seu controle sobre ela quando ele se aproximou da bruxa. Ele parou no meio do caminho quando Bellatrix usou sua mão livre para cavar em um bolso e puxar sua varinha. Por um momento parecia que Bellatrix estava prestes a enfeitiçar Greyback, mas no seguinte ela ficou completamente imóvel enquanto seus olhos escuros focavam em algo do outro lado da sala.
Lucius interpretou o silêncio dela como significando que a briga deles estava encerrada e ele soltou o braço de Bellatrix para puxar sua própria manga, mas antes que ele pudesse pressionar o dedo em sua Marca Negra, Bellatrix girou de volta, gritando para ele com terror nos olhos.
- PARE! Não toque nisso, todos nós morreremos se o Lorde das Trevas vier agora!
Assustada; ela está com medo, Hermione disse a si mesma, observando o quão nervosa a mulher Comensal da Morte havia se tornado. Não estava claro por que Voldemort mataria aqueles que estavam ao seu lado se ele fosse convocado, até que Bellatrix começou a falar com o outro ladrão.
- O que é aquilo? – Perguntou Bellatrix, seu tom sugerindo que ela já sabia a resposta.
- Espada. – Grunhiu o Ladrão.
- Me dê isto.
- Não senhora, é meu, eu acho. Eu encontrei.
Essa foi a resposta errada porque houve um grande estrondo seguido por um flash de luz vermelha. Scabior, Greyback e os outros não levaram a sério o fato de seu companheiro ficar atordoado e houve uma enxurrada de atividades enquanto todos sacavam suas varinhas. Greyback foi o primeiro a pegar sua varinha e Hermione rezou para que ela não estivesse na linha de fogo de Bellatrix, já que ele ainda estava segurando suas amarras com uma das mãos. No meio de se proteger, Greyback largou Hermione, jogando-a dolorosamente no chão, enquanto sacava sua varinha em Bellatrix. Foi inútil, entretanto, já que Bellatrix foi mais rápida e o desarmou antes de forçá-lo a cair no chão e ficar ajoelhado com os dois braços estendidos.
Com a varinha em uma mão e a varinha de Greyback e a espada de Grifinória na outra, Bellatrix se inclinou perto do rosto dele e disse algo que Hermione não conseguiu ouvir. Sua próxima frase saiu em um berro sibilante.
- Onde você encontrou essa espada? – Ela gritou no rosto de Greyback, brandindo a lâmina da espada sob seu nariz. - Snape mandou para o meu cofre em Gringotes!
Greyback respondeu com uma voz rouca que sugeria um ponto próximo de sufocamento, mas Hermione entendeu perfeitamente a resposta dele. A notícia sobre Snape mandando a espada para o cofre de Bellatrix não a chocou, pois ela já sabia que uma espada falsa estava em sua posse. Mesmo se seu rosto tivesse revelado que ela sabia de algo, teria passado despercebido, já que todos os olhos estavam focados em Bellatrix e Greyback.
- Estava na tenda deles. Solte-me, eu digo!
Bellatrix acenou com a varinha e ergueu o feitiço. Greyback imediatamente caiu de cócoras, xingando e tossindo enquanto esfregava a garganta. Os outros ladrões ficaram atordoados e inconscientes, e para evitar o mesmo destino, o lobisomem correu para rondar atrás de uma poltrona.
- Draco, leve essa escória para fora. – Ordenou Bellatrix, zombando dos homens inconscientes. - Se você não tiver coragem de acabar com eles, então deixe-os no pátio para mim.
- Não se atreva a falar com Draco como... – Narcissa começou furiosamente, passando para ficar entre a irmã e o filho, mas foi interrompida pelo grito de Bellatrix.
- Fique quieta! A situação é mais grave do que você pode imaginar, Cissy! Temos um problema muito sério!
Bellatrix virou a espada em suas mãos, murmurando para si mesma. Ela parecia bastante louca, e Narcissa era a única corajosa o suficiente para enfrentá-la. Ela guiou Draco para ficar ao lado de seu pai, enquanto Lucius estava furioso com sua cunhada tentando controlar as coisas em sua própria casa. Draco estremecia sempre que sua tia gritava e se encolhia pouco a pouco até ser pressionado contra a parede.
- Os prisioneiros devem ser colocados no porão, enquanto eu penso no que fazer!
- Esta é a minha casa, Bella, você não dá ordens na minha...
- Faça isso! Você não tem ideia do perigo em que corremos!
Um fino jato de fogo saiu da varinha de Bellatrix e fez um buraco no tapete enquanto ela ficava com o rosto vermelho, gritando com Narcissa. Fosse o que fosse esse perigo, Narcissa pareceu entender, porque o medo tomou conta de sua fúria e ela se virou para Greyback, ordenando que ele levasse os prisioneiros para o porão.
- Espere. Todos exceto... exceto a sangue-ruim.
Hermione estivera ouvindo nervosamente toda a conversa, mas cada gota de seu sangue gelou quando Greyback deu um grunhido de prazer às ordens de Bellatrix.
- Não! Você pode me ter! Me mantenha! – Ron deixou escapar, lutando contra suas amarras sem sucesso. Bellatrix imediatamente se aproximou e o acertou no rosto, o golpe tão alto que ecoou pela sala e fez Hermione querer gritar.
- Se ela morrer sob interrogatório, eu vou levá-lo em seguida. – Ela sibilou. - Traidor de sangue ficar ao lado de sangue-ruim. Leve-os para baixo, Greyback, e certifique-se de que estejam seguros, mas não faça mais nada com eles, ainda.
Bellatrix devolveu a varinha de Greyback antes de agarrar Hermione pelos cabelos e arrastá-la para o meio da sala. Dean, Harry, Ron e Griphook foram obrigados a deixar a sala, mas Hermione não conseguiu ver para onde foram levados. A voz do lobisomem continuou. - Acha que ela vai me deixar ficar com um pouco da garota quando terminar com ela? – O que Hermione não sabia que era nada mais do que uma estratégia para irritar Ron novamente, e ela esperava que ele controlasse seu temperamento. Um minuto depois, uma porta se fechou ruidosamente e Hermione ouviu Ron gritando seu nome de algum lugar abaixo.
Bellatrix não parecia, mas ela era incrivelmente forte e seu aperto no cabelo de Hermione era forte o suficiente para fazer seus olhos lacrimejarem. Sangue latejando em seus ouvidos, Hermione tentou desesperadamente pensar no que Severus disse a ela caso ela caísse nas garras de Comensais da Morte, mas ela estava tão petrificada que sua mente ficou em branco contínuo.
- Agora diga a verdade, sangue-ruim, e talvez eu não te machuque tanto. - Bellatrix sussurrou, dando outro puxão forte no cabelo de Hermione, forçando sua cabeça para trás e enfiando a ponta estreita de sua varinha na garganta de Hermione. - Onde você conseguiu essa espada?
- Nós achamos! – Hermione respondeu, tentando manter o tremor de sua voz.
- Eu não acredito em você. – Bellatrix respirou, sorrindo maldosamente e exibindo seus dentes tortos e enegrecidos. Ela deu um último puxão que jogou Hermione no chão, mas manteve sua varinha apontada para ela. - Matar você não adianta nada, ainda, mas posso fazer você me dizer o que eu quero saber. Vou perguntar de novo, onde você conseguiu essa espada?
- Estou falando a verdade! Nós encontramos! Não sei de onde veio, nós apenas encontramos!
- Mentirosa! – Bellatrix gritou, golpeando sua varinha no ar e causando uma dor incandescente que irrompeu da cabeça aos pés por todo o corpo de Hermione.
Harry tentou explicar como era a Maldição Cruciatus, mas sua descrição mal chegava perto da realidade de experimentá-la em primeira mão. Por alguma estranha razão, Severus dizendo para ela resistir a gritar se ela fosse torturada veio à mente, mas não havia como ela ficar quieta, não com uma dor como aquela.
- O QUE MAIS VOCÊ LEVOU DO MEU COFRE?! - Bellatrix gritou no rosto de Hermione, espirrando saliva nela.
- N...nós não... – Hermione tentou sair, mas antes que pudesse completar a frase, Bellatrix se ergueu novamente e continuou a torturá-la.
Gritos finos e infantis rasgaram o ar, o som tão horripilante que Hermione não percebeu que vinha de sua própria garganta. Crucius e mais crucius foi lançado, fazendo Hermione se contorcer e gritar estridentemente como se ela tivesse sido colocada em uma fogueira e deixada para queimar.
- Você está mentindo, sangue-ruim imunda, e eu sei disso! Você esteve dentro do meu cofre em Gringotes! Diga a verdade! Diga a verdade!
Houve outro grito de Bellatrix gritando Crucius! De novo, mal permitindo que Hermione falasse.
- Cale a boca! Cale a boca, sangue-ruim suja, cale sua boca imunda e ladra!
Como ela deveria suportar a tortura silenciosamente, Hermione não sabia, mas houve uma fração de segundo quando Bellatrix abaixou sua varinha e montou no peito de Hermione.
- Você vê isso? – Bellatrix murmurou, retirando uma pequena adaga de prata de suas vestes e acariciando amorosamente sua ponta afiada. - Normalmente eu seria contra sujá-la com seu sangue inútil, mas farei uma exceção se necessário. E cortarei seu rostinho lindo se você não me disser o que eu quero saber.
Lágrimas cobriram a bochecha de Hermione, e foi exatamente nessa bochecha que Bellatrix puxou a adaga. Pressão suficiente foi usada para representar uma ameaça, e embora não perfurasse a pele, Hermione sabia que se ela se mexesse, a lâmina a cortaria como uma faca quente transformando-a em manteiga.
- Você testa minha paciência, puta sangue-ruim, mas vai confessar antes que a noite acabe.
- Eu não tenho nada a confessar! – Hermione implorou, esperando que houvesse algum fragmento de decência e sanidade enterrado sob as camadas enegrecidas do coração da bruxa. - Eu estou dizendo a verdade!
Bellatrix estreitou os olhos, encarando Hermione como se estivesse considerando o que fazer com ela a seguir. Seu silêncio não foi encorajador e não houve nenhum aviso quando Hermione se viu completamente imobilizada. O lado achatado da adaga raspou em sua bochecha, ainda sem ferir, e então foi puxada sobre sua pele vestida, descendo por sua manga até parar em seu pulso.
- Eu deveria cortar você aqui, querida, pequenos cortes que seriam profundos o suficiente para deixá-la sangrando lentamente.
- Por favor! Não...
- Eu não disse para calar a boca?! – Bellatrix sibilou, abrindo a manga de Hermione em um movimento rápido e expondo seu antebraço. - Por favor, por favor, por favor. – Ela zombou, - Eu continuo ouvindo tudo, exceto o que eu quero saber. Talvez isso vá soltar sua língua.
Na primeira sensação da adaga perfurando sua pele, Hermione deu um grito longo e forte. Não importa o quanto ela tentasse chutar e se debater para se libertar, era inútil. O feitiço não a deixava se mover, e a ponta da adaga foi repetidamente arrastada por sua pele, arranhando algo que não fazia diferença para Hermione; a única coisa que ela queria era que a adaga desaparecesse.
- Pare de gritar e me diga o que mais você pegou! O que mais você pegou? Me diga a verdade ou, eu juro, eu vou te matar com esta faca!
Os soluços dificultavam Hermione de falar. Bellatrix parou de trabalhar com a adaga, seus olhos brilhando com malícia enquanto ela apontava sua varinha para a bruxa mais jovem novamente.
- Crucius! Crucius! Crucius!
A Maldição Cruciatus era a única coisa que Hermione conhecia. Não importava para onde ela se torcia, a dor não podia ser evitada. O braço que Bellatrix esculpiu latejava e pulsava como se tivesse seu próprio coração, e havia uma sensação nauseante de sangue pingando. Hermione tentou implorar, orar e suplicar para que Bellatrix parasse, mas lamentos retumbantes saindo de sua garganta eram o único barulho que ela conseguia conjurar.
- Isso é o suficiente, Bella.
- Não! E a menos que você queira ser o próximo, fique fora disso!
No meio dos uivos, Hermione não percebeu que Bellatrix havia saído de cima dela. O feitiço que a mantinha imóvel também foi retirado, mas então veio a sensação de seu peito sendo esmagado, e Hermione forçou a abrir seus olhos cegos pelas lágrimas para encontrar a bruxa demente literalmente ajoelhada sobre ela.
- Se você não me contar, eu vou descobrir sozinha. Vamos dar uma olhada, vamos?
A ponta da varinha de Bellatrix estava apontada para o rosto de Hermione, e levou um segundo antes que ela percebesse o que estava para acontecer. A tortura, o derramamento de sangue, Hermione disse a si mesma que ficaria feliz com isso dez vezes mais do que Bellatrix já havia distribuído ao invés de ser forçada a suportar o que estava por vir.
- N...não...
- Legilimens.
'Ron, não vou não terminar o seu ensaio para você. Você teve duas semanas para terminar! Eu juro, nós passamos pela mesma coisa a cada semestre, quando você vai aprender?'
- Mãe, é claro que vou ficar bem. A casa tem todos os tipos de encantamentos - feitiços - e lembra dos Aurores de que falei? A versão bruxa de nossa polícia? Bem, todos eles estão se revezando para vigiar o lugar para que seja seguro...'
'Harry, eu não quero ouvir mais nada sobre esse livro idiota!' ...
'O que você quer dizer com acabou de encontrar a espada da Grifinória? Como você acabou de encontrar? Não pode exatamente brotar pernas e viajar de um lugar para outro, pode? E como você sabe que é a espada real? '...
'Eu te amo, Severus. Eu não espero que você diga de volta. Na verdade, eu não acho que você nunca vai. Mas não importa; se esta é minha última chance de lhe dizer como me sinto, acho que devo, antes que seja tarde demais ... '
Ter sua mente forçada à submissão mostrou uma coisa, Hermione estava dizendo a verdade sobre a espada de Grifinória. Infelizmente, também revelou o maior segredo de sua vida, a mesma coisa que ela jurou levar para o túmulo com ela.
Bellatrix recuou imediatamente ao se deparar com a visão de Hermione e Snape, abraçados, cobertos por cobertores e obviamente nus por baixo. Havia um brilho perverso e cúmplice em seus olhos escuros enquanto observava a garota em pânico e com lágrimas nos olhos abaixo dela.
- Bem, bem, procuro encontrar uma coisa e encontro outra.
Hermione tinha certeza de que tinha ficado com medo no começo; agora ela estava positivamente apavorada.
- Talvez você estivesse dizendo a verdade sobre a minha espada. – Bellatrix murmurou em uma voz baixa o suficiente para apenas Hermione ouvir. Ela fez uma pausa para jogar para trás uma mecha de seu cabelo emaranhado com a adaga, abaixando o rosto até que seu nariz estivesse a centímetros do de Hermione. - E eu definitivamente não me importo com seus pais estúpidos ou aqueles traidores do sangue que você chama de amigos, mas eu me importo com uma única coisa, me pergunto como você se tornou a vagabunda do diretor?
Pesada ironia foi colocada na palavra 'diretor'; era óbvio que Bellatrix tinha uma opinião negativa de Severus Snape.
- Por favor, não me mate. – Hermione implorou, enquanto começava a engasgar com uma nova rodada de lágrimas.
- Matar você. Matar você? Não, não não, não haverá morte para você, sangue-ruim. A morte seria uma saída fácil, e pretendo que aquele traidor veja você assim que eu terminar. - A risada sinistra de Bellatrix foi estridente o suficiente para perfurar o tímpano de Hermione, o som incongruente com seu próximo tom de voz abafado. - Não tenho ideia do que ele viu em uma Grifinória de sangue sujo como você, mas, novamente, eu sempre tive minhas dúvidas sobre isso. Muitos de vocês são repulsivamente honrados, sempre apontando para baixo para a próxima pessoa. Humm, eu me pergunto o que o seu homem diria se eu te mandasse de volta com este rosto bonito cortado em pedaços. Ele ainda teria você?
- Nn...
- Ou talvez o resto de você? Ele provavelmente ficaria enojado ao ver sua carne cicatrizada. Aposto que ele nunca mais tocaria em você.
- Pare com isso...
- Pare com isso. Pare! – O hálito rançoso da bruxa inflamada estava quente contra a bochecha de Hermione. - Você se atreve a me dar ordens, sangue-ruim!
Manchas de um vermelho feio penetraram na pele pálida de Bellatrix e seus lábios se estreitaram enquanto ela se levantava.
- Crucius! Crucius!
Ainda não havia explicação de como Hermione e seus amigos encontraram a espada de Grifinória, mas parecia que Bellatrix tinha um novo ângulo para se focar. Por alguma razão inexplicável, a ideia de Hermione e o mestre de Poções, agora diretor, parecia enchê-la de uma fúria cegante, e ela era implacável em sua tortura contínua da jovem Grifinória. Além da maldição Cruciatus, Bellatrix usou outros feitiços, um dos quais deixou cortes em quase todas as partes do corpo de Hermione que estavam cobertas por roupas, outro quebrando alguns ossos pequenos. Quanto mais Hermione gritava, mais alto se tornavam as zombarias de Bellatrix, até que a sala de estar se encheu de gritos lamentosos e incontidos e suas contrapartes imitadas.
A coluna de Hermione estava arqueada a ponto de quebrar. Uma onda de agonia pura e não diluída, que não deixou nenhuma parte não afetada, desabou e a deixou se afogando no redemoinho. Um gosto distinto e metálico de cobre ocupou seu nariz e boca. Houve uma onda de escuridão que assomava no alto, mas parecia parar e se demorar nas bordas confusas, como se tivesse medo de se aproximar totalmente.
Ela estava morrendo? Ela já estava morta?
Mesmo que Hermione tivesse implorado a Bellatrix para não matá-la, a morte estava rapidamente se tornando uma amiga bem-vinda. Partes de seu corpo nas quais ela nunca tinha pensado estavam forjadas e torcidas em uma dor excruciante. Em um acesso de grito, ela mordeu a língua com força, os dentes quase penetrando fundo o suficiente para cortar a ponta. A parte de trás de sua garganta estava cheia de sangue, fazendo-a gorgolejar e engasgar entre cada grito. Como ela ansiava por sua mãe, pai, Ron, Harry, Severus, qualquer um que viesse resgatá-la deste inferno implacável. Hermione nunca foi particularmente religiosa, mas se essas divindades realmente existissem, ela se perguntava por que a haviam abandonado, permitindo que ela vivesse esse tormento em vez de morrer pacificamente.
- Isso é o suficiente, Bellatrix.
- O que Di...?
- Ela disse que chega, caramba! – Uma voz próxima rugiu, inflexível. – Isso não vai nos salvar e você sabe disso! Eu me recuso a ter mais sangue derramado na minha casa, e se você não parar, então nós vamos fazer você parar!
- Você vai me fazer? Hah! Fraco, todos vocês, vocês são fracos! – Bellatrix gritou, espumando pela boca. - Estou surpreso que meu Senhor não tenha cortado suas gargantas sozinho! Vocês não são verdadeiros seguidores dele, sempre tiveram medo, se escondendo sob a saia de sua esposa e permitindo que todos fizessem o seu trabalho sujo para você. Inútil! Você é inútil e inútil, sempre foi e sempre será!
- Juro por tudo que me é caro, vou convocá-lo agora e todos nós morreremos. Não dou a mínima para o que você pensa, Bellatrix. Estou cansada disso. Agora se livre dela!
Toda a discussão acalorada não significava nada para Hermione. Ela havia perdido a batalha de vontades, tentando entregar seus últimos vestígios de lucidez. Os sons e as vozes ao seu redor foram abafados, como se sua cabeça estivesse completamente submersa na água. O tormento que ela tinha sofrido finalmente a deixou completamente sem sentido, a dor intensa atingindo alturas tão altas que tudo ficou entorpecido depois de um tempo. Agora ela estava deitada apática, inconsciente de seu entorno e suas roupas encharcadas de sangue grudando em sua pele, os olhos vidrados e olhando fixamente para algum canto escuro da sala de estar.
- E exatamente o que, diga-me, você pretende que eu faça com isso? – Perguntou Bellatrix, soando um tanto arrogante.
- Bella, apenas peça a um dos outros para...
- Fique quieta, eu tenho uma ideia melhor. Draco, chame Leofric; ele é mais lento do que a água de um lago e estúpido, mas não tão estúpido a ponto de não conseguir seguir as instruções.
Momentos depois, o impassível Comensal da Morte de rosto manchado estava na sala de estar, mudo enquanto esperava ordens.
- Bellatrix, você não fez o suficiente por uma noite? – Perguntou Lucius.
- Não se preocupe. – Bellatrix cantarolou baixinho enquanto se curvava sobre a forma sem vida de Hermione. - Eu ainda não terminei com você, sangue-ruim. Isso é apenas uma amostra do que é o verdadeiro sangue bruxo, mas tenho certeza de que você nunca irá apreciá-lo totalmente.
Rindo para si mesma, Bellatrix demorou a permitir que algumas gotas de seu próprio sangue caíssem sobre a ferida aberta no braço de Hermione. Algumas palavras sussurradas acompanharam o aceno de sua varinha dobrada, e ela se levantou assim que terminou.
- Madame? – Leofric cumprimentou cautelosamente quando Bellatrix o chamou.
- Leve-a para Hogwarts. – Sussurrou Bellatrix. - Certifique-se de que você não seja visto por ninguém, exceto Severus Snape, ou eu mesmo cortarei sua garganta. Você entendeu?
Os olhos já grosseiramente salientes de Leofric se arregalaram ainda mais, e seu pomo de adão proeminente balançou enquanto ele engolia nervosamente.
- S...sim, Madame Lestrange.
- Este é um bom rapaz. Aqui, coloque isso na cabeça dela. – Bellatrix fez uma pausa para conjurar um saco de estopa áspero do nada e empurrou-o para ele. - Eu não quero tocá-la.
Leofric permaneceu tenso enquanto pegava o saco da bruxa agora entediada e correu para enfiar a nuvem do cabelo úmido de Hermione nele primeiro, depois o resto de sua cabeça. Secretamente, ele odiava Bellatrix Lestrange, mas às vezes o estranho favor enchia sua palma de ouro, então ele se contentava. Esta foi, de longe, uma das tarefas mais estranhas que ele foi chamado para realizar, mas pelo menos a garota pendurada em seu ombro era mais leve do que outras coisas que ele carregou por aí a mando dos Comensais da Morte.
Entre seu corpo ainda dolorido e pesadelos envolvendo Voldemort descobrindo sobre sua Horcrux destruída, por sua vez torturando Snape no processo, o diretor conseguiu dormir algumas horas. Pela manhã, sua condição mal melhorou, e três xícaras de café forte entre aquela hora e o meio-dia não conseguiram despertar seus sentidos.
Uma boa parte da manhã de Snape envolvia encontrar uma razão plausível para cancelar as aulas de Artes das Trevas e estudos trouxas do dia. Amycus e Alecto haviam recebido material de leitura de uma semana que foi regulamentado e aprovado pelo Ministério, tudo para ser ensinado imediatamente a cada aluno. Alecto reclamou alto com a pasta grossa entregue a ela (Snape resistiu ao impulso de se desculpar pelos livros estarem abissalmente ausentes de palavras pequenas), enquanto seu irmão olhava para ela como se tivesse dentes. Por mais que os dois gostassem de atormentar seus alunos, o aspecto burocrático de seus trabalhos sempre os deixava de mau humor. Portanto, quando Snape os dispensou de seus deveres naquele dia para que pudessem ler as muitas pilhas de folhetos e livros - Os Perigos de Sangue Ruim e Quando os Trouxas Atacam sendo alguns dos títulos mais ridículos, os Carrows aceitaram de má vontade.
A caixa que o Ministério enviou estava no escritório de Snape há mais de uma semana. A princípio ele planejou fingir ignorância para entregá-lo, mas quando o momento oportuno se apresentou, ele aproveitou. Os Carrows estiveram presentes na noite anterior na reunião dos Comensais da Morte. Eles também haviam sofrido o fim da varinha de Voldemort, o que quase sempre significava que os alunos de Hogwarts sofreriam as consequências de sua raiva reprimida. Com pouco tempo e paciência, Snape pensou rapidamente em uma distração que manteria os dois Carrows longe de seus alunos, na esperança de que seu ressentimento se acalmasse ao longo do dia.
Outro obstáculo conveniente era que os membros da Vigilância Potter, o grupo que o diretor supostamente ignorava, seriam capazes de se reunir sem ter que passar na ponta dos pés pela Vice-Diretora e pelo Vice-Diretor.
Mais tarde, como prometido, Snape e Dumbledore se encontraram durante as primeiras horas da noite. O ex-diretor foi informado sobre os detalhes da taça, que foi destruída, e os detalhes do último encontro com o Lorde das Trevas. O choque foi registrado pela primeira vez no rosto do velho mago, seguido por um intenso alívio. Ambos falaram sobre a possibilidade de Voldemort sentir uma de suas Horcruxes sendo destruída, mas foi acordado que o risco valeu a pena.
- Você acha que ele suspeita de suas ações? - Perguntou Dumbledore.
- Talvez, mas não há como ter certeza. O que posso dizer é que acho que ele está preocupado. Mesmo que ele não diga isso abertamente, havia mais de um motivo além do normal para o nosso castigo. Minhas costas ainda dói.
- Um dos muitos efeitos colaterais desagradáveis de um trabalho bem feito, Severus. Não pense que esqueci o risco que você enfrenta regularmente.
Snape apertou sua mandíbula; Dumbledore conseguia se lembrar de tudo o que queria, mas era o próprio Severus quem tinha os lembretes físicos e as cicatrizes da varinha de Tom Riddle.
- Isso é tudo, Diretor? – Perguntou Snape, sentindo a necessidade repentina de ficar sozinho.
Dumbledore educadamente se desculpou antes de dar boa noite a Snape, sugerindo que ele descansasse um pouco.
Descanso? Snape ecoou zombeteiramente em sua cabeça. O que é isso?
Mesmo que seus planos envolvessem uma cama, eles teriam sido destruídos porque as proteções ao longo das bordas externas dos terrenos de Hogwarts o informaram que alguém estava espreitando.
O vôo para Hogwarts foi curto, mas encontrar uma maneira de contatar o diretor demorou um pouco. O professor de túnica preta e rosto azedo finalmente apareceu nos portões e ficou propositalmente silencioso enquanto esperava por uma explicação.
- Madame Lestrange me enviou. – Leofric gesticulou para sua carga. - Puta psicopata que ela é.
- É assim mesmo. – Snape respondeu secamente, suprimindo a vontade de concordar com a última parte murmurada sob a respiração do homem.
- Bem, sim, eu não vim até aqui por causa de nada.
As narinas de Snape dilataram-se e, em um momento rápido, ele retirou sua varinha e bateu contra o portão de ferro. As barras deslizaram e se desenrolaram quando o portão se abriu, permitindo espaço suficiente para ele passar.
- Só avisando, eu acho que a putinha se mijou. – Resmungando e praguejando baixinho, Leofric largou quem quer que estivesse segurando aos pés de Snape, despreocupado com o baque alto quando o corpo dela atingiu o chão. Ele estava mais preocupado com suas vestes, puxando-as e estendendo uma mão magra e suja ao longo do tecido, procurando por manchas de umidade. - Sim, definitivamente se mijou; vestes malditas estão todas molhadas.
Carrancudo para o homem parado em frente a ele, Snape se abaixou e usou a ponta de sua varinha para levantar a ponta do saco de estopa. Ele olhou para dentro por um segundo sem dizer uma palavra antes de se levantar para olhar para Leofric novamente.
- Alguém viu você?
- Não, ninguém me viu. Como diabos alguém poderia me ver? Está no meio da porra da noite. Lembre-se, sorte que não é no meio da porra do inverno ou então minhas bolas teriam caído.
- Eu acredito que seu trabalho está feito, você pode ir embora. – Snape disse em advertência. - Boa noite.
Leofric praguejou novamente, resmungando sobre ser incomodado a todas as horas da noite e estar puto da vida. Ele se virou enquanto se afastava, indo para o ponto de aparatação, ele não percebeu a varinha apontada para ele ou o forte feitiço de memória que limpou sua mente de seu dia inteiro.
Dali em diante, era imperativo que Snape mantivesse uma expressão séria, não importando o contraste de suas emoções turbulentas. O saco de estopa foi removido da cabeça da garota inconsciente, jogado na grama e incendiado. Suas vestes de ensino foram arrancadas e cuidadosamente manobradas ao redor de seu corpo frio. Com o maior cuidado, Snape puxou sua forma frágil em seus braços, mantendo a cabeça dela embalada contra seu ombro. Um feitiço de desilusão, forte o suficiente para proteger duas pessoas, foi lançado, e rápida, mas calmamente, ele fez seu caminho através do terreno frio e escuro da escola e voltou para o castelo um pouco mais quente, apressando-se em direção às masmorras.
A garota em seus braços era um peso morto e parecia que uma eternidade se passava entre cada passo. Snape estava cheio de impaciência, mas resistiu à tentação de abrir a porta quando ele finalmente alcançou seus aposentos. Um assobio de sua varinha e cada tocha sustentada por um suporte, assim como a lareira, irrompeu em vida, jogando luz e calor na úmida sala de estar. Só depois que a porta foi bem trancada e um Feitiço Silenciador lançado sobre a área, Snape se permitiu desabar no chão, esfolando os joelhos através das calças de lã enquanto segurava sua amada contra o peito, encharcando o topo de sua cabeça com uma torrente de lágrimas. Sentindo o coração partido em pedaços, Snape gritou longa e duramente por vários minutos, inconsciente dos gritos rudes e animalescos sendo arrancados de seu próprio centro.
"Sinto muito, Hermione. Oh meu Deus, eu sinto muito, muito mesmo!"
