Capítulo 3 – O vizinho ao lado

- Muito obrigado, senhor... Quer entrar, tomar um café ou chá?

- Agradeço, vizinha! Fica para outro dia, tenho que trabalhar!

- Ah... É minha filha que está morando aqui. Apareça! E mais uma vez, muito obrigado pela sua grande ajuda! Se não fosse o senhor, todos os vidros estariam quebrados.

- Não foi nada. – Apenas o feitiço "Arresto Momentum". – Pensou, mas não disse. - Passe bem, senhora!

Enquanto Severo caminhava da porta da vizinha até o portão, sabia que 'sua sorte' fora lançada.

– "Minha filha"... Inferno Sangrento! Por Merlin, eu mereço ser vizinho do patético senhor Weasley e sua respectiva senhora Weasley?...

Aquele pequeno incidente acabou com o seu dia. Severo até foi ao Boticário, mas seus pensamentos em turbilhão lhe fizeram esquecer de comprar o principal ingrediente.

Anne entrou na casa, com uma cópia da chave. Hermione ainda dormia. Às dez horas, sua mãe lhe acordou.

- Filha, você não conseguiu dormir à noite? Venha tomar café. Logo preparo seu almoço.

- Bom dia, mamãe! Não precisava vir, eu me viro. Tenho que fazer compras, não tenho nada em casa... Preciso também comprar um viveiro para a coruja e um celular. Não posso esquecer!

- Não se preocupe com as compras, eu fui ao supermercado para você. Vamos, se agasalhe e desça.

- Está bem. Se continuar me mimando, vou acostumar mal!

Hermione vai para o banheiro, e Anne desce para a cozinha para servir o café. – Não é para menos que está tão abatida... Estava acostumada com vários empregados quando era ministra, sem contar os elfos. Ronald deveria ter mais paciência para esperar. Eu também estava ansiosa por um neto. – Pensou, mas não disse para não magoá-la ainda mais.

Sabia que a filha merecia ser feliz depois de tudo que passou. Minutos depois elas se sentam próximas à mesa.

- De tarde posso ir com você nas lojas para comprar o celular e a gaiola, ou posso lhe emprestar o carro. Como preferir. Depois que me aposentei, vou apenas uma ou duas vezes no consultório para ajudar seu pai.

- Vou adorar sua companhia! E principalmente se você dirigir. Não pretendo comprar carro. Estava tão acostumada em aparatar, que quando começar a trabalhar vou continuar usando o meio de transporte bruxo.

- Fico feliz em ter você por perto! Torço para que você goste do novo emprego. Ah, tem suco na geladeira, esqueci de colocar na mesa.

Hermione que estava sentada mais próxima, abre e se depara com a geladeira cheia.

- Você comprou um monte de coisas, e deixou tudo pronto! Por que não me chamou antes para lhe ajudar?

- Não precisei, porque seu vizinho me ajudou a trazer as compras do carro.

- É?

- Sim, ele foi bastante prestativo. As sacolas pesadas com garrafas e vidros estavam caindo no chão, e ele chegou bem na hora. Deveria convidá-lo para um chá e lhe agradecer.

- Eu? Eu, não. Aquele mal educado, que nem falou comigo no sábado à noite?...

- Vocês já se conhecem?

- Não, e nem pretendo conhecer...

- Deveria... Ele é um moreno alto, elegante... Tem uma voz incrível!

- Mãe? Já se esqueceu que é casada com o papai?

Anne teve que rir da cara que a filha fez.

- Hermione, de onde você tirou isso? Só estou dizendo que seu vizinho é bem interessante! Mas...

- Mas, o quê?

- Deve ser casado. Duvido que um homem como ele ainda esteja livre.

- Ôh, mãe... Vamos mudar de assunto? O que você vai fazer de almoço mesmo?

Anne passou boa parte do dia com sua filha. Hermione se alimentou bem e estava se sentindo melhor. À tarde elas saíram para comprar o viveiro para Edelweiss, e o celular.

Exatamente do outro lado, Severo estava em seu pior dia. Não quis voltar no frio para buscar folhas de acônito lapelo, e por isso não conseguiu trabalhar. Na verdade, poderia fazer outras poções para adiantar, cujos ingredientes ainda tinham no estoque, mas saber que a filha de Anne Granger era sua vizinha lhe deixou severamente perturbado.

- Só pode ser ELA. A "irritante" ! Será que não me causou dor o suficiente? Por ironia tinha que vir morar ao lado... Eu mereço... – Ele bufou.

Severo passou boa parte do dia indo e voltando da janela. Ora da sala, ora do seu quarto no andar de cima, cuja vista dava para a casa da vizinha. Ele queria se certificar que era mesmo ela. No fundo tinha alguma esperança que fosse outra senhora Granger com uma filha, mas ele tinha certeza que leu Anne Jean Granger no documento. Seria coincidência demais.

A presença do carro parado na frente da casa significava que ambas estavam, pois por causa do frio, todas as janelas estavam fechadas.

- Não estou no meu juízo. Por que preciso ver a janela a cada cinco minutos? Simples, seu bruxo... Você precisa ver a cara do ruivo, ou quem sabe ver os dois fazendo amor. – Seus pensamentos insanos estavam lhe deixando enlouquecido.

Aquele primeiro mês se passou. Anne a visitava com frequência, queria ter certeza que a filha estava bem.

Em novembro Hermione começou no novo trabalho. Ela lecionava a disciplina de química para as turmas da noite, na universidade de Oxford. Passava boa parte da tarde na biblioteca preparando as aulas. De manhã acordava tarde, porque ia dormir tarde, somente depois das vinte e duas horas quando retornava do trabalho. Ela selecionou alguns pontos de aparatação na universidade para não precisar depender de transporte trouxa.

Os dois vizinhos raramente se encontravam, e quando acontecia, era de longe. Severo estava sempre evitando se encontrar com os vizinhos, agora mais do que nunca. Ele fazia o possível para não ser reconhecido. O mais próximo que chegaram foi num domingo antes do natal, que ambos estavam no mesmo restaurante do bairro. Severo assim que viu Hermione entrar, trocou de lugar sua cadeira, virando-se para a parede.

Hermione passou o natal e ano novo com seus pais, levando a Edelweiss junto. Ao voltar para sua casa, uma nova rotina estabelecia seus dias. Assim que acabou o recesso de final de ano, ela retorna ao trabalho. Já estava enturmada na faculdade de química, os alunos adoravam suas aulas.

No segundo fim de semana de janeiro ela recebeu a visita de Harry e família. Já estava com saudade deles, e após colocar as conversas em dia, Gina lhe pergunta.

- Está saindo com alguém?

- Não. Por que a pergunta?

- Porque você está feliz. Pensei que tivesse...

- Deixa disso, Gina! Estou me sentindo bem, só isso. Mamãe me ajudou bastante. E o Rony, como está?

- Bem... não sei se devo falar... mas já que perguntou. Ele ficou arrasado no início, não comia... Mamãe teve que dar umas chacoalhadas nele, dizendo que a vida continua... Então, como a notícia se espalha rápido, rapidamente a Lilá ficou sabendo do divórcio de vocês, e foi se chegando na casa da mamãe. Acho que começaram a namorar em novembro, porque agora no início do ano, ela veio com a notícia de que está grávida. Rony parece chocado, mas mamãe está muito feliz. Ela sempre quis ter netos de todos os filhos! Acho que eles vão se casar na primavera.

- Bom, era o que ele mais queria... ter filhos, por isso nos separamos!

- Eu confesso que fiquei surpresa, Mione... Achei que você estava esperando somente o final do mandato para engravidar.

- Para ser sincera, eu nunca me vi como mãe... Pode ser que daqui a alguns anos, se eu encontrar alguém interessante... Mas acho muito difícil! – Interessante como o professor Snape é praticamente impossível! – Pensou.

Saber que Rony iria se casar, e ter um filho em breve, não lhe deixou abalada. Hermione estava feliz, e no fundo desejava o mesmo para ele.

Felizmente o inverno terminou, e os dois vizinhos ainda se evitavam ao máximo. Mesmo assim, era comum os dois irem até a janela ao menos uma vez por dia. Severo com sua experiência em espionar nunca foi visto entre as cortinas. Ele reparou que nunca viu o ruivo na casa, o que lhe deixava secretamente feliz.

Era meados de março, Hermione precisou ir na farmácia para comprar um medicamento para Edelweiss. Ela soltava sua coruja à noite, que voltava para o viveiro ao amanhecer. Naquele dia, Hermione reparou numa dermatite nos pés da coruja, provavelmente sequela de algum ferimento ocorrido durante os piores dias do inverno.

Hermione se arrumou após tomar seu café e dar umas migalhas de pão para seu animal de estimação.

- Eu já volto, está bem? Vou comprar uma pomada para você. Logo ficará boa novamente!

- Piu.

- Finalmente... não precisar usar casaco para sair, é uma façanha! Até mais, Edelweiss! – Hermione estava feliz por ser primavera. O jardim da casa já estava todo florido. Ela fechou o portão e ao passar pela casa do vizinho, sem querer esbarra nele, que estava fechando o portão naquele exato momento.

- Olhe por onde anda! – Ele esbravejou irritado com o encontrão.

- Me desc... – Hermione fica muda ao reconhecer a voz. Os olhos de Hermione saltam ao ver o rosto do seu vizinho. Ela não consegue terminar de falar, não consegue mais pensar, nem mesmo ficar de pé. De repente tudo fica preto, um zunido no ouvido, e o chão começa a girar. Severo que permaneceu ao lado dela, percebeu que ela estava passando mal, e a segura nos seus braços, antes que caísse no chão.

- Bem... bem, senhora Weasley. Certamente este desmaio pode ser justificado como um pequeno descuido da sua saúde, ou quem sabe início de uma gravidez? – Um profundo barítono falou ao lado dela.

- Desculpe, senhor... Onde estou? Quem é você?

- Na minha longa jornada como educador, jamais pensei que algum aluno se esqueceria de mim. A senhora está na minha casa, teve um leve mal-estar ali fora, quando nos encontramos na calçada.

- Mas... mas... – Hermione agora se sentava, encolhendo as pernas e alisando sua saia no lugar. - O senhor é... o senhor é?...

- Seu antigo professor de poções, senhora Weasley! Se sua memória está fraca, aconselho a tomar um elixir para...

- Mas... mas... o senhor morreu, e eu... – Ela não o deixa terminar de falar. A ansiedade é tanta que ela quase disse 'que morreu um pouco naquele dia também'. Agora as lágrimas já formadas em seus olhos escorrem antes de poder conter o choro.

- Como bem pode constatar... – Ele fala pausadamente, ao mesmo tempo que se senta ao lado dela pegando firme a sua mão. - Eu não morri, e não sou fantasma. Talvez por alguma ironia da vida, sou seu vizinho. A senhora está sentada agora no meu sofá da sala, da casa ao lado da sua. – Severo continuou. Seus olhos agora fixos no contorno dos seios da blusa branca rendada que ela usava.

- Olá, professor Snape! – Ela cumprimentou educadamente olhando para os olhos negros brilhantes, após assoar o nariz no lenço que ele acabara de colocar na sua mão.

- Só para constar, não sou mais seu professor! Acredito que seu mandato como ministra chegou ao fim, e por isso entregou a residência oficial. Pode me dizer o que lhe fez escolher esta parte de Londres para residir? – Será que ela descobriu que eu sobrevivi, e por isso escolheu esta casa ao lado? – Ele tinha ainda um resquício de esperança.

Hermione sentia seu coração bater forte no peito, olhou ainda inquieta para a figura autoritária sentada tão próxima a ela antes de responder.

- Bem, eu procurei uma residência para morar, e a imobiliária me mostrou a casa ao lado.

- Como amor à primeira vista? – Ele pergunta ironicamente com a intenção de deixá-la desconfortável.

- Bem provável! – Ela também responde com ironia, e faz uma pausa. - Eu devo ir. Agradeço seus primeiros socorros.

Hermione nem chegou a se levantar, as mãos grandes e frias dele novamente tocam as suas mãos delicadas e quentes.

- Fique! Farei um chá para nós, espere só alguns minutos. Tenho certeza que a sua propensão a fazer perguntas não foi totalmente abolida nestes quatro anos, enquanto ministra. A menos que...

- A menos que... o quê?

- O senhor Weasley esteja lhe esperando.

Hermione se levanta rápido, ajeita novamente sua roupa e começa a andar em círculos. Estava visivelmente nervosa.

- Acalme-se, senhora Weasley! Vai ficar para o chá, ou não?

- Sim, vou aceitar o chá. O senhor pelo visto não acompanha as mídias, não é? – Ela disse furiosa.

- Deveria? – Ele rebate. Levantando-se do sofá e a encarando.

- Eu me separei, assim que deixei o ministério. Por isso escolhi este bairro distante de tudo para ter um pouco de paz. – Ela suspira.

- Sinceramente, com quem a ministra dorme ou deixa de dormir, não me interessa. – Ele cuspiu mentindo para si mesmo, e ela notou o tom de rancor na voz dele.

Após um silêncio mortal, Hermione se acalma um pouco.

- Me fale como conseguiu sobreviver ao veneno da cobra?

- Dumbledore sempre disse que a Fawkes é leal a quem for leal para Hogwarts...

- Lágrimas curativas! Eu pensei nisso, aliás passei os últimos anos com este fio de esperança... Eu senti tanto não poder fazer nada. O castelo estava sendo atacado, e você morrendo... Oh!...

Agora o pânico toma conta dela ao reviver aquele momento, e seu corpo estremece a cada soluço.

- Sente-se, e acalme-se... Vou preparar o chá. Já volto.

Severo foi até a cozinha, colocar a água para esquentar. Voltou na sala, pegou no braço dela e a levou gentilmente até o sofá. Pigarreou antes de iniciar sua fala.

- Como devo lhe chamar? Senhorita Granger? Granger?

- Hermione. Me chame de Hermione. Mas por quê? Por que ficou escondido todo este tempo?

- Vou terminar o chá. Ainda não é o momento para lhe responder. Próxima pergunta? – Ele se levanta no mesmo instante que a chaleira começou a apitar com a água fervendo.

- Severo...

Severo para antes de chegar a cozinha, ergue suas sobrancelhas e vira-se para trás para fitá-la. É a primeira vez que ele ouve ela falar seu primeiro nome.

- Sim? – Sua vontade era de agarrá-la neste momento e beijá-la com tamanha paixão, como ele nunca beijou nenhuma mulher assim antes. Mas novamente sentiu a dor da rejeição, a dor de ser trocado por outro. Ele se conteve e voltou para a cozinha, terminando de preparar o chá. Assim que ele retorna com a bandeja, ela volta com as perguntas.

- Há quanto tempo você mora aqui? Está aposentado?

- Considerando que fiquei hospitalizado por oito meses... Moro nesta casa há quase quatro anos. Deixei Hogwarts, embora ainda trabalhe para a Minerva.

- É mesmo?

- Faço as poções que os alunos e funcionários utilizam na escola. – Severo acabou de servir as duas xícaras e ofereceu uma para ela.

- Puxa, que bacana! Onde fica o seu laboratório?

- Prove se está doce o suficiente. Trabalho no porão da minha casa. Por quê?

- Sim, obrigado, o chá está ótimo. Alguma chance de eu conhecer seu laboratório?

- Talvez.

- Severo...

O olhar dela tão meigo derrete o coração dele, e ele precisa ser forte para não ceder logo no início. Cansou de ser rejeitado, precisava saber sobre os sentimentos dela, e principalmente por que se casou, se dizia que o amava.

- Lembrando que a senhorita foi ministra, e até o momento não soube que eu permaneci vivo; saiba que meu laboratório também deverá ser mantido em absoluto segredo.

- Em partes o senhor tem razão... Saiba que eu mesma vasculhei cada canto para saber sobre a sua morte, porque para mim e para Harry, não havia chance alguma de sobrevivência. Eu queria encontrar seu corpo para fazer uma homenagem em seu funeral. Estive em Hogwarts para falar com a Minerva, porque me disseram que ela foi a última a estar com você. Ela estava sob sedativos na enfermaria, se encontrava muito abalada pós-guerra, e não me disse coisa com coisa... O boato mais realista que ouvi, foi saber que os comensais que sobreviveram levaram seu corpo para prestar uma homenagem.

- Posso saber quem levantou tamanha asneira?

- Um auror do ministério que me disse...

- Quem?

- Meu ex marido, Rony...

- É claro, tinha que ser...

- Por que tinha que ser? O que quer dizer com isso?

- A senhora, ou senhorita, quer mesmo saber o que eu penso? – Ele olhou profundamente nos olhos dela, e Hermione assentiu. Precisava conhecer cada camada do seu ex professor e seus segredos. Saber o que ele realmente pensa sobre algo ou alguém era uma proeza, pois o homem a vida toda foi envolto em mistérios.

- Me chame de Hermione, afinal nos conhecemos há anos. – Ela repetiu.

- Pois bem... Hermione, vamos por partes. Considerando que Hogwarts já teve várias mentes brilhantes ao longo de sua existência, mas nenhuma supera o seu desempenho no decorrer dos sete anos. Como poderia uma jovem recém-formada, e além disso, recém-eleita ministra, que é o cargo mais elevado no nosso mundo, se casar com alguém como o senhor Ronald Weasley?

- Qual o problema?

Severo ainda se sentia ressentido, e não se considerava tão próximo para chamá-la pelo primeiro nome.

- Não me faça rir, Granger... Se quiser que eu lhe refresque a memória, quem era o garoto que sempre sentava ao seu lado, não apenas nas minhas aulas, mas em TODAS, com o único objetivo de se dar bem nas avaliações? Quem era o garoto que lhe chantageava para fazer os trabalhos de casa, inclusive OS MEUS? Ou você nunca imaginou que eu iria descobrir que Ronald Weasley era capaz de escrever sozinho um metro de pergaminho sem cometer nenhum erro? Sim, eu lia cada frase de cada trabalho, de cada aluno e de todas as turmas! Apenas os seus trabalhos não continham um único erro. Ele simplesmente lhe sugou a vida toda, e se aproveitou do momento frágil pós-guerra para lhe convencer de que o casamento seria ótimo para ambos. Óbvio que não poderia durar...

- Reconheço que me precipitei, mas entenda: você estava morto! Como eu poderia imaginar que estava hospitalizado? A própria Minerva me disse, que era perda de tempo procurar pelo seu corpo, que era para prestar a homenagem in memoriam...

Hermione se esforça para não ter outra crise de choro. Bebe rápido o chá de cítricos com ervas que tem o poder de lhe acalmar.

- Pensando por este lado, devo agradecer a Minerva por ter mantido meu segredo.

- Por que, Severo? Por que preferiu viver escondido?

- Granger... não foi uma decisão fácil. – Ele suspira, bebe um gole do chá.

- A princípio foi para evitar que me levassem a Askaban, até ser julgado, ou já se esqueceu que eu matei Dumbledore? – Ele engole em seco. Estava visivelmente entristecido ao tocar no assunto.

- Eu já havia assumido o ministério, seria muito fácil mantê-lo longe de Askaban por motivos de saúde.

Severo sente seu peito apertar – E já estava noiva – Pensou.

- Além do mais, eu não me casaria jamais, nem com Rony, nem com ninguém, se eu soubesse que você estava vivo, porque...

- Por quê? – Um levantar de sobrancelha.

- Porque eu te amo, Severo! Sempre te amei, mas você NUNCA me deu uma chance, nenhum sinal de que algum dia poderíamos ter esta conversa civilizada.

- Bem, aqui estamos... – Ele diz com suavidade.

Severo retira a xícara da mão dela, pega delicadamente no queixo aproximando lentamente seus lábios dos dela. O beijo parecia ter acontecido em câmara lenta. Um suave toque nos lábios macios e com gosto adocicado de erva cidreira fez com que os dois corações disparassem.

O tempo é bastante relativo, o beijo que durou alguns segundos parecia ter levado minutos. O coração ainda em taquicardia, Severo ia se afastar, ela prolonga um pouco mais. Eles se afastam, Hermione o fita com olhos interrogativos desejando mais. Ele também desejava mais, porém precisava ter cautela. Suas experiências com mulheres nunca foram duradouras. Ele não podia se precipitar e colocar tudo a perder de novo.

- Hermione...

- Sim? – Ela olha apaixonadamente para o bruxo de sua vida. Crente que eles fossem continuar a partir do beijo. Estava já imaginando aquelas mãos grandes e firmes acariciando seu corpo nu.

- Se eu não estiver enganado, mais cedo nos esbarramos na calçada e você desmaiou nos meus braços. Eu estava indo ao boticário, preciso comprar alguns ingredientes para preparar umas poções na parte da tarde. E você, também parecia estar com pressa...

- Sim. – Ela interrompe seus pensamentos e tem certeza que corou. - Eu estava indo na farmácia.

- Você está grávida? – Ele pergunta preocupado, e logo se arrepende por ser tão invasivo.

- Oh, não. Eu preciso comprar um medicamento para minha coruja.

- Hum... é que é comum o desmaio nos primeiros meses de gravidez. – Ele tenta se justificar. - Que tipo de medicamento? Posso fazer para ela. Ou se preferir, podemos ir juntos no boticário.

- Sim, podemos ir. Preciso caminhar um pouco. Não é tão longe. Qual boticário você costuma ir daqui do bairro?

- É longe, fica na Time Square. Eu estava indo pegar o metrô. O boticário que fica em frente à estação é mais completo, sempre tem os ingredientes ou ervas mais raras. Neste horário é complicado aparatar, muitos bruxos e não gosto de encontrões. – Ele olha de forma divertida para ela. Se sentia aliviado por ela não estar grávida do ruivo.

Hermione procura ignorar a provocação. Seus lábios ainda estavam com o sabor dos dele. E ela estava se sentindo nas nuvens com a sensação do primeiro beijo que trocaram.

Na volta do boticário, eles almoçam juntos no restaurante do bairro. Pareciam amigos de anos. Na verdade, se conheciam há bastante tempo, mas a relação nunca foi amistosa, até aquele momento. A conversa fluía naturalmente, ambos intelectuais e tendo a química de interesse em comum. Sem mencionar a química entre eles que era quase uma combustão espontânea, se não fosse pela experiência dele em se controlar.

Quando retornaram, Severo deixou Hermione na porta da casa dela, e disse propositalmente sem nenhuma emoção em seu tom de voz:

- Nos vemos a qualquer hora.

- Está bem. – Inferno sangrento, nenhum beijo! Ele ainda é assustador, mas agora de outra forma... – Hermione estremeceu ao sentir formigamento entre suas pernas, assim que ele saiu do seu lado e fechou o portão.

Ela deitou um pouco antes de ir para a faculdade. Apenas descansou as pernas, porque era impossível dormir. A conversa da manhã, e principalmente aquele beijo voltava a sua mente.

Severo foi direto para seu laboratório preparar a próxima entrega. Levou a tarde toda, não conseguia se concentrar direito, porque sua mente era invadida pela imagem dela, pelo sorriso, e principalmente pelo beijo.

Passava das vinte e duas horas, Severo estava deitado em sua cama sem conseguir dormir, relembrando seu dia quando escutou um carro parando em frente à sua casa. Espiou na janela, e viu Hermione saindo de um carro luxuoso, após beijar o rosto do motorista. As vezes ela aceitava a carona deste colega, quando não conseguia uma desculpa plausível para dizer não. Naquela noite tudo que ela queria era aparatar e chegar logo em casa, mas os alunos a assediavam para tirar as dúvidas, uma vez que a prova fora marcada. Novamente ela aceitou a carona do professor de bioquímica, só não imaginava que alguém estava à espreita na janela. O olhar surpreso dela ao constatar a silhueta do homem que lhe tirava o sono, lhe deixou preocupada no primeiro momento, mas assim que entrou em casa, deu de ombros evasivamente, havia um pequeno sorriso em seus lábios.

Nenhum dos dois conseguiu dormir naquela noite.

Continua...