Crepúsculo não me pertence.

Olá! Essa fic faz parte do POSOella, um projeto onde autoras do fandom de Crepúsculo criam fanfics narradas exclusivamente por Bella Swan, em comemoração ao seu aniversário. Esse ano, o desafio foi escrever inspirando-se em 1 dentre 25 citações de alguns dos livros favoritos da Bella.

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ENCONTRO MARCADO

"Qualquer que seja a substância das almas, a minha e a dele são feitas da mesma coisa."

(O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë)

Capítulo 1: Um estranho invade minha casa

— Bella! Bella! — Ouvi alguém me chamar e olhei em direção à voz, não me surpreendendo em encontrar Angela correndo em minha direção para me alcançar antes que eu entrasse no elevador.

Uma vez lá dentro, apertei o botão do estacionamento subterrâneo.

— Como foi seu dia? — Perguntou ela.

— Eu tive um dia de merda — Falei, ela fez uma careta fofinha. — Desde que Aro se divorciou, parece que o homem ficou mil vezes mais perturbado. Ele está fazendo da minha vida um inferno. Juro, eu sou praticamente a assistente do diabo! Você tem sorte de não trabalhar para ele.

Angela riu do meu desabafo repentino.

— Nem o encontro de ontem conseguiu melhorar seu humor? — Perguntou ela, a olhei de soslaio. — Ah, não me diga que…

— Você ainda fica surpresa? Porque eu não fico. É como dizem, não é? Nada é tão ruim que não possa piorar descomunalmente.

— Foi tão ruim assim? — Ela perguntou.

— Ruim é elogio, foi deprimente! Tudo bem, tenho que dar o crédito de que o encontro em si foi bem agradável, nós conversamos por horas, tínhamos assunto, sabe? Temos gostos muito similares para filmes, livros, passatempos… E, além disso, ele ainda me levou num restaurante incrível. Até nosso gosto para comida é parecido. Juro para você que eu até cheguei a pensar que talvez eu tivesse finalmente encontrado o cara para mim. Mas, então, nós fomos para o motel… — Senti um calafrio em minha espinha só de lembrar. Precisei de um segundo à mais para conseguir falar sobre o trauma adquirido na noite anterior. — Angela, eu te juro, não deu nem cinco minutos.

— Tem certeza que você não está apenas exagerando? Sabe, você tem uma certa tendência…

— Amiga, não. Nem cinco minutos, juro por tudo que há de mais sagrado! Quando eu achei que iríamos começar, acabou! E ele nem se deu ao trabalho de perguntar se eu estava satisfeita, o que, a propósito, eu não estava. O infeliz apenas virou pro lado e dormiu, Angela, ele dormiu! — Eu estava quase gritando, tamanha minha frustração. — Ele pagou pela noite inteira, o que me encheu de expectativas, só para fazer uma presepada dessas.

O elevador parou e as portas abriram. Fingi não notar o olhar de pena que Angela me lançava enquanto eu andava para fora da caixa de metal.

— E o que você fez depois disso? Você não dormiu lá, né?

— É claro que não! Eu saí o mais rápido e silenciosamente que pude, para não acordá-lo, e me certifiquei de bloquear o número dele. Talvez eu esteja exagerando, o cara é super legal, mas eu mereço alguém que me dê orgasmos, pelo amor de Deus!

— Não vou julgar, eu provavelmente faria o mesmo.

— Obrigada pelo apoio. Mas, então, é isso aí. Eu oficialmente desisto dos homens. Meu cupido me odeia, me resta aceitar esse fato e adotar mais alguns gatos.

— Ai, não fala assim! Você só tem 26 anos, Bella, ainda tem muito tempo para você encontrar sua metade da laranja.

— É fácil pra você falar, você namora o Ben! Provavelmente minha metade da laranja está sendo chupada por outra pessoa, Angela — Disse eu, imediatamente ouvindo a risada da minha amiga em resposta.

— Não perca as esperanças ainda, garota!

Despedimo-nos quando chegamos próximo aos nossos respectivos carros, que ficavam em vagas adjacentes. O caminho até minha casa passou despercebido, já era algo que eu fazia no automático diariamente

Passei pela recepção do antigo prédio que, muitos anos atrás, costumava ser uma fábrica de sapatos, e cumprimentei o porteiro. Peguei o elevador até meu andar e caminhei vagarosamente até meu apartamento, sentindo o cansaço do dia me atingir. Quando eu disse que Aro estava torando minha vida um inferno, não era exagero.

Destranquei a porta e a primeira coisa que estranhei foi o fato que Sr. Darcy não veio correndo se esfregar em minhas pernas. Entrei no apartamento e tranquei a porta, depositando minha bolsa na mesinha ao lado da mesma e tirando meus sapatos.

— Sr. Darcy? — Chamei, mas não houve nenhum tipo de resposta. Franzi o cenho.

Nos dias mais frios do ano, Sr. Darcy costumava dormir praticamente o dia inteiro e, somente nessa época, ele não me recepcionava assim que eu chegava em casa. O safado se recusava a sair de cima da minha cama quentinha para fazer qualquer coisa que não fosse comer ou usar sua caixinha de areia. Mas era quase verão e o clima estava agradável, o que tornava a situação incomum.

Continuei andando, olhando pelos cantos, enquanto a preocupação de que talvez ele tenha passado mal enquanto eu estava no trabalho crescia dentro de mim. Antes que eu pudesse deixar aqueles pensamentos perturbadores me dominarem, o vi sentado diante da porta do meu quarto.

— Ei, seu gorducho, porque não veio me recepcionar, hein? Nem deu um miadinho para a mamãe saber que está tudo bem — Falei com o gato, como se ele fosse me responder.

Sr. Darcy, por outro lado, permanecia aparentemente alheio à minha presença. Chegando mais perto, notei que ele estava encarando o interior do meu quarto com os olhos cor-de-mel arregalados. Parei de andar, pensando qual era a probabilidade de haver um rato dentro do quarto. Baixa, concluí, já que Sr. Darcy estava calmo demais para um gato no modo de caça. Voltei a andar.

— O que há de errado com você, coisinha? — Perguntei, me aproximando suficientemente para pegá-lo no colo.

— Eu poderia perguntar-lhe a mesmíssima coisa — Ouvi uma voz masculina dizer, imediatamente meu corpo gelou. — Por que você está tão empenhada em complicar minha existência?

Segurei meu gato com mais força e olhei para dentro do quarto, notando de imediato a presença de um homem ali. Ele estava bem-vestido demais em seu terno que parecia ter sido feito especialmente para ele, o que não combinava em nada com a ideia de um criminoso que invade casas em bairros do subúrbio novaiorquino, mas pouco me importei. Assim que o vi, saí correndo em direção à sala.

Imagine minha surpresa quando cheguei lá e o infeliz estava parado diante a minha porta.

É isso, Aro me encheu tanto de trabalho atrás de trabalho que meu cérebro deu pane. Eu estou doida, completamente surtada! — Pensei.

— Por que você está correndo? — O estranho perguntou. Uma expressão de dúvida genuína em seu rosto divinamente escupido.

Me repreendi mentalmente por reparar, naquela situação, o quanto o invasor de domicílio era bonito. Bonito não, chamá-lo de bonito era, provavelmente, uma ofensa. Eu nunca havia visto um ser humano tão… Tão… Etéreo. Deveria ser crime uma pessoa ter traços tão simétricos. E, como se não bastassem os traços perfeitos, os olhos extremamente verdes e o cabelo em um tom de ruivo que estava longe de parecer natural lhe davam uma aparência exótica. Era como se ele nem sequer fosse real.

— O que você está fazendo na minha casa? Quer saber? Nem precisa responder, apenas saia daqui. Saia agora ou eu vou gritar. O vizinho do apartamento da frente é lutador de boxe, ele vai te quebrar todinho! — Falei tudo em um único fôlego, assim que consegui desviar meu olhar do rosto do estranho.

O homem me encarou, parecendo profundamente confuso.

— Eu não sei o que é um boxe, mas ficaria muito agradecido se você não gritasse. Ou corresse. Eu estou aqui para te ajudar, Isabella.

— Ok, como caralhos você sabe meu nome? Você é algum tipo de stalker, tipo aquele esquisitão daquela série?

— Eu não entendi uma única palavra do que você acabou de dizer — Respondeu. De alguma forma, eu senti que ele estava falando sério.

— Você é louco, é? Fugiu de algum hospício? Me fala o nome que provavelmente eu consigo achar o número no Google e ligo para lá para virem te buscar.

— Eu não sou louco.

Fiquei surpresa que ele sabia o que "louco" significava.

— Sou seu cupido — Ele continuou.

— Meu o quê? — Perguntei, sem conseguir controlar a risada histérica que insistiu em dar as caras. — Quer saber? Deixa. Eu vou chamar a polícia, eles que se virem para descobrir de que hospício você fugiu.

— Já disse que não sou louco. Sou seu cupido e estou aqui porque precisamos conversar. Primeiramente, você precisa parar de colocar a culpa de tudo dar errado na sua vida amorosa em mim, eu estou fazendo minha parte, você tem que fazer a sua…

— Ah, já entendi. Isso é uma pegadinha da Angela, né? Ha-ha, que engraçado, cadê a câmera?

— Não…

— Sério, parceiro, eu estou exausta e com zero paciência para essa gracinha. Dá o fora, por favor, obrigada — Falei, me apressando em andar até a porta e empurrá-lo para fora de qualquer jeito, fechando a porta apressadamente em seguida. — Eu vou matar a Angela… — Murmurei, colocando Sr. Darcy no chão.

Eu precisava de um banho quente e uma boa noite de sono, urgente.

Virei-me na intenção de ir até meu quarto pegar um conjunto de pijamas para, enfim, ir até o banheiro, mas fiquei paralisada ao perceber que o homem estava parado, de braços cruzados, no meio da minha sala.

— Oi — Disse ele, calmamente.

Desmaiei.

Então, é isso, essa é a história sobre como a exaustão ocasionada pela alta carga de trabalho acabou afetando meu cérebro de tal forma que eu perdi o contato com a realidade e acabei enlouquecendo. Ou talvez o cara fosse algum tipo de ilusionista, mas a primeira opção era mais lógica.

Por que um ilusionista iria invadir minha casa? Nada havia de valor ali para ser roubado. Ele poderia ficar fazendo seu showzinho de teletransporte para dentro e para fora de algum banco, ou da Casa Branca, tanto faz. Por que logo meu apartamento? Não fazia o menor sentido.

Senti uns tapinhas na minha bochecha.

— Isabella? — Sua voz estava abafada, como se eu estivesse embaixo d'água. Lentamente, consegui ouvi-lo com mais clareza. — Por que você está dormindo?

Abri meus olhos e me surpreendi com a proximidade do estranho. Bom, não era de se admirar que alguém que invade a casa de desconhecidos não tenha muita noção de espaço pessoal. Pensei em empurrá-lo e ir para o mais longe possível dele que podia, mas meu corpo se recusou a mover-se. Percebi que eu estava no sofá e que provavelmente havia sido ele a me colocar ali. Por algum motivo, não fiquei perturbada com a ideia de ter sido carregada por aquele estranho.

— Que bom que acordou, fiquei preocupado — Disse ele, me oferecendo um sorriso torto. Era como se ele não estivesse acostumado a sorrir, o que me deixou um tanto perturbada.

Ele estava realmente emanando uma áurea de serial killer, uma coisa assim meio Hannibal Lecter.

— Isso é um sonho? Ou eu bati meu carro no caminho de casa, morri e agora estou no lugar ruim? — Balbuciei, ele riu.

O som da sua risada me fez ter vontade de rir também, mas me controlei. Eu estava subitamente confortável demais com a presença dele.

— Você não está morta, sua boba! Eu não estaria aqui se você estivesse.

Não pensei muito sobre o que aquilo significava, apenas me sentei no sofá. O estranho se sentou ao meu lado, ainda me olhando. Sorri para ele antes de dar-lhe um tapa, com toda minha força, no rosto.

Houve um alto som de estalo, então ele me olhou surpreso enquanto esfregava a bochecha. Lágrimas se acumularam nos olhos verdes.

— Por que você fez isso? — O estranho choramingou. — Isso doeu. Eu não gosto de dor. Deus, isso é horrível!

Eu hein, que cara esquisito.

— Tudo bem, você é mesmo real. Então, você é um ilusionista? Cara, sério, o que você está fazendo na minha casa? Eu não tenho nada de valor, juro!

— Eu já te disse, estou aqui para te ajudar! Por que você não me escuta?

— Você quer mesmo que eu acredite que você é meu cupido? — Perguntei, rindo. Ele assentiu. — Você é um homem adulto! Cupidos são, tipo, bebês…

— De onde você tirou isso?

— Todo mundo sabe! Além disso, se você é um cupido mesmo, cadê suas asas e arco e flecha, huh? — O desafiei, me sentindo extremamente estúpida por estar tendo aquela conversa.

— Eu achei que seria mais fácil para você aceitar minha presença se eu estivesse em uma forma humana. Ouvi falar de alguns casos em que pessoas foram à loucura tamanha a surpresa de ver um cupido diante de si… — Explicou.

— Certo… Vamos supor que isso seja verdade, ainda não explica a falta do arco e flecha.

— Por que você acha que eu deveria ter um arco e flecha, Isabella?

— Oras! É assim que cupidos juntam as pessoas, não é? Vocês flecham duas pessoas e elas se apaixonam — Falei, exasperada. Dando uma ênfase sarcástica na palavra "vocês".

— Flechar um humano poderia ser fatal. Que ideia mais estapafúrdia! Não fazemos nada que possa colocar a vida de nossos reflexos terrestres em perigo. Não, não, nada de flechas.

— Reflexos terrestres…? — Perguntei involuntariamente. Eu não queria dar palco para maluco dançar, mas era mais forte do que eu.

— Sim. Você é meu reflexo terrestre, e eu sou seu reflexo celestial. Eu fui criado no dia em que você nasceu. Um dia, quando você partir, eu deixarei de existir.

— Isso é… Triste.

— Não é, não.

— Cara, você acabou de dizer que quando eu morrer, você vai deixar de existir. Sabe, eu posso morrer amanhã atravessando a rua. Isso não te preocupa?

Por que eu estava dando corda para a loucura dele? Não faço ideia.

— Minha existência não tem propósito sem você, Isabella.

— Isso cheira a relacionamento tóxico, não curti — Falei. Mais uma vez, ele me olhou completamente confuso. — Beleza, vamos fingir por um segundo que eu acredito nessa baboseira toda. Cadê as provas? Você não espera que eu acredite em você, um homem que eu nunca vi na vida, assim tão fácil, né?

— Não sou um homem — Disse ele.

— O quê?

— Eu não sou humano, portanto não sou um homem. Sou um cupido.

O encarei, boquiaberta, por cinco segundos inteiro.

— Tanto faz — Revirei os olhos. — Ou você me prova por A mais B que é um cupido, ou pode dar o fora daqui.

Eu esperava que assim o estranho finalmente saísse do meu apartamento e me deixasse em paz. Meu plano era, assim que ele fosse embora, chamar o chaveiro para trocar todas as fechaduras do meu apartamento.

— Tudo bem, mas esteja preparada. E, por favor, não grite ou durma de novo.

— Eu não dormi, eu desmaiei.

— Qual a diferença? — Perguntou, o olhei abismada.

— Ain, quer saber? Deixa para lá — Falei, ele assentiu.

— Certo, está pronta?

Assenti e observei enquanto ele se levantava.

— Opa, opa, o que você está fazendo? — Perguntei, nervosamente, quando notei que ele havia começado a abrir os botões de sua camisa social.

Ele me olhou, perdidinho. Coitado, o cérebro do bichinho realmente custava a pegar no tranco.

— Por que você está tirando a roupa?

— Para te provar que sou um cupido? — Ele soava verdadeiramente confuso.

— Você vai me provar ser um cupido tirando a roupa? O que foi? Você não tem um pênis ou algo assim? — Perguntei, rindo. O rosto do homem ficou vermelho como um tomate maduro.

— Isabella! — Me repreendeu, o que me fez rir ainda mais.

— Desculpa, Sr. Cupido. Pode ficar à vontade.

Apesar de eu estar sendo extremamente sarcástica, ele não pareceu notar, voltando a trabalhar nos botões da camisa. Assim que a retirou, o homem dobrou a peça de roupa meticulosamente e a colocou sobre o sofá em que eu estava sentada. Enquanto isso, eu estava tentando não olhar descaradamente para o peitoral despido dele.

O infeliz era todinho esculpido.

— Talvez… Talvez seja melhor se você fechar os olhos… — Murmurou.

Ele parecia nervoso e talvez eu devesse estar nervosa também. Quer dizer, havia um estranho sem camisa no meio da minha sala, dizendo para eu fechar meus olhos, mil e uma coisas horríveis poderiam acontecer, mas eu não poderia estar mais tranquila. Talvez eu tenha realmente enlouquecido, vai saber?

Fiz o que ele sugeriu.

Uma respiração depois, o ouvi dizer para eu abrir os olhos e assim o fiz.

— Então, o que achou?

Um turbilhão de coisas estava passando pela minha cabeça, mas, de todas elas, uma se sobressaiu.

— Uau… É enorme — Falei, realmente impressionada.

O homem olhou para suas asas, abrindo-as um pouco mais. Elas cintilaram, refletindo a luz, tomando uma aparência furta-cor como o interior de uma concha. Ele suspirou, parecia que tê-las livres lhe deixou mais relaxado.

— Suponho que sejam… Não sei. Elas me parecem ter um tamanho bem normal.

— Bom, eu nunca vi asas antes e para mim elas parecem enormes — Falei, cruzando os braços e me aproximando dele.

Pedi licença e, com sua autorização, olhei as asas mais de perto, constatando que de fato elas estavam saindo de seu corpo e não era algum tipo de fantasia absurdamente realista.

Por um segundo eu contemplei a possibilidade de eu ter ingerido, acidentalmente, alguma substância alucinógena. Por que eu estava tão à vontade com aquele estranho? Por que eu não estava gritando e surtando completamente com o fato de ele ter asas? Eu não queria acreditar na resposta martelando em minha cabeça, isso seria apenas o atestado de que eu havia, de fato, enlouquecido, mas não havia muito o que fazer.

— Então, agora você acredita em mim?

E, sem ao menos pensar muito no que eu estava fazendo, assenti.

— Como suas asas somem e reaparecem assim? — Perguntei, alguns minutos depois.

O estranho estava sentado na mesa da cozinha, com suas asas novamente guardadas após ter derrubado metade das decorações do meu apartamento com elas, enquanto eu preparava café para nós.

— É uma ilusão — Respondeu. Virei-me para ele, encarando-o.

— Ilusão?

Ele assentiu.

— Minhas asas não somem, simplesmente. Elas estão aqui, mas escondidas.

— Você pareceu mais relaxado quando elas estavam à mostra.

— É desconfortável ficar com elas escondidas desse jeito, não é algo com o qual estou acostumado. Na verdade, eu nunca as tinha escondido antes de vir aqui.

— Bom, talvez eu possa mudar alguns móveis de lugar e abrir mais espaço para você poder deixá-las soltas.

— Sério? Você faria isso por mim? — Perguntou ele, parecendo verdadeiramente feliz com a possibilidade.

— Claro! — Respondi, sorrindo com a súbita animação dele.

— Obrigado, Bella.

— Imagina — Falei, servindo nossos cafés nas xícaras.

Caminhei até a mesa e coloquei as duas xícaras sobre a mesma, antes de me sentar em uma das cadeiras vagas.

— Eu nunca bebi café — Disse ele, inspirando a fumaça da bebida. — O cheiro é muito bom.

— Realmente é — Respondi, colocando uma colherzinha de açúcar no meu. O estranho, que já não era tão estranho àquela altura, me olhou com curiosidade. — Eu gosto de adoçar um pouco o meu.

— Devo fazer isso no meu também, então?

— Experimente sem. Se achar muito amargo, coloque um pouco de açúcar.

Era engraçado ter que falar com um homem adulto como se ele fosse uma criança tendo suas primeiras experiências. Mas, de certa forma, ele não era um homem e estava realmente tendo algumas de suas primeiras experiências.

— Sabe o que notei agora? — Perguntei, enquanto ele levava a xícara à boca. Ele parou, seus lábios encostados na cerâmica, e me olhou sob os cílios. Eu quase esqueci o que estava falando. — Você não me disse seu nome.

— Oh, desculpe-me por isso. Meu nome é Edward — Disse ele, sorrindo. Edward, então, tomou um longo gole de seu café. Pela carinha de felicidade que fez, deduzi que ele havia gostado.

— Edward — Repeti. — Eu adoro esse nome.

— Sei disso, foi por isso que o escolhi.

— Escolheu?

— Cupidos não têm pais que lhes dê um nome. Como eu disse antes, fui criado no dia em que você nasceu, e essa criação se deu a partir da mesma matéria que criou sua alma… A minha alma é, basicamente, uma extensão da sua, entende? Eu poderia ter escolhido qualquer nome, ou nenhum, mas escolhi Edward porque você gosta.

— Extensão da minha alma…? — Balbuciei. Aquele papo era viagem demais para mim. — Você foi criado no dia em que eu nasci e dividimos a mesma alma, você é tipo… Meu irmão gêmeo ou algo assim?

Edward riu.

Não, não riu. Ele gargalhou, jogando sua cabeça para trás e tudo. Novamente, eu quis rir também.

— Não seja boba! Não somos irmãos, gêmeos ou de nenhum outro tipo. Irmãos têm, em algum grau, semelhanças genéticas. Ou foram criados juntos. Eu não tenho nenhuma semelhança genética com você, até porque eu sequer tenho DNA, e você nem sequer me conhecia até uma hora atrás.

— Você não tem DNA? — Perguntei, ele balançou a cabeça.

— Não, Bella. Eu sou um ser celestial. Nós somos criados de energia, não de material orgânico e moléculas de DNA. E, além disso, nós não dividimos a mesma alma. Minha alma apenas foi feita da mesma matéria que a sua.

Eu não sabia se estava conseguindo acompanhar a linha de raciocínio dele direito, mas sabia que aquela conversa estava começando a me dar dor de cabeça. Além do mais, com tudo o que ele havia falado, eu havia chegado a uma conclusão que não fazia muito sentido, considerando que o trabalho de Edward era literalmente me ajudar a encontrar meu amor verdadeiro, mas… Se nossas almas haviam sido feitas da mesma matéria, isso não significava que éramos almas gêmeas?

Não externalizei meu pensamento, me senti boba apenas em cogitá-lo. Era óbvio que minha alma gêmea não poderia ser um ser celestial, certo?

— Então, o que você está fazendo aqui, afinal? Você disse que estava aqui para me ajudar, mas não sei o que você quis dizer com isso.

— Bom, você já deve ter percebido que sua vida amorosa não é das melhores…

— Sim! Você está fazendo um trabalho terrível, colega.

— Não é minha culpa! — Ele gritou, o olhei assustada.

Ele parecia calminho demais, fui pega de surpresa. Outra surpresa foi descobrir que ele conseguia ficar ainda mais bonito quando estava irritado. Edward suspirou, fechando os olhos.

— Desculpe, não era minha intenção gritar — Disse ele, voltando a abrir os olhos. — Eu apenas estou cansado de a culpa ser colocada sempre sobre mim. Sabe, eu faço minha parte, eu arranjo pessoas altamente compatíveis para você, mas você se sabota toda vez…

— Eu não faço isso! — Protestei, ele tombou a cabeça para o lado.

— Faz sim. Você fica caçando problema onde não tem, transforma todo e qualquer defeito da outra pessoa na pior coisa do mundo e…

— Sabe, isso me fez lembrar que o último cara que você arranjou para mim gozou em menos de cinco minutos. E você ainda tem a cara de pau de dizer que não está fazendo um trabalho ruim?

As bochechas de Edward ficaram coradas. Bonitinho.

— Tyler era 91 porcento compatível com você…

— Mas aqueles 9 porcento era péssimo de cama. Assim não dá, colega.

— Sexo não é a coisa mais importante num relacionamento, talvez se você falasse com ele sobre suas expectativas… — Disse ele. Percebi que Edward estava encarando sua xícara vazia.

— Qual o seu problema?

— O quê?

— Por que não olha para mim? — Perguntei. — Não vai me dizer que você tem vergonha de falar sobre sexo?

— Não é vergonha…

— Você é tão fofinho — Falei, rindo. Ele me olhou e agora suas bochechas pareciam dois tomates maduros. Tive que me controlar para não apertá-las. — Tudo bem, podemos mudar de assunto. E o Paul? Ele era meio… Burro.

— Não dá para ter tudo, Bella.

— Eu não quero tudo, apenas alguém que seja bom o suficiente para mim.

— Todos os homens que coloquei em seu caminho tinham uma alta taxa de compatibilidade, e ainda assim você não os achava bons o suficiente. É por isso que estou aqui, quero que você me diga exatamente o que está procurando. Em 26 anos você nunca sequer teve um relacionamento e… Bem, se as coisas continuarem desse jeito, eu vou… — Ele parou de falar, engolindo em seco.

— Vai o quê?

— Eu sou seu cupido, o objetivo da minha existência gira em torno de ajudá-la a encontrar amor. Se eu falhar, não há motivos para eu… Para eu…

— Espera, você está dizendo que se você não me ajudar a encontrar um amor verdadeiro, você vai deixar de existir?

— Não, não é isso. Se fosse, estaria bom. Bella, se eu não te ajudar a pelo menos encontrar um amor, não precisa nem ser o amor da sua vida, mas pelo menos um amor temporário, eu vou… — Mais uma vez Edward se interrompeu e eu tive a impressão de que ele estava prestes a chorar.

— Meu Deus, garoto, fala logo! Você está me assustando.

— Eu vou ser obrigado a viver aqui, Bella. Perderei minhas asas e meus poderes, serei transformado em… Em… Humano — Edward disse aquilo como se fosse o fim do mundo, a mais pura expressão de desgosto em seu rosto perfeitamente esculpido.

— Ah, isso não parece tão ruim…

— Não é ruim, é horrível! E não só para mim. Você não entende? Se você não tiver um cupido, você vai passar o resto dos seus dias sem amor, Bella. Você vai…

— Ficar sozinha pelo resto da minha vida? — Perguntei, horrorizada. Edward assentiu.

Olhei para Sr. Darcy, dormindo esparramado sobre uma cadeira vazia. Eu teria que começar a procurar mais gatos, urgente.

— Certo… E como você vai me ajudar, exatamente? Você tem tipo uma espécie de catálogo de homens compatíveis comigo?

— E mulheres — Disse ele, ergui uma sobrancelha. — Sei que você não tem interesse por mulheres, mas isso não significa que você não daria certo com nenhuma. A compatibilidade existe, de qualquer forma.

— Entendi. E como isso funciona, hein?

— Você me dirá o que procura em um homem. Eu sei, teoricamente, o que você quer, mas como minhas tentativas de conseguir um amor para você não tem dado certo, quero que você me diga exatamente o que procura. Tentarei achar alguém que preencha o máximo de requisitos e colocá-lo em seu caminho.

— Uh, isso parece divertido! Quando podemos começar?

— Agora mesmo.


Essa é uma shortfic dividida em 4 capítulos que serão postados ao longo do mês de setembro de 2022. Fiquem atentos às atualizações e não se esqueçam de comentar.

Até a próxima! Beijinhos.