Weird – Parte Final


FAN FICTION

ESCRITA POR: Bellefleur X (bellefleur_x@hotmail.com)

DISCLAIMER: Os personagens desta estória pertencem a seus
criadores. Amy, Rosita e Edu são meus e deles não abro mão...

CATEGORIA: Shipper (ma non troppo, como sempre!), flertando
ligeiramente com a Mitologia e tomando algumas liberdades
para com a dita cuja.

CLASSIFICAÇÃO: Censura livre (aqui não tem nada que não se
veja igual ou pior na novela das 6)

SPOILER: Mais uma pós-Réquiem. Da oitava temporada, apenas o
nome de John Doggett e sua participação nos Arquivos X.

SINOPSE: Continuação de Weird – parte 2. A geometria estava
certa e as duas paralelas por onde se deslocavam Sully e
Weird/Mulder finalmente se encontram no infinito, com
conseqüências bastante interessantes.

ADVERTÊNCIA: Essa fic continua não recomendada para
diabéticos e pacientes em dieta de restrição de açúcares.

AGRADECIMENTO: Um sincero obrigado a todas as minhas quinze
leitoras (se cuida, Agamenon, que eu chego lá...) pelos
feedbacks que me incentivaram a continuar essa estória.

AGRADECIMENTO ESPECIAL: À Graça, pelas idéias que continua me
dando e pela estimulante impaciência que tem demonstrado em
ler e opinar sobre essa tralha.

NOTA: Feedbacks (positivos ou negativos) são sempre bem
vindos.





Weird – Parte Final




"O paraíso está por
toda parte e toda
estrada nos leva lá
se seguirmos por ela
tempo suficiente."
Henry Miller




Virtual Insanity Café – Washington, DC
12/10/2005 – 03:15 PM

O rosto no espelho estava pálido como uma folha de papel, o
olhar vazio e sem expressão. As mãos crispadas agarravam-se
ao mármore da pia com força. Ela respirou fundo, uma, duas
vezes. Aos poucos, as paredes foram parando de girar a sua
volta. Pronto, agora sentia-se melhor.

Lentamente, Scully abriu a torneira e deixou que a água fria
corresse sobre suas mãos trêmulas. Passou-as molhadas pela
pele fria de seu rosto, as gotículas de suor brotando na
linha dos cabelos. Ao secá-lo, percebeu que a pequena mancha
arroxeada em sua testa, suvenir do desmaio da noite anterior,
com a qual gastara uns bons vinte minutos pela manhã usando
de toda sua técnica de maquiagem para disfarçar, estava
novamente à vista. "Droga!" pensou, enquanto procurava na
bolsa o frasco de corretivo.

Sentira novamente aquele mal-estar, aquela vertigem.
Precisava marcar sua consulta anual de revisão com o
oncologista, já seis meses atrasada. Desde que Amy começara
com suas febres súbitas, toda a atenção de Scully voltara-se
para os cuidados com a filha. Acabara por negligenciar sua
própria saúde e agora temia o preço que poderia pagar por
essa negligência. Ao menos, o mal-estar não ocorrera às
vistas de ninguém, não gostaria de deixar os Pistoleiros
preocupados com sua saúde. Prometendo a si mesma que ainda
naquele dia agendaria uma visita a seu médico, ela deixou o
banheiro feminino.

O salão do cyber café não era grande, as dez mesas redondas
dispostas de maneira estudadamente aleatória em seu centro
eram rodeadas por outras tantas quadradas, encostadas às
paredes, sobre as quais estavam os computadores. Uns poucos
freqüentadores espalhavam-se pelo local, essencialmente,
jovens navegando pela Internet.

Byers e Frohike, sentados em uma das mesas redondas, bebiam
café fraco e morno em grandes canecas coloridas, enquanto
discutiam sobre o último lançamento do Jamiroquai, em XMP4.

- Não, definitivamente Virtual Insanity é melhor que Space
Cowboy que, por sua vez, é melhor que qualquer coisa que
tenha sido lançada nos últimos tempos. - argumentava Byers.

- Você é um reacionário, Byers. Vive de passado, rejeita o
novo. – reagiu Frohike, puxando a cadeira para que Scully se
sentasse. – Tudo bem, agente Scully? – indagou, notando-lhe a
palidez.

Ela acenou afirmativamente com a cabeça, enquanto, com os
olhos, seguia Langly que andava a esmo por entre as mesas,
espreitando os monitores por sobre os ombros dos
freqüentadores.

- Alguma coisa até agora? – perguntou ela, sorvendo um gole
de seu chá gelado.

- Nada de muito concreto. – respondeu Byers. – Segundo o
gerente, esse horário em que foram enviadas as mensagens é um
dos mais concorridos aqui do café. É que as aulas de uma
escola de inglês para estrangeiros aqui perto terminam a essa
hora. Basicamente, os freqüentadores são adolescentes de
outros países que vêm estudar o idioma e se utilizam dos
computadores daqui para contactar seus amigos e familiares. A
cada seis meses, mais ou menos, mudam-se as turmas e, com
isso, as caras por aqui.

- Compreendo... – murmurou Scully, ainda olhando ao redor.

As informações de Byers pareciam corretas. O café começava a
se encher de rapazes e moças com idades que variavam dos
quinze aos vinte anos, alguns conversando entre si no que
Scully imaginou que deveriam ser suas línguas natais. Iam
ocupando as mesas do centro do salão e revezando-se nas dos
computadores.

- Agente Scully... – chamou Frohike, apontando para Langly.
Este indicava com a cabeça um dos computadores ocupado por um
rapaz de cabelos negros.

Prontamente, ela se levantou e dirigiu-se até lá. Esticou-se
um pouco para poder ver a tela do computador.
"D_Scully@fbi.gov" estava escrito no campo relativo ao
destinatário da mensagem cujo texto era:

"A raposa é esquiva. O galinheiro começa a ficar irritado.
Acautele-se."

Era ele. Ali estava o responsável por aquelas mensagens
esquisitas. Apenas um milésimo de segundo depois que o dedo
do rapaz pressionou o botão de Enviar, Scully sacou a
insígnia.

- FBI. – disse ela em voz baixa. – Eu gostaria de lhe fazer
umas perguntas.

A tentativa de se levantar do garoto foi imediatamente
contida pela mão de Langly em seu braço.

- Calminha aí, rapaz. A moça só quer bater um papo com você.

- Ah, se vai conversar, libera a máquina... – reclamou uma
lourinha sentada em uma das mesas próximas, aparentando pouco
mais de quinze anos, que mascava chicletes e falava com
sotaque engraçado.

- Sua colega tem razão. Acompanhe-me até aquela mesa.

Scully caminhou em direção à mesa onde estavam os dois outros
Pistoleiros, sendo seguida de perto por Langly que arrastava
atrás de si o garoto.

- Por que e para quem você estava enviando aquela mensagem,
moleque? – indagou Langly, sentando-se ao lado do rapaz,
ainda sem largar-lhe o braço.

O menino olhava para os quatro ocupantes da mesa com os olhos
esbugalhados, a boca aberta, abobalhado. Tinha cerca de
dezesseis anos, cabelos e olhos negros, pele dourada.

- Você está me entendendo? Fala inglês? Hablas español? –
perguntou Byers diante da mudez do rapaz.

O garoto acenou com a cabeça que sim, engolindo em seco.
Scully sorriu e procurou tranquilizá-lo, colocando sua mão
sobre a do menino e falando pausadamente com voz mansa.

- Olhe, não precisa ficar assustado. Você não está sendo
preso ou algo assim. Nós só queremos lhe fazer algumas
perguntas. Eu sou a agente especial Dana Scully, do FBI. E
esses são meus amigos Byers, Langly e Frohike. Como é seu
nome?

- E-e-eduardo. A-álvares. – gaguejou em resposta. - Mas pode
me chamar de Edu.

- De onde você é?

- De São Paulo. Fica no Brasil. – disse o menino já mais
calmo. - Ah, por favor, não digam nada ao meu pai. Ele é
capaz de me matar se souber que me meti em encrencas com os
federais americanos. Por favor...

- Fique tranqüilo. – apaziguou a agente. – Só queremos saber
sobre aquela mensagem. Você sabe por que e para quem a estava
enviando?

- Ora, porque a mulher me pediu. Ela dá o texto e o endereço
de e-mail do destinatário e pede que a mensagem seja enviada
anonimamente. – respondeu Edu. Depois, parou e olhou para
Scully por um longo momento, seus olhos se arregalando,
lentamente. – "D_Scully"... Dana Scully? FBI? Ai, meu Deus!
Era para você, então? Me desculpe, me desculpe mesmo.

Scully sorriu diante do arrependimento aparentemente sincero
do rapaz.

- Mas quem é essa mulher? – insistiu Frohike.

- Não sei. – respondeu. – Não a conheço. Ela me manda um
envelope com as informações para enviar a mensagem e um
cheque. Sabe, ela me paga cem dólares por cada mensagem
enviada. Meu pai é pão-duro e esse dinheiro é muito bem vindo
para complementar a minha mesada...

- E você não achou estranho tudo isso? – perguntou Byers.

- Bem, para falar a verdade, achei um pouco, sim. O envelope
aparece na caixa de correio de onde eu moro sem selo, nem
nada, sabe? Mas... – deu de ombros. - O mais esquisito mesmo
é o caminho que o e-mail tem que percorrer...

- Como assim? – indagou Scully.

- Sabe, ela me deu uma lista de endereços IP por onde o e-
mail deve ser encaminhado e exigiu que a mensagem seguisse
exatamente por aquele caminho, naquela ordem. Muito
esquisito... Deu um pouco de trabalho para fazer o script,
mas depois de feito, é mole, é só rodar. – completou exibindo
um sorriso orgulhoso.

- E como essa mulher, que, segundo você mesmo diz, você não
conhece, o encontrou?

- Achou que foi por causa dos anúncios que coloquei em alguns
quadros de avisos em mercados e lanchonetes, me oferecendo
para fazer "trabalhos na Internet". Eu estava pensando em
home pages e essas coisas, mas, aí, ela me ligou oferecendo
isso e a grana era alta, sabe...

Os quatro adultos se entreolharam, desanimados. Parecia que
Edu não tinha mesmo muito mais a acrescentar. Afinal, era
apenas um garoto tentando ganhar um trocado.

- Obrigada, Edu. Se você lembrar de mais alguma coisa que
ache importante ou se a mulher entrar em contato com você
outra vez, ligue para mim, ok? – disse Scully, entregando um
de seus cartões de visita ao rapaz. Já ia se levantando,
quando acrescentou: – A propósito, você é do Brasil, não é? –
o rapaz acenou positivamente com a cabeça. – Conhece o Rio de
Janeiro? Como é lá?

- Uau... – disse o garoto, abrindo um largo sorriso. – Lá é
maneiro, meu!

- Maneiro!? – Scully meneou a cabeça, com um ar divertido. –
Obrigada mais uma vez. Maneiro... – repetiu pensativa
enquanto se encaminhava para a porta.



Washington, DC
13/10/2005 – 11:10 AM

Weird vagava a esmo pelas ruas de Washington a algumas horas.
De todas as cidades por onde já passara, essa era, sem
dúvida, aquela onde ele sentia-se mais à vontade. Sentia uma
familiaridade com suas ruas, prédios, monumentos, como não
lhe ocorria em qualquer outro lugar. Talvez já tivesse morado
ali, quem poderia saber?

Andava sem rumo, mas, aos poucos, foi se tornando claro para
ele onde seus pés o queriam levar. Um certo jardim de
infância freqüentado por uma certa garotinha de cabelos
vermelhos estava a apenas duas esquinas de distância, ele
sabia. Não que aquele fosse conscientemente seu destino,
porém era onde as pernas o conduziam.

Estacou. Queria, sim, queria muito ir até lá, vê-la, sua
boquinha miúda, as bochechas rosadas, os olhinhos vivazes.
Mas, ao mesmo tempo, acreditava firmemente que não devia.
Tinha a certeza de que, se a visse, por um instante apenas
que fosse, não poderia mais separar-se de Amy. Deu meia volta
e afastou-se na direção contrária, com passos hesitantes,
perdendo-se novamente nas calçadas da cidade.



Smithsonian Institution - Museu Nacional de História Natural
– Washington, DC
13/10/2005 – 01:30 PM

Ao lado do ônibus escolar, Sally Mattern tentava bravamente
organizar sua turma em uma fila. Árdua tarefa em se tratando
de um bando de selvagenzinhos de cinco anos de idade
excitados ao extremo pela perspectiva de ver os tais
"disnossoros" que havia no museu.

- Ai, ai, ai! – exclamou irritada. – Quem não estiver na fila
de mãos dadas com um coleguinha quando eu contar três, vai
ficar no ônibus esperando o resto da turma visitar o museu,
ok? – disse, em uma tentativa desesperada de imprimir ordem
ao caos. – Um... dois... três!

Como num passe de mágica, ao final da contagem, todas as
dezesseis crianças estavam alinhadas aos pares numa fila bem
ordenada. Sorrindo satisfeita, "tia" Sally conduziu seus
alunos para o interior do imponente edifício.

Numa alegre balbúrdia, foram percorrendo os diversos salões
repletos de fósseis de animais pré-históricos. A organizada
fila que entrara no museu havia se transformado, ao atingirem
o segundo andar, num bando de crianças que se amontoavam em
torno da guia, ouvindo-lhe atentamente as explicações e, em
troca, enchendo-a de perguntas a todo momento. Os outros
poucos visitantes do museu não pareciam incomodar-se com a
divertida confusão promovida pela passagem das crianças.

O Insect Zoo, o salão dos insetos, era o favorito de Amy. Já
havia estado ali outras vezes com sua mãe e o conhecia muito
bem. Fascinada por uma colméia com "abelhas vivas de verdade"
colocada em um caixote de vidro, a menina acabou por afastar-
se de seu grupo sem que fosse notada.

- Eu acho essa colméia a coisa mais interessante do museu. –
disse o homem de cabelos castanhos que observava a vitrine
parado ao seu lado.

- Eu também. – respondeu a menina sem desgrudar os olhos dos
insetos. – Minha mãe disse que as abelhas têm uma das
sociedades mais organizadas entre os insetos... – fez uma
breve pausa na qual encarou firmemente e desconhecido,
estudando-o. - Mas ela não gosta muito de abelhas... Eu
gosto! – acrescentou sorrindo.

- Você tem bom gosto. – sorriu ironicamente o estranho. – Meu
nome é Alex. – completou, estendendo a mão vestida com uma
luva negra.

- Eu sou Amy. – retribuiu o cumprimento.

O homem passou a mão pela gola da camisa, afastando-a do
pescoço. Olhou em torno, como se procurasse por algo no ar,
antes de encará-la novamente.

- O aquecimento aqui está forte demais... Está quente aqui
dentro, não é? – disse aproximando-se da menina. – Acho que
vou tomar um sorvete. Você quer um também?

A criança olhou ao redor procurando sua turma de escola, mas
eles já haviam deixado o salão sem dar por sua falta.

- Não, obrigada. – Amy começava a ficar ressabiada. - Mamãe
sempre diz para eu não aceitar nada de estranhos.

- Mas eu não sou estranho. – replicou Krycek, aproximando-se
ainda mais da menina. – Eu até conheço sua mãe! Ela é Dana
Scully, não é? – perguntou ele, segurando o braço de Amy que
começava a recuar, a escapar do estranho.

- Ei! Solte meu braço, moço... – reclamou assustada, tentendo
desvencilhar-se do aperto da mão enluvada em seu braço.

Krycek ajoelhou-se diante dela, segurando-a agora pelos
ombros e trazendo-a para perto de si. Seu olhar deixava
entrever toda a crueldade de que era capaz.

- Olhe, Amy, acho bom você ficar bem quietinha e vir comigo
como uma boa menina, se não quiser que sua mamãe fique
machucada. – ameaçou com voz rouca, sua boca roçando a orelha
de Amy enquanto falava.

Abriu ligeiramente a jaqueta de modo a deixar à mostra,
apenas por um momento, a pistola presa ao coldre sob seu
braço esquerdo. Amy estremeceu. Ela sabia o que era uma arma
e o mal que uma daquelas era capaz de fazer. Sua mãe já lhe
explicara diversas vezes porque crianças não deviam mexer em
armas. A menina lembrava-se de uma vez, havia alguns meses,
em que a mãe chegara em casa com um braço enfaixado pendurado
em um tipóia e de que lhe contara como aquele ferimento fora
produzido por uma arma. Desde então, Amy temia armas.
Intimidada pela ameaça contra sua mãe, a menina acabou por
seguir Krycek.

- Sorria, meu bem. – disse ele ao perceber o ar nervoso da
menina.

Caminhando de mãos dadas com Krycek, a garotinha tentava
afetar naturalidade, ao mesmo tempo em que procurava
desesperadamente localizar com o olhar a professora e os
coleguinhas de escola. Num dado momento, avistou a "tia"
Sally ao longe, no final de um longo corredor, e teve a
impressão de que a professora olhava diretamente para ela.
Respirou mais aliviada, imaginando-se salva, quando a "tia" e
toda a turma desapareceram por uma porta do corredor sem ao
menos vê-la.

Krycek andava rápido, praticamente arrastando atrás de si Amy
que se esforçava para acompanhar o ritmo feroz das passadas
do adulto com suas perninhas curtas. Mas ninguém parecia
perceber o que se passava. Próximo à saída do edifício, a
menina avistou o que parecia ser sua última esperança de
salvação. Um guarda de segurança de cara emburrada parado
junto à porta olhava atentamente todos que passavam por ele.
Numa tentativa desesperada de chamar sua atenção, Amy começou
a fazer a única coisa que lhe ocorrera: caretas. Obteve
sucesso em atrair a atenção do segurança, arrancou-lhe um
sorriso. Mas, para azar seu, atraiu a de Krycek também.

- Engraçadinha... – disse ele com um sorriso forçado,
aumentando a pressão com que apertava a mão da menina.

Já haviam ganho o lado de fora do edifício e andavam pela
calçada em direção ao estacionamento, quando Amy viu um homem
alto, sentado, de costas para ela, em um banco do outro lado
da rua. Seu coração pulou descontrolado dentro do peito.

Do outro lado da rua, Weird sentava-se em um banco num ponto
de ônibus, imaginando para onde ir. Já havia passado pelo
Monumento a Washington, pelo Memorial de Lincoln e a Casa
Branca, vagando atordoado por entre as lembranças confusas
que aqueles locais lhe despertavam. Rostos e nomes iam e
vinham em sua cabeça sem que ele pudesse associá-los entre
si. Garganta Profunda, X, uma mulher com longos cabelos
louros, Diana, o homem com o cigarro, Melissa, Samantha...

Depois de muito vagar, finalmente, chegara ali, ao
Smithsonian. Contemplara longamente a imponente construção
com suas altas torres de tijolos vermelhos e, depois,
sentara-se para descansar. Um leve arrepio em sua nuca o fez
girar o pescoço e olhar para trás, antes mesmo que ouvisse
seu nome sendo gritado.

- Weeiird! – berrou a menina, arrancando com um puxão a
mãozinha do forte aperto de Krycek.

Weird levantou-se com um salto, bem a tempo de ver Amy correr
em sua direção perseguida por um homem que usava óculos
escuros. O perseguidor agarrou a garotinha pela cintura e a
ergueu do chão como se não pesasse mais do que uma pluma. A
menina, que lutava bravamente para desvencilhar-se de sua
prisão, conseguiu arrancar-lhe os óculos do rosto, revelando-
lhe os olhos verdes estreitados pela ira. Weird atravessava a
rua sem se preocupar com o tráfego, corria por entre os
automóveis sem desgrudar os olhos de Amy e seu agressor. A
visão daquele rosto provocou uma avalanche de recordações
dolorosas em sua mente.

- Krycek, maldito! – rosnou por entre os dentes, subitamente
reconhecendo num lampejo seu antigo desafeto.

Ao dar de olhos com Mulder, correndo por entre os carros,
Krycek saiu em disparada para o estacionamento, carregando
Amy. Mulder alcançou a calçada próxima, no momento em que o
outro homem jogava a menina para dentro do automóvel. Ao
percebê-lo a poucos passos do carro, Alex Krycek sacou sua
pistola e disparou contra o homem que corria, pulando, a
seguir, no interior do carro e deixando o local em alta
velocidade.

Mulder havia se desequilibrado na tentativa de escapar do
disparo. Tentou ainda, por um quarteirão inteiro, perseguir o
automóvel em fuga. Correndo às cegas, acabou se chocando com
um pedestre que caminhava em direção contrária e caindo,
estatelado, no pavimento.

- Mulder!? – tartamudeou um incrédulo Byers que se erguia do
chão, limpando as calças.

- Sim, acho que sim... – murmurou Mulder, ainda atordoado.

- Byers, dos Pistoleiros Solitários! – disse, indicando a si
próprio com um gesto. – Lembra-se de mim?

Acenando com a cabeça, Mulder erguera-se do chão e começava a
andar com ar perdido na direção em que o automóvel de Krycek
havia desaparecido. Sem nada entender, o Pistoleiro o deteve,
segurando seu braço.

- Onde você vai?

- Krycek... – murmurou Mulder, num fio de voz. – ... ele
pegou a filha de Scully...



Sede do FBI - Washington, DC
13/10/2005 – 03:58 PM

- Agente Scully, eu não compreendo... – Skinner olhava para
Scully sentada do outro lado da mesa, em seu gabinete,
tentando imaginar o que se passava na mente da agente de
cabelos vermelhos. – Por que precisa localizar Marita
Covarrubias, depois de tanto tempo?

Scully suspirou desanimada. Tantas vezes antes, nos últimos
anos já se prestara àquele mesmo papel, que já perdera as
contas. Não era a primeira, mas ela sinceramente esperava que
fosse a última vez que vinha pedir ao diretor assistente
Skinner informações aparentemente disparatadas que ela
esperava conduzirem até Mulder. Ele devia achá-la louca a
essa altura dos acontecimentos. Que fosse! O fato é que não
desistiria até encontrar o parceiro. Pacientemente, começou a
explicar tudo novamente.

- Como já lhe falei, senhor, tenho recebido esses e-mails
estranhos...

- Que me parecem ser apenas trotes, mais uma vez... –
interrompeu Doggett com ar entediado.

Seu aparte infeliz foi silenciado pelo olhar fuzilante de
Scully que começava a se perguntar por que o convocara,
também, para aquela reunião.

- Por favor, agente Scully, continue. – incentivou o diretor
adjunto percebendo a irritação que começava a tomar a mulher.

- Pois bem. – continuou ela. – Com a ajuda dos Pistoleiros
Solitários, consegui rastrear os e-mails até sua origem e
acabei encontrando o menino brasileiro de que lhe falei, que
foi pago para enviá-los.

- Se o Congresso, ao invés de ficar se preocupando com soja
transgênica, já tivesse aprovado as leis de regulamentação da
Internet, poderíamos enquadrá-lo... – bufou Doggett,
interrompendo mais uma vez.

- Doggett!? É apenas uma criança! – replicou Scully irritada.
Tentando ignorar o homem sentado ao seu lado, ela prosseguiu.
– O menino foi pago por uma mulher desconhecida para enviar
essas mensagens. Uma mulher exigente que não se fez conhecer
ao menino, mas deixou uma espécie de assinatura na forma do
caminho que exigiu que as mensagens percorressem.

- Como assim? – indagou Skinner, intrigado.

Doggett tamborilava impaciente os dedos nos braços da
cadeira. Às vezes aquelas atitudes paranóicas da parceira o
deixavam profundamente irritado. Cinco anos já haviam sido
gastos em buscas inúteis por Fox Mulder. Por que ela não
desistia daquela procura idiota e se convencia de uma vez por
todas de que o homem estava morto? Por que ela insistia em
prosseguir naquela cruzada solitária por alguém que a havia
voluntariamente abandonado? Por que ela teimava em não
perceber que era ele, John Doggett, quem estava ali, ao seu
lado, disponível, disposto a protegê-la, consolá-la, amá-la?
Os dedos apertaram fortes os braços da cadeira.

- Uma lista de endereços IP, - continuou Scully, - cada um em
uma cidade diferente pelo mundo. Veja, senhor. – disse ela,
indicando uma folha de papel sobre a mesa. – Andei pensando
muito sobre isso. Marquei os pontos no globo e no
planisfério, procurando por padrões, mas foi em vão. Até que
me ative apenas à lista de nomes em si.

- Mas o que isso tem a ver com Marita Covarrubias? Ainda não
consegui acompanhar sua linha de raciocínio, Scully.

- Observe, senhor: Washington, Santiago, Atenas,
Iekaterinburgo, Berna, Udine, Riad, Recife, Adis Abeba,
Varsóvia, Oslo, Copenhague e Washington.

- Huumm? – Skinner olhava para a folha sem nada entender.

- Agora, remova Washington do início e do final da lista e
considere apenas a letra inicial de cada nome, senhor.

- S-A-I-B-U-R-R-A-V-O-C... Covarrubias, se lido ao contrário!
– exclamou Skinner.

- Sim! – incentivou Scully.

- ...E as mensagens falam em raposa... Fox... Mulder! –
completou o diretor, feliz com uma criança que acabou de
encaixar a última peça de um quebra-cabeça.

- Isso, senhor! Compreende agora porque preciso encontrar
Marita Covarrubias? É muito provável que...

O ruído agudo da campainha do telefone celular sobressaltou
Scully. Ela, que havia esquecido de desligá-lo quando entrara
na reunião, como sempre fazia, ficou imediatamente apreensiva
quando percebeu que a chamada provinha da escola de sua
filha.

– Desculpem-me um instante. – levantando-se e afastando-se
para um canto da sala para atender o telefone. – Scully. ...
Sim... – sua fisionomia ia se modificando com o que era dito
do outro lado, a voz se tornando mais grave, preocupada. -
Mas como ela pôde?... Não, não... Compreendo... Estou indo já
para lá! Obrigada.

Scully respirou fundo tentando permanecer calma, a agente
especial do FBI lutando para manter sob controle a mãe de
Amy. Os dois homens na sala assistiam àquela batalha interior
que se travava na mulher, sem nada dizer. Quando ela falou,
sua voz lhe saiu rouca, carregada de preocupação.

- Preciso ir. Amy desapareceu durante um passeio da escola.

- Há algo que possamos fazer para ajudá-la, Scully? –
perguntou Doggett, reassumindo outra vez o papel de colega
solícito.

Ela apenas sacudiu a cabeça, negando, o olhar inexpressivo.

- Vá, Scully. – ordenou suavemente Skinner, percebendo a
gravidade da crise. - Caso precise de algo, qualquer coisa, é
só dizer, ok?

Ela assentiu distraída com a cabeça, enquanto deixava a sala.
Seus pensamentos já voavam muito longe dali, imaginando o que
poderia ter acontecido à menina. Rezava com toda força para
que fosse apenas uma traquinagem da filha, mas seu coração
insitia em lhe dizer o contrário.

Amy sempre fora uma criança bem comportada, obediente, um
pouco distraída, às vezes, mas não deixaria voluntariamente
de atender ao chamado da professora. Algo havia acontecido,
algo sério, ela tinha certeza. Afinal, a contabilidade de
suas perdas tinha um saldo tão alto, tão pesado, que ela
tremia apenas em pensar nas possibilidades.

Lutava contra as lágrimas enquanto dirigia seu carro para o
Smithsonian. Ia revivendo toda a angústia pela qual passara
em Sacramento, procurando sua filhinha em meio às
ambulâncias. Mas, ao contrário daquela ocasião, dessa vez não
sabia exatamente aonde procurar. A menina simplesmente havia
desaparecido sem deixar vestígios. O museu era apenas um
ponto de partida para a busca. Tão imersa estava em seus
pensamentos e angústias, que por pouco não ouviu o toque do
celular.

- Scully. – atendeu sem convicção.

- Aqui é Frohike, agente Scully. – disse a voz do outro lado
da linha. – Você precisa vir até aqui imediatamente.

- Impossível, Frohike. Amy desapareceu... – a voz era pouco
mais que um sussurro. – Preciso procurá-la.

- É justamente por causa disso que precisar vir aqui.

- Ela está aí? – perguntou esperançosa.

- Não, mas...

O telefone ficou mudo. Irritada, Scully percebeu que a carga
da bateria do celular havia acabado antes que ela conseguisse
obter mais informações de Frohike. O que ele saberia sobre o
desaparecimento da menina? Imediatamente, tomou o rumo do QG
dos Pistoleiros.



QG dos Pistoleiros Solitários – Washington, DC
13/10/2005 – 04:33 PM

Vista pelo olho mágico, Dana Scully parecia ainda menor do
que realmente era, refletia Frohike. Brincava nervosamente
com os botões de seu blazer enquanto ouvia o estalar das
dezenas de fechaduras, trancas e travas da porta do QG dos
Pistoleiros. Quando a última das trancas foi desfeita e a
porta finalmente se abriu, a mulher praticamente saltou para
dentro da sala, obrigando Frohike a recuar assustado.

- Muito bem, Frohike. Desembuche! – ordenou imperativa. –
Onde ela está?

As grossas lentes do óculos faziam com que os olhos do
Pistoleiro parecessem ainda mais esbugalhados.

- Calma, agente Scu...

- Calma? Como posso ficar calma? – descontrolou-se ela. –
Minha filha desapareceu. Eu estou indo procurá-la e você me
liga dizendo para vir para cá com urgência. E agora fica aí
me olhando com esse olhar apatetado. Tenha a santa paciência,
homem! – O tom de sua voz ia se tornando cada vez mais agudo
à medida que dava vazão a todo o seu nervosismo. – Por Deus,
Frohike... Diga alguma coisa!

A mão que pousou com suavidade em seu ombro, roçando de leve
seu pescoço, fez a voz morrer-lhe na garganta. Não quis
acreditar em suas sensações. Por dezenas de vezes havia
sentido aquele toque em seus pensamentos. Mas fora apenas
isso, sua imaginação lhe pregando peças. Dessa feita, porém,
o toque parecia bastante real. Ela forçou-se a virar-se
lentamente para encarar o dono daquela mão, como se temesse
seu própro gesto.

- Oi. – ele disse simplesmente, parado de pé diante dela.

Vestia jeans e camiseta, emprestados dos Pistoleiros. A barba
por fazer acentuava a magreza dos rosto cansado. Estava
exatamente do modo como ela costumava vê-lo nos loucos sonhos
que sempre tivera sobre seu retorno. Aqueles em que ela
atendia a porta de seu apartamento e lá estava ele, parado,
com um "oi" e um sorriso, como se nada houvesse acontecido.

Ela o fitava, muda, paralisada. Mesmo que a voz lhe saísse da
garganta, não saberia o que dizer. Mesmo que conseguisse se
mover, não saberia o que fazer.

- Não maltrate o pobre Frohike assim, Scully. – ele sorria.

A mão, inicialmente pousada no ombro da mulher, agora
deslizava pelo braço dela, fazendo uma breve parada em seu
cotovelo.

– Se você o deixasse falar, talvez ele conseguisse lhe dizer
o que você quer saber. – continuou.

A mão voltara a mover-se e agora segurava a mão de Scully,
deslizando os dedos longos numa gentil carícia pelas costas
da mão dela.

- Mulder... – ela pronunciou finalmente, a voz sufocada.

- Sim. – respondeu, rouco. – Embora Weird ainda faça visitas
esporádicas. – completou, com um sorriso sem graça,
envolvendo-a em um abraço terno lavado pelas lágrimas quentes
e silenciosas que ambos não mais desejavam conter.

Ela aninhou a cabeça ao peito de Mulder, aprisionando-o com
os braços, como para que evitar que se evadisse. Ele
enterrava seu rosto na sedosa cabeleira de Scully, aspirando-
lhe o perfume profundamente, enchendo seu peito de vida com a
fragrância da mulher.

Langly e Byers, que a tudo observavam de um lado da sala,
disfarçavam, remexendo a esmo nos objetos da bancada a sua
frente, enquanto Frohike sorrateiramente enxugava uma furtiva
lágrima.

- Amy... – ela falou finalmente, afastando a cabeça do peito
de Mulder e erguendo-a para olhá-lo nos olhos.

- Eu sei... – disse penosamente. – Eu vi... Alex Krycek...
Tentei impedir... – seu semblante contraía-se em desespero,
impotência, enquanto falava. - Não consegui...

Os olhos de Scully desmesuradamente abertos faíscaram irados.

- Maldito! Maldito! Maldito!

Scully respirava com força. Havia se desprendido dos braços
do parceiro à menção do nome de Krycek e agora andava de um
lado para o outro pela sala, as mãos outra vez brincando
nervosas com os botões do casaco. Tinha as mandíbulas
contraídas e ventos de tempestade varriam o oceano azul de
seus olhos. Estacou de súbito, um profundo sulco vincando sua
bela fronte.

- Covarrubias! Eu devia ter desconfiado... Aquela loura
dissimulada não podia andar muito longe do rato que é seu
amante. – sibilou.

- Não entendi...

- É uma longa história... - E começou a relatar todo o
episódio das mensagens, passando por Edu Álvares e pela
relação de endereços IP e respectivas cidades.

Ele ouvia a tudo silencioso e atento. Quando o relato se
encerrou, ela quase podia ouvir o ruído das engrenagens do
cérebro do parceiro lutando para processar rapidamente as
informações recebidas. Deus, como ela sentira saudades de
observá-lo naquela atitude, totalmente absorto em pensamentos
e divagações até que se saía de repente com alguma conclusão
esdrúxula...

- É a mim que eles querem, Scully. A mim... – ele disse
finalmente, seu semblante transtornado pela crueza da
constatação.

Para reforçar seu ponto, foi a vez dele relatar o episódio
com os dois homens, o ataque e a tentativa de assassinato que
sofrera dias atrás.

– Droga! – completou ele ainda mais transtornado. - Eles não
têm o direito de usar sua filha para me pegar...

"Sua filha!? NOSSA filha!", ela teve vontade de gritar. Mas
controlou-se, não era o momento apropriado para que tais
sutilezas semânticas.

A conclusão a que Mulder chegara, no entanto, não fora
esdrúxula em absoluto.

- Pode ser... – ela acrescentou pensativa. – Mas quem seriam
"eles" e por que quereriam pegar você?

- Eles, Scully, o Sindicato. Pelos mesmos motivos de sempre.
Devem me considerar uma ameaça de alguma espécie, sei lá!

- Mulder, o Sindicato foi extinto, juntamente com todos os
seus membros, há cinco anos atrás pelos homens sem face,
lembra? – ela falou pacientemente.

- Extinto, não. Restou o Canceroso. E Krycek.

- O Canceroso está morto, Mulder. – ela falou em voz baixa. -
Muita coisa aconteceu nesses últimos cinco anos...

Uma sombra de melancolia perpassou o semblante de Mulder ante
às muitas possibilidades veladas nas palavras de Scully.
Quantas revelações indesejáveis, ao menos para ele, poderiam
estar ocultas por trás daquelas palavras... Para ele, Mulder,
o relógio parara em algum instante naquela floresta em
Bellefleur, no Oregon, e somente retomara seu tique-taque
convencional havia alguns meses. O tempo para o resto do
mundo e, principalmente, para Scully, o foco de sua atenção,
no entanto, prosseguira inexorável em seu fluxo normal. A
vida continuara.

Por exemplo, se havia uma filha, ela devia ter um pai e
Scully, possivelmente, um marido. Talvez aquele seu antigo
amante, o médico. David, Daniel, não lembrava o nome ao
certo. Talvez outro qualquer. Quem a poderia culpar?

Cinco anos eram muito tempo. As coisas mudam... As pessoas
mudam... Os sentimentos mudam...

Ele procurou afastar aqueles pensamentos angustiantes de sua
mente e mantê-la focada no problema imediato que urgia ser
resolvido.

- Enfim, Amy está desaparecida e Krycek a levou. Disso eu
tenho certeza. – falou, procurando imprimir um tom de
conclusão às palavras. – Além disso, a única outra pista que
temos são essas mensagens que conduzem a Marita Covarrubias.
Como podemos localizá-la?

- Pedi ajuda a Skinner para obter essa informação. Vou ligar
para ele, ver se conseguiu algo.

- Nós podemos tentar rastreá-la na rede. – interferiu Langly.
– Ela deve ter algum registro, cartões de crédito, conta em
banco, qualquer coisa...



Condado de Bowie, Maryland
13/10/2005 – 05:42 PM

O automóvel descia vagarosamente a rua, procurando pelo
número correto. 435, 437, 439...

- É essa! - exclamou Mulder, diante do número 441.

Scully estacionou o veículo diante da bela casa térrea. Um
bem cuidado gramado arrematado por frondosas roseiras
plantadas sob as janelas estendia-se desde a calçada até o
pórtico. Uma ampla varanda em cujas quinas pendiam delicados
sinos de vento arrematava a fachada elegante, pintada em tom
de salmão claro. Mulder e Scully tocaram a campainha ao lado
da grande porta laqueada em branco encimada por uma bonita
aldraba de metal dourado e aguardaram.

Fora mais fácil do que eles poderiam supor obter o endereço
de Marita Covarrubias. Um simples telefonema de Scully ao
Diretor Assistente havia sido suficiente para tanto. "Fácil
demais", remoía Mulder em seus pensamentos.

- Si? - indagou a roliça senhora de cabelos negros e olhos
amendoados que lhes abriu a porta.

- FBI. - disse Scully, mostrando-lhe a insígnia. - Procuramos
pela senhorita Covarrubias.

- Deve haver algum engano, senhora. Esta é a residência dos
Fletcher. - respondeu polidamente a mulher.

- Fletcher? ... A sra. Fletcher por acaso não se chamaria
Marita, chamaria? - perguntou Mulder, com aquele sorriso
estudado que ele exibia quando queria derreter o coração das
mulheres.

O truque funcionou. A mulher de aparência hispânica exibiu um
sorrisinho tímido de virgem recatada.

- Ah, si! - seu rosto iluminou-se em um sorriso largo. - Si,
o nome de solteira de Doña Marita é Covarrubias, como não?
Essa cabeça oca falha de vez em quando. Me desculpem. Soy
apenas uma pobre velha. - justificou-se, ainda sorrindo.

- E a senhora Fletcher está em casa? Poderíamos vê-la?

- Ah, si, senhora. Doña Marita está lá na copa, dando de
comer a los chicos. Entrem, por favor. - respondeu, abrindo-
lhes passagem.

- Por favor, diga a ela que os agentes Mulder e Scully, do
FBI, desejam lhe falar.

- Mi nombre és Rosita. Aguardem aqui um instante que irei
chamar Doña Marita, si?

Enquanto a mulher desaparecia por uma porta de vidro com
passos surpreendentemente macios para alguém com seu peso, os
dois agentes se entreolharam espantados.

- Chicos? - comentou Mulder divertido. - Acho que batemos em
porta errada, Scully.

A única resposta da ruiva foi uma risada abafada, uma vez que
Rosita já entrara na sala outra vez com seus passinhos leves.

- Doña Marita pediu que eu os leve até ela. - falou, sempre
sorrindo. - Sigam-me, por favor. - disse, novamente
desaparecendo pela porta.

Os visitantes tiveram que se apressar para não perder a
pequenina mulher de vista no interior da casa espaçosa e
decorada com requinte e conforto. Não havia uma parede sem
quadros ou uma mesinha ou aparador que não ostentasse um belo
jarro com flores frescas. Todos os aposentos eram sóbrios e
elegantes como se saídos de uma revista de decoração.

Encontraram Marita Cavorrubias, agora Fletcher, em uma ampla
sala de almoço com paredes forradas de papel listrado em
branco e verde musgo. Uma mesa redonda cercada por seis
cadeiras laqueadas em branco dominariam a cena, não fossem
pelos três cadeirões, cada qual com se respectivo ocupante.
Três lindos e rechonchudos bebês com vivos olhos negros e
basta cabeleira loura disputavam, aos berros, suas colheradas
de comida.

Quem conhecera Covarrubias como Representante Especial do
Secretário Geral das Nações Unidas, sempre trajada em
elegantes tailleus de caimento impecável, invariavelmente
assinados por costureiros famosos, não a reconheceria ali, em
seu vestido caseiro estampado de flores miúdas. As manchas de
sopa de tomates espalhavam-se por seu colo, seus braços e seu
rosto, a cada nova tentativa de alimentar os inquietos
pequeninos.

- Doña Marita, os visitantes. – introduziu Rosita.

- Gracias, Rosita. Você pode ir agora. – disse, aguardando a
saída da empregada. – Agente Mulder, Agente Scully. Há quanto
tempo não os vejo! A que devo a honra de sua visita?

- Belos bebês! São os seus, Marita? Que idade têm? –
perguntou Mulder, novamente exibindo seu sorriso sedutor.

- Obrigada! Os trigêmeos vão fazer um ano no próximo mês. –
respondeu gentilmente. – Mas quanta indelicadeza a minha!
Sentem-se, por favor. – disse, apontando as cadeiras.

Scully sempre se irritava quando o parceiro usava daquelas
técnicas de sedução em seus entrevistados. Irritava-se,
especialmente, quando se tratava de entrevistadas. Por muito
tempo não quisera admitir, mas agora seria capaz de assumir
abertamente que seu mal eram ciúmes.

- Não estamos aqui em visita social, Covarrubias. – atalhou
ríspida. – Onde Krycek está escondendo minha filha?

A expressão de espanto da loura foi real.

- Desculpe-me, mas não faço a menor idéia do que você está
falando. Eu nem...

- Você é uma péssima mentirosa, Covarrubias. Onde está minha
filha? – impacientou-se Scully, já avançando em atitude
belicosa em direção à outra mulher.

Assustados pelo tom da conversa, um após o outro, os bebês
começaram a chorar.

Mulder deteve a parceira, segurando-lhe o braço, enquanto
Covarrubias tentava silenciar as crianças. O olhar que Scully
dirigia à loura era puro fogo do inferno e danação.

- Calma, Scully. Vamos ver o que ela sabe antes de atacar. –
sussurou Mulder em seu ouvido.

Em vão, Marita tentava acalmar os pequenos. Mesmo quando
conseguia fazer com que um deles parasse de chorar, o simples
fato dos outros dois estarem ainda em prantos era o
suficiente para fazer com que o primeiro retomasse o
berreiro. Além do que, no máximo, cabiam dois bebês em seu
colo, tornando-se impossível silenciar os três
simultaneamente.

Num rasgo de desespero, a mãe tomou o bebê vestido em
vermelho e o entregou a Mulder.

- Huey. – disse ao homem, enquanto ele o tomava no colo.

- Ssshh, nenenzinho... – murmurou ele, balançando a criança.

- Dewey. – apresentou Marita, entregando a criança de azul a
Scully, que encarregou-se imediatamente de embalar o bebê.

- E esse é Louie. – acrescentou, pegando no colo o menino
vestido de verde.

Mulder e Scully entreolharam-se, enquanto Marita ocupava-se
do bebê. Huey, Dewey e Louie, essa não...

Dessa vez, foi fácil acalmar os pequenos. Como que por
encanto, passados dois ou três minutos de embalos e palavras
suaves, estavam calados e sonolentos. Um a um foram
recolocados em seus lugares pela mãe que, vencida, acabou por
chamar Rosita para terminar de alimentá-los. Conduziu, então,
os dois agentes de volta à sala onde haviam aguardado quando
chegaram.

- Desculpem-me pelo inconveniente. É difícil controlá-los
quando ficam assim. – disse, limpando os respingos de sopa do
rosto e dos braços com um paninho.

Scully estava visivelmente irritada com aquela situação.
Agitava-se impaciente ao lado de Mulder. Antes que pudesse
dizer algo, o parceiro apertou forte sua mão e tomou a
palavra.

- Muito bem, Marita. O que nos traz até aqui é que Alex
Krycek seqüestrou a filha de Scully e...

- Filha, agente Scully? Eu não sabia que você tinha uma... –
interrompeu Covarrubias, obtendo como resposta apenas as
fagulhas do olhar da outra mulher, cuja mão Mulder ainda
segurava, tentando conter seus arroubos.

- Sim. - continuou ele. – E tudo nos leva a crer que você,
Marita, pode saber de seu paradeiro.

- Não, juro que não. Por Deus, - acrescentou, fazendo o sinal
da cruz, - podem acreditar que não sei de nada. Há cerca de
quatro anos, rompi com Alex e, desde então, não tenho mais
notícias dele. Um pouco mais tarde, conheci Adam Fletcher, um
empresário do ramo de seguros. Um homem maravilhoso que me
ama pelo que sou, do jeito que sou, sem interessar-se por meu
passado. Casei-me e, depois, vieram os trigêmeos... Sou outra
pessoa agora. Sou uma mulher feliz e vivo em função de meu
marido e meus filhos. – olhou nos olhos de Scully. -
Acredite-me, Scully, nada sei sobre as atrocidades de Alex e,
se soubesse de algo, o que quer que fosse, tenha certeza que
você seria a primeira a saber. Raptar uma criança? Ele deve
ter enlouquecido... Imagino se fossem meus filhos... Que dor
imensa você deve estar sentindo... – completou com os olhos
marejados.

Por mais incrível que parecesse, Scully acabou por convencer-
se da sinceridade de Marita, quando esta tomou-lhe as mãos
entre as suas e as apertou, numa tentativa de transmitir-lhe
força e alento.

- Desculpe insistir, Marita. Mas você que conviveu com Krycek
por tanto tempo, não teria um palpite a nos dar sobre onde
ele poderia estar escondendo Amy? – insistiu Mulder.

- É difícil... Alex é uma criatura imprevisível... – sua
expressão era pensativa. – Não, não posso imaginar. Sinto
muito. – O choro agudo de uma das crianças se fez ouvir
naquele instante. - Se houver algo mais que eu possa fazer...

- Obrigada, Marita. Do fundo do coração... – agradeceu Scully
mansamente. – Vamos, Mulder? – sua expressão era de total
desconsolo.

O homem assentiu com a cabeça e levantou-se, envolvendo com
um dos braços os ombros da parceira, como se a amparasse,
enquanto dirigiam-se de volta ao carro estacionado.

Marita Covarrubias observou pela janela o casal que entrava
no automóvel e partia sob a luz sanguínea do crepúsculo.

- Ah, Alex, Alex... – murmurou consigo mesma. – Será que não
vai haver um fim?



Arredores de Washington, DC
13/10/2005 – 07:52 PM

O automóvel percorria veloz as largas avenidas fartamente
iluminadas que conduziam ao centro de Washington. Seus
ocupantes seguiam silenciosos, ensimesmados cada qual em seus
pensamentos.

Scully esforçava-se por manter-se concentrada no ato de
dirigir pelo caminho de volta. Lutava para manter sob
controle as emoções que insistiam em querer dominá-la. Sabia
que precisava ser fria, racional, conservar a mente alerta,
se quisesse encontrar pistas que a conduzissem à filha. Mas
não podia evitar de ter os olhos constantemente rasos d'água
da angústia que a consumia.

Por que tinha sempre de ser assim? Reencontrava o homem de
sua vida, mas, em troca, devia dar sua filha... Não teria ela
direito à felicidade? Por que Deus lhe negava esse direito?
Por que estar ao lado de Mulder implicava sempre em perda e
sofrimento para ela?

Não, não estava sendo justa. Ela o seguira por vontade
própria nos sete anos em que trabalharam juntos. Não poderia
imputar a ele as perdas que havia sofrido naquele período.
Ele não a havia obrigado a segui-lo em sua cruzada. Ela o
fizera porque assim o quisera, por curiosidade, por
vaidade... Não era justo querer culpá-lo. Ele lhe dera o que
ela tinha de mais precioso em sua vida: Amy. Depois,
devolvera-lhe Amy das chamas. Devolvera-lhe a fé na vida, no
amor.

Scully tinha medo de olhar para o lado, de encará-lo. Temia
descontrolar-se, dar vazão ao pranto que com tanta
dificuldade vinha contendo. Não precisava ver seu rosto para
perceber sua angústia. Ele sofria como ela.

Sentado no banco do carona, Mulder seguia imerso em
pensamentos. As memórias voltavam-lhe aos poucos. A culpa,
que lhe oprimia pesada o coração, voltava com elas. Quantas
perdas infligira à mulher sentada ao seu lado por sua
teimosia, seu egoísmo, sua insana busca por uma verdade que
não havia? Melissa, Emily, seu câncer... Agora sua filhinha,
Amy... Quanto sofrimento havia causado àquela mulher que
amava tanto!

Como poderia sentir-se ofendido se ela tivesse outro alguém
agora? Como, se nunca lhe dissera que a amava, se durante
tanto tempo nem para si mesmo fora capaz de dizê-lo? A vira
sofrer e compartilhara de seu sofrimento. A vira fenecendo,
apagando-se lentamente diante de seus olhos e quisera morrer
com ela, por ela. Mas nunca, nem diante de sua tristeza, nem
diante de sua alegria, fora capaz de pronunciar as três
palavras que teriam o mágico poder de mudar sua vida. "Eu te
amo." Tão pouco... Tanto... A única verdade que havia ficado
de sua busca... Fora um fraco, um covarde. E agora era tarde
demais para mudar aquela situação.



Rua 46 – New York City, New York
13/10/2005 – 08:08 PM

- Sim, é verdade. Ele o fez. – dizia o homem do cachimbo ao
telefone.

Estava sozinho no escritório, sentado na confortável cadeira
de couro. De costas para a bela escrivaninha de mogno
entalhado, observava as luzes dos arranha-céus lá fora
através da janela.

– Sim... Eu disse aos outros. Ele enlouqueceu. ... Concordo
que Fox Mulder pode ser perigoso para nossas operações, mas
raptar uma criança...

Seu rosto se contraiu com o que ouvira pelo telefone. Voltou-
se bruscamente para a escrivaninha, tomando uma caneta nas
mãos.

– É claro que não foi com nossa aprovação! Não é assim que
agimos atualmente!

Batia nervosamente com a caneta na escrivaninha.

– Como quiser... – rabiscava agora furiosamente no bloco de
notas. – Faça como quiser! Desde que não nos envolva nisso,
pode tomar a providência que quiser! – completou, recolocando
o telefone no gancho com força.

Sua expressão contrariada revelava toda sua irritação.

- Droga! Droga! Droga! – murmurou para si mesmo.



Arredores de Washington, DC
13/10/2005 – 08:33 PM

Estava escuro, muito escuro. A escuridão era tão densa que
ele a podia sentir infiltrando-se pegajosa por seus olhos,
seus ouvidos, sua pele. Caminhava às cegas, tropeçando em
obstáculos invisíveis que se interpunham entre ele e seu
objetivo. Avançava penosamente em meio à escuridão, tentando
vencer os percalços, buscando. Sabia que ela estava lá, podia
senti-la. Por isso avançava, a qualquer custo.

Subitamente, a escuridão total encheu-se de uma luz branca,
tão clara que queimava suas retinas. Ele conhecia aquela luz.
Ele a temia. E, por essa razão, a despeito da intensa dor que
a claridade provocava, não fechou os olhos. Precisava
localizá-la antes que a luz o fizesse. E foi então que a viu,
sentada encolhida em um canto. Seus olhinhos cinzentos
olhavam diretamente para dentro dos seus e pareciam dizer
"Estou aqui".

- Mulder. – chamou Scully, tocando de leve em seu braço. –
Você está bem?

Ele estremeceu, arrancado do transe. Estava pálido, a testa e
o contorno do lábio superior perolados por um suor frio.
Sentia-se cansado, sem forças, como se submetido a um grande
esforço.

- Eu a vi... – murmurou com dificuldade.

Scully aproveitou a parada em um sinal vermelho para observá-
lo com cuidado. Tinha a fisionomia transtornada, os olhos
esgazeados.

- Amy? – ela perguntou com um fio de voz.

Ele simplesmente concordou com a cabeça e estremeceu mais uma
vez. No instante seguinte, começou a vasculhar a rua com o
olhar alucinado, agitando freneticamente a cabeça, como um
louco. Ela temeu por sua sanidade. O sinal abriu e ela
movimentou o automóvel.

- Entre à direita, Scully. Aqui! – ordenou subitamente.

Ela obedeceu, por impulso.

- Por quê? – inquiriu em seguida, a razão voltando a falar
mais alto. – O caminho de volta ao QG dos Pistoleiros era
seguindo em frente...

- Não sei porquê. – ele disse com uma voz distante, sem
entonação. – Apenas sinto...

Haviam saído da larga avenida iluminada que vinham seguindo e
avançavam por ruas cada vez mais estreitas e escuras seguindo
as orientações de Mulder. Rodavam por ruas desertas, repletas
de galpões abandonados e construções em ruínas. O lado feio,
triste e sujo da metrópole.

Prosseguiam vagarosamente. De tempos em tempos, o homem no
banco do carona estremecia, para, em seguida, agitar-se
freneticamente, procurando. E transmitir mais uma direção.
"Direita. Esquerda. Em frente."

A campainha aguda do celular de Scully cortou o silêncio.

- Mamãe... – disse a vozinha assustada no outro lado da
linha.

- Amy? Você está bem? – o coração parecia querer saltar-lhe
pela boca ao ouvir a voz da filha. – Onde você está?

- Estou bem, mamãe...

- Agora chega! – fez-se ouvir a voz de Krycek.

- Filho da mãe! – disse Scully, rilhando os dentes.

Uma gargalhada ecoou no telefone.

- Agente Scully! Sempre tão agradável... – disse o homem com
ironia.

- Onde está minha filha, Krycek?

– Eu tenho uma coisa que você quer. – ele continuou, a
ignorando. - Você tem uma coisa que eu quero. Proponho uma
troca...

- Onde ela está? – ela quase gritava ao telefone.

- Aqui... – murmurou baixinho Mulder, segurando seu braço.
Apontava para o parque de diversões abandonado diante do qual
ela havia parado o carro.

- E então, Dana? O que você me diz? – dizia a voz de Alex
Krycek ao telefone. – Uma garotinha bonita e inteligente como
a sua Amy não vale uma troca?

Antes que ela pudesse responder, Mulder já havia tomado o
telefone de suas mãos.

- É a mim que você quer, não é mesmo, Krycek? – sua voz era
firme. Os olhos cinzentos ostentavam o brilho característico
do olhar de Fox Mulder. – Diga apenas onde e quando.

A gargalhada novamente se fez ouvir do outro lado da linha.

- Mulder? Não perde essa mania de parecer tão estóico, hein?
– o sarcasmo das palavras destinava-se a irritar o outro
homem.

- Quando e onde, Alex. – atalhou Mulder.

- Amanhã, às dez da manhã. No Memorial a Lincoln.

- Ok.

- E, Mulder?

- Sim.

- Sem truques ou essa bela princesinha não vai viver para dar
seu primeiro beijo na boca... – ele acrescentou, desligando
em seguida.

Scully, ao lado de Mulder, mordia os lábios nervosamente. A
expressão transtornada retornara ao seu rosto. Os olhos azuis
muito abertos fitavam-no inquisidores.

- Ele quer trocar Amy por mim. Amanhã de manhã, no Memorial.

A decepção ensombreceu o semblante da mulher.

- Precisamos agir, Scully. E rápido. – ele continuou.

- Mas fazer o quê? – as mãos acompanhavam as palavras,
desoladas. – Não sabemos onde ela está...

Os olhos dele voltaram-se para o parque de diversões
abandonado, perscrutando as sombras.

- Ela está aqui, Scully. Acredite. – disse apontando o local
e voltando-se para ela. – Eu sinto.

Ela o fitava sem expressão.

- Podemos pegá-lo de surpresa.

- Mulder, o parque é enorme! Está escuro. – ela
contemporizou. – E nem ao menos temos certeza de que eles
estão realmente aí...

- Eu sei, Scully! – cortou ele com convicção. – Chame de
intuição, premonição, cognição psíquica ou do que quiser. O
fato é que eu sei! Da mesma forma que sabia durante o
incêndio na Califórnia.

Abriu a porta do automóvel e saltou. Ela o acompanhou,
postando-se ao seu lado.

- Você fica. – disse ele, segurando-a pelo braço. – Chame
reforços.

Gentilmente porém com determinação, Scully afastou a mão que
a retinha e a tomou entre as suas.

- É MINHA filha, Mulder, lembra? Eu vou. – afirmou segura.

Ele a encarou, olhos nos olhos, por um longo momento, sua
expressão indecifrável. Depois, deu de ombros.

- Faça como quiser. Você é a autoridade legalmente
constituída nesse caso. – disse, recomeçando a andar em
direção ao parque.

- Espere! – ela voltou ao carro e remexeu no espaço entre os
bancos. Quando se voltou para ele, tinha uma pistola nas
mãos. – Ainda sabe como usar uma destas?

- Acho que sim. – respondeu, tomando a arma e a enfiando na
cintura, sob a camisa.

Avançaram lado a lado, vagarosamente, em silêncio, pelo
parque abandonado. Além da claridade pálida da lua cheia, a
única outra luz disponível provinha da lanterna de bolso de
Scully. Seu facho iluminava parcamente o chão para que não
tropeçassem nas pilhas de lixo e escombros pelo caminho, mas
não era suficiente para iluminar os brinquedos. Estes,
quebrados e depredados, pareciam saídos de um conto de
terror. Parcialmente ocultados pelas sombras, os cavalinhos
do carrossel haviam se transformado em gárgulas pelo jogo de
claro-escuro da parca iluminação.

Avançavam lado a lado, como nos velhos tempos. Obstinados,
destemidos, investigando, procurando. Maníacos, alienígenas,
espíritos, demônios, conspirações. Esquiva, fugidia,
intangível, inexorável, a verdade, lá fora. Desta vez, no
entanto, era diferente. O que buscavam era real, era vivo.
Era parte de cada um dos dois de mil maneiras diferentes. Sua
pequenina Amy. Uma verdade em carne e osso, a única e
absoluta verdade.

Avançavam lado a lado, os passos, os gestos em sincronia.
Como sempre fora. Como nunca deveria deixar de ser. Como se
não houvessem estado um dia sequer separados. Parceiros,
amigos, almas complementares.

Mulder seguia guiado pelas sensações mais que pelos olhos e
pela razão. A cada passo, as vibrações de Amy iam se tornando
mais intensas em sua cabeça. Scully havia abandonado toda sua
racionalidade para apenas acreditar, incondicionalmente, nas
sensações do parceiro. De repente, parecia-lhe a coisa certa
a fazer e sua intuição a compelia a aceitar a situação.

Mulder estacou, estendendo o braço ao lado para conter
Scully. Debalde. Ela havia parado ao mesmo tempo que ele.
Sincronismo.

- Aqui. – ele murmurou com voz rouca.

Os restos do que um dia havia sido o Túnel do Amor jaziam
diante dos agentes. As paredes de folhas de flandres cuja
pintura descascada retratava corações e cupidos e flores e
cisnes pareciam bizarras no contexto dos fatos. Os carrinhos,
que outrora transportavam os casais apaixonados através dos
cantinhos românticos e escuros do brinquedo, amontoavam-se
quebrados na boca do Túnel.

Com um sinal, Mulder indicou a Scully que procurasse uma
outra entrada nos fundos da estrutura. Ela obedeceu sem
discutir, a confiança no parceiro maior do que nunca.
Transpondo com cuidado os montes de carrinhos, ele penetrou
no interior do brinquedo.

Estava escuro, muito escuro. A escuridão era tão densa que
ele a podia sentir infiltrando-se pegajosa por seus olhos,
seus ouvidos, sua pele. Caminhava às cegas, tropeçando em
obstáculos invisíveis que se interpunham entre ele e seu
objetivo. Avançava penosamente em meio à escuridão, tentando
vencer os percalços, buscando. Sabia que ela estava lá, podia
senti-la. Por isso avançava, a qualquer custo.

Tateando pelos corredores tortuosos, ele foi guiado por suas
sensações até que estacou. Amy estava ali, ele sabia. Por
mais que se esforçasse, no entanto, a escuridão era profunda
demais para que seus olhos se acostumassem a ela e
conseguissem divisar um vulto que fosse. Ele aguçou os
ouvidos. Havia mais alguém ali, podia ouvir-lhe a respiração.
A tentativa de avançar mais um passo em direção ao som
converteu-se no estrondo de coisas caindo quando Mulder
tropeçou num obstáculo invisível.

O facho de uma potente lanterna atingiu em cheio seu rosto,
cegando-o, ao mesmo tempo em que ressoava nas trevas a
gargalhada sarcástica de Alex Krycek.

- Tinha certeza que você tentaria nos fazer uma visita
surpresa, Mulder. Pena que não tive tempo de preparar um chá!
– exclamou com ironia, sempre mantendo a lanterna apontada
para os olhos do agente.

- Weird. – fez-se ouvir debilmente a voz assustada de Amy.

- Fique calma, meu bem. – disse com doçura na esperança de
tranquilizar a menina. Ao que acrescentou: - Liberte a
menina, Alex. Você já tem o que quer. Eu estou aqui.

- Eu ia fazer exatamente isso, sabe, Fox? – respondeu da
escuridão a voz de Krycek. - Até que me ocorreu que, com os
pais que tem, Amy pode ser o primeiro híbrido humano-
alienígena bem sucedido que conhecemos. Ela pode ser a
resposta para todas as pesquisas que o Sindicato vem
desenvolvendo a anos.

Os olhos de Mulder faiscaram de ódio.

- Ela é uma criança, seu desgraçado. Não é uma cobaia para
suas experiências. – urrou, tentando novamente avançar em
direção à luz da lanterna. Uma vez mais, tropeçou caindo com
estardalhaço na pilha invisível de escombros. – Você já tem a
mim. Leve-me para suas malditas experiências, mas deixe-a ir,
Alex. Eu imploro... – suplicou aflito.

Outra vez a gargalhada de Krycek cortou a escuridão.

- Tolo prepotente é o que você é, Mulder. – sua voz era
gélida. – Você não vale absolutamente nada para mim, Fox. Mas
essa princesinha aqui pode ter um valor incalculável...
Pensando bem, você até vale algo, sim. Só que morto... – o
clique da arma sendo engatilhada ecoou nas trevas.

O facho da lanterna começou a se deslocar da cabeça para o
peito de Fox Mulder e depois de volta a cabeça, como se
passeasse em busca do ponto certo para o tiro fatal.

Subitamente, a escuridão total encheu-se de uma luz branca,
tão clara que queimava as retinas de Fox Mulder. Ele conhecia
aquela luz. Ele a temia. E, por essa razão, a despeito da
intensa dor que a claridade provocava, não fechou os olhos.
Precisava localizar Amy antes que a luz o fizesse. E foi
então que a viu, sentada encolhida em um canto. Seus olhinhos
cinzentos olhavam diretamente para dentro dos seus e pareciam
dizer "Estou aqui".

Mulder saltou ágil por sobre as pilhas de escombros e lixo
até alcançar Amy e protegê-la com seu corpo, tentando
escondê-la, afastá-la do círculo de luz. Com a garotinha nos
braços, ele também encolheu-se num canto, sua respiração
forte e ofegante, as batidas agitadas de seu coração
retumbando em seus ouvidos. Foi somente quando ouviu a voz de
Krycek que se deu conta do que acontecia.

- Ei, não! Vocês estão pegando a pessoa errada. Não sou eu, é
a ele que vocês querem. – gritava Krycek agitado.

Os estampidos de muitos tiros soaram, abafando os gritos de
Krycek, terminando por restar apenas o clique do pente
descarregado da pistola. Mulder atreveu-se, então, a olhar em
direção à luz, a tempo de ver Alex sendo arrastado à força
para o centro do círculo por dois dos alienígenas sem face.
Apenas um instante depois, um zunido alto encheu os ares e a
luz desapareceu, levando consigo os três homens.

- Mulder. – chamou Scully de um canto, somente identificável
pela fraca luz de sua lanterna.

- Mamãe! – exclamou Amy, levantando a cabeça que jazia
enterrada no peito de Mulder.

- Scully, aqui, à sua direita.

Orientada pela voz do parceiro, ela os encontrou. Amy,
envolta pelos braços de Mulder, tinha a cabeça apoiada em seu
ombro e acariciava seu rosto magro. Ele mantinha os braços
solidamente em volta do corpo frágil da menina, enquanto
carinhosamente beijava-lhe a testa e os cabelos. Scully levou
a mão trêmula ao rosto da filha numa suave carícia, como
quisesse certificar-se de que ela era real. A seguir, repetiu
o gesto com o parceiro. Sim, era real. Finalmente.

Com a parca luz de sua lanterna, ela guiou-os para fora do
Túnel do Amor. Somente no exterior, tomou a filha nos braços
e a apertou forte contra seu corpo, os olhos azuis deixando
correr livremente a torrente de lágrimas, agora de alívio e
alegria, que vinha represando desde cedo.

Mulder observava a cena calado. Uma vez mais, colocava-se
voluntariamente no papel de espectador, quando, em seu
coração, desejara ardentemente ser protagonista. Desejou que
não fosse tarde demais, que fosse possível mudar o passado,
que nunca houvesse sido levado pela curiosidade a examinar
aquele círculo de luz em Bellefleur, cinco anos atrás.
Desejou ter dito e feito coisas que jamais fez ou disse
naqueles sete anos que antecederam sua abdução. Mas era
tarde.

Não percebeu que o local ia aos poucos enchendo-se de agentes
do FBI, até que a voz serena de Scully o despertou.

- E Krycek? – perguntou ela.

- Foi levado... – ele respondeu com um suspiro. - ... pelos
homens sem face. Mais uma vez não haverá evidências...

- O ruído intenso... A luz... – disse ela, compreendendo
finalmente o que havia visto e ouvido.

Mulder apenas assentiu com a cabeça, voltando a suas
divagações. Uma frase dita por Krycek voltava a sua mente
como um incômodo visitante. "Com os pais que tem, Amy pode
ser o primeiro híbrido humano-alienígena bem sucedido que
conhecemos. Com os pais que tem..." Sua mãe era Scully, não
havia como negar os cabelo ruivos, o queixo diligente. Mas
quem poderia ser o pai de Amy? Pelas palavras de Krycek,
certamente um abduzido... Skinner!

- Mulder? É você? – ouviu a voz de Skinner às suas costas.

Encarou o diretor assistente procurando em suas feições
alguma semelhança com a menina. O homem apertou sua mão com
força, depois o envolveu em um abraço caloroso, como se
quisesse garantir que era Mulder, em carne e osso. Seus olhos
sorriam com sinceridade por trás das lentes dos óculos. Algo,
no entanto, ciúmes talvez, congelava a expressão de Mulder
impedindo-o de sorrir de volta. Skinner dirigiu-se, em
seguida, a Scully e Amy. Um nó apertado formou-se na garganta
de Fox Mulder.

- Como ela está? – perguntou o diretor, alisando os cabelos
da menina.

- Estou bem, tio Walter. – respondeu a garotinha com um
sorriso cândido. – Ele me salvou. – completou, apontando
Mulder.

"Tio Walter", o nó se desfez momentaneamente na garganta de
Mulder e ele, finalmente, conseguiu retribuir o sorriso
caloroso de Skinner. Ao menos, não era ele.

- E você, como está, Dana? – indagou uma voz masculina que
Mulder não reconheceu. O tom era gentil, preocupado, quase
amoroso.

- Ok, John. – respondeu Scully, com um sorriso cansado.

"Dana... John..." As garras do ciúme outra vez se cravavam no
coração de Fox Mulder. Lendo o olhar de Mulder e Doggett,
Skinner adiantou-se, apresentando os dois homens.

- Fox Mulder, John Doggett que assumiu os Arquivos X junto
com a agente Scully depois de seu desaparecimento.

Apertaram-se as mãos. O cumprimento de Doggett era firme,
seco. Seu rosto de linhas duras e os cabelos cortados muito
curtos deram a Mulder a impressão de um homem rígido, cético.
Olharam-se nos olhos por um interminável momento. Mediam-se,
avaliavam-se, desafiavam-se. Dois cavaleiros, com suas lanças
em riste, cada um em sua extremidade da cancha, nos instantes
que precedem a uma justa. Ambos sabendo que apenas um poderia
permanecer vivo ao final do embate. A tensão no ar era quase
palpável.

- Oi, tio John. Tem um caramelo?

A pergunta da criança esfacelou a tensão em um milhão de
pedaços. "Tio John", pensou Mulder aliviado.

- O que aconteceu aqui? – perguntou Skinner, despindo-se da
faceta de amigo e outra vez incorporando o diretor assistente
do FBI.

- Alex Krycek, o Sindicato, alienígenas sem face... Nenhum
rastro, nenhuma evidência... O habitual. – falou Mulder com
ar blasé. – Vai constar tudo no relatório da agente Scully,
senhor.

Skinner o olhava com os lábios retorcidos em um meio sorriso
divertido. "O Mulder de sempre." Doggett não conseguia
disfarçar o ar desaprovação. "Nem um pouco profissional."

- Vamos para casa. – Scully chamou Amy que, já no chão,
começava timidamente a se aventurar em explorações da área
longe da mãe.

A menina correu de volta ao grupo e agarrou a mão que a
mulher lhe estendia. Como Mulder não se movesse de onde
estava, a criança segurou sua mão e a puxou com força.

- Venha! – ordenou autoritária.

Ele apenas a seguiu, o contato da mãozinha quente na sua
enchendo de vida e calor seu peito amargurado.

- A propósito, agente Mulder... – chamou Skinner, quando os
três já haviam se afastado alguns passos. – Feliz
aniversário.

- Obrigado, senhor. – respondeu Mulder com um aceno de mão,
voltando-se para o diretor.

- Eu havia me esquecido. Me desculpe, Mulder. Feliz
aniversário. – Scully colocou-se nas pontas dos pés e
depositou um suave beijo na bochecha do parceiro.

Seguiram seu caminho. Quando desapareceram nas aléias do
parque, Mulder levava Amy escanchada em sua cintura,
gargalhando feliz como se voltasse para casa após uma alegre
ida ao parque de diversões. Scully caminhava ao seu lado, uma
das mãos segurando seu braço, conduzindo homem e criança por
entre os escombros.

Doggett e Skinner os observaram até sumirem nas sombras.

- Fim da linha, amigo. – murmurou Skinner, meneando a cabeça.

A John Doggett restara apenas o sabor amargo da derrota.



Arredores de Washington, DC
13/10/2005 – 10:45 PM

O clima tenso que imperara no automóvel durante o retorno da
casa de Marita Covarrubias estava novamente presente. Apenas
a tagarelice de Amy que, alheia ao constrangimento dos
adultos, palrava alegremente no banco de trás, perturbava o
silêncio. A pequena contava feliz o que vira no museu de
história natural numa algarvia à qual os adultos não davam a
mínima atenção.

Mulder remoía em pensamentos as palavras de Alex Krycek. "Com
os pais que tem... Com os pais que tem..." Tinha ciúmes.
Queria Amy e Scully para si, mas elas já pertenciam a outro.
Tinha ciúmes. Queria gritar, implorar que ela deixasse o
outro homem, que seguisse com ele, que fosse sua. Tinha
ciúmes. Tantos, tão intensos que não lhe permitiam recordar-
se do que acontecera no motel em Sacramento quando ele ainda
era Weird. Tinha ciúmes.

Sentia-se vazio, tentando imaginar como refazer sua vida.
Sabia ser impossível retomá-la do ponto onde a havia deixado.
O mundo continuara a girar, o tempo passara. Talvez
conseguisse de volta seu posto no FBI. Não nos Arquivos X,
parecia claro para ele que estes já tinham novo dono. Um
cargo burocrático talvez, preenchendo papelada. Qualquer
coisa para ajudá-lo a sobreviver, a passar os dias com a
mente mergulhada em uma ocupação qualquer. Para não
enlouquecer. De ciúmes.

Scully o observava pelo canto do olho. O sentia distante,
querendo fugir. Tantas coisas ela precisava lhe dizer, tantas
explicações precisava dar, tantas estórias precisava contar.
Podia compreender a necessidade que ele tinha de ouvir, de
saber. As coisas jorravam em sua cabeça, borbulhavam em seus
lábios. Mas não sabia por onde começar. Ele tinha os olhos
tristes como poucas vezes ela havia visto. Ela queria
confortá-lo, resgatar em seu rosto aquele lindo sorriso de
menino. Mas não sabia como fazê-lo.

Amy continuava em seu descontraído monólogo no banco
traseiro, quando Mulder, voltando-se para ela, pegou de leve
em sua mão. A garotinha calou-se instantaneamente, tocada
pela gravidade da expressão no semblante do homem.

- Você pode me dar uma carona até os Pistoleiros, Scully? –
sua voz era monocórdia, inexpressiva.

- Você quer ficar lá? – indagou ela, a despeito da obviedade
da pergunta. – Fique conosco... – acrescentou num murmúrio.

Ele pareceu não ter ouvido a última frase.

- Acho que vou pedir a eles um canto para passar a noite... –
o tom era desanimado, o semblante sombrio. – Afinal, não devo
mais ter um apartamento, tenho?

Ela suspirou.

- Não. Uns meses atrás, quando Amy ficou doente, as despesas
ficaram muito altas para que eu pudesse continuar pagando
dois aluguéis. – ela se desculpou, encolhendo os ombros.

Mulder a olhou, surpreso.

- Você manteve meu apartamento alugado por cinco anos? Vazio?

Ela concordou com a cabeça, seu olhar fixo na rua.

- Às vezes eu ia até lá, tirava a poeira, dava de comer aos
peixes... Amy ia comigo. Ela adora seu aquário... – a voz de
Scully denotava cansaço.

- Por quê? – ele a encarava incrédulo. – Por que fez isso?
... Manter meu apartamento?

- Tinha certeza de que você voltaria. – suspirou Scully. Sua
voz era baixa, rouca. – Fique conosco... – ela insistiu, -
...ao menos até conseguir outro lugar...

Mulder balançava a cabeça, atônito. Seus olhos vagavam do
rosto de Scully, para a rua, para Amy e de volta à parceira.

- Não... não compreendo... Por quê, Scully?

Ela enfiou o pé no freio com força, parando o carro
bruscamente no meio da avenida deserta. Esmurrou o volante, o
olhar fixo na rua vazia à sua frente.

- Droga, Mulder! Porque amo você! – voltou-se e o olhou nos
olhos. – Amo você. Deus! É assim tão absurdo? É tão difícil
de entender?

Pronto! Ela havia dito. Dissera o que estava entalado em sua
garganta por toda uma vida.

Ele permaneceu imóvel por longos instantes, a respiração
suspensa, o olhar perdido na imensidão dos olhos azuis de
Dana Scully. Ela havia dito, ele mal podia crer em seus
ouvidos. Ela havia dito o que ele sempre esperara ouvir. Ele
queria tomá-la nos braços, beijá-la loucamente, gritar ao
mundo que ela o amava. Mas permanecia estático diante dela,
os braços e as pernas e o rosto formigando estranhamente.
Quando por fim conseguiu vencer a inércia que o dominava e
mover-se, tomou o rosto da mulher que amava entre as mãos e
aplicou-lhe o mais terno dos beijos.

- Você vem para casa com a gente, não vem, papai? Por
favor... – suplicava Amy.

"Com os pais que tem... Papai..." Um abduzido. Ele?

Como que atingido por um raio, Mulder quedou paralisado. Os
lábios formavam palavras mudas que a boca entreaberta não
conseguia pronunciar. Os olhos se transformaram em dois
imensos discos cinzentos, transbordando dúvidas e
incredulidade. Scully apenas acenou com a cabeça
afirmativamente, sorrindo.

"Papai..." Um abduzido. Ele!

O lindo sorriso de menino que ela ansiara tanto poder rever,
minutos atrás, estampou-se na face de Fox Mulder, tão
radiante, tão resplandecente que pareceu iluminar a noite.

- Vamos para casa. – falou ele.



Georgetown – Washington, DC
13/10/2005 – 11:13 PM

A chave girou na fechadura, destrancando a porta do
apartamento de Scully. Ela entrou, acendeu a luz e jogou a
bolsa sobre o aparador. Estava exausta. As sombras escuras
sob seus olhos eram acentuadas pela palidez de seu rosto. Seu
corpo implorava por um bom banho morno e pela quente maciez
de sua cama.

- Onde a coloco? – sussurrou Mulder parado atrás dela,
trazendo Amy adormecida e enfim quieta em seu colo.

Num instante, ela se recordou porque, a despeito do cansaço,
sentia-se tão leve, como se seus pés mal tocassem o chão.
Sorrindo, o conduziu até o quarto da menina.

Um aquário, seu aquário, dominava a cena, repleto de
peixinhos coloridos, alegre, cheio de vida. Ele sorriu ao
reconhecer o enfeite em forma de disco voador que subia e
descia do fundo ao sabor das bolhas. Uns poucos brinquedos,
alguns bichinhos de pelúcia e bonecas, estavam cuidadosamente
organizados em um canto do quarto. Muitos, muitos livrinhos
infantis amontoavam-se sobre praticamente todos os móveis.

Com cuidado, Mulder depositou a menina sobre a cama cujas
cobertas Scully acabara de afastar. Examinou-lhe o rostinho
infantil. Tinha teias de aranha presas aos cabelos, um bocado
de poeira nas bochechas, mas dormia feliz. A mãe livrou-a das
roupas sujas das aventuras do dia e vestiu-a com o pijama
favorito, aquele cor-de-rosa com ursinhos. Quando ajeitava as
cobertas em torno da menina, no entanto, ela despertou, meio
confusa.

- Está tudo bem, querida. Volte a dormir. – sussurrou Scully,
beijando-lhe a testa.

- Boa noite, mamãe... E boa noite, papai... – sorriu
sonolenta para Mulder que assistia a tudo de um canto do
cômodo.

Ele se aproximou e beijou-lhe ternamente o rosto, seu coração
dava pulos de alegria dentro do peito.

- Durma com os anjos, meu bem. – disse com a voz embargada.

Já com os olhinhos fechados, a menina abraçou uma boneca que
ele reconheceu como Samantha e adormeceu imediatamente, o
sono tranqüilo dos inocentes.

No pequeno espelho sobre a cômoda de Amy, Scully pôde
observar que as teias de aranha que ela tão cuidadosamente
removera dos cabelos da filha também espalhavam-se por seus
próprios cabelos. Sorriu ao reparar, pelo reflexo, que uma
delas mantinha-se teimosamente suspensa na ponta do nariz do
parceiro parado atrás dela.

- Acho que seria uma boa idéia se você tomasse um banho. –
disse, removendo a teia com cuidado e a exibindo como um
troféu. – Tenho algumas de suas roupas guardadas em meu
armário...

- Ora, ora, ora, agente Scully... Que espécie de fetiche é
esse? – ironizou ele.

Ela sorriu, timidamente.

- Achei que seria um desperdício dar aos pobres aqueles seus
ternos caríssimos, Mulder. Os estava guardando para meu
futuro genro, quem sabe?

Com uma das mãos, ele segurou o queixo de Scully, a obrigando
a olhar para cima.

- Desconhecia esse seu lado econômico. – disse inclinando-se
para beijar-lhe suavemente os lábios. – Mas o adoro... Que
tal se economizássemos água, também, tomando um único banho
os dois, hein? – completou com a voz carregada, empurrando-a
gentilmente pelos ombros em direção ao banheiro.

- Mulder, Mulder... Pelo tom de sua voz, não me parece que
iremos economizar coisa alguma... – ela acrescentou feliz.



Mais tarde...

- Estou faminta. E você? – indagou a ruiva vasculhando a
geladeira.

Ele pensou muito antes de responder, esforçando-se para
lembrar-se dos gostos gastronômicos da parceira. Algo lhe
dizia que não combinavam exatamente com os seus. Um brilho de
reconhecimento perpassou seus olhos, simultaneamente com um
franzido irônico dos lábios.

- Contanto que não seja um daqueles seus gelados de arroz
integral, eu comeria qualquer coisa. – respondeu em tom
jocoso.

As respostas de Scully foram uma pequena careta e uma risada
gostosa. Incrível como ela ficava ainda mais bela quando
estava assim, à vontade...

- Ok... Tenho uma lasanha congelada aqui.

- Ótimo para mim!

Ele sentava-se no sofá da sala ainda um tanto desconfortável
com a nova situação. Sentia-se de certa forma intruso na
intimidade, na vida de Scully. Observou a mulher enquanto ela
colocava a comida no microondas e movimentava-se de um lado
para o outro, pegando pratos e talheres.

- Vai ficar aí sentado a noite toda enquanto a criadagem
prepara a mesa para o banquete, majestade? - ironizou Scully,
com uma profunda reverência. – Pegue os copos, por favor... E
há uma garrafa de vinho na porta da geladeira...

Ela percebera o desconforto de Mulder e tentava pô-lo à
vontade.

- Guardar vinho de pé na geladeira, Scully? – ele perguntou
franzindo a testa. – Muito me admira você fazendo algo
assim...

- Com a palavra Fox Mulder, o sommelier... – atalhou ela com
expressão marota.

Uma lasanha e alguns copos de vinho depois, Mulder sentia-se
relaxado, em paz consigo mesmo. Ele e Scully riam e
conversavam abobrinhas, as mãos dadas por sobre a mesa, como
dois adolescentes.

- Você realmente precisava ter visto a cara de mau que Langly
fez, segurando o garoto pelo braço no cyber café! – ela deu
uma risada. O abatimento que suas feições exibiam quando
entrara em casa aquela noite fora substituído por bochechas
rosadas e um par de olhos brilhantes. – "Ela só quer bater um
papo com você, rapaz." – continuou, engrossando a voz na
tentativa de imitar o Pistoleiro.

Mulder olhava para ela distraído. Ela quase pôde ouvir o
"click!" no cérebro do parceiro. Os olhos cinzentos se
estreitaram, o cenho se franziu.

- Me ocorreu uma coisa agora, Scully. Sobre os e-mails que
você recebeu...

- O que tem eles? – mal podia esperar para ouvir outra teoria
maluca de Mulder.

- Se não foi Marita Covarrubias, quem foi o mandante? – o
computador que ele chamava de cérebro funcionava tão
intensamente que Scully juraria ouvi-lo zunindo. – Aquela
relação de cidades... você ainda a tem?

- Agora, Mulder? – perguntou desanimada.

- Por favor... – lá estava ele usando aquele seu jeito
sedutor...

Ela remexeu sua bolsa até pescar de lá uma folha de papel
meio amassada que entregou a ele. Mulder pediu uma caneta,
que ela lhe entregou com um suspiro, e depois ficou olhando
para o papel por intermináveis minutos, resmungando e
rabiscando.

Scully começava a sentir as conseqüências do dia agitado e
das taças de vinho. Suas pálpebras estavam pesadas, ela
apoiava o queixo na mão, ainda assim, porém, cabeceava.

- Achei, Scully! Veja! – ele exclamou alto, quase gritando.

- Sshh... Amy está dormindo. – reclamou a mulher.

Ele se desculpou enquanto estendia a folha rabiscada para
ela.

- Veja! – disse postando-se ajoelhado ao lado dela. – O
remetente não está no nome das cidades, mas dos países onde
elas se situam. Observe...

"Santiago – Chile
Atenas - Grécia
Iekaterinburgo - Rússia
Berna - Suíça
Udine - Itália
Riad - Emirados Árabes
Recife - Brasil
Adis Abeba - Etiópia
Varsóvia - Polônia
Oslo - Noruega
Copenhague - Dinamarca" dizia a lista.

- C-G-R-S-I... Não... não percebi onde você quer chegar,
Mulder.

- Esqueça esse "I" de Itália, rearranje as iniciais e voilá!
C.G.B. Spender! O Canceroso, Scully. ELE enviou as mensagens.
– ele completou com um sorriso triunfante.

- Spender está morto, Mulder. Eu já disse a você. – atalhou
impaciente. – Pergunte a Skinner, se não acredita. Ele foi ao
funeral do Canceroso... – seus olhos pesavam. Ela suspirou
exausta. – Ah! Deixa para lá. É tarde. Vamos dormir...

Ele deu de ombros e sorriu em resposta. Piscou um dos olhos.

- Dormir? Eu tinha outros planos para essa noite...

O olhar de Mulder era insinuante enquanto suas mãos
massageavam languidamente a nuca dolorida de Scully que,
ronronando como uma gatinha manhosa, sentia-se desmanchar sob
as mãos gentis do homem amado. A noite prometia...



Mount Pleasant, Pennsylvania
14/10/2005 – 05:56 PM

As copas já quase nuas das árvores do lado de fora da janela
sacudiam-se com o vento forte e gélido que se encarregava de
arrancar-lhes as últimas folhas. Fazia frio lá fora. Dentro
da sala, no entanto, as chamas brilhavam na lareira, fazendo
estalar as achas úmidas de lenha e enchendo o ar com seu
cheiro acre. Sentado numa confortável poltrona de couro
próxima ao fogo, o homem falava ao telefone.

- Fiz o que tinha de ser feito. Krycek se excedeu, não havia
outra solução. ... Ele foi útil aos nossos propósitos por
muito tempo, sim. Mas ultimamente o poder lhe subiu à cabeça.
Que lhe sirva de lição.

O timbre levemente agudo da voz sintetizada era, por vezes,
incômodo aos ouvidos.

- Sim, você certamente merece um prêmio da Academia por sua
performance no café, Edu. Eles nem desconfiaram! ... Seu
tempo acabou? ... Compreendo... Mas você já tem alguém
preparado para deixar em seu lugar, não é mesmo? ... Huumm...
Alberto Rodrigues é o nome dele? ... Dezesseis anos? ...
Sim... Não, se a Organização o recomenda, estou de acordo...
Apenas avise-o que aguarde um contato meu antes de qualquer
coisa.

De repente, o homem foi acometido por um acesso de tosse que
o deixou sem fôlego.

- Me desculpe. – disse ao telefone, quando conseguiu retomar
precariamente o ritmo de sua respiração. - A propósito, tenho
um último servicinho para você antes de partir. Sim, para ela
mesma. O texto é o seguinte: "A grande e a pequena raposa
estão a salvo agora que o rato caiu em sua própria armadilha.
Mas não convém descuidar-se. Lembre-se: a verdade está lá
fora." ... Obrigado e adeus. – completou, recolocando o fone
no gancho.

A mão magra e ossuda estendeu-se até a mesinha próxima onde
repousava o maço de Morley. Tomou um cigarro da embalagem e o
acendeu, tragando com prazer a fumaça mal cheirosa.

- Ah, esse fantásticos e prestativos meninos do Brasil... –
murmurou C.G.B Spender para si mesmo com um sorriso
satisfeito.

Tinha o rosto magérrimo, a pele malicenta e olheiras
profundas. Atado ao pescoço na altura da garganta, um
minúsculo sintetizador captava e ampliava o volume de sua
voz. Num cacoete, coçou, com a mão desocupada, a pequena
cicatriz avermelhada na base de seu pescoço. Sua garantia de
vida contra o câncer.

- Alex Krycek... – seu rosto se crispou numa máscara irada. –
Achou que podia fazer mal à minha netinha? Idiota! Mas,
Fox... Preciso fazer alguma coisa para que não interfira
novamente nas operações do Sindicato...





T O B E C O N T I N U E D . . .








[Calma. É brincadeirinha... Continua aqui embaixo.]

Rio de Janeiro, Brasil
26/10/2005 – 06:00 PM

Fox Mulder contemplava absorto a pequena Amy brincando na
areia da praia à sua frente. Ela corria para um lado e para o
outro na beira d'água, soltando gritinhos de êxtase quando as
ondas molhavam seus pezinhos. Seus cabelos ruivos presos em
maria-chiquinhas acentuavam-lhe o ar de menina sapeca.

Fora excelente aquela idéia que Scully tivera de usar parte
dos pagamentos atrasados que o FBI devia a Mulder para
fazerem aquela viagem ao Brasil. A despeito da crônica
antipatia que Bill Scully nutria por ele, as pequenas férias
pareciam estar fazendo muito bem à mulher de cabelos
vermelhos. Ela, que andava pálida e abatida e exibia olheiras
profundas ao deixarem Washington, tinha outro aspecto agora,
a pele levemente dourada, as bochechas coradadas enchendo-se
de carne outra vez. Quanto a Bill Scully, não era um incômodo
tão grande que sua simpática família e um bom hotel à beira
mar não pudessem compensar...

- Um centavo por seus pensamentos. – disse Scully, pousando a
mão levemente sobre seu braço.

- Ah! Não me vendo assim tão barato. – respondeu ele com uma
careta. Depois, mais sério, quase tristonho, indicou com um
ligeiro movimento do queixo a menina que brincava feliz com o
mar. – Pensava no tempo de vida que me foi roubado com essa
estória toda. Nesse limbo no qual estive mergulhado por sei
lá quanto tempo, vagando... sem rumo, sem nome, sem
lembranças... Vazio. Sozinho.

A mão de Scully procurou sua mão e os dedos se entrelaçaram
com força. De seu próprio modo, ela compreendia-lhe os
sentimentos. Também ela experimentara aquele vazio, aquela
solidão da qual ele falava, pelo tempo em que Mulder estivera
desaparecido. Por outro lado, tivera Amy como alento, a
fragilidade da criança a compelindo a lutar, sua fé
inabalável a impulsionando adiante pelo caminho.

- Por outro lado... - acrescentou Mulder com aquela
sobrancelha erguida que pontuava a ironia em sua voz. – Por
outro lado, esse limbo me poupou da parte ruim dessa estória.

- E qual seria essa "parte ruim"? – perguntou Scully
intrigada.

- O que vi na casa de Marita Covarrubias, o berreiro
incessante, as mamadeiras no meio da madrugada, as fraldas
sujas, o regurgitar daquela sopinha de beterraba nos momentos
mais impróprios... – respondeu ele com uma risadinha.

- Você certamente não perde por esperar. – ela acrescentou,
tomando a mão de seu parceiro e a pousando gentilmente sobre
seu ventre.

Mulder voltou-se para ela, lentamente. A incredulidade fazia
seus olhos parecerem querer saltar das órbitas, a boca
entreaberta. Atônito, seu olhar saltava sem parar do rosto
para o ventre da companheira e de volta para os olhos e para
a barriga outra vez, uma, duas, mil vezes. As articulações de
seus dedos retesados se desenhavam muito brancas contra a
pele de sua mão que repousava com a suavidade do toque de uma
borboleta sobre a barriga de Scully, mal a tocando.

O sol se punha por trás do Morro Dois Irmãos, tingindo o céu
de tons de que iam do rosado ao vermelho vivo. Do alto do
Corcovado, o Cristo Redentor estendia suas mãos abençoando a
cidade. Por um instante, Scully teve a impressão de que a
estátua gigantesca sobre o morro dirigia seu olhar para ela,
de que a abençoava também.

Por fim, como que atingido em cheio pela compreensão do fato,
Fox Mulder engoliu em seco e piscou os olhos algumas vezes,
como se despertasse. Seus olhos se fixaram nos de Dana
Scully, sua eterna parceira, amiga, amada. Seu rosto se
iluminou num sorriso resplandecente.

- Amo você, Dana Scully!

O paraíso, finalmente, estava à vista.



F I M



NOTAS FINAIS:


NOTA 1: Cabe aqui uma explicação. Como foi dito na parte 1 da
fic, a amnésia de Mulder foi do tipo "pós-traumática" ou
"retógrada", segundo a própria Dana Scully M.D.! Pesquisei um
pouquinho na Internet sobre essa manifestação da doença antes
de escrever e o que descobri que essa é uma forma de amnésia
comum em vítimas de acidentes ou de violência. Ela não
encontra no tratamento com as drogas conhecidas um bom
resultado. As memórias do indivíduo afetado retornam
paulatinamente e há casos em que um novo episódio traumático
acelera esse processo. Mas como não sou médica, então...
Fantasiando um pouquinho, foi isso o que tentei descrever na
fic através dos sonhos de Weird / Mulder e das recordações
despertadas pelos locais a ele familiares em Washington. Se
não for bem assim, passo a palavra aos doutores de plantão.

NOTA 2: Huey, Dewey e Louie, para quem não se lembra, são os
nomes em inglês dos sobrinhos do Pato Donald, Huguinho,
Zezinho e Luizinho aqui na Terra Brasilis. Na ocasião em que
escrevi a cena da visita dos agentes à casa de Marita
Covarrubias, eu estava escrevendo, ao mesmo tempo, uma fic
cômica denominada "Trash People" com a Sky e fiquei meio
contaminada por essa onda trash. Daí a idéia de castigar a
"loura sonsa" com trigêmeos pestinhas como os sobrinhos do
Donald. Mil perdões aos fãs da moçoila.

NOTA 3: Dessa vez acabou mesmo. Não vai ter Parte 4 (eu
acho...). Peço sinceras desculpas e agradeço do fundo do
coração a todos que esperaram pacientemente pela continuação
(ou devo dizer pelas continuações?) dessa fic e mandaram os
feedbacks tão fundamentais no encorajamento de seu desfecho.
Sorry, se o final não foi do jeito que alguns esperavam, se
ficou meio previsível ou coisa e tal. Mas foi a idéia que me
ocorreu para terminar esta estória. Se alguém tiver outra
sugestão, que se sinta à vontade para escrever uma "Weird –
Parte Final – Solução Alternativa". ;) Podemos até instituir
um "Você Decide" das fanfics, que tal? Eu vou adorar ler!