Capítulo 4 – Ciúmes

- Hermione. – Severo sibilou baixinho com sua voz aveludada.

- Sim? – Ela abre os olhos sonolenta, e encara o nariz grande tão próximo ao seu, que quase lhe faz desmaiar novamente. - Como entrou aqui?

- Vivi durante anos como duplo espião, dificilmente alguma tranca me detém. Mas entrei pela porta da frente. A senhorita esqueceu aberta, ou estava esperando por alguém? Esperava que o seu colega que lhe deu carona voltasse? – Ele pergunta ironicamente.

- É claro que não... E também confesso que não lhe esperava a esta hora, ainda mais aqui no meu quarto! Entretanto é o que eu mais desejo...

- Quer que eu vá embora?

- Não!

O despertador continuou a tocar.

- Não! Não!

Hermione acorda decepcionada.

- Era só um sonho... Que ódio! Ele tinha que me ver chegar ontem à noite, e provavelmente me viu beijar o colega. Se eu o conheço bem, vai me ignorar por meses novamente. O que eu faço?

Ela se levanta e toma um banho demorado para tentar relaxar. Pega seu celular e liga para sua mãe.

- Mamãe, preciso da sua companhia hoje. Você pode vir almoçar comigo?

- Sim, filha. Normalmente ajudo seu pai nas segundas e quintas... Mas posso deixar para ir amanhã no consultório.

Assim que Hermione terminou de tomar seu café, Anne encosta o carro em frente à casa. Severo escutou o barulho e foi se certificar quem era.

- Essa garota me deixa maluco. O que eu faço? O cara de ontem deve estar flertando com ela. Pelas barbas de Merlin, me sinto um adolescente de novo. Ah, é a mãe dela, ainda bem. Vou terminar as poções de última hora que a madame Pomfrey me pediu. Penso nisso depois.

Doce ilusão que Severo pode se programar em quando pensar na Hermione. Desde que ajudou Anne Granger com as compras, mas o seu inconsciente lhe dizia que foi muito antes disso.

Enquanto isso, na casa ao lado...

- Obrigada por ter vindo, mamãe. Chegou rápido!

- Não precisa agradecer, Hermione. Você é minha única filha, virei sempre que precisar. E neste horário o trânsito melhora, o pico é por volta das oito da manhã.

- Papai está bem?

- Sim, acabei de deixá-lo no consultório. Mandou um beijo para você, e um recado: está te esperando no domingo para almoçarmos juntos!

- Irei com certeza!

- Hermione me fala logo... Sei que aconteceu alguma coisa, percebi na sua voz.

- Incrível, você me conhece melhor do que ninguém! Vamos fazer um chá e se sentar na sala. É uma longa história.

- Então pode começar, enquanto preparamos o chá. – Anne já coloca a água para ferver na jarra elétrica.

- É sobre o vizinho ao lado...

- Vocês se conheceram? O que você achou dele?

- Ontem eu estava indo à farmácia para comprar um medicamento para Edelweiss e esbarrei nele sem querer, na calçada.

- E?

- E, que ele me xingou...

- Sério? E você?

- Eu desmaiei... Ao menos ele teve o bom senso de me segurar, e não me deixou cair no chão.

- Filha! Você ainda está fraca, precisa ir ao médico fazer alguns exames... Tem certeza que não está grávida?

- Não estou grávida, não é nada disso, mamãe... Eu o conheço, ele foi meu professor em Hogwarts. Você não pode imaginar a minha surpresa...

- A ponto de desmaiar? Estou bem preocupada...

- Ele foi considerado morto no mundo bruxo. Eu o vi morrendo durante a guerra.

- Não vai me dizer que ele é aquele professor que você se apaixonou quando era adolescente?

- O próprio... Eu o amo tanto, mamãe...

- Ele está casado? Se estiver, eu sinto lhe dizer que...

- Não, não está... ele nunca se casou.

- Ainda bem. O chá está pronto! Quer que eu sirva as xícaras? – Anne pergunta.

- Mãe, traga a bandeja. Vamos nos sentar na sala, é mais confortável!

- Eu lembro que você já me contou sobre ele, aliás várias vezes. Todas as vezes que você vinha passar as férias em casa. Severo, é esse o nome dele, não é?

- Pois é ele mesmo. Ele foi picado por uma cobra venenosa em plena guerra e não tínhamos como providenciar antídoto em meio a feitiços cruzados e maldições imperdoáveis. Eu, Harry e Rony vimos ele ensanguentado e praticamente morto. A fênix do antigo diretor tem lágrimas curativas e salvou a vida dele. Depois a diretora, a professora Minerva que você conheceu, aquela que trouxe minha carta... Lembra?

- Sim, uma senhora muito educada.

- Ela o levou ao hospital de bruxos e ele ficou internado por meses. Ninguém sabia que ele sobreviveu, somente a diretora. Foi por isso que eu me casei... Se eu soubesse que ele estava vivo... – As lágrimas já começam a cair.

- Não chore, filha. Se ele não é casado e você ainda o ama, terá todo o tempo do mundo para conquistá-lo!

Hermione toma um gole grande do chá para aliviar o nó na garganta e conseguir falar.

- Ontem conversamos um pouco e nós nos beijamos.

- Nossa, mas já? Então por que está chorando? Ele gosta de você.

- Porque eu não consegui aparatar ontem de noite, havia muitos alunos em volta e aceitei a carona do meu colega, o professor de bioquímica. Severo me viu chegando de carona...

- Qual o problema nisso?

- Ele me viu beijando o colega...

- Hermione? Você tem que se decidir...

- Foi no rosto, para agradecer a carona, mamãe... mas sei que ele já deve estar pensando coisas... Droga!

- Ele irá entender que não foi nada. Vocês marcaram de se encontrar?

- Não. Este é o problema. Ele vai ficar enfurnado no porão da casa dele, é onde ele trabalha. Duvido que ele vá me procurar.

- Então vá até ele e se explica... Leve um doce, alguma coisa que ele goste.

- Que eu saiba ele não gosta muito de doces...

- Então leve uma pizza no sábado. Vocês podem conversar até tarde.

- É uma boa ideia. Na verdade, eu queria ir hoje falar com ele... Quem sabe eu o convido para almoçar? Você me ajuda com o almoço?

- Claro! Vamos voltar para a cozinha! Vai me falando mais sobre ele...

- Ele foi meu professor por quase sete anos. Somente quando esteve internado que não deu aula, e todos nós pensávamos que estava morto... Ele é um homem muito reservado. Difícil de lidar, porque tem um passado bastante pesado. Acho que já lhe contei sobre isso...

- Sim. Mas por que a professora Minerva não disse que ele estava se recuperando no hospital? Evitaria parte dos pesadelos horríveis que você teve depois que a guerra acabou.

- Porque ele não deixou. Mãe, eu era a ministra e não foi falta de buscar informações. Eu ainda vou encontrar com a professora Minerva. Ela vai ouvir, se vai!

- Hermione, o passado não pode ser mudado, mas você pode fazer um futuro melhor. Não deixe este rancor estragar a amizade entre vocês. Ela somente obedeceu às vontades dele.

- É, mas... eu não me casaria se soubesse que ele estava vivo... Foram quatro anos aturando o Rony, que queria ter logo filhos, e eu sofrendo porque meu coração estava em luto.

- Eu entendo que foi bem estressante a separação, por isso você quis deixar tudo para trás e vir morar aqui, mas e ele? Por que também deixou o mundo mágico para vir morar em Londres?

- Porque ele não quis ir para Askaban, que é o pior tipo de cadeia que você possa imaginar. Bruxos que cometem crimes ficam lá até serem julgados. Se inocentados são libertados, caso contrário, acabam morrendo logo devido aos maus tratos.

- Que crime ele cometeu, Hermione? – Anne desliga a batedeira e olha espantada para a filha.

- Eu não lhe contei porque tinha certeza de que era inocente, mas ele matou o diretor Alvo Dumbledore.

- Oh! E você o ama? – Anne chegou a se sentar na cadeira, a cor fugiu do seu rosto, os olhos em midríase. - Filha, você tem certeza que quer ter um relacionamento com um assassino?

- Não fale assim, mamãe... Ele não é assassino.

- Bom, então matou sem querer durante a guerra?

- Não, quase um ano antes da guerra. É que o diretor estava condenado por causa de um anel amaldiçoado que ele colocou no dedo. Severo fez inúmeros contrafeitiços e poções, mas só conseguiu prolongar um pouco a vida.

- Não estou entendendo. Por que ele matou, se estava tentando ajudar? Por acaso foi eutanásia?

- Pode se dizer que sim. Foi o último pedido do diretor, assim o lado das trevas confiaria ainda mais na lealdade dele. Que ele foi duplo espião, eu lhe contei, não é?

- Sim, ele teve muita coragem. Nossa, você tem razão quando disse que ele tem um passado pesado. Pobre homem. Deve ser bem solitário. Desde já torço para a felicidade de vocês, minha filha. Não pode ser só coincidência vocês serem vizinhos.

Anne consegue respirar direito novamente, e termina de preparar a massa do rocambole salgado. Hermione termina o recheio, e liga o forno para pré-aquecer.

- Mãe, você acha que ele gosta de mim?

- Bom, ele te beijou, não beijou?

- Foi tão inesperado, quer dizer... na verdade esperei anos para receber um beijo dele... Como foi o primeiro beijo com o papai?

- Seu pai era muito tímido. Ele sempre me procurava para pedir meu caderno emprestado. Eu emprestava, porque já estava de olho nele desde o primeiro ano da faculdade. Não lembro qual semestre, acho que no penúltimo, que ele foi mal na prova de propedêutica clínica odontológica e estava bem aborrecido. Eu me ofereci para estudar com ele. Quando terminamos de rever a matéria, eu o beijei.

- E ele?

- Ficou surpreso com a minha iniciativa, mas adorou! Então começamos a namorar!

- Vocês foram bem naquela prova?

- Sim, ele ficou dentro da média, e eu fui a única que gabaritei! – Ela sorriu com as lembranças. - Meus colegas ficaram decepcionados, porque fiz com que a média da turma aumentasse. O professor aprovava apenas alunos com as notas igual ou acima da média, e não seguia a média regulamentada pela universidade.

- Tem o lado bom e ruim nisso.

- Como tudo na vida, Hermione. Seu casamento com Rony também teve seu lado bom, você amadureceu bastante nestes últimos anos. Você vai ver que seu próximo relacionamento será bem mais duradouro. E torço para que seja com seu vizinho, é um homem maduro, responsável. Por falar nele, o que mais você quer fazer de almoço para ele?

- Hum, vejamos... arroz, salada, o rocambole... O que mais você sugere?

- Pode ser lentilha? Eu já coloco para cozinhar, e vou lavando as verduras. Quando tiver tudo pronto, vou embora e vocês almoçam sozinhos.

- Não vai, não... Fique. Almoce com a gente e depois você vai. Preciso estar na faculdade somente às 19 horas, hoje é dia de prova. Vou ter bastante tempo para ficar com ele.

- Como você vai convidá-lo? Ele tem telefone?

- Provavelmente não. Vou mandar a Edelweiss.

- Vá até lá, e o convide pessoalmente. Assim ele não vai poder recusar.

- Tem razão. Vou me arrumar um pouco.

Hermione subiu, foi para seu quarto e trocou de roupa. Prendeu seu cabelo num lindo rabo de cavalo, e passou perfume antes de descer.

- Está linda, filha!

- Já volto.

Hermione tocou a campainha e aguardou. Nada dele aparecer ou olhar pela janela. Tocou novamente. As janelas todas fechadas. – Será que ele saiu? Ou está no porão trabalhando e não escuta? Diacho!

Ela voltou para casa, com uma leve expressão decepcionada em seu rosto.

- Ele não estava? – Anne logo viu pela carinha dela.

- Não. Vou mandar meu patrono. Assim ele vai ver quando chegar.

Hermione tentou três vezes, mas o patrono dela sempre retornava com a mensagem, sem conseguir ultrapassar a barreira de proteção que Severo colocou por toda a casa.

- Eu sabia que ele ficaria chateado... Deve estar me ignorando.

- Não tire conclusões precipitadas, Hermione. Vocês são vizinhos, logo se encontrarão por acaso novamente.

Elas terminaram de preparar o almoço e almoçaram sozinhas. Hermione comeu sem vontade, não poderia fazer desfeita.

- O que você quer fazer de tarde? – A mãe pergunta para animá-la.

- Não sei. Não tenho nada em mente. - Nem vontade de fazer nada.

- Vamos juntas lá no consultório do seu pai? Me ajuda a colocar em ordem as fichas dos pacientes, pode ser? Ele comprou um programa novo para o computador, mas estamos com dificuldade para implantar.

- Está bem. - Melhor do que ficar aqui sozinha, olhando pela janela para ver algum movimento. – Pensou.

A tarde se arrastou. Hermione ficou feliz em poder ajudar. Embora nunca tivesse instalado qualquer programa de computador parecido, o uso da varinha mágica fez tudo num passe mágico. Sem contar ter a companhia de seu pai, entre um paciente e outro. Ele, sempre brincalhão, lhe fez rir e esquecer um pouco sua melancolia.

Hermione chegou meia hora antes de iniciar a prova. Os alunos a cercavam assim a que viram sair do banheiro feminino. Local preferido para aparatar sem ser vista.

- A prova está fácil, professora? – Eles queriam saber.

- Para mim, está... Se vocês estudaram, vão achar fácil também!

- Prof. amanhã é sexta, o dia da nossa festa! Festa da engenharia química, será na danceteria da avenida. Todos os professores do departamento de química estão convidados. Você vai, né? – O rapaz loiro piscou para ela.

- Vou pensar.

- Diz que vai... – O outro rapaz que estava próximo lhe dá dois tapinhas nas costas.

- Vai, sim! – A namorada dele insistiu.

- Vamos estar lhe esperando! – Sua melhor aluna lhe disse com o olhar meigo.

Os alunos da disciplina de química que estavam no corredor, pararam para ouvir o que a professora nova iria dizer. Para eles era de vital importância que a professora jovem se tornasse amiga deles.

- Pode deixar, galera. Eu a levarei! Não sei como ainda, mas vou conseguir convencê-la! – O professor Roberto de Bioquímica estava à espreita e saiu de trás da multidão que se formou.

- Com licença, vou pegar as provas de vocês. Me esperem no auditório, ok?

Hermione sorriu, e saiu de fininho em direção a sua sala. O professor Roberto foi atrás dela.

- Estava falando sério. Vamos juntos na festa? Posso lhe pegar na sua casa, se quiser...

- Agradeço, mas irei com meu namorado. Caso ele não queira ir, não irei.

- Namorado? Você me disse que recém se separou... Eu pensei que estivesse sozinha...

- Bom, você não me perguntou...

- Sem querer ser intrometido, mas por acaso este namorado foi a causa do divórcio?

- Não... – Ela riu, afinal como iria explicar que indiretamente sim?

- Mas... Ele é daqui da universidade? – Roberto não se conformava que ela já tinha alguém. Gostou dela logo que foi apresentado. Ofereceu carona várias vezes e ela só aceitou recentemente, lhe dando esperanças. Agora ela lhe joga um balde de água fria.

- Ele foi meu professor... Mas está aposentado.

- Caramba, Hermione... Você tão jovem namora um coroa? – Roberto não conseguiu segurar a língua.

- Ele é... deixa para lá, você não entenderia mesmo... – Ela riu e saiu com as provas na mão.

Naquela noite Roberto não ofereceu carona, e Hermione não aceitaria de qualquer forma. Ao aparatar próxima à sua porta de casa, ela deu uma espiada na janela do vizinho, mas estava fechada e todas as luzes apagadas.

- Droga, queria falar com ele, precisava ao menos vê-lo...

- Piu.

- Certo, Edelweiss, não me esqueci de você. Mas antes de sair para caçar, quero que me faça um favor. Encontre um jeito de entregar um bilhete para o vizinho, sim?

Hermione abriu o viveiro e a coruja pacientemente esperou até que ela escrevesse e colocasse o pergaminho preso na sua patinha.

- Boa, menina. Agora vá! Não precisa esperar por resposta, está bem?

- Piu.

- Não sei se ele vai ir... ao menos convidei.

Severo,

Meus alunos me convidaram para a festa da engenharia química, que será amanhã na Danceteria Avenida, que fica na avenida principal da universidade. Inicia às 22 horas. Saio da minha última aula e vou direto. Adoraria lhe encontrar lá. Beijos HG

Hermione estava confiante, sua intuição dizia que Severo iria sim na festa. Afinal, ele lhe beijou. Se realmente ficou enciumado por causa da carona, o convite chegou em boa hora para reaproximá-los. A conversa que teve com sua mãe também lhe fez bem, ela conseguiu dormir assim que colocou a cabeça no travesseiro.

Já o vizinho ao lado, leu e releu o pergaminho vária vezes. Não conseguindo dormir, ele coloca o roupão por cima do pijama e vai para a sala. Se senta em sua poltrona favorita com uma dose de absinto na mão.

- Por que resolveu me atormentar, Granger? – Ele perguntou para o vazio.

A bebida desceu redonda, e minutos depois quando deixou o copo em cima da mesa, seu corpo já estava relaxado e sua mente mais coerente, por incrível que pareça. Ele sabia que Hermione era jovem, atraente e com uma inteligência muito acima da média. Em qualquer ambiente ela certamente atrairia a atenção, não foi surpresa saber que um dos professores da universidade já estava interessado nela.

Suas experiências anteriores com mulheres lhe deixavam completamente inseguro, e com Hermione não seria diferente. Ele se sentia inseguro, principalmente pela grande diferença de idade, mas ela lhe disse que o amava. Precisava lembrar disso para controlar seus ciúmes se não quisesse colocar tudo a perder. Ao se deitar naquela noite já estava decidido a ir na festa para se aproximar dela.

Pela manhã, Hermione acordou animada. Depois do banho até separou a roupa que irá usar à noite na festa dos seus alunos. Ela queria se sentir sensual pois tinha quase certeza que Severo iria aparecer na festa.

Enquanto tomava café, fazia planos de como queria que sua noite terminasse. Sabendo que Severo não conhecia ninguém e provavelmente não gostaria de ficar muito tempo, eles tomariam um drinke e depois aparatariam na casa dela ou na dele.

Pensando na possibilidade de passar a noite com ele em sua casa, a primeira coisa que fez após o café, foi ir até o seu quarto e trocar a roupa de cama. Fez faxina no quarto, banheiro da suíte e depois foi para a sala. Acabou limpando toda a casa e o viveiro de Edelweiss. Estava cansada quando terminou. Já era quase meio dia e foi almoçar no restaurante do bairro. - Pode ser que a gente se encontre. – Ela sabia que ele costumava frequentar o restaurante bem mais do que ela.

Severo acordou tarde, não tomou café e foi direto para o porão. Quando se sentia angustiado, o preparo de poções acalmava seus instintos e ele sempre se sentia melhor, mesmo que seus pensamentos divagassem e voltassem sempre para a sua vizinha ao lado.

Quando sentiu fome, tirou seu avental e foi caminhando até o restaurante, que estava quase fechando, mas ele conseguiu chegar a tempo. Naquele horário Hermione já tinha voltado e descansava no sofá da sala.

Hermione acabou cochilando e quase perdeu a hora. Queria entregar as notas das provas, mas não tinha corrigido nenhuma, porque passou a manhã limpando a casa com os pensamentos no bruxo mal-humorado de olhos ônix.

Quando acordou já estava anoitecendo. Vestiu sua calça jeans favorita, uma blusa e um blazer por cima. Colocou em sua bolsa o vestido e a sandália para a festa. Fez uma maquiagem discreta, não gostava muito de se maquiar. Pegou a pilha de provas, colocou em sua pasta e foi para a cozinha fazer um lanche. Depois aparatou no banheiro feminino do segundo andar, próximo a sua sala.

Ela enfeitiçou sua caneta para ser mais rápida, e até o horário da sua aula já havia corrigido todas as provas. Estava satisfeita com o rendimento da turma, e satisfeita com a sua vida também. Exceto a questão amorosa, que estava uma bagunça, aliás sempre foi. Só em pensar em Severo Snape, ela sentia borboletas no estômago.

- Prof. libera a gente mais cedo para irmos à festa? – Um aluno levantou o braço e pediu.

- Assim que bater o sinal. A festa só começa a partir das vinte e duas horas, então vocês têm tempo para copiar a matéria nova do quadro! Vou passar e entregar a prova corrigida de vocês. A turma toda está de parabéns – Hermione respondeu.

Estava ciente que ninguém colou, porque ela enfeitiçou o papel. Se alguém fosse desonesto, o papel ficaria vermelho. Quando terminou de entregar a última prova, o sinal bateu.

- Estão dispensados! Nos encontramos na festa.

- Vai ter chamada na festa?

- Quem for ganha pontos para a próxima prova?

Alguns alunos faziam estas perguntas para brincar com ela.

- Vou pensar no caso. – Hermione respondeu sorridente. Foi para o banheiro com a bolsa para trocar de roupa.

A danceteria ficava perto, muitos alunos estavam indo a pé. Hermione preferiu aparatar quando todos saíram do corredor. Ela não queria estar suada ao se encontrar com Severo.

Ela aparatou no banheiro do estabelecimento. Deu mais uma conferida em seu cabelo e foi para o barzinho esperar por Severo.

Minutos depois Roberto lhe aborda.

- Está linda, Hermione!

- Obrigado!

- Se seu namorado não se importasse, eu lhe pagaria uma bebida. Aliás, onde ele está? Estou curioso para conhecê-lo. – Era uma verdade, Roberto nem dormia direito angustiado por não ter tido a chance de conquistar a professora nova.

- Agradeço, mas eu já pedi minha bebida. Ele deve estar estacionando o carro ali fora. Está demorando porque o estacionamento já está cheio. Não sei se vai conseguir lugar perto.

- Ah, sim. Eu deixei meu carro na faculdade. Aqui nas sextas-feiras sempre lota.

O garçom entregou o cálice de amarula com gelo para Hermione. Roberto pediu um também. Hermione não queria que seu colega ficasse tão próximo a ela, virou-se para observar todos que entravam na porta principal. A cada gole sua angustia aumentava. – Será que ele não vai vir? – Era sua principal dúvida.

Quando estava quase no final da sua bebida, e Roberto na metade da bebida dele, os rapazes da turma pegaram a mão de Hermione.

- Venha dançar, prof.! – Ela nem hesitou em terminar sua bebida. Foi a melhor desculpa para sair de perto de Roberto.

A música era uma balada com ritmo gostoso para dançar sozinha. Hermione viu quando Roberto bebeu o restante num só gole e foi para a porta da frente.

Roberto observava cada um que chegava. A maioria eram alunos ou professores. Ele conhecia todos. Não demorou muito para ele deduzir que o homem alto, vestido de preto era o namorado de Hermione. Roberto o aborda logo na entrada.

- Com licença, senhor... Eu trabalho com a Hermione. É você o namorado dela?

Severo Snape odeia ser abordado em público, por isso resmunga uma resposta ininteligível, quando sua vontade era mandar o rapaz pastar.

- Com licença, sim?

- Espere... – Nossa, eu só queria conversar um pouco. Saber o que ela viu nele...

Severo se afastou, e logo que entrou viu Hermione dando um show na pista de danças.

Hermione viveu por muito anos no mundo mágico, não tinha noção de como dançar nas festas trouxas, por isso depois que se vestiu no banheiro ela pegou sua varinha da bolsa e lançou um feitiço. Sua dança era sensual e chamava a atenção do público, principalmente do púbico masculino. Assim que Hermione viu Severo entrando, seus olhares se cruzaram e ela fez sinal para ele também entrar na dança. Severo nunca gostou de ser o centro das atenções, virou o rosto e saiu no mesmo instante que entrou. Hermione esperou a música terminar e saiu. Ela não sabia em qual ponto escuro ele aparatou. Só sabia que ele não estava mais lá fora. Foi para atrás de uma árvore e aparatou no portão da casa dele.

- Severo, você já chegou? Podemos conversar? – Ela falava com o botão do interfone ligado.

Por incrível que pareça, a porta se abriu e Severo com um rosto bem pálido lhe respondeu de onde estava.

- Desculpe, não me sinto bem. Amanhã a gente conversa.

- O que você tem? Eu posso ajudar?

- Amanhã, Granger. Boa noite.

Severo fechou a porta e Hermione foi para sua casa com lágrimas nos olhos.

- Droga, que homem difícil.

Continua...