Capitulo 2: Do lado de fora


Assim que voltei para a cozinha encontrei minha família que nem parecia ter percebido que Yasmin e eu estávamos um pouco atrasados. Estava um verdadeiro clima de despedida naquele lugar. Minha mãe chorava enquanto abraçava João. Pedro conversava com Beatriz aos sussurros. Yasmim e eu nos aproximamos e minha mãe nos abraçou assim que nos viu.

— Promete que vão tomar cuidado?

Perguntei ela entre os soluços para nós. Yasmim e eu concordamos com a cabeça entendendo que minha mãe, Pedro e Beatriz, sabem sim o qual arriscado é esse plano que planejamos executar. Eu dei também um pequeno abraço em Beatriz antes de esperar por Pedro na porta junto de João.

— Medo?

Perguntou ele pra mim e eu confirmei com a cabeça.

— Apavorado na verdade.

Respondi e ele confirmou com a cabeça.

— Eu também.

Respondeu ele assim que Yasmim se aproximava e me abraçou por trás repousando sua cabeça no meu ombro.

— Está ansiosa Yas?

Perguntou João. Yasmim negou com a cabeça ainda repousada em meu ombro.

— Acho que não, estou com mais medo do que ansiedade.

João deu uma silenciosa risada.

— Entra na fila.

Ela concordou com a cabeça novamente, mas agora tirou do meu ombro, desfez seu abraço e se posicionou ao meu lado, também esperando por Pedro. O que não demorou muito para acontecer, logo Pedro já caminhava na nossa direção trazendo seu facão de estimação e minha mãe vinha junto dele cheia de mochilas e entregou uma para cada um de nós.

— Pra vocês conseguirem guardar o que encontrarem.

Disse ela enquanto Yasmim pegava a dela e já colocava nas costas.

— Já voltamos mãe.

Disse João enquanto pegava a dele e sorria para tranquilizá-la. Minha mãe confirmou com a cabeça e se afastou um pouco. Pedro suspirou profundamente enquanto se aproximava da porta.

— Todos sabem o que fazer, silencio total! Vamos procurar alimento e voltar pra casa.

Disse Pedro segundos antes de abrir lentamente e silenciosamente a porta de saída. Eu respirei fundo e fechei os olhos rapidamente, seja lá o que encontraremos não será nada agradável. Yasmin segurou fortemente minha mão me fazendo abrir os olhos e olhar pra ela. Ela sorriu e confirmou com a cabeça e eu devolvi o aceno me sentindo um pouco mais confortável. Quando voltei meu olhar a porta já estava aberta, então tive a visão da nossa rua coberta pela costumeira neblina das manhas geladas do inverno. me acostumei com ela da época da escola, afinal estudei boa parte da minha vida de manhã.

Minha mão ainda segurava a da Yasmin enquanto saímos de casa, dei uma última olhada para dentro da minha casa e confirmei com a cabeça para minha mãe segundos antes dela fechar a porta.

Estávamos todos agasalhados com grosas blusas, mas ainda assim eu me sentia como se tivesse congelando. O motivo disse é claro, estávamos todos descalços pisando no solo gelado. Pode parecer estupido, mas pra mim foi a melhor ideia desse plano. Durante o processo de infecção, a pessoa infectada perde completamente a visão, quando volta a vida não recupera a visão perdida. Fazendo cada um dos infectados serem cegos e se orientarem completamente pelo som. Vestindo sapatos, tínhamos mais chances de fazer barulho enquanto caminhávamos, então embora eu sinta que meus pês estão congelando, acho que valia apena.

Não dava pra ver muito por consequência da forte neblina que rondava todo o cenário, também foi uma ideia meio estupida sair de manhã. No caso nos igualamos aos infectados e pouco podemos enxergar.

O plano era bem simples. Tentar chamar menos atenção possível e não fazer barulho nenhum enquanto procurávamos lugares que pareçam ter comida e água disponível. Lojinhas, casas que pareça fácil de entrar. Carros abertos que levava suprimento, qualquer coisa. Assim que encontrássemos algum lugar pra procurar, deveríamos nos separar em duplas. Eu iria com Yasmin e Pedro irá com Lucas. Por isso tínhamos que está em número par para o plano fazer sentido, por isso Yasmin teve que vim.

Caminhamos lentamente sobe a rua extremamente silenciosa. Não pude deixar de lembrar das tantas vezes que sair nessa hora da manhã para trabalhar com Yasmin e encontrei a rua decerta exatamente como está agora. Quem dera que todos estivessem dormindo e que lá pras oito todos irão acordar e começarão seu dia.

Minha mão ainda segurava a da Yasmin, ela estava um pouco tremula, mas eu também estava. Não posso julgá-la por esta assustada, afinal ela esconde isso 100% vezes melhor que eu. Caminhamos todos juntos até o fim da rua da nossa casa, o plano era ir um pouco longe, para caso algo desse errado nossa mãe e a Beatriz estarão seguras. Assim que chegamos na primeira via de mão dupla que ficava no fim da rua, Felipe apontou que iria para a direita com João e apontou para Yasmin e eu irmos para a esquerda. Eu somente concordei com a cabeça e partir na direção oposto após dar um pequeno sorriso tranquilizador para João.

Assim que começamos a partir sozinhos Yasmin apertou mais minha mão. Eu meio que entendo. Enquanto Felipe estava conosco, querendo ou não, estávamos armados. Ele sabia usar aquilo? Absolutamente não! mas ainda assim passava uma falsa sensação de segurança. Agora estamos sozinhos, desarmados e sem saber bem pra onde estávamos indo. Parecíamos abandonados à própria sorte, e nunca fomos sortudos.

O silencio era perturbador e a ausência de pessoas era preocupante. Eu sei que deveria ser uma coisa boa, mas a essa altura eu já esperava ter visto algum infectado isolado resmungando sua vida de merda. Mas até agora nada, o que provavelmente significa que os infectados estão andando juntos ou estão dentro das casas abertas que planejamos invadir.

Não precisamos andar muito para decidir o local que tentaríamos entrar, assim que passamos de frente a escola que cursei meu primário, notamos que o portão estava completamente fechado, mas sendo de grades altas, nos conseguiremos escalá-lo facilmente e sem fazer barulho. Yasmin me olhou confusa assim que indiquei o colégio.

— Está fechado — sussurrei pra ela — Pode ter comida estocada lá dentro.

— Pessoas também.

Acrescentou ela e eu tive que pensar por um segundo. Encontrar pessoas vivas seria uma coisa boa ou uma coisa ruim?

— E isso seria bom ou ruim?

Yasmin rolou os olhos antes de desvia-los e voltar a olhar pra escola.

— Se alguém tentasse entrar na nossa casa procurando comida, você os receberia bem? Abriria a porta pra eles?

Ele tem razão. É realmente difícil acreditar que alguém nos ajudaria sem nenhum motivo, principalmente considerando que se fosse ao contrário, eu também não ajudaria.

— O que quer fazer?

Perguntei e Yasmim franziu bastante a testa.

— Vamos dar uma olhada. Estamos muito tempo parados aqui!

Eu confirmei com a cabeça e automaticamente já passei a caminhar na direção do portão. Eu coloquei cuidadosamente meu pé na grade e não foi muito difícil escalá-lo, o que pode ser um problema. Se não é difícil pra mim, é fácil para qualquer pessoa, e isso inclui os infectados. Yasmim me acompanhava de perto e escalou o portão ao meu lado. Nesse momento eu desejei ter o facão de Pedro. Não que fosse servir pra alguma coisa nas minhas mãos, mas agora pulando um portão sem nem ter ideia do que irei encontrar do outro lado, me fez desejar pelo menos ter uma sensação de segurança, por mais falsa e ilusória que ela seria.

Assim que passamos para o outro lado encontramos o mesmo silencio assustador que tínhamos na rua. Caminhamos lentamente pela antiga escola aonde eu costumo correr enquanto brincava de pega-pega ou polícia e ladrão.

Caminhamos um pouco e nosso alvo foi automaticamente até a cozinha do colégio. Não era longe, na verdade era bem próximo. O problema é quem enquanto caminhávamos na direção da cozinha ouvimos de longe um barulho de resmungo um pouco agitado. Desaceleramos, mas continuamos a caminhar na direção da cozinha. Só foram necessários mais alguns passos para que pudéssemos ver um homem e uma mulher na outra extremidade do pátio. Estavam parados na porta da biblioteca aonde eu costumava jogar xadrez com Yasmin. O homem estava em pé, mas com a coluna dobrada, assim olhando para seus próprios sapatos enquanto parecia tremer e se contorcer. Já a mulher estava sentada na frente da porta e parecia ter um sério sangramento na cabeça. havia também claros ferimento por todo seu corpo, mas a cabeça se destacava, afinal a mulher parecia ter sangrado bastante.

Yasmim assim que notou os dois deu uma pequena congelada. Esses dois estão infectados, isso é meio obvio. O que significa que somente um barulhinho teremos dois deles nos perseguindo. Eu resolvi despertar minha irmã pegando levemente seu braço e a puxando na direção da cozinha enquanto rezava para não ter ninguém por ali. Felizmente não tinha ninguém ali, por mais que tinha sangue em alguns cantos da cozinha o que mostra que possivelmente alguém já passou por ali. Só espero que não tenha conseguido levar tudo. Yasmim ainda parecia extremamente preocupada e assustada com nossos amigos do lado de fora, mas se esforçou para ir até os armários e começar a procurar por alguma coisa. Estava quase cheio. Aparentemente as pessoas focaram em saquear os mercados e acabou precarizando os colégios e deixando algumas coisas pra trás. Encontramos alguns sacos de arroz e feijão que pareciam ainda bons. Encontramos alguns legumes também, mas além do fato que não gosto muito deles, todos pareciam estar podres ou se não, pelo menos algo muito semelhante a isso. De qualquer forma, pegamos os que pareciam um pouco melhor. Ainda ficou alguns alimentos, pois não conseguiremos carregar tudo. não sobrou muita coisa, mas acho que vale apena da próxima vez pelo menos passar por aqui para verificar se esses itens deixados pra trás ainda estarão aqui. Inesperadamente ouvimos fortes batidas numa porta junto de um grito de socorro. Automaticamente nos abaixando assim evitando de sermos vistos pelo lado de fora da cozinha. Yasmin me olhou apavorada, os infectados com certeza irão ouvir aquilo. Eu fui me levantando lentamente para tentar verificar o que estava ocorrendo quando a mão de Yasmim me puxou pra baixo novamente.

— O que está fazendo?

Perguntou ela num tom tão baixo que mal conseguir a ouvir.

— Eles não enxergam. Quero ver quantos foram atraídos pela garota pedindo ajuda.

Eu tentei novamente me erguer para dar uma olhada quando Yasmin me puxou novamente.

— Os vivos enxergam.

Eu engoli em seco antes de respondê-la.

— Relaxa, só vou dar uma olhada. De qualquer forma temos que ver quantos são se queremos ter alguma chance de sair daqui.

Yasmin ainda parecendo bastante insegura do meu plano, soltou meu braço lentamente. Eu me levantei para observar o que acontecia do lado de fora. Pelo incrível que pareça, as batidas na porta junto do alto pedido do socorro não atraíram nenhum infectado, somente enlouqueceu os dois que já estavam no pátio. Um deles corria aleatoriamente pelo pátio enquanto o outro espancava a porta da biblioteca. Devo imaginar que foi de lá que veio o barulho. Eu me abaixei novamente e tranquilizei Yasmin com um pequeno sorriso.

— Ela não atraiu ninguém, pelo menos por enquanto.

Yasmim deu um pequeno sorriso.

— Que bom. Poderemos ir embora só nos preocupando com os dois que estão ai fora.

Eu ergui um pouco a sobrancelha.

— Vamos deixar seja lá quem for presa ali?

Foi a vez de Yasmin erguer as sobrancelhas.

— O que podemos fazer?

Franzi um pouquinho a testa enquanto pensava.

— As portas das salas de aula lá em baixo abrem pra dentro. Se prendemos os dois infectados nas salas, eles não conseguirão sair.

— E como exatamente você planeja fazer isso?

— Levanta devagar e observa o que está correndo pelo pátio — Yasmin se levantou lentamente e observou o infectado correr aleatoriamente pelo pátio. As vezes tropeçava em algo e caia bruscamente no chão, mas logo se levantava e voltava a correr. Provavelmente estimulado pelo barulho que sua amiga também infectada fazia ainda batendo na porta da biblioteca tentando entrar.

— São movidos pelo som de uma forma quase animalesca. Se fizermos barulho nas salas e deixarmos a porta aberta, eles correrão pra dentro, aí é só sair rápido e tranca-los.

Yasmin concordou com a cabeça.

— Certo, pode funcionar. Mas porque exatamente devemos nos arriscar por alguém que sequer sabemos quem é?

Ela definitivamente tem um ponto. Não faço bem o papel de herói por uma causa nobre, mas também não quero deixar a pessoa que está presa morrer de fome ou algo pior.

— Se a ajudamos talvez tenha comida. Talvez possamos nos ajudar.

— Ou ela vai nos matar e ficar com nossas mochilas.

Eu neguei com a cabeça sorrindo.

— Seja lá quem for, é alguém que não conseguiu lidar com dois infectados. Não consigo imaginar que um agente da Swat que está preso lá dentro.

Yasmin expos um pequeno sorriso.

— Ainda acho que devemos simplesmente ir embora enquanto aquele cara fazendo barulho não atraia mais infectados.

Eu confirmei com a cabeça.

— Toda a lógica do meu celebro aponta que sua ideia é muito melhor que a minha. Mas ainda assim não posso fazer isso... Parece errado.

Yasmim ergueu bastante as sobrancelhas novamente.

— Você se importa com o que é certo ou errado?

Eu dei os ombros enquanto voltava a me levantar.

— Geralmente não! mas hoje sim.

Ela confirmou com a cabeça ainda parecendo discordar bastante da minha ideia. Na verdade, eu meio que discordo também da minha ideia. Não consigo explicar bem o porquê estou fazendo isso.

— Ta doida? — perguntei assim que notei Yasmin se levantando também — você fica aqui!

— Não vou deixar você ir sozinho.

— Você vai sim — respondi me agachando novamente. — Dois lá em baixo só vai servir para diminuir o espaço e acabarmos presos com eles. Você fica aqui e espere por mim, não vou demorar.

Yasmin negou com a cabeça.

— Daniel, entenda. Não existe nenhuma possibilidade deu deixar você fazer isso sozinho.

— Yas, confie em mim ok? Não tem porque você se ariscar junto comigo. Até porque pensando no pior, alguém tem que voltar pra casa com os alimentos.

Yasmin rolou os olhos.

— Você espera que essa frase me motive a ficar aqui esperando?

Eu tenho que admitir que não foi a melhor frase que eu poderia ter usado. Eu coloquei delicadamente minhas mãos nos dois ombros de Yasmin e ela os relaxou um pouco.

— Confie em mim. — Sussurrei no ouvido dela causando um pequeno arrepio na minha espinha — eu irei voltar.

Yasmim talvez notando que eu não irei mudar de ideia resolveu me abraçar de uma vez. Eu podia sentir o estado de espirito dela.

— Não quero te perder.

Sussurrou ela no meu ouvido ainda me abraçando. Eu desfiz o abraço lentamente e a encarei.

— Você não vai.

Falei antes de um último beijo no topo de sua cabeça e me levantar. Tirei rapidamente minha mochila e entreguei pra ela. Ela ainda não pareceu gostar muito da ideia, mas aparentemente entendeu o porquê eu dei a mochila. Seguir lentamente até a porta de saída da cozinha e olhei para Yasmin novamente. A mesma permanecia sentada e sua cara deixava bastante exposto tamanha preocupação que ela estava.

— Toma cuidado... por favor.

Eu concordei com a cabeça e finalmente e me virei na direção da porta novamente com o coração bastante fechado. Vai ser a primeira vez que terei que lidar com infectados, e tenho que fazer funcionar. Assim que sair tentei manter o silencio enquanto caminhava até a grade que levava as antigas salas de aula. O chão do colégio estava bastante gelado e o infectado correndo de um lado para outro no pátio fazia meu coração disparar. Mas eu conseguir alcançar a grade e a atravessei. Nessa escola primaria, talvez para evitar que as crianças se machuquem com escadas, as salas de aula ficavam somente um pouco abaixo do pátio, fazendo escadas serem desnecessárias. A única coisa que tínhamos uma pequena decida até os 4 corredores cheios de sala de aula do início ao fim. Eu desci até o ultimo corredor e caminhei até uma sala aleatória. Escolhi o ultimo pois após o barulho, terei mais tempo ouvindo eles se aproximando. Entrei na sala e quase parecia que o mundo não estava destruído. Cadeiras e mesas nos exatos lugares que elas deveriam, prontas para receber alunos que certamente nunca retornarão. Eu respirei fundo para preparar o que irei fazer. Estou contando que ambos irão entrar de forma desesperada, assim me dando tempo de fechar a porta. eu me posicionei atras da porta para não correr o risco deles esbarrar em mim, dei uma última suspirada e bati na porta da forma mais alta que conseguia.

— VENHAM

Gritei assim que comecei a ouvir os passos acelerados justamente dos grunhidos deles enquanto corriam. O primeiro que corria no pátio não demorou a chegar e literalmente tropeçou e caiu assim que entrou na sala. ele se levantou no mesmo segundo e começou a mover a cabeça como se procurasse o causador do barulho. Ele batia os dentes como uma fera com fome e tremia como se estivesse com frio, o que é bastante estranho! Meu coração batia tão forte que fique com medo dele ouvir. Eu nunca estive tão perto de um infectado. O homem tinha ferimento por literalmente todo seu rosto, isso deve ser o resultado das tantas quedas que o mesmo sofreu somente no último minuto. Mas não tive muito tempo para observá-lo, por mais que tenha parecido uma eternidade, a outra infectada finalmente chegou e entrou na sala em alerta. Essa não corria desnorteada, o que dificultou bastante na minha estratégia de deixá-los se afastar da porta e tranca-los. Mas ela tinha entrado o suficiente para que eu possa a observar. ela tinha bastante sangue em sua cabeça como já tinha notado anteriormente, mas essa diferente do primeiro que somente grunhia de forma assustadora, essa sussurrava.

— Eu não posso te ajudar... fuja, para mais longe que você puder... eu só queria voltar a te ver... me desculpa.

Eu fiquei bastante supresso, mas não tive tempo de digerir muito além, pois a infectada lentamente deu outro passo para dentro da sala o que me deu mais espaço que o suficiente para tranca-los. Eu sair lentamente de trás da porta e assim que peguei na maçaneta a fechei bruscamente ficando do lado de fora. Nem um segundo após o barulho da porta se fechar, ambos os infectados tentaram atravessar a porta fechada a espancando. Eu suspirei ainda com a mão na maçaneta, nem mesmo eu acredito que deu certo. Os infectados espancavam a porta enquanto gritavam, então acho melhor sair logo daqui, não quero me arriscar ainda mais. Subir correndo para o pátio e já encontrei Yasmin me esperando parecendo aflita. A mesma assim que viu veio correndo até mim e me abraçou bem apertado.

— Nunca mais faça isso novamente.

Eu concordei com a cabeça com um pequeno sorriso em meus lábios.

— Eu disse que funcionaria.

Respondi desfazendo o abraço e a olhando nos olhos. Ela confirmou com a cabeça e me devolveu minha mochila que rapidamente já coloquei nas costas.

— O que faremos? — Perguntou ela indicando a porta da biblioteca com os olhos. —Seja lá quem estiver aí, ainda não saiu da biblioteca.

— Vamos lá para verificar?

— Já que chegamos até aqui.

Eu confirmei com a cabeça e olhei direito para a porta que não estava muito longe da gente. Eu suspirei profundamente quando comecei a caminhar na direção com Yasmin em meus calcanhares. Minha intenção era entrar e ver quem estava pedindo ajuda, mas pensei que eu entrar poderia assustar a pessoa e talvez ela até tente me atacar para se defender. Então resolvi bater levemente na porta.

— Olá... não queremos machuca-la. Pode sair agora. Os infectados estão presos lá em baixo.

Não ouvir nenhum sinal de barulho lá dentro nos próximos segundos, somente quando eu ia bater novamente que notei a maçaneta girando lentamente e a porta da biblioteca se abrindo. Uma garota aparentemente da nossa idade pode ser avistada assim que a porta se abriu. Ela sangrava a testa e segurava o braço esquerdo com o direito juntamente com uma faca que estava erguida e apontada para nossa direção, fazendo eu dar um passo pra trás.

— Ei, calma. Não queremos lhe fazer mal.

Falei enquanto ela saia lentamente da biblioteca.

— Porque me ajudaram?

Perguntou ela assim que saiu e olhava em volta.

— Meu irmão tem coração de cavaleiro. Agora porque não abaixa essa faca antes que eu seja obrigada a me aproveitar do seu braço machucado.

A garota mirou Yasmin de cima abaixo antes de abaixar a faca lentamente.

— Aonde está minha amiga?

Perguntou ela se virando novamente pra mim.

— Eu não sei aonde está sua amiga. Chegamos agora, pegamos alimentos e estávamos indo embora quando ouvimos você bater na porta.

Ela confirmou com a cabeça.

— Como se livrou dos doentes?

Eu apontei para o portão de grades que levava a decida das salas de aula.

— Eu os prendi em uma das salas de aula. Melhor ficar longe do corredor.

Ela confirmou com a cabeça enquanto se sentava no chão.

— A garota infectada era sua amiga certo?

Perguntou Yasmin e a garota confirmou com a cabeça.

— A quanto tempo estava pressa aí dentro?

Perguntei meio receoso.

— Dês de ontem. Viemos pra cá procurar suplementos assim como vocês, mas tinha um infectado na cozinha. Ela se sacrificou para que eu possa me esconder.

Eu confirmei com a cabeça meio triste com a história dela. Mas também não pude deixar de pensar que ela conseguiu escolher o pior lugar para se esconder. Afinal não tinha rota de fuga. Só se podia sair pela mesma porta que você entrou, ou seja se tem algo te esperando do lado de fora você fica preso.

— Sinto muito pela sua perda, mas não podemos ficar mais tempo por aqui. Com o barulho que fizermos junto com o barulho que você deve ter feito dês que ficou pressa, até os vivos podem ser atraídos pra cá.

eu confirmei com a cabeça entendo e concordando com o ponto de Yasmin.

— Seu braço está machucado, consegue chegar na sua casa?

Eu perguntei e ela confirmou com a cabeça.

— Então boa sorte para você. Sobrou um pouco de alimento na cozinha, pode pegar se quiser, não tem infectados por lá.

Acrescentei já me levantando e começando a caminhar na direção do portão de saída.

— Ei — Chamou a garota fazendo Yasmin e eu virarmos a cabeça — Obrigado.

Eu confirmei com a cabeça.

— Se cuida.

Falei voltando a caminhar junto de Yasmin. a garota não respondeu, mas imagino que deve ter confirmado com a cabeça. caminhamos até o portão lentamente. Não posso negar que fiquei um pouco orgulhoso. Conseguimos encontrar suprimentos e eu acho que salvei a garota. Ato meio inútil para minha sobrevivência, mas ajudou a me sentir um pouco mais humano mesmo quando isso parece inútil.

Pulamos o portão e voltamos a rua, agora a neblina está um pouco melhor, consigo enxergar melhor, assim podendo verificar se existe algum infectado na rua e tentar fazer ainda mais silencio. Mas a rua completamente vazia foi o que meus olhos me mostraram. Não sei porque, mas imaginava encontrar muito mais infectados, aonde estão todos eles afinal?

Yasmim caminhava parecendo pensativa. Depois irei conversar com ela sobre tudo que aconteceu hoje. Chegamos na porta de casa sem nenhuma surpresa. Eu fui até a porta e bati levemente 2 vezes, esperei um pequeno intervalo e bati mais 3 vezes. É um tipo de código para minha mãe só abrir a porta para um de nós. assim que a porta abriu Yasmin e eu entramos rapidamente e notei quase automaticamente que Pedro e Lucas já haviam retornado e conversavam com minha mãe.

— Como estar todo mundo?

Perguntei para Beatriz que sorriu.

— Estão todos bem, deu tudo certo.

Eu suspirei aliviado.

— Eles encontram alguma coisa?

Perguntou Yasmin enquanto tirava sua mochila das costas e colocava em cima da mesa.

— Acho que não, mas aparentemente encontram outro grupo ou algo parecido.

Eu comecei a remover a mochila e a olhei meio confuso.

— Vou lá ver o que aconteceu.

Falei para Beatriz que concordou com a cabeça, Yasmin somente veio me seguindo enquanto eu saia da cozinha e ia para corredor aonde eu conseguia ver todo o resto da minha família reunida e conversando aos sussurros. Assim que chegamos a conversa parou e minha mãe abraçou Yasmin e logo na sequencia me abraçou também.

— Que bom que voltaram, eu estava morta de preocupação.

Eu confirmei com a cabeça assim que ela encerrou o abraço.

— Deu tudo certo mãe, conseguimos encontrar algumas coisas.

— Já está melhor que a gente.

Respondeu Lucas claramente irritado. Minha mãe abriu um pequeno sorriso e aparentemente ignorou o comentário de Lucas.

— Vamos lá ver o que vocês encontraram.

Falou ela já caminhando pelo corredor de volta a cozinha e foi rapidamente seguida por Pedro que nos cumprimentou com um superficial aceno de cabeça. Lucas assim como nos acabou ficando para trás.

— O que aconteceu?

Perguntei para Lucas e ele bufou.

— Pedro fez novos amigos.

Eu não entendi bem o que Lucas estava querendo dizer. Mas com toda certeza não deve ser uma coisa boa.