Boa noite! Nesse feriado trago um capítulo curtinho.

Espero que continuem gostando! Comentários são sempre bem vindos e até a próxima!


02 - everybody's here

Eu perdi pelo menos os 5 minutos iniciais da fala de Dr. Cullen sobre orientações gerais da residência, mas não tinha como me concentrar quando eu estava no mesmo ambiente que Edward Cullen depois de tanto tempo.

Eu conseguia sentir seus olhos desviando para mim as vezes, mas consegui direcionar os meus em Dr. Cullen, e aos poucos voltei a ouvir as instruções.

"...vocês precisam se unir. Os próximos anos serão difíceis, pesados e exaustivos. Alguns dias mais que outros, e quem está ao seu lado vai ser sua base e ajuda. Dividam o trabalho da forma mais igualitária possível. Tentem ajudar o colega quando ele precisar, principalmente aqueles que não são daqui."

Edward Cullen seria meu colega de residência. Mas ele tinha dito com tanta certeza que não tentaria no Hopkins! Eu sabia que me encontraria com o pai dele – Carlisle Cullen era minha inspiração, afinal de contas – e estava preparada para isso. Talvez ele mencionasse o filho com orgulho, mas seria isso.

"Isso é corajoso," considerei, "mas também um pouco ilógico. Se o Hopkins é o melhor, seu pai não deveria influenciar a sua escolha. Mas o programa de cirurgia de Harvard não é nada ruim, então também não deve fazer muita diferença. Mas eu aposto que seu pai ficaria deleitado em te ter como residente."

Fechei os olhos por alguns segundos. Eu definitivamente não teria tido tanto impacto nele assim, certo? Não podia ser.

Dr. Cullen continuou explicando como funcionaria o primeiro ano da residência – o famoso e temido R1 – e como os residentes do segundo ano (R2) iriam nos ajudar, como iríamos trocar de rodízios (os estágios que passaríamos) todo mês, o que esperavam de nós…

"Tudo isso será enviado por email para vocês, não se preocupem. Hoje vamos apenas conhecer o hospital e vou ensinar como mexer no sistema, que é o principal desafio dos primeiros dias."

Uma das residentes que veio do Hopkins soltou uma risadinha, duvidando em parte do que Dr. Cullen havia dito.

"Isso definitivamente inclui todos, até mesmo os que fizeram faculdade aqui, Dra. Mallory," Dr. Cullen falou, "e não haverá nenhum tratamento diferente entre os novos residentes, não importa sua faculdade de origem."

Dr. Cullen se levantou e pediu para segui-lo; ele estava mostrando o hospital para que não ficássemos tão perdidos. Eu me esforcei para ficar o mais longe possível de Edward e não foi tão difícil; Dr. Cullen o chamou para perguntar alguma coisa.

"Você é Isabella Swan?"

Quando me virei em direção à voz, senti os olhos de Edward se desviarem rapidamente em minha direção e depois retornarem a seu pai. Era uma garota baixinha, menor do que eu, com cabelos pretos bem curtos. Eu não conseguia dizer exatamente, já que sua máscara escondia metade do rosto, mas ela tinha alguma familiaridade. Ela também não tinha sido apresentada previamente.

"Bella," corrigi, estendendo a minha mão.

Ela respondeu com um sorriso, "Alice Cullen, prazer!", Alice apertou minha mão entusiasticamente, "Eu li seu trabalho sobre rede de apoio em pacientes vítimas de trauma, e achei fantástica a sua abordagem."

"Ah, eu… muito obrigada," respondi, sem saber muito bem o que falar. Alice sorriu novamente – seu sorriso era tão intenso que nem a máscara escondia.

"Ah, Alice. Onde você estava?" Dr. Cullen questionou.

"Tive problema com meu crachá, desculpe pelo atraso," ela replicou calmamente.

"Essa é Alice Cullen, outra residente. Mais uma vez, preciso explicitar que o laço familiar não fará nenhuma diferença no tratamento."

Alice Cullen.

Alice revirou os olhos com as palavras do pai, mas pude ver a outra R1 mulher, Lauren, estreitando os olhos na direção dela.

Continuamos com o tour pelo hospital; me esforcei para gravar os principais caminhos, os andares fundamentais de enfermarias, os confortos, o pronto socorro, o centro cirúrgico, as salas das especialidades, as salas dos chefes, o refeitório, a cantina…

Como já era esperado, não consegui gravar tudo, mas peguei os principais, incluindo a UTI que James trabalhava.

"Bom, por agora é isso," Dr. Cullen disse, quando paramos em frente à sala da cirurgia geral, "almocem e voltem em uma hora. Vou entregar os logins e senhas, e ensinar vocês a usarem o sistema."

Alice me ofereceu um sorriso e foi em direção a Edward e Dr. Cullen, abraçando os dois. Por um instante, me peguei imaginando qual exatamente era a relação entre Edward e Alice – eles não eram tão parecidos para serem gêmeos, mas ainda assim estavam no mesmo ano de residência – até que me lembrei que não me importava.

Percebi que os residentes que já se conheciam pelo Hopkins tinham se juntando num grupo de cinco, enquanto Alice e Edward conversavam com Dr. Cullen, o que me deixava sozinha.

Peguei meu celular, pronta para ver se Angie ou Jess estavam livres, mas um dos R1s se distanciou e veio em minha direção.

Ele era loiro, com olhos claros, e sorria abertamente com a máscara abaixada.

"Oi, sou Mike," ele se apresentou, "vamos almoçar no refeitório, quer ir com a gente?"

Assenti com a cabeça e guardei o celular, "Quero sim, obrigada."

"Isabella, certo?"

"Só Bella," repliquei.

Ele me apresentou aos outros: Eric, Lauren e Tyler. Os dois garotos sorriram e se apresentaram, mas Lauren apenas acenou.

Seguimos para o refeitório; eles estavam comentando sobre alguns dos preceptores (os médicos responsáveis por nós e por nosso ensino no hospital) que já conheciam quando ainda eram estudantes, e eu ouvi atentamente, me preparando para aprender dicas das pessoas que iriam nos ensinar.

"E você fez faculdade onde, Bella?" Mike perguntou.

"NYU," respondi.

"Por que não continuou lá?" Eric fez uma careta logo após falar, "saiu errado. Quis dizer por que preferiu vir pra cá."

Eu sorri, mostrando que não tinha me incomodado, "Aqui é o melhor programa de cirurgia do país. Honestamente, não esperava ter sido aprovada, mas devo ter feito alguma coisa certa," brinquei.

"Com certeza," Tyler concordou enquanto entrávamos na fila para pegar a comida, "você é a única que não fez Hopkins. Quer dizer, você e Cullen."

"É, mas ele é filho de Chefe Cullen, né?" Lauren comentou.

Tive que me segurar para não defender Edward; como ela poderia simplesmente assumir que ele tinha entrado na residência apenas por ser filho do chefe?! Ela não conhecia Edward para saber se ele era competente ou não.

"E ainda tem Alice," Lauren continuou enquanto pegava a comida, "dois Cullen no mesmo ano. A família Cullen toda fez residência aqui no Hopkins. Até os agregados."

"Todo mundo sabe que Alice tirou a maior nota da prova, Lau. Ela teria passado mesmo que tivesse zerado a entrevista," disse Eric.

"E quem você acha que faz a prova?" Ela replicou como se fosse uma pergunta retórica.

"Qual é, Lauren, eu duvido que Chefe Cullen tenha dado respostas pra eles," Tyler discordou.

"Na verdade, é um comitê independente," comentei. Todos olharam para mim, "eu pesquisei antes de prestar prova aqui. É um comitê independente. Nenhum preceptor aqui participa da prova. O hospital passa uma lista com alguns dos assuntos que querem que caía e essa empresa faz várias questões com base nisso, e depois sorteiam as que aparecem na prova."

Tyler fez uma cara de impressionado enquanto os outros só me olharam. Senti meu rosto esquentando.

"Pesquisei pra saber se teria algum favorecimento a quem tinha feito faculdade aqui," justifiquei, "e achei um processo muito justo. Eles inclusive me mostraram o checklist da entrevista."

"Você acha que é só coincidência, então?" Lauren me perguntou, quase um desafio. Achei melhor não dizer que eu achava que na verdade a competência era de família e dei de ombros.

"Não tenho conhecimento a respeito suficiente pra opinar," respondi honestamente enquanto sentávamos numa mesa. Além disso, eu definitivamente não queria me indispor com uma colega nova logo no primeiro dia.

Mas parecia que tinha acontecido do mesmo jeito.

Os garotos não pareciam ter nenhuma animosidade comigo, mas Lauren não parecia estar muito confortável com minha presença. Fiquei calada a maior parte do almoço, ouvindo as histórias que eles tinham para contar sobre o Hopkins. Olhei ao redor algumas vezes, mas não achei Angie ou Jess. Olhei rapidamente o celular e elas tinham mandado mensagem dizendo que já tinham ido embora.

Acabamos de almoçar e voltamos para a sala da cirurgia geral. Era um cômodo amplo, com duas mesas no centro, três sofás e mais mesas com computadores nas laterais. Além disso, tinha uma televisão, uma geladeira e um microondas. Uma das paredes era repleta de armários, com uma porta no meio.

Não fui capaz de esconder meu choque com a estrutura, e percebi Edward sorrindo em minha direção.

"Bom, essa sala aqui é basicamente de vocês," Dr. Cullen explicou. Agora que ele abaixara a máscara, eu consegui perceber ainda mais a semelhança com Edward, "os chefes raramente ficam aqui, a não ser que tenha alguma reunião ou discutir algum caso. Essa televisão," ele continuou, "conecta com os computadores, então podemos colocar os exames de imagem aqui e discutir bem. Hoje, vou usar pra mostrar o sistema. Podem sentar."

Ele sentou num dos computadores e nós nos sofás; prestei o máximo de atenção possível; cada hospital tinha seu próprio sistema, alguns parecidos, outros nem tanto. O do NYU era completamente diferente do Hopkins, então mentalmente calculei que precisaria chegar mais cedo no dia seguinte para compensar.

Tive que me esforçar para ignorar Edward; ele estava prestando tanta atenção quanto eu (provavelmente mais) na explicação. Provavelmente o sistema era desconhecido igualmente por nós dois.

Quando Dr. Cullen terminou a explicação, ninguém teve mais dúvidas. Ele distribuiu nossa escala de plantões, onde iríamos começar, quem deveríamos procurar no dia seguinte, e várias outras instruções que tive de anotar para não esquecer. Ele também nos falou os horários recomendados para chegarmos, nos entregou nossas credenciais de estacionamento.

Consegui, por algum milagre, evitar ficar a sós com Edward no primeiro dia. Sem querer, Alice me ajudou, puxando ele para alguma conversa entre os dois quando Dr. Cullen anunciou que estávamos liberados.

Racionalmente, eu sabia que não tinha motivo para evitar Edward. Contudo, eu também tinha noção de que não conseguiria conversar com ele hoje. Não sem a preparação adequada, não sem conseguir afastar da minha mente as imagens daquela noite de anos atrás toda vez que olhava para ele.

Eu não estava apaixonada por ele; não mesmo. Eu estava bem com James, refleti enquanto dirigia para casa. O problema é que eu não esperava, de jeito nenhum, ver Edward de novo, principalmente com esse reencontro trazendo junto a notícia de que estaríamos próximos novamente.

As memórias só eram muito fortes, me convenci enquanto entrava em casa. No sofá, James olhou para mim e sorriu.

"Como foi hoje?", ele me perguntou, "pedi italiana e escolhi um vinho para comemorarmos o seu primeiro dia."

Definitivamente bem com James.