Parte I

A aparência exterior de tranqüilidade não revelava a agitação dos seus sonhos. Willow não sabia como podia sentir tanto medo naquele lindo jardim.

Havia todo tipo de flores, o Sol brilhava, o perfume no ar era maravilhoso... Mas ela ainda sentia suas pernas congeladas, seu corpo todo tremia; aquilo ia muito além da agorafobia. Algo estava errado... muito errado.

Não fazia idéia de como tinha ido parar naquele lugar, e que lugar era aquele... Sua última memória era... qual era mesmo? Ah sim... Tara estava tão apavorada; sentiu uma necessidade incontrolável de gritar, por socorro... por alguém... por Tara...

...

– Mas Giles, não existe nada que possamos fazer agora?

– Buffy, se houvesse algo que pudéssemos fazer, nós estaríamos fazendo. Tudo o que podemos fazer é procurar por respostas.

– Parece que não estamos encontrando nada e... Dawn!

Dawn estava mexendo nas coisas de Willow, discretamente.

– Que foi? Eu estou tentando ajudar... Talvez haja algo que nós não sabemos!

– Tudo bem, mas tente não atrapalhar, ok?

– É sempre assim, por que você acha sempre que sabe de tudo?

– Dawn, chega. Vá pro seu quarto.

Tara, tentando apaziguar a situação, chamou Dawn para ir com ela procurar algo nos livros.

...

Willow continuou perdida em um magnífico jardim, lindo e apavorante. Ela começou a sentir que podia se mover. Seja lá onde ela estivesse, ela precisava achar um jeito de sair. Willow tentou lembrar de algum feitiço para clarear a sua visão. Ela lembrou de um e falou as palavras mágicas... Nada, nenhum efeito. "Então parece que mágica não funciona neste lugar", concluiu.

De repente um raio atingiu uma árvore ao seu lado, transformando os troncos partidos em larvas...

"Retificação Willow, a sua mágica não funciona neste lugar!", pensou Willow, começando a correr, quando vários raios começaram a cair, atingindo o lindo jardim e transformando-o em larvas nojentas, que se retorciam e sujavam a beleza daquele jardim tão exótico.

...

– É isso... Eu não vou ficar aqui sentada esperando a Willow acordar, se ela acordar. Giles, você, Xander e Anya vão pra Magic Box procurar nos livros de lá. Vocês já olharam em todos os livros dessa casa. Aqui vocês não encontrarão nada. Tara e Dawn ficam aqui cuidando da Will e eu e o Spike vamos dar uma volta pela cidade e procurar nos antros de demônios para ver se encontramos algo.

– Acho que a Buffy está certa, procurar nos livros é melhor do que ficar aqui esperando.

– Você acha que a Willow vai acordar até o nosso casamento?

– Anya!!!

– Por que não existem camas em igrejas, nem em salões de festas e...

– Anya, vamos.

E também no cartório... Como ela poderia ser testemunha se ela estiver dormindo...e...

Xander puxou Anya pelo braço, e Giles foi indo à frente. Giles começou a ficar mais preocupado do que queria aparentar; depois do feitiço que Willow conjurou para trazer Buffy à vida, a relação deles havia ficado um pouco estremecida. Mas Willow continuava sendo muito querida para ele, os dois tão parecidos, apaixonados por livros e histórias antigas. Depois da demonstração de poder que Willow deu, Giles sabia que ela iria buscar por isso mais a fundo.

Willow estava começando a despertar a verdadeira bruxa contida dentro de sua alma, e talvez esses fatos tivessem alguma relação.

Buffy e Spike caminhavam pelo centro. Já tinham ido à casa de um demônio que conhecia certos feitiços, mas ele não sabia de nada. Assim como muitos outros demônios a quem eles já haviam perguntado. Ninguém sabia de nada que pudesse ajudar.

Spike, depois daquela situação constrangedora da hora em que chegou na casa de Buffy, mal tinha falado. "Mas ele fica me olhando de um jeito esquisito", pensou Buffy.

Spike falou diretamente com Buffy, pela primeira vez depois que saíram.

– Você já está bem melhor, parece mais... quando você... voltou, você parecia meio distante.

– As coisas estão se encaixando aos poucos... eu acho. Quer dizer o que eu poderia fazer? Eu só não consigo sentir... as coisas... como...

Buffy parou de falar como se falar não adiantasse. E não adiantava. Ficar lá, no confessionário com Spike. Spike era extremamente irritante, mas parecia a única pessoa que realmente ouvia o que ela tinha a dizer. Mas ficar conversando desse modo com Spike, não a agradava. Em um primeiro impulso as palavras simplesmente iam saindo da sua boca, mas quando parava pra pensar por um segundo, nela, ali, falando coisas que não conseguiria falar a mais ninguém, se sentia miserável. Spike para seu confidente era algo que ela definitivamente não queria.

– Spike quem sabe agente não corta o papo furado e vai direto ao ponto. Eu até gostaria de ficar de conversinha com você, nós poderíamos até sentar e tomar um chazinho, mas eu tenho uma amiga que está nos braços de Morfeu aparentemente sem data para voltar. Então, por favor, você conhece alguém que possa saber de algo importante?

– Ah sim, desculpe por tentar ser um pouco educado, coisa que você deveria experimentar de vez em quando. Deus! Sua irmãzinha tem razão, você sempre acha que sabe de tudo, mas quer saber?

– Mal posso esperar...

– Você é quem está mais perdida, você está desesperada tentando afastar os outros do abismo que você está, mas existem pessoas que não vão se afastar, e que podem te ajudar.

– Como quem? Você?

– Sim... eu... por que...

De repente eles ouviram um barulho. Já estavam se preparando para lutar quando viram uma mulher vindo em sua direção que disse:

Eu acho que posso ajudá-los!

...

No jardim, Willow fugia dos raios por entre as árvores. De repente, o barulho e os raios pararam. Um manto de escuridão caiu sobre o jardim tornando difícil de enxergar qualquer coisa. Willow ficou realmente desesperada, não conseguia sair dali e agora nem conseguia enxergar. Mas uma luz muito forte ofuscou seus olhos logo a sua frente, e dessa luz começou a vir uma mulher, alta e esguia, em passos leves, flutuantes...