C a p í t u l o  D o i s

            "Ei, Harry! Você tá mesmo pensando em dormir a droga do dia todo?!"

            Harry sentia seu corpo ser sacudido. Abriu os olhos lentamente e viu, desfocado, seu amigo Ron debruçado na sua cama, olhando-o com cara de bravo. Esfregou os olhos, procurou pelos óculos em cima do criado-mudo e mais uma vez encarou Ron. Seus cabelos ruivos estavam comicamente despenteados.

            - Bom dia, Ron... - disse Harry sorrindo.

            - Bom dia?! - exclamou seu amigo, levantando-se - São quase uma hora da tarde!!! Sorte sua que é sábado! Você dormiu que nem uma pedra!

            - Quase uma da tarde?! - gritou Harry se levantando num salto - Nossa!

            Em alguns minutos, os dois foram direto para o Salão Principal almoçar. Harry estava se sentindo estranho, nunca havia acordado tão tarde em toda a sua vida. Fora o pequeno detalhe de que não se lembrava de ter ido dormir no dia anterior.

            Sentaram-se perto da Hermione, que não perdeu tempo para passar um sermão em Harry sobre dormir tarde e acordar tarde. Harry ignorou-a, não por maldade, mas o cheiro da comida fez seu estômago roncar, logo começou a se servir.

            Enquanto todos conversavam, Harry comeu em silêncio, sentia-se muito estranho, tinha algumas perguntas em sua cabeça... Então, algo chamou sua atenção na mesa dos professores. Snape mal tinha tocado no seu prato, nem na taça de suco, havia apoiado o queixo em uma das mãos enquanto a outra repousava sobre a mesa. Seus olhos fixos em Harry, mas como sempre, sem expressão alguma. Apenas olhava. Harry não conseguiu suportar o olhar do professor por muito tempo e voltou-se para a comida.

            Quando todos já tinham comido, quando estavam começando a se retirar, Harry lembrou-se de absolutamente tudo que havia acontecido na noite passada. Começou a corar fortemente no meio do Salão Principal, como se tivesse recebido um Berrador inconveniente. Hermione logo notou.

            - Que foi, Harry?

            - Que foi, o que? - perguntou tentando disfarçar.

            - Você ficou vermelho! - comentou Hermione cutucando as bochechas coradas do colega.

            - Não fiquei não! - e se afastou.

            Num dia ensolarado e até quente como aquele, ninguém queria ficar trancafiado no castelo frio. Haviam pessoas espalhadas pelos campos e perto do lago. Os três amigos se acomodaram a alguns metros da margem e ficaram lá. Hermione lia um livro e eventualmente fazia algum comentário. Ron contava uma história que seu irmão Carlinhos havia lhe contado, enquanto Harry olhava para o lago, às vezes ouvindo o colega às vezes não. Estava pensando se queria encontrar aquela pessoa de novo, se queria que anoitecesse logo, se deveria voltar a aquele terraço...

            - O terraço! - Harry exclamou, interrompendo o colega. - Já volto!

            Levantou-se e disparou para dentro do castelo. Subiu algumas escadas e tentou fazer o mesmo caminho que havia feito na noite passada, enquanto corria, torcia para a porta não ter mudado de lugar.

            Pra sua sorte, a porta ainda estava lá, mas dessa vez, fechada. Empurrou-a com as mãos e a abriu devagar, a visão que teve foi completamente diferente. O terraço na verdade era um jardim, estava coberto de plantinhas e flores bonitas. A grama do chão era verde e haviam trepadeiras nas paredes e nas bordas, era realmente bonito, ficou pensando se aquilo não era obra da Professora Sprout.

            Caminhou lentamente pelo gramado e foi para o parapeito como na noite passada, olhou o campo de Quadribol iluminado e com uma porção de pontinhos voando dentro dele. Era o time da Lufa-Lufa treinando. Depois se virou e olhou o jardim, decidiu que iria voltar mais tarde e descobrir quem era aquela pessoa.

            O dia foi lento e comprido, Harry ficou o tempo todo torcendo para que escurecesse logo. Depois para que todos jantassem e por fim, esperou todos irem dormir. Como na noite passada, pegou sua capa e correu para o Jardim, a porta estava exatamente entre aberta como da última vez, entrou devagar, dizendo baixinho:

            - Tem alguém aí?

            Tudo estava tão escuro, Harry estava pensando que só ia conseguir vê-lo se o arrastasse para fora do jardim. De repente, a porta atrás dele se fechou. Harry virou rapidamente e não viu nada, mais uma vez o sentimento de desespero tomou conta do garoto. ele olhava para os lados a procura de alguém mas nada, tudo que via eram sombras das plantas e o contorno do terraço. Então, sentiu sua barriga ser tocada por duas mãos que deslizavam de trás. Harry agarrou os braços do misterioso tentando se livrar e virar para vê-lo mas foi impedido. O corpo do estranho estava colado ao seu, sentiu as mãos subirem em direção ao seu peito, sempre o massageando.

            Harry deixou sua cabeça se encostar, seus olhos se fecharam de prazer, não sabia mais se queria realmente saber quem era, o importante era que achava deliciosos esses encontros no Jardim.  Sentia os lábios do estranho tocarem sua face mais uma vez, suas grandes mãos macias deslizavam por todo o seu corpo e os beijos eram incensáveis.

            O estranho não dizia uma palavra, não fazia um som, era possível apenas ouvir sua respiração. Então, Harry sentiu as mãos se demorarem em seu cinto da calça, logo percebeu que estava sendo despido.

            - Não... - Sussurrou Harry sentindo medo mais uma vez.

            Mas o simples "não" do garoto não foi convincente, sentiu o cinto se perder e suas calças se afrouxarem e caírem sobre seus sapatos. O toque rondava abaixo do seu umbigo passando suavemente pelo elástico de seu calção.

            - Não, não... Não! - Harry empurrou-o com toda a forca que tinha, conseguiu se afastar e quando se virou viu uma sombra correndo para fora do jardim.

            O mais rápido que pôde, Harry puxou as calças, agarrou a capa e correu atrás. Só podia ouvir passos rápidos ecoando pelos corredores e o perseguiu até onde o som sumira. Olhou em volta e se deu conta que estava perto das masmorras. Desceu até onde costumava ter suas aulas de Poções  e procurou por lá algum sinal como uma porta aberta ou ouvir mais barulho de passos, porém ficou  perdido. Não havia ninguém lá, era melhor que voltasse antes que alguém...

            - Sr Potter, o senhor pode me explicar o motivo desse passeio noturno?!

            Virou-se e viu Snape vestido com um roupão escuro e a ponta da sua varinha iluminada, apontando para sua testa. Harry abaixou o rosto e sentiu-se estúpido por não ter vestido a capa.