Capítulo 9 – A briga

Domingo amanheceu chovendo. Os pingos da chuva no lago era um convite para permanecer mais um pouco na cama. Severo como sempre, acordou antes de Hermione, foi ao banheiro e voltou logo. Ela sentiu frio quando ele saiu de perto, e assim que voltou se enroscou sonolenta nos braços e pernas dele.

- Sei que está acordada. Vamos tomar café com a Minerva? Aposto que ela está nos esperando.

- Hum... não é muito cedo?

- Oito horas. O café da manhã aos domingos encerra às oito e quarenta e cinco, ou já se esqueceu?

- Só mais um pouquinho, sua cama é muito gostosa. E você também! – Ela acrescenta, aconchegada ao lado dele. Queria que aquele momento durasse um pouco mais.

- Podemos voltar mais vezes. Você ouviu ela dizer que Hogwarts é nossa casa?

- Sim, mas você também ouviu que ela não quer nos ver de agarramento pelos corredores? – Hermione comenta rindo.

- Até parece que vou me comportar como um adolescente apaixonado, em busca de lugares sombrios pelo castelo. Se bem que, de tanto fazer as rondas à noite, descobri lugares bem criativos, melhores até que a sala precisa! – Ele riu.

- É um convite? – Hermione pergunta maliciosamente.

- Minha bruxinha fogosa, só se viermos morar aqui no futuro... Enquanto somos visita, temos que nos comportar!

- Eu fiquei boba quando ela ofereceu o quarto de casal para hóspedes, mas se eu preferisse ficar na masmorra com você, que ela não iria se importar. Minerva está se modernizando!

- Eu diria que ela está fazendo chantagem emocional para virmos trabalhar e morar aqui.

- Vamos dizer a ela que precisamos de tempo para pensar.

Severo a abraça.

- Precisamos de tempo para nos casar! Você quer se casar comigo? – Severo pergunta preocupado, incerto sobre o que ela responderia. Afinal, seu casamento com o ruivo foi um fracasso.

- Se quero? É claro que sim! – Ela o beija na boca.

Após se saciarem com um beijo longo, ele volta a perguntar.

- Vamos tomar café?

- Sim, vou me arrumar. – Ela lhe dá outro beijo, pega as roupas da poltrona e vai para o banheiro. Na volta, Severo já estava com suas vestes, de forma impecável. Todos os botões abotoados.

- Você usou magia, por isso terminou antes! – Ela faz cara de quem foi trapaceada.

- Você não? Deveria, lhe asseguro que é mais rápido e o resultado é igual ou melhor.

- Severo, estava pensando... podemos aproveitar esta manhã, já que estamos aqui, para pegar umas mudas de plantas na floresta proibida. O que você acha?

- Na chuva eu não vou. Só se parar de chover.

- Hum... nem com feitiços e guarda-chuvas?

- Não. Você acha que quero repetir suas aventuras malucas quando foi aluna? Ou você me acha parecido com seus amiguinhos?

- Não, absolutamente não! – Ela riu.

- Pode ter certeza que ultimamente minhas aventuras são bem mais prazerosas! – Ele a olha dos fios de cabelo, agora penteados, se prende no decote do vestido, segue até o salto da sandália, com um brilho sedutor no olhar. Hermione ruboriza e pega na mão dele para subirem as escadas em espiral.

Eles entram de mãos dadas no salão principal. Alguns professores que ainda não sabiam do relacionamento deles começaram a cochichar baixinho. Os que sabiam sorriram para eles. Minerva estava terminando de tomar uma xícara de chá, enquanto os aguardava para tomar café juntos.

- Bom dia! – Hermione beija o rosto da Minerva.

- Bom dia, querida! Dormiram bem?

- Sim, e essa chuvinha mansa é tão bom para dormir...

- Vocês pensaram na minha proposta? – Minerva estava ansiosa para saber a resposta. De noite quando conversaram, ela chegou até a falar de salários. Hermione ficaria como diretora da casa Grifinória, e daria a direção geral para Severo, ficando como vice.

- Prometemos pensar com carinho. – Hermione respondeu, se servindo do farto café.

- Eu pensei que pensariam durante a noite, mas entendo. A noite estava convidativa para outras coisas. – Ela riu percebendo que ambos ruborizaram. - Pode não parecer, mas eu também já fui jovem, e me casei duas vezes!

- Não podemos responder logo, Minerva. Antes de qualquer coisa, nós vamos nos casar. E será nesse ano ainda. Você será minha madrinha! Se importa de fazer par com Lucio? – Severo pergunta.

As duas se olham, mas compreendem que Lucio sempre foi amigo dele. Era o único comensal que Severo confiava, e que muitas vezes lhe trouxe desmaiado após as rodadas de cruciatus, quando o Lord resolvia punir alguém.

- De modo algum. Se Narcisa não se importar... – Minerva responde com sorriso maroto.

- Olha, parou de chover! – Hermione exclama, se controlando para não dar pulos da cadeira.

- Minerva, precisamos de algumas mudas de plantas raras que tem na floresta proibida. Agora que a chuva parou, posso pegar?

- Claro que sim. Não precisa nem pedir, Severo. Vou chamar Hagrid para lhe ajudar.

Eles terminam o café, e logo Hagrid chega.

- Mandou me chamar, professora MacGonagall?

- Sim, Hagrid. Por favor, acompanhe Severo na floresta proibida. Ele precisa coletar umas mudas de plantas medicinais para as poções da escola.

- Com prazer. Vamos, professor?

- Ei, eu também quero ir! – Hermione se levantou. Não queria deixar este passeio para trás. A floresta proibida era riquíssima na biodiversidade, e ela estava sempre disposta a aprender algo novo.

- Filha, pensei que gostaria de tomar um chá comigo, enquanto eles trabalham.

- Venha, Minerva, vamos também. Deixa o chá para depois. Acabamos de tomar café. Vai ser divertido! – Ela pega na mão da mais velha.

- Oh, sim. Se você chama de divertido sujar os sapatos e as roupas na terra e nas plantas molhadas...

- Vamos conjurar botas de borracha e avental. Depois, nada que um feitiço de limpeza não resolva. – Hermione a tranquiliza.

Minerva e Hermione realmente se divertiram enquanto colhiam flores, sementes e folhas para chás. Hagrid ficou com o trabalho mais pesado, de retirar as raízes para fazer as mudas. Severo ficou responsável por identificar as plantas e acondiciona-las em plástico antes de colocar na mochila.

A manhã passou de forma muito agradável. Até Severo estava de bom humor e não reclamou quando Hagrid insistiu várias vezes para ele levar o arbusto inteiro de todas as plantas selecionadas, e não só as raízes.

- Meu quintal não é tão grande assim, Hagrid. Só as raízes, por favor.

Eles almoçaram no castelo por insistência de Minerva. Depois do almoço Minerva foi para seus aposentos tirar um cochilo, e o casal aproveitou para ir até a masmorra namorar. Ficaram até o chá das cinco horas. Minerva estava muito feliz com a visita deles. Seus olhos tinham brilho novamente. Ela sabia que se os dois aceitassem os cargos, Hogwarts voltaria a ter destaque no mundo mágico.

Depois do chá, eles se despediram. Minerva fez Severo prometer que voltaria mais vezes com Hermione.

O casal retorna para casa. De noite, eles voltam a conversar sobre a proposta.

- Sabe, acho que a Minerva tem razão quanto ao nosso lugar ser mesmo no mundo mágico! Bom, ao menos quanto ao meu lugar, já que não tenho família. – Sua voz saiu normal, não demonstrando tristeza ou pena de si.

- Agora tem, meu amor. Meus pais também são sua família.

Hermione o abraça emocionada, simplesmente por ele ser conformado por não ter ninguém.

- Obrigado. – Severo consegue sentir o coração aquecido pelo acolhimento.

- Minerva está sendo muito persuasiva. Eu tenho as aulas de química na faculdade, não posso abandonar minhas turmas.

- Sim, eu sei. Pensei que talvez no final do ano, ou no início do ano que vem. Eu posso preparar minhas poções aqui, ou no laboratório da escola... A vantagem de lá é que posso aproveitar os alunos em detenção, e os coloco para trabalhar!

- Severo... – Ela o repreende rindo.

- Por que, não? Pense numa forma melhor para exigir disciplina, dando oportunidade para os alunos relapsos praticarem mais?

- Tem razão! Poções exige muita prática! Eu estive pensando no que você me disse outro dia...

- E?

- Foi sobre continuar meus estudos, que você apoiaria. Queria cursar mestrado antes de ter a filha que você me pediu. Você fez mestrado, não é? Sei que será ótimo para a minha carreira.

- Eu vou ter mais orgulho ainda de você! Só por favor, não escolha aquele seu colega como orientador.

- Por quê? Tem ciúmes dele? Severo, você sabe que é único! – Ela começa a beijá-lo. No início ele tentou impedi-la, mas as carícias dela logo o faz mudar de ideia, quando sente sua ereção falar mais alto. Eles acabam adormecendo após se extasiarem.

De volta a rotina em relação ao dia a dia, as atividades profissionais dos dois, e em relação ao hábito alimentar, eles já se sentiam bem adaptados a conviver juntos. Desde que se separou, Hermione sentia falta de companhia principalmente à noite. Severo acostumado a anos de solidão pensou que iria estranhar ou perder sua liberdade, mas ter Hermione ao seu lado foi surpreendente. Até então, não haviam brigado, nem mesmo discutido.

No meio da semana, Severo esperou Hermione aparatar para a faculdade, pegou sua sobrecasaca e aparatou em Hogsmeade. Foi caminhando até o estabelecimento Três Vassouras. No caminho foi abordado por três bruxas e mais adiante por dois jovens que lhe pediram autógrafo. Ele contou até três para não azarar ninguém, e acabou assinando os pergaminhos. Estava de bom humor, afinal era um herói de guerra. Além do mais, precisava estar preparado psicologicamente para enfrentar sua ex amante.

Logo que entrou no restaurante, Rosmerta foi ao seu encontro com lágrimas nos olhos. Ela queria muito pular no pescoço dele e encher de beijos, mas se conteve. Naquele horário só havia alguns bruxos bebendo, que nem iriam reparar. Ela sabia o quanto seu amante era reservado, por isso preferiu frear seus impulsos.

- Severo... eu não acreditei quando vi sua foto na capa do jornal. – Ela disse já soluçando.

- Podemos conversar num local mais apropriado? – Ele pergunta olhando em volta. Havia somente aqueles bruxos bebendo no balcão. As mesas estavam vazias.

- Claro, vamos subir. Você quer beber alguma coisa?

- Não, obrigado.

- Me conte, como conseguiu sobreviver? Todos pensávamos que estava mesmo morto. Por que ficou tanto tempo longe do nosso mundo? Eu li a matéria no jornal, mas eles escreveram um pequeno resumo.

Ela enxuga o rosto com o avental, e Severo retira seu lenço do bolso e lhe oferece, assim que chegaram na sala.

- Por que as mulheres adoram metralhar os homens de perguntas? – Ele pergunta com profunda curiosidade, seguido de um sorriso zombeteiro.

Rosmerta usa o lenço desta vez, e o abraça. Severo não impediu, apenas disse:

- Podemos sentar?

- Sim, claro.

- Antes de responder todas as suas perguntas, Rosmerta, quero lhe dizer que independente de como você reaja, saiba que sempre poderá contar comigo como um amigo.

Ela olha ternamente aqueles olhos ônix.

- Eu senti muito a sua falta. Lembro que você me disse na última vez, que talvez fosse nosso último encontro, porque a batalha estava prestes a acontecer.

- Eu disse a verdade. Não havia garantia nenhuma que eu saísse vivo, e depois...

- Sim?

- Bem, depois... lembra do que lhe disse se eu sobrevivesse? Disse que não iríamos mais nos encontrar.

- Severo, por quê? – Ela o encara manhosa, com os olhos apaixonados ainda. - Eu não tenho culpa de gostar de você.

- Rosmerta, eu nunca quis machucar você. Nosso relacionamento era para ser só sexual. Eu me afastei, porque percebi que estava se afeiçoando demais a mim, e eu não podia corresponder.

- Eu nunca lhe pedi isso. Podemos voltar como nos velhos tempos. Não me importo que apareça só de vez em quando.

- Eu não posso.

- Por quê?

- Quero que entenda, não é nada contra você, mas eu já não sou mais o mesmo.

- Não estou lhe entendendo. Você parece mais sereno. E agora seria ainda melhor sem as ameaças das trevas.

- É que eu estou noivo e vou me casar em breve.

- NOIVO? – Seu coração bate erraticamente, seus olhos voltam a lacrimejar.

- Sim, a moça com quem vou me casar salvou a minha vida. Literalmente devo a minha vida a ela. Vou lhe contar desde o início...

Severo pigarrearia e começa a narrar.

O castelo estava sendo atacado pelo Lord das trevas e todos os seus seguidores. Eu fui atacado pela cobra venenosa dele, e estava morrendo. Já não tinha mais esperança, não conseguia mais respirar, estava com uma grave hemorragia, sem contar o efeito do veneno sendo espalhado rapidamente pelo meu corpo. Três dos meus alunos passavam no local naquele exato momento e me viram caído, morrendo aos poucos. Potter coletou minhas lembranças para serem usadas no tribunal. Eu não queria morrer como um assassino. Tinha certeza que qualquer um que as visse, me inocentaria da morte do diretor.

- Eu sempre soube que você era inocente. Lembro que você bebeu muito naqueles dias. Passou mal a semana toda, e eu lhe dava chá para ressaca.

- Agradeço toda a paciência que teve comigo naquela época. Até hoje não superei completamente a morte dele, mas continuando...

A minha ex aluna se abaixou quando os outros dois já estavam longe, e disse que me amava. Ela lamentava não poder fazer nada, pois não havia mais tempo. Ao ouvir a declaração dela, algo dentro de mim me dizia para não desistir. Foi então que a Fawkes, a fênix de Dumbledore chegou até a mim, e com suas lágrimas curativas fechou a ferida, estancando a hemorragia. Eu acabei desmaiando de fraqueza. Minerva McGoanagall me encontrou e aparatou comigo no hospital. Segundo ela, eu fiquei em coma por cinco meses. Quando acordei, fugi do hospital porque queriam que eu permanecesse por mais tempo.

- Nossa, Severo! Não deveria ter fugido.

- Eu fiz a diretora prometer que não contaria nada a ninguém. Para o hospital eu morri, pois nunca encontraram meu corpo. Me mudei para Londres e estou morando lá. Esta minha ex aluna se casou, se separou. Eu nunca mais a vi, desde aquele dia. Até que alugaram a casa ao lado da minha. Para minha surpresa, ela agora é a minha vizinha.

Rosmerta ficou pensativa por um tempo, tentando assimilar tudo que ouviu.

- Você a ama?

- Sim, muito. Ela me fez ver que sou humano, com minhas falhas, meus erros, mas que mereço uma segunda chance.

- Em partes fico feliz por você.

- Obrigado.

- O que ela faz atualmente?

- Leciona na universidade trouxa.

- Ela deve ser intelectual como você. Desejo sua felicidade, Severo! Quer jantar comigo?

- Vou aceitar. - Ela chega tarde, seu período de aula vai até as dez da noite. - Pensou.

- Ótimo! Venha, vamos descer e comer numa mesa mais afastada. Nas segundas o restaurante fica quase vazio.

Ao se sentarem, o funcionário prontamente se apresenta para servi-los.

- Charles, primeiramente traga uma garrafa de champagne.

- É para já, senhora!

- Pode ser? Vamos brindar à sua vida! Depois pedimos vinho dos elfos, sei que você gosta. O que você vai querer de janta?

- Qualquer coisa.

- Tem cordeiro assado, batatas, saladas... Vou até a cozinha pedir para servir do jeito que você gosta. Já volto.

Enquanto Severo ficou ali sentado sozinho, aguardando a Rosmerta voltar, pensou em Hermione. Sabia que não iria se importar, afinal ele já estaria em casa quando ela chegasse.

Hermione não chegou a terminar seu primeiro período de aula, o coordenador do curso entrou na sala pedindo para dispensar os alunos para assistir ao seminário de química, no auditório. Ela chegou a ir, ficou somente na primeira palestra. No intervalo, sentindo-se cansada, resolveu voltar cedo para casa.

Assim que chegou, entrou pela porta da frente com o feitiço de reconhecimento. A casa estava com todas as luzes apagadas, ela estranhou.

- Severo? – Ela chamou, mas não houve resposta.

- Deve estar no laboratório até agora. – Pensou.

Hermione subiu, trocou de roupa. Escolheu um pijama confortável. Colocou os chinelos e desceu no porão. Estava com as luzes apagadas. Ela acendeu.

- Severo, você está aí? – Nenhuma resposta. – Onde ele se meteu? Será que saiu para comprar alguma coisa?

Hermione vai até a cozinha na esperança de encontrar algo já pronto para comer, ou ao menos algum bilhete. Ela escuta a Edelweiss piando e sacudindo as asas. Abre a porta dos fundos.

- Você ainda está aí? Severo não abriu para você sair? Espera, vou abrir. Pronto, pode ir se divertir, mocinha!

Hermione volta para a cozinha, abre a geladeira e prepara um sanduiche para ela. Coloca suco no copo, e se senta. Ao dar a primeira mordida, não sente gosto de nada, não tinha fome.

Os sentimentos dela variavam de raiva para preocupação. Ele nunca tinha feito isso antes, sair sem dizer nada. A ausência dele naquela casa era dolorosa. Embora soubesse que ele estaria bem, não deixou de se preocupar nenhum segundo.

Meia hora depois, ela abandonou de vez o copo pela metade e o sanduiche no prato com apenas uma mordida. Foi para a sala e pegou um livro. Não saiu da primeira página, porque as lágrimas banharam seu rosto e começou a pingar. Ela fechou o livro, deixando-o jogado no sofá. Subiu as escadas e deitou de bruços na cama, agarrada ao travesseiro chorando muito.

Severo terminou de jantar, comeu a sobremesa para não fazer desfeita. Agradeceu, e se despediu de Rosmerta antes de sair.

- Não suma de novo. Venha almoçar ou jantar com a sua noiva, eu não me importo.

- Vou vir. Você vai conhecê-la. Obrigado pelo jantar.

- Se cuida, Severo. – Ela ergue seu pé e o beija no rosto. Depois o acompanhou até a porta.

Severo aparatou da calçada até a porta da sua casa. Hermione escutou o barulho e correu para o banheiro para lavar o rosto. Ele encontrou o abajur da sala aceso, e entrou na cozinha. Viu o prato e o copo em cima da pia. – Ela já chegou.

Subiu as escadas, e de longe viu a luz no quarto. Ela ainda estava no banheiro tentando um feitiço que escondesse a cara inchada do choro.

- Chegou cedo! Tudo bem? – Severo perguntou ao se aproximar da porta do banheiro. Ela não respondeu. Estava escovando os dentes na hora.

- Oi! – Ele insiste assim que ela abre a porta. Hermione passa por ele sem encará-lo.

- Está tudo bem? Por que voltou mais cedo? Sua aula não vai até às dez? São nove e meia agora.

Ela suspirou resignadamente como resposta.

- É assim? Não vai mais falar comigo? – Ele ficou observando, preocupado. No fundo do seu coração uma dorzinha conhecida apertava o peito, o medo de perdê-la veio à tona. - E se ela pegar a mala e for embora? – Ele estremeceu com tal pensamento.

- O que você quer que eu fale?

- Pensei que ia me perguntar onde eu estive...

- Para quê? Eu não me importo onde você esteve, e com quem esteve... Contanto que me avisasse...

- Me desculpe. Eu tinha algo pendente, e resolvi sair de última hora.

- Um bilhete, Severo... bastava um bilhete.

- Eu sinto muito. Não queria lhe preocupar, e muito menos lhe encontrar assim...

- Ah, é? Queria que eu estivesse sorrindo, e feliz por saber que você estava com a Rosmerta?

- Como você sabe? Você leu minha mente?

- Não sou legilimence, e nem precisa... Suas vestes tem cheiro de perfume feminino.

- Você é muito boa no olfato, será uma excelente professora de poções! – Suas palavras foram de apreço, muito longe do seu habitual sarcasmo.

- Não desconverse. – Seu tom de voz era implacável.

- Sim, estive com ela e acabei jantando no Três Vassouras. Eu precisava falar pessoalmente sobre o nosso noivado, uma vez que todos já sabem que estou vivo.

- E depois do jantar, ficou para a sobremesa? – Ela ironiza.

- Bem, sim, mas por que me pergunta?

- Droga! Então fique com ela. Acho até que vocês combinam mais. Tem a mesma idade, ela é atraente, bem alta, você não precisa se encurvar...

- Não fala bobagem, Hermione! Eu amo você. Se eu tive algo com ela, faz bastante tempo. Antes mesmo da guerra. – Severo a segura firme pelo braço.

- Me solta!

- Não, eu estou lhe pedindo desculpas por não ter lhe avisado. Você teria ido comigo, se eu lhe chamasse?

Hermione engole em seco. Ele sabia que ela não iria.

- Não, claro que não! – Ela encara os olhos negros. Não saberia dizer quem estava mais magoado.

- Então... Eu agora sou totalmente livre das pendências do passado. Quero ser outro homem, e você tem me ajudado. Por favor...

Hermione o abraça com lágrimas nos olhos. Ele a segura pela cintura rodopiando feliz com ela no quarto. Sentiu um profundo alívio, afinal, não suportaria ser rejeitado mais uma vez. Severo senta-se na beira da cama com ela no colo.

- Eu te amo!

- Vocês transaram? – Ela pergunta sem rodeios.

- Não, por que esta pergunta?

- O cheiro do perfume.

- Ela me abraçou e chorou nas minhas vestes. Por isso o cheiro.

- Você disse que comeu a sobremesa...

- Sim, era pudim. Não quis fazer desfeita.

- Pensei que... deixa para lá... é coisa de trouxas.

Severo começa a acariciá-la. Ela vai se soltando aos poucos.

- Agora você sabe como eu me sinto em relação ao seu coleguinha. – Ele a faz rir.

- Eu te amo, Severo! Promete que não vai sumir sem me avisar?

- Prometo! E você me promete que nunca mais ficará sem falar comigo? Dói muito, Hermione. Prefiro ouvir sua enxurrada de perguntas!

- Vou lembrá-lo quando me fizer calar.

Ela o beija e vai se entregando nos braços do bruxo taciturno.

Esta foi a primeira briga séria do casal. Serviu para sentirem o quanto é doloroso ficarem afastados. Tanto Hermione, quanto Severo, admitiram sentir ciúmes. A partir daquele dia o laço entre eles ficou ainda mais forte.

No sábado pela manhã Severo manda Edelweiss, a coruja da Hermione, na mansão Malfoy, com o seu endereço anotado no pergaminho. No mesmo instante ele recebe a resposta com a caligrafia de Narcisa.

- Hermione, Lucio e Narcisa estão nos convidando para almoçar com eles.

- Hoje? – Ela pergunta surpresa.

- Sim, eles queriam que fossemos semana passada, mas tínhamos que estar em Hogwarts.

- Puxa, Severo... E eles sabem que estamos noivos? Tem certeza que 'me convidaram'?

- Não tive tempo de conversar com eles. Foi muito corrido lá no auditório, sem contar os inúmeros repórteres que queriam fazer perguntas. – Ele lembrou do sábado passado.

- É melhor eu não ir. Eles vão ficar surpresos, para não dizer em estado de choque. – Ela riu tentando imaginar.

- Bobagem, você agora é minha noiva. Quem fizer vistas grossas, perderá minha amizade.

- Justo hoje que a Gina está nos convidando para almoçar na casa deles?

- Nosso primeiro impasse. – Severo disse resignado.

- Você se importa, se eu for almoçar com a Gina? Ela vai querer saber sobre nosso namoro, e talvez não seja uma conversa interessante para você.

- Certamente que não será nada interessante! Eu por exemplo, não vou querer saber sobre o desempenho do Potter na cama. – Ele ironizou, e ela riu.

- Depois você me diz sobre a reação deles quando souberem que 'eu' sou sua noiva. Provavelmente perderá o amigo. – Ela sem querer também ironizou.

- Talvez não. Depois da guerra o mundo ficou melhor, Hermione!

- Se você diz...

- Ficou sim, eu fiquei melhor, porque tenho você! – Severo a beija apaixonadamente.

No final da tarde, Severo é o primeiro a chegar em casa. Hermione chega logo depois.

- Como foi na mansão dos Malfoys? – Ela o beija já perguntando.

- Vamos preparar um chá e se sentar. Vou lhe contar com detalhes!

- Assim que eu cheguei, Draco veio correndo no portão me abraçar com lágrimas nos olhos.

- Padrinho! Eu jurava que você estava morto. Não acreditei quando meus pais disseram que você foi ao ministério para receber a medalha da ordem de Merlin, primeira Classe. Eu queria muito ter ido, mas Astoria havia acabado de dar à luz. Entre, venha ver meu filho! – Draco me pegou pela mão sorridente.

- Padrinho? – Hermione o interrompe.

- Sim, eu e Bellatrix o batizamos. Quando aceitei, fiz o casal me prometer que não espalharia aos quatro ventos. Eu seria professor dele quando chegasse na idade de ingressar em Hogwarts.

- Por isso você o protegia...

- Vou ignorar seu comentário, Hermione. Ou já se esqueceu que eu protegia você e seus amiguinhos também? – Ele finge aborrecimento.

- Desculpe, mas eu estava me referindo a outro tipo de proteção. Tipo aceitar os rolos de pergaminhos incompletos, poções mal elaboradas. Brincadeiras na sala de aula com aqueles dois idiotas...

- Não pode me acusar de dar pontos para minha casa por isso... – Ele riu.

- Agora entendo. A relação entre vocês é mais forte do que eu imaginava. Me desculpe. Continue...

- Assim que cheguei na porta, Narcisa me abraçou e já perguntou de você.

- De mim?

- Que bom lhe receber novamente na nossa casa! Por que não trouxe sua noiva? Estávamos esperando por ela, não é Lucio?

Lucio acabava de preparar um drinke e me abraça.

- Severo, você parece mais jovial! Está até mais elegante! Deve ser obra da senhorita Granger!

- Mas como? Como vocês souberam?

- Eu olhei abismado para um e para o outro. Foi então que Narcisa me respondeu com um sorriso.

Severo automaticamente servia o chá nas duas xícaras, enquanto prosseguia narrando.

- Eu e Lucio vimos alianças nas mãos de vocês. Lucio até comentou comigo que o mundo depois do Lord continuava a nos surpreender! Claro que ela poderia estar noiva de outro, mas a forma que vocês se olhavam no auditório do ministério, deixou bem claro.

- Obviamente que os jornais não mencionaram nada por interferência do ministro. – Lucio gargalhou.

- É, parece que vocês continuam a fazer bom uso da espionagem!

- Por isso sobrevivemos a guerra! Venha, Severo! Vamos sentar, temos muita coisa para conversar! – Lucio colocou a mão no meu ombro, me guiando para a sala.

- Espere um minuto. – Draco interrompeu. - Vamos primeiro lá em cima conhecer Scorpius, meu filho! Ele acabou de mamar, deve estar dormindo. Se não, eu o traria aqui.

- Vocês estavam tão ansiosos para me deixar a par sobre meu próprio noivado, que nem me deixaram dar parabéns pelo netinho... Parabéns, Draco!

- Obrigado!

- Estou me sentindo mais velho. Agora quando esse moleque começar a me chamar de vô, vou ter que chantageá-lo a me chamar de tio!

- Ora, Lucio! Ele é muito lindo, lembra demais Draco quando nasceu.

- Quando chegamos no quarto de Draco, eles me apresentaram a Astoria. Eu conheci o pai dela, senhor Greengrass, um bruxo britânico puro-sangue.

- E o bebê? – Hermione pergunta curiosa.

- O bebê dormia. Loirinho como o Draco.

- Fico feliz por ele. Finalmente Draco cresceu! – Hermione sorri imaginando seu colega com o bebê no colo.

- Eles nos convidaram para jantar qualquer dia. E fazem questão que você vá.

- Mesmo depois das intrigas do passado? Lucio nunca gostou de mim, e Draco deixou bem claro durante nossa convivência.

- Hermione, se eu estou com você é porque temos muito em comum. Eles aprovariam qualquer mulher que me faça feliz. E para me fazer feliz, cá entre nós, não seria qualquer mulher. – Ele sorri com brilho nos olhos. - Agora me conte como foi a conversa com a senhora Potter...

- Bem, para começar ela achou muito estranho o meu gosto por homens mais velhos.

Severo até largou a xícara no pires, arqueou suas sobrancelhas, prestando total atenção.

- Onde está seu noivo? – Foi a primeira coisa que Gina me perguntou, antes de me abraçar.

- Ele foi almoçar na casa dos Malfoys, era para eu ter ido junto. Desculpe mas recebemos esses dois convites para almoçar justo hoje. Lucio e Narcisa são tão amigos dele, quanto vocês são meus. Por isso resolvemos nos separar. Tenho certeza que na próxima vez ele virá comigo.

- Olá, Hermione! Que pena que ele não veio, mas posso entender. Saiba que estou muito feliz por vocês! – Harry me abraçou e me levou até o sofá da sala, enquanto Gina fechava a porta antes que Lilly corresse para fora.

- Puxa, eu queria tanto dar um abraço nele. Juro que caí dura quando Harry me disse que Rony não estava tão bêbado assim, pois Snape estava mesmo vivo. – Gina disse ao chegar na sala com Lilly no colo.

- E eu tive que lhe defender da enxurrada de nomes feios que a digníssima minha esposa falou quando soube que você está noiva do Snape! – Harry riu lembrando.

- Harry, nos dá licença, sim? A conversa agora só interessa as mulheres. Vá ver a carne na churrasqueira se está no ponto, e leve Thiago junto.

- Oh, mãe, deixa eu brincar na sala.

- Pegue sua vassoura e brinque lá no pátio. Você nem deu um abraço na madrinha.

- Desculpe, Dinda! – Ele me abraçou e me beijou.

- Você é madrinha do pirralho? – Severo interrompeu.

- Sim, eu e Rony. Já que comentou, ele lhe deixaria constrangido se tivesse ido. Sabe como é criança...

- O padrinho não veio? – Thiago olhou para a porta.

- Não, filho. A Dinda não está mais com o tio Rony. – Harry tentava explicar para ele, enquanto os dois seguiram para os fundos da casa com a vassoura que eu dei de presente no último aniversário dele de quatro anos.

- Agora me conta tudo, Mione, tudo mesmo! Se não, ficarei de mal com você para sempre! Por que me escondeu esta paixão antiga? É verdade que você sempre gostou do professor?

- Foi assim a nossa conversa.Hermione queria finalizar.

- Continua! – Severo estava gostando. Pela primeira vez ele queria ouvir fofoca, uma vez que lhe dizia a respeito.

- Bem, eu sempre fui sincera com a Gina, só ocultei minha paixão por você. Continuando, então eu respondi para ela...

- Sempre gostei dele, Gina! Bom, no primeiro ano, sabe como é... somos crianças, mas a postura dele, a aparência, e aquela voz... o destacava muito do restante dos outros professores. Comecei a admirá-lo um pouco mais a cada aula.

- Mesmo com aquele sarcasmo todo e tirando pontos da nossa casa?

- Pois é... Para você ver o motivo de ter lhe ocultado. Eu certamente perderia a minha melhor amiga. Todos me diriam que eu estava louca.

- Quando você se viu apaixonada mesmo por ele?

- Acho que foi no quarto ano, no final do baile de inverno. Foi a primeira vez que eu tive uma conversa 'civilizada' com ele.

- Você nunca me contou. – Ela fez cara de magoada.

- Eu lhe contei sobre Rony e Víctor. Eu terminei aquela noite chorando na escada, porque Rony não quis dançar comigo. Víctor havia me beijado lá fora, foi meu primeiro beijo aos dezesseis anos, e eu achei horrível. Severo havia ficado até o final, porque ele era responsável pela ronda daquela noite. Ele me viu chorando quando passou por mim. Voltou e sentou no degrau ao meu lado.

"A senhorita não me parece bem. Quer que eu lhe acompanhe até a ala hospitalar"?

- A voz sedosa dele, me fez erguer a cabeça para ter certeza que era mesmo ele, sendo gentil. A vontade que eu tinha era lhe mandar para o inferno, mas ele pegou na minha mão para depositar seu lenço.

- Cavalheiro, uau! – Gina exclamou.

- Pois, é... foi então que eu percebi a masculinidade dele, que até então era só o melhor professor homem de Hogwarts!

"A senhorita está com algum problema? Alguma dor? Problemas de notas, certamente não é. A professora Minerva a elogia sempre, e com razão".

Ela me elogia? - Eu perguntei, querendo ter certeza que eu ouvi algum elogio da parte dele.

"Sim, nestes quatro anos suas notas são tão brilhantes quanto as dela quando foi aluna. Mas se ficou triste após o baile, não está com dor, e não tem problemas de notas, arrisco a dizer que é problema de coração, muito comum na adolescência".

- O senhor entende disso? – Eu perguntei com sarcasmo.

"Muito, eu amei alguém no passado e não fui correspondido. Mas não se preocupe, a senhorita ainda é muito jovem, irá se apaixonar várias vezes. Agora vá para seu dormitório. Está tarde e esfriando".

- Ele me deu a mão novamente para eu me levantar.

"Quer que eu lhe acompanhe até a torre da Grifinória?"

- Não é preciso. Obrigado.

"Boa noite, senhorita Granger". - Boa noite, professor.

- Pelo mesmo tenho que concordar com uma coisa...

- Com o quê?

- Ele é um homão, não é? E como ele é na cama?

- Desculpe, mas vocês aceitam uma bebida? – Harry trazia dois copos de batida de morango.

- Obrigado. – Eu aceitei, e estava satisfeita por ele interromper a conversa na hora certa.

- Ok, Harry! Agora saia, porque a conversa vai esquentar!

- Venham almoçar, já arrumei a mesa.

- Depois do almoço você me conta!

- Bem, depois do almoço quando ela voltou ao assunto, só disse que você era dez mil vezes melhor do que o irmão! Então ela fechou a boca e não perguntou mais nada sobre nossa intimidade.

Severo, riu, pegou-a pelo braço e lhe deu um abraço bem apertado, seguido de um beijo apaixonado. A sequência de carícias que seguiram foi suficiente para abandonarem o chá e subirem até o quarto.

A sensação das mãos dele deslizando na sua pele nua era como se estivesse se libertando de todas as mágoas do passado, que ela relembrou ao falar dele antes do almoço. Seus olhos negros sempre focados nos dela, os beijos ardentes e as mãos chegando até sua intimidade, lhe deixando cada vez mais molhada e louca de desejo. Ela retribui às carícias mais ousadas, pedindo mais. Ele retira sua roupa com feitiço não verbal e se coloca entre suas pernas.

- Severo! – Ela gritou com o corpo trêmulo pelo orgasmo, ao mesmo tempo em que ele culminou seu prazer com um ruído gutural que escapou de sua garganta enquanto seu sêmen era jorrado para dentro da cavidade quente e apertada dela. Pequenos tremores perduraram até que a respiração voltasse lentamente ao normal.

No domingo, eles foram almoçar na casa dos pais de Hermione. De tarde, enquanto o casal estava no quarto dela, descansando depois do almoço, a campainha toca. Anne foi atender, pois George já estava roncando.

- Hermione! Visita para vocês! - Ela chama do pé da escada.

- Desculpe se atrapalho alguma coisa. – A senhora distinta entrou.

- Que nada, venha se sentar! Vou preparar um café.

- Quem será? – Hermione pergunta para Severo.

- Não faço ideia.

- Fique, se quiser. Deve ser a Gina.

- Hum... não quero dividir você com visita nenhuma. – Ele resmunga.

- Podemos dar desculpa que precisa preparar poções e voltamos mais cedo para casa.

- Está bem. Vai lá. – Ela o beija antes de deixar o quarto.

- Minerva?! – Ela quase grita! - Que surpresa adorável!

- Me desculpe aparecer assim sem avisar, mas estou desesperada.

- O que houve?

- É o Horácio. Ele já estava dando as aulas de má vontade desde que retornamos da guerra. Mas agora, nem posso culpá-lo, pois ele está internado no hospital. Pegou uma virose forte, está sem voz e ficará pelo menos um mês de atestado. Eu não domino poções como vocês. Pensei que talvez vocês pudessem se revezar e me ajudar...

- Oh... Puxa, eu sinto muito! Realmente pegou a gente de surpresa, Severo vai começar as obras na casa dele esta semana. Estou estudando para a seleção de mestrado e nós vamos nos casar em setembro.

- Ele está? – Ela pergunta com lágrimas nos olhos.

- Sim, eu vou chamá-lo.

Anne entra na sala com a bandeja de café e serve para a visita, enquanto Hermione sacude Severo que fingia dormir.

- Severo, é a Minerva. Ela quer falar com você. Eu não posso decidir sozinha o que ela me pede.

- Hum...

- Vamos, Severo. Ela ficou chorando lá embaixo. Precisamos ajudá-la de alguma forma, mas não sei como.

Continua...