Harry abriu os olhos lentamente. Estava tudo escuro à sua volta. Pôs a mão nos bolsos, à procura da varinha, mas não a encontrou. Certamente caíra na queda, pensou. E não adiantava procurar.
Então, começou a tatear na escuridão, para ver se encontrava Rony e Hermione. Sua mão estacou num tufo de cabelos ondulados que reconheceu serem da garota.
- Mione - disse ele. - Mione, acorde.
- Onde... Onde estamos? - indagou ela, despertando.
- Não sei - respondeu Harry. Provavelmente em algum dos muitos labirintos subterrâneos de Hogwarts.
Hermione pegou a varinha em seu bolso e murmurou:
- iLumus/i.
O facho de luz que saiu da varinha de Mione ajudou Harry a encontrar a sua própria. Ele a acendeu também e foi procurar Rony com a amiga.
- Ele não pode ter caído muito longe - disse Harry.
- Eu sei - disse Hermione. - Mas ele pode estar aqui perto mesmo, a luz que sai das nossas varinhas é uma porcaria.
- Ei, onde estão vocês? - gritou a voz de Rony, a uns dez metros dele. Harry apontou a varinha acesa para o garoto. Ele estava sentado no chão, e parecia ter machucado as costas.
- Rony, você está bem? - perguntou Mione, correndo até ele.
- Estou, sim... Só bati as costas de leve, nada sério.
Ele se levantou, acendeu sua varinha e se juntou aos outros dois.
- Certo - disse Harry. - precisamos arranjar um jeito de sair daqui.
- É - concordou Rony. - Será que aquela gata fedorenta fez de propósito?
- Acho que não - disse Hermione. - Quero dizer, acho que sim, mas acho que ela tinha algum motivo para nos atrair para este buraco. Sigam-me.
Ela foi andando em alguma direção, e os garotos foram atrás. A uns vinte metros de onde estavam, encontraram uma escada e subiram por ela. Lá em cima, o caminho prosseguia num corredor iluminado por tochas dos dois lados. Harry, Rony e Hermione apagaram suas varinhas e foram andando.
Depois de um tempo, eles chegaram a uma curva no corredor, que desembocava numa câmara extremamente alta, mas não muito grande dos lados. A câmara não tinha nada além de uma enorme porta dupla, que Harry tentou abrir.
- Está trancada - disse. - Como sempre.
- Sinceramente - disse Hermione para Rony, aproximando-se da porta. -, não sei por que vocês bruxos trancam as portas. - E, apontando para a fechadura: - iAlorromora/i!
A porta se abriu com um estalo e eles entraram, não sem dificuldade para empurrar uma das duas grandes folhas de madeira.
Lá dentro, tudo estava escuro como no andar de baixo. Assim que os três entraram, como é hábito das portas de histórias de mistério, ela se fechou sozinha.
- Droga - comentou Rony.
- iLumus/i - pronunciou Harry. A ponta de sua varinha se acendeu, bem a tempo de iluminar a horrível bocarra da cobra naja que se arrastava em direção a ele.
- Quem foi esse cara, hein? - perguntou ele para si mesmo, virando a página.
- Como disse, Dennis?
Dennis olhou para o irmão.
- Ah, desculpe, Colin, não era com você. É que eu já procurei em mais de três enciclopédias e ainda não consegui encontrar esse tal de Mandelyn, o Linguarudo.
- Não me pergunte - disse Colin. - Eu não faço a mínima idéia de quem é.
- Pois devia fazer - retrucou Dennis, fechando o livro. - Você já passou pelo segundo ano há um bom tempo!
- E daí? Não vou ser um historiador da magia, você acha que eu decorei os nomes?
Dennis suspirou.
- Deve ter alguém que possa me ajudar.
- É claro que tem - disse Colin, olhando para o relógio. Dali a alguns minutos acabaria o horário da primeira aula da tarde, que fora cancelada por Dumbledore.
- Harry Potter.
- Pare! - gritou Harry. Sabia que os amigos não haviam entendido o que dissera, pois de seus lábios saiu apenas um silvo. A cobra, porém, entendeu muito bem. Harry era um ofidioglota, um ser humano que tinha o poder de falar com as cobras, o que ainda assustava muita gente em Hogwarts. A serpente parou no mesmo instante, e a sala inteira se iluminou.
Não havia muita coisa lá, e os três garotos demoraram a ver o que estava no centro: uma redoma de vidro sobre um pedestal dourado. Dentro da redoma havia um caderno. A naja rastejou até o pé do pedestal, e ficou esperando que Harry fosse até lá.
- Será que é... - disse Hermione, sem poder terminar.
- Só pode ser - disse Rony.
- O diário de Slytherin! - gritou Harry, radiante. Ele correu até a redoma e a abriu. A cobra continuava no chão, absolutamente inerte. Harry pegou o caderno e voltou à entrada, onde estavam os amigos.
- É ele mesmo - disse. - Vamos voltar lá para cima.
- Como? - indagou Rony.
Harry olhou para a cobra e, sibilando, perguntou a ela onde ficava a saída. O bicho começou a se arrastar e os garotos o seguiram. A naja foi até um canto da sala, onde havia um pequeno sinal. Harry viu que era o desenho estilizado de uma serpente, igual ao que havia na pia de um banheiro feminino abandonado do castelo, que servia de entrada para a Câmara Secreta de Slytherin.
- Pelo jeito, Slytherin tinha muitas câmaras secretas - disse Hermione, parecendo adivinhar o pensamento do garoto.
Harry olhou fixamente para o desenho da cobra e, concentrando-se, ordenou em linguagem ofídica:
- Abra.
Exatamente como a pia do banheiro, o bloco da parede onde estava o desenho se moveu para o lado, dando espaço para os garotos passarem. Eles atravessaram a passagem e andaram por um corredor escuro de uns cinqüenta metros, até chegarem a uma escada de mão. Os três subiram a escada, abriram o alçapão que havia em cima, e viram que estavam num ponto bem próximo ao castelo, na Floresta Proibida.
Quando Harry, Rony e Hermione entraram no castelo, ouviram tocar o sino de início de aula. Pelo horário, aquela seria a segunda aula da tarde: Poções.
- Droga - disse Harry.
- Vamos logo - falou Mione. - Pelo menos vamos descobrir por que Dumbledore cancelou a primeira aula.
Eles pegaram o material de Poções nos dormitórios e se dirigiram à masmorra do castelo onde tinham aula com o professor Severo Snape.
Ao chegarem, se sentaram à mesma bancada, Harry ao lado de Simas e Hermione com Rony.
- E então, o que aconteceu? - perguntou Harry, enquanto picava as tripas de lesma para fazer a Poção Donática.
- Você não vai acreditar - respondeu Simas, jogando as tripas já picadas no caldeirão. - O assassino se manifestou.
- O quê?
- Isso mesmo - disse ele, agora dando nós nas traquéias de doninha e entregando-as a Harry, que pegou o alisador de traquéias na gaveta para alisá-las. - Ele entregou um bilhete a Dumbledore.
- Um bilhete?
- Sim, um bilhete. O assassino disse que, enquanto não receber o tesouro de Salazar Slytherin, vai matar mensalmente pessoas da escola.
- Nossa! Tesouro de Slytherin?
- É. Dumbledore cancelou a aula para dar um tremendo discurso. Falou dos cuidados que devemos ter nos corredores e tal. Uma encheção de saco.
Harry, porém, não estava ouvindo mais. Estava preocupado com o tesouro.
- O que é exatamente esse tesouro?
- E eu sei lá? O velhote não disse - BUM, a mistura explodiu, sinal de que a Poção Donática já estava pronta. Harry pôde ouvir o conteúdo de muitos outros caldeirões na masmorra explodirem em uníssono; os alunos haviam começado ao mesmo tempo e terminado ao mesmo tempo.
Bateram à porta.
- Quem é? - perguntou Snape entre dentes. Snape detestava ser interrompido. Aliás, Snape detestava tudo, inclusive ele mesmo.
- Sou eu, Severo - disse uma voz altiva do lado de fora. - Dumbledore.
- Entre, Alvo - disse Snape.
Dumbledore abriu a porta.
- Não é necessário atrapalhar sua aula, Severo. Só vim aqui chamar três alunos.
- Quem? - perguntou Snape inocentemente, fingindo não saber de quem ele estava falando. Harry teve um calafrio, sabendo exatamente que nomes o diretor diria.
- O Sr. Potter, o Sr. Weasley e a Srta. Granger.
Harry se levantou, junto com Rony e Hermione. Eles foram até a porta, passando por Snape de propósito, e saíram com Dumbledore.
- Preciso de vocês - disse o diretor sorrindo, assim que se viu a sós com os três no corredor. - Vamos até o meu escritório.
Eles seguiram Dumbledore até uma das torres mais altas do castelo, onde havia uma gárgula que servia de passagem para o escritório do diretor, que só deixava passar quem dissesse a senha certa.
- Presença de Marmita - disse o diretor à gárgula.
A estátua se moveu para o lado e Dumbledore entrou com os garotos. Ele os guiou por uma escada até o seu escritório, entrou com eles e fechou a porta.
- Bem, crianças, vou dizer do que se trata.
Ele se sentou à sua escrivaninha, muito sério, e indicou cadeiras para os três, que se sentaram.
- Vocês já devem ter sabido o que eu recebi esta manhã.
Harry, Rony e Hermione assentiram com a cabeça.
- Muito bem - continuou Dumbledore. - Eu recebi um bilhete do assassino de Argo Filch, que me prometeu matar uma pessoa por mês se não recebesse o tesouro de Salazar Slytherin. Por acaso vocês sabem que tesouro é esse?
Os três fizeram que não.
- Presumivelmente. Salazar Slytherin, e isso vocês sabem, foi o fundador da casa Sonserina. Ele deixou como parte do seu legado uma Câmara Secreta, na qual você inclusive passou maus bocados, Harry.
Ele respirou profundamente e prosseguiu:
- Ocorre que há uma lenda, dentre as muitas que cercam esta escola, segundo a qual Slytherin teria deixado também um tesouro. Conforme a lenda, só uma pessoa com o sangue de Salazar tem acesso a esse tesouro. E nós sabemos quem é essa pessoa.
- Tom Riddle - disse Harry automaticamente.
- Exato. Porém, acho que podemos inocentá-lo. É evidente que, se Lord Voldemort estivesse realmente interessado nesse tesouro, não precisaria matar pessoas. Sabemos que ele é cruel, mas também é extremamente prudente e calculista.
Harry, Rony e Hermione permaneceram em silêncio. Dumbledore então falou:
- Agora eu vou lançar a minha proposta: eu conheço o espírito heróico de vocês três e sei que andaram matando aula para procurar esse assassino.
Rony e Hermione entreolharam-se.
- A idéia é a seguinte: se vocês concordarem em investigar esse mistério e descobrir quem é o culpado pelas mortes, estarão livres dos exames e passarão de ano automaticamente.
A proposta era tentadora, irresistível.
- Vocês não serão obrigados a freqüentar as aulas - continuou Dumbledore. - Porém, eu aconselho que o façam, porque um feitiço que se aprende numa aula corriqueira pode ser crucial num momento de perigo.
- Tem razão - disse Harry, quebrando o mutismo em que se encontrava.
Dumbledore juntou as mãos sobre a mesa e disse:
- Bem, minha oferta está feita. Cabe a vocês aceita-la ou não.
- E se não descobrirmos o assassino? - perguntou Hermione. - E se fingirmos estar investigando, mas na verdade usarmos o tempo livre para fazer outras coisas?
- Tenho total confiança em vocês - respondeu o diretor, sorrindo. -, e sei que não farão isso. Pelo contrário, tenho certeza que darão o melhor de si. - E, recostando-se na cadeira, perguntou: - Quanto tempo querem para pensar?
Harry, Rony e Hermione olharam um para o outro. Harry disse:
- Não precisamos de mais tempo. Nós aceitamos a proposta. Vamos começar a investigar já.
Dumbledore abriu um largo sorriso e disse:
- Sabia que não me decepcionariam.
- Vamos à biblioteca - disse Hermione, quando já se encontravam afastados o suficiente para não serem ouvidos pelo diretor.
- Fazer o quê? - perguntou Rony.
- Ler o diário de Slytherin. É o nosso ponto de partida. Nele encontraremos o motivo que leva o assassino a querer tanto esse tesouro.
- Bem lembrado. Onde está o diário?
- No meu bolso - respondeu Harry. - Guardei aqui quando o Dumbledore nos chamou na masmorra.
Ao chegarem à biblioteca, Harry foi imediatamente abordado por Dennis Creevey, que queria que o garoto o ajudasse a estudar História da Magia.
- Dennis, você não deveria estar na aula?
- Deveria, mas o prof. Binns me expulsou porque eu não tinha feito o dever de casa.
- E por que você não tinha feito o dever?
- Porque eu simplesmente não consegui responder às perguntas do livro! Eu tenho mais dez minutos antes da próxima aula. Me ajude, Harry, por favor!
Harry fez um sinal aos amigos para que continuassem sem ele, e foi com Dennis até sua mesa abarrotada de livros de História da Magia. Ele ajudou o garoto até o sino bater, e então se juntou a Rony e Hermione.
- Vamos assistir à próxima aula - disse ele ao alcançar a mesa dos dois. - Precisamos contar a Simas o que aconteceu.
Rony e Hermione se levantaram e se juntaram a Harry. Enquanto eles iam à sala de Transfiguração, Hermione contava a Harry o que lera no diário de Salazar Slytherin.
Os livros pesadões da biblioteca deram um cansaço em Dennis, que penou para devolve-los à Madame Pince e quase se atrasou para a aula. Chegou pouco antes do Prof. Flitwick fechar a porta.
Depois de uns dez minutos, alguém bateu à porta da sala de Feitiços. Era o prof. Dumbledore.
- Com licença, Flitwick. Dennis Creevey está aqui? Eu gostaria de falar com ele um minuto.
Dennis ficou todo excitado, achando que era alguma coisa importante, e foi correndo. Dumbledore saiu com ele e fechou a porta.
- Professora, posso ir ao banheiro?
- Claro, Sr. Creevey - disse a prof. Sibila Trelawney, em sua voz etérea e distante, a Colin. Ele se levantou e saiu da sala que cheirava a incenso. Já havia passado meia hora desde que a aula começara, e sua bexiga dava-lhe a impressão de que ia estourar.
Colin chegou ao banheiro e sentiu toda a urina molhar suas calças. Deitado no chão, com os olhos arregalados pelo pavor da morte, estava seu irmão Dennis Creevey.
Então, começou a tatear na escuridão, para ver se encontrava Rony e Hermione. Sua mão estacou num tufo de cabelos ondulados que reconheceu serem da garota.
- Mione - disse ele. - Mione, acorde.
- Onde... Onde estamos? - indagou ela, despertando.
- Não sei - respondeu Harry. Provavelmente em algum dos muitos labirintos subterrâneos de Hogwarts.
Hermione pegou a varinha em seu bolso e murmurou:
- iLumus/i.
O facho de luz que saiu da varinha de Mione ajudou Harry a encontrar a sua própria. Ele a acendeu também e foi procurar Rony com a amiga.
- Ele não pode ter caído muito longe - disse Harry.
- Eu sei - disse Hermione. - Mas ele pode estar aqui perto mesmo, a luz que sai das nossas varinhas é uma porcaria.
- Ei, onde estão vocês? - gritou a voz de Rony, a uns dez metros dele. Harry apontou a varinha acesa para o garoto. Ele estava sentado no chão, e parecia ter machucado as costas.
- Rony, você está bem? - perguntou Mione, correndo até ele.
- Estou, sim... Só bati as costas de leve, nada sério.
Ele se levantou, acendeu sua varinha e se juntou aos outros dois.
- Certo - disse Harry. - precisamos arranjar um jeito de sair daqui.
- É - concordou Rony. - Será que aquela gata fedorenta fez de propósito?
- Acho que não - disse Hermione. - Quero dizer, acho que sim, mas acho que ela tinha algum motivo para nos atrair para este buraco. Sigam-me.
Ela foi andando em alguma direção, e os garotos foram atrás. A uns vinte metros de onde estavam, encontraram uma escada e subiram por ela. Lá em cima, o caminho prosseguia num corredor iluminado por tochas dos dois lados. Harry, Rony e Hermione apagaram suas varinhas e foram andando.
Depois de um tempo, eles chegaram a uma curva no corredor, que desembocava numa câmara extremamente alta, mas não muito grande dos lados. A câmara não tinha nada além de uma enorme porta dupla, que Harry tentou abrir.
- Está trancada - disse. - Como sempre.
- Sinceramente - disse Hermione para Rony, aproximando-se da porta. -, não sei por que vocês bruxos trancam as portas. - E, apontando para a fechadura: - iAlorromora/i!
A porta se abriu com um estalo e eles entraram, não sem dificuldade para empurrar uma das duas grandes folhas de madeira.
Lá dentro, tudo estava escuro como no andar de baixo. Assim que os três entraram, como é hábito das portas de histórias de mistério, ela se fechou sozinha.
- Droga - comentou Rony.
- iLumus/i - pronunciou Harry. A ponta de sua varinha se acendeu, bem a tempo de iluminar a horrível bocarra da cobra naja que se arrastava em direção a ele.
- Quem foi esse cara, hein? - perguntou ele para si mesmo, virando a página.
- Como disse, Dennis?
Dennis olhou para o irmão.
- Ah, desculpe, Colin, não era com você. É que eu já procurei em mais de três enciclopédias e ainda não consegui encontrar esse tal de Mandelyn, o Linguarudo.
- Não me pergunte - disse Colin. - Eu não faço a mínima idéia de quem é.
- Pois devia fazer - retrucou Dennis, fechando o livro. - Você já passou pelo segundo ano há um bom tempo!
- E daí? Não vou ser um historiador da magia, você acha que eu decorei os nomes?
Dennis suspirou.
- Deve ter alguém que possa me ajudar.
- É claro que tem - disse Colin, olhando para o relógio. Dali a alguns minutos acabaria o horário da primeira aula da tarde, que fora cancelada por Dumbledore.
- Harry Potter.
- Pare! - gritou Harry. Sabia que os amigos não haviam entendido o que dissera, pois de seus lábios saiu apenas um silvo. A cobra, porém, entendeu muito bem. Harry era um ofidioglota, um ser humano que tinha o poder de falar com as cobras, o que ainda assustava muita gente em Hogwarts. A serpente parou no mesmo instante, e a sala inteira se iluminou.
Não havia muita coisa lá, e os três garotos demoraram a ver o que estava no centro: uma redoma de vidro sobre um pedestal dourado. Dentro da redoma havia um caderno. A naja rastejou até o pé do pedestal, e ficou esperando que Harry fosse até lá.
- Será que é... - disse Hermione, sem poder terminar.
- Só pode ser - disse Rony.
- O diário de Slytherin! - gritou Harry, radiante. Ele correu até a redoma e a abriu. A cobra continuava no chão, absolutamente inerte. Harry pegou o caderno e voltou à entrada, onde estavam os amigos.
- É ele mesmo - disse. - Vamos voltar lá para cima.
- Como? - indagou Rony.
Harry olhou para a cobra e, sibilando, perguntou a ela onde ficava a saída. O bicho começou a se arrastar e os garotos o seguiram. A naja foi até um canto da sala, onde havia um pequeno sinal. Harry viu que era o desenho estilizado de uma serpente, igual ao que havia na pia de um banheiro feminino abandonado do castelo, que servia de entrada para a Câmara Secreta de Slytherin.
- Pelo jeito, Slytherin tinha muitas câmaras secretas - disse Hermione, parecendo adivinhar o pensamento do garoto.
Harry olhou fixamente para o desenho da cobra e, concentrando-se, ordenou em linguagem ofídica:
- Abra.
Exatamente como a pia do banheiro, o bloco da parede onde estava o desenho se moveu para o lado, dando espaço para os garotos passarem. Eles atravessaram a passagem e andaram por um corredor escuro de uns cinqüenta metros, até chegarem a uma escada de mão. Os três subiram a escada, abriram o alçapão que havia em cima, e viram que estavam num ponto bem próximo ao castelo, na Floresta Proibida.
Quando Harry, Rony e Hermione entraram no castelo, ouviram tocar o sino de início de aula. Pelo horário, aquela seria a segunda aula da tarde: Poções.
- Droga - disse Harry.
- Vamos logo - falou Mione. - Pelo menos vamos descobrir por que Dumbledore cancelou a primeira aula.
Eles pegaram o material de Poções nos dormitórios e se dirigiram à masmorra do castelo onde tinham aula com o professor Severo Snape.
Ao chegarem, se sentaram à mesma bancada, Harry ao lado de Simas e Hermione com Rony.
- E então, o que aconteceu? - perguntou Harry, enquanto picava as tripas de lesma para fazer a Poção Donática.
- Você não vai acreditar - respondeu Simas, jogando as tripas já picadas no caldeirão. - O assassino se manifestou.
- O quê?
- Isso mesmo - disse ele, agora dando nós nas traquéias de doninha e entregando-as a Harry, que pegou o alisador de traquéias na gaveta para alisá-las. - Ele entregou um bilhete a Dumbledore.
- Um bilhete?
- Sim, um bilhete. O assassino disse que, enquanto não receber o tesouro de Salazar Slytherin, vai matar mensalmente pessoas da escola.
- Nossa! Tesouro de Slytherin?
- É. Dumbledore cancelou a aula para dar um tremendo discurso. Falou dos cuidados que devemos ter nos corredores e tal. Uma encheção de saco.
Harry, porém, não estava ouvindo mais. Estava preocupado com o tesouro.
- O que é exatamente esse tesouro?
- E eu sei lá? O velhote não disse - BUM, a mistura explodiu, sinal de que a Poção Donática já estava pronta. Harry pôde ouvir o conteúdo de muitos outros caldeirões na masmorra explodirem em uníssono; os alunos haviam começado ao mesmo tempo e terminado ao mesmo tempo.
Bateram à porta.
- Quem é? - perguntou Snape entre dentes. Snape detestava ser interrompido. Aliás, Snape detestava tudo, inclusive ele mesmo.
- Sou eu, Severo - disse uma voz altiva do lado de fora. - Dumbledore.
- Entre, Alvo - disse Snape.
Dumbledore abriu a porta.
- Não é necessário atrapalhar sua aula, Severo. Só vim aqui chamar três alunos.
- Quem? - perguntou Snape inocentemente, fingindo não saber de quem ele estava falando. Harry teve um calafrio, sabendo exatamente que nomes o diretor diria.
- O Sr. Potter, o Sr. Weasley e a Srta. Granger.
Harry se levantou, junto com Rony e Hermione. Eles foram até a porta, passando por Snape de propósito, e saíram com Dumbledore.
- Preciso de vocês - disse o diretor sorrindo, assim que se viu a sós com os três no corredor. - Vamos até o meu escritório.
Eles seguiram Dumbledore até uma das torres mais altas do castelo, onde havia uma gárgula que servia de passagem para o escritório do diretor, que só deixava passar quem dissesse a senha certa.
- Presença de Marmita - disse o diretor à gárgula.
A estátua se moveu para o lado e Dumbledore entrou com os garotos. Ele os guiou por uma escada até o seu escritório, entrou com eles e fechou a porta.
- Bem, crianças, vou dizer do que se trata.
Ele se sentou à sua escrivaninha, muito sério, e indicou cadeiras para os três, que se sentaram.
- Vocês já devem ter sabido o que eu recebi esta manhã.
Harry, Rony e Hermione assentiram com a cabeça.
- Muito bem - continuou Dumbledore. - Eu recebi um bilhete do assassino de Argo Filch, que me prometeu matar uma pessoa por mês se não recebesse o tesouro de Salazar Slytherin. Por acaso vocês sabem que tesouro é esse?
Os três fizeram que não.
- Presumivelmente. Salazar Slytherin, e isso vocês sabem, foi o fundador da casa Sonserina. Ele deixou como parte do seu legado uma Câmara Secreta, na qual você inclusive passou maus bocados, Harry.
Ele respirou profundamente e prosseguiu:
- Ocorre que há uma lenda, dentre as muitas que cercam esta escola, segundo a qual Slytherin teria deixado também um tesouro. Conforme a lenda, só uma pessoa com o sangue de Salazar tem acesso a esse tesouro. E nós sabemos quem é essa pessoa.
- Tom Riddle - disse Harry automaticamente.
- Exato. Porém, acho que podemos inocentá-lo. É evidente que, se Lord Voldemort estivesse realmente interessado nesse tesouro, não precisaria matar pessoas. Sabemos que ele é cruel, mas também é extremamente prudente e calculista.
Harry, Rony e Hermione permaneceram em silêncio. Dumbledore então falou:
- Agora eu vou lançar a minha proposta: eu conheço o espírito heróico de vocês três e sei que andaram matando aula para procurar esse assassino.
Rony e Hermione entreolharam-se.
- A idéia é a seguinte: se vocês concordarem em investigar esse mistério e descobrir quem é o culpado pelas mortes, estarão livres dos exames e passarão de ano automaticamente.
A proposta era tentadora, irresistível.
- Vocês não serão obrigados a freqüentar as aulas - continuou Dumbledore. - Porém, eu aconselho que o façam, porque um feitiço que se aprende numa aula corriqueira pode ser crucial num momento de perigo.
- Tem razão - disse Harry, quebrando o mutismo em que se encontrava.
Dumbledore juntou as mãos sobre a mesa e disse:
- Bem, minha oferta está feita. Cabe a vocês aceita-la ou não.
- E se não descobrirmos o assassino? - perguntou Hermione. - E se fingirmos estar investigando, mas na verdade usarmos o tempo livre para fazer outras coisas?
- Tenho total confiança em vocês - respondeu o diretor, sorrindo. -, e sei que não farão isso. Pelo contrário, tenho certeza que darão o melhor de si. - E, recostando-se na cadeira, perguntou: - Quanto tempo querem para pensar?
Harry, Rony e Hermione olharam um para o outro. Harry disse:
- Não precisamos de mais tempo. Nós aceitamos a proposta. Vamos começar a investigar já.
Dumbledore abriu um largo sorriso e disse:
- Sabia que não me decepcionariam.
- Vamos à biblioteca - disse Hermione, quando já se encontravam afastados o suficiente para não serem ouvidos pelo diretor.
- Fazer o quê? - perguntou Rony.
- Ler o diário de Slytherin. É o nosso ponto de partida. Nele encontraremos o motivo que leva o assassino a querer tanto esse tesouro.
- Bem lembrado. Onde está o diário?
- No meu bolso - respondeu Harry. - Guardei aqui quando o Dumbledore nos chamou na masmorra.
Ao chegarem à biblioteca, Harry foi imediatamente abordado por Dennis Creevey, que queria que o garoto o ajudasse a estudar História da Magia.
- Dennis, você não deveria estar na aula?
- Deveria, mas o prof. Binns me expulsou porque eu não tinha feito o dever de casa.
- E por que você não tinha feito o dever?
- Porque eu simplesmente não consegui responder às perguntas do livro! Eu tenho mais dez minutos antes da próxima aula. Me ajude, Harry, por favor!
Harry fez um sinal aos amigos para que continuassem sem ele, e foi com Dennis até sua mesa abarrotada de livros de História da Magia. Ele ajudou o garoto até o sino bater, e então se juntou a Rony e Hermione.
- Vamos assistir à próxima aula - disse ele ao alcançar a mesa dos dois. - Precisamos contar a Simas o que aconteceu.
Rony e Hermione se levantaram e se juntaram a Harry. Enquanto eles iam à sala de Transfiguração, Hermione contava a Harry o que lera no diário de Salazar Slytherin.
Os livros pesadões da biblioteca deram um cansaço em Dennis, que penou para devolve-los à Madame Pince e quase se atrasou para a aula. Chegou pouco antes do Prof. Flitwick fechar a porta.
Depois de uns dez minutos, alguém bateu à porta da sala de Feitiços. Era o prof. Dumbledore.
- Com licença, Flitwick. Dennis Creevey está aqui? Eu gostaria de falar com ele um minuto.
Dennis ficou todo excitado, achando que era alguma coisa importante, e foi correndo. Dumbledore saiu com ele e fechou a porta.
- Professora, posso ir ao banheiro?
- Claro, Sr. Creevey - disse a prof. Sibila Trelawney, em sua voz etérea e distante, a Colin. Ele se levantou e saiu da sala que cheirava a incenso. Já havia passado meia hora desde que a aula começara, e sua bexiga dava-lhe a impressão de que ia estourar.
Colin chegou ao banheiro e sentiu toda a urina molhar suas calças. Deitado no chão, com os olhos arregalados pelo pavor da morte, estava seu irmão Dennis Creevey.
