Parte II

Willow começou a sentir todo o seu medo e inquietação desaparecerem; a presença daquela mulher misteriosa lhe trazia paz. Gostaria de saber quem era ela.

A poderosa luz ainda a cegava, impedindo-a de descobrir a identidade daquela mulher que lhe parecia tão serena. Mas aquele vulto escuro em contraste com o fundo luminoso lhe dava uma estranha sensação de familiaridade. O vulto foi tomando uma cor mais escura e se definindo cada vez mais. Talvez fosse Tara. Não, não podia ser a Tara. Willow a reconheceria até de olhos fechados. Definitivamente não era ela. Mas então quem? Por que se sentia assim tão tranqüila só pelo fato de vê-la? Apenas duas mulheres conseguiam trazer essa sensação de afeto e carinho a Willow: Tara e...

Um sorriso se abriu em seu rosto e seus olhos inundaram-se. Mas como poderia ser ela? Como?

Willow correu em direção àquela figura pelo jardim terrível, de cabeça baixa e enxugando as lágrimas; por um momento sentiu-se segura novamente. Então ela percebeu que a grama verde começou a crescer rapidamente de novo sob seus pés. Ela abraçou fortemente a familiar figura feminina, buscando proteção:

– Joyce! Você está aqui! Meu Deus! – Willow chorava como uma criança assustada – Me ajuda, por favor! Eu preciso sair daqui ráp...

Willow levantou os olhos e percebeu que não era Joyce que estava ali... A estranha tinha cabelos loiros e curtos como os de Joyce, olhos cor de mel e extremamente expressivos, carinhosos, confortantes. Mas ela não a conhecia, o que ela estava fazendo ali? E por que era tão parecida com Joyce? O medo invadiu seu coração novamente e ela se afastou assustada.

– Ainda buscando por uma mãe, Will? – perguntou a mulher, sorrindo.

– Eu costumava ter uma.

– Você tem uma.

– Eu não estou falando dela.

Willow parecia magoada por sua mãe nunca lhe ter proporcionado a sensação de carinho que sentia com Joyce. O céu brilhou num estrondo, raios foram avistados no horizonte e desapareceram novamente; o cenário ficou como antes: terrível. Talvez, Willow não estivesse tão desesperada porque agora não estava mais sozinha, tinha alguém com ela. Mas será que podia confiar na estranha?

– Eu também não.

– Do quê você está falando? Eu não enten...

– Realmente Will, você ainda não entende. Ela está com você.

– Não. Não está! – gritou Willow enfurecida por terem levado Joyce.

O chão tremeu fortemente e começou a se partir entre os pés da mulher, que pulou para um lado se livrando da queda. Ela agarrou a mão de Willow, que sentiu seu coração se acalmar tão rápido que chegou a ser assustador.

– É melhor você se acalmar ou vai nos matar! – exclamou a estranha.

O terremoto cessou.

...

Buffy tomou um susto quando viu o rosto da mulher. Como ela era tão parecida assim com sua mãe? Spike também arregalou os olhos e fitou a mulher de cima a baixo. A semelhança era incrível. Um silêncio se formou entre os três. A mulher não se incomodou em apressar as coisas, ela sabia que a reação era previsível, então apenas sorria. Até o sorriso! Tudo tão parecido. Spike percebera como Buffy estava confusa com a presença da mulher e resolveu dar o primeiro passo. Aquele silêncio já estava constrangedor demais:

– É... quem... quem é você? – o rosto parecido com o de Joyce fazia com que ele falasse docemente com ela.

– Meu nome é Chantal. Prazer. – Disse, estendendo a mão e sorrindo.

Spike tocou a mão de Chantal que sentiu o frio imortal.

– Então você deve ser Spike.

Sacudiu levemente a mão de Spike que estava espantado. Como ela poderia conhecê-lo? Ele definitivamente não lembrava de tê-la visto anteriormente. Chantal sorriu novamente pra ele e estendeu a mão para Buffy. Buffy ainda viajava pelo rosto da mulher, não podia acreditar no que estava vendo. Não era sua mãe. Com certeza. Mas a semelhança era assustadora. Ao notar a mão se aproximando, Buffy balançou a cabeça como se acordasse de um transe, e aceitou a mão da não tão estranha Chantal.

– Muito prazer, Buffy.

– Como... como você me conhece?

– Todo o mundo te conhece, Buffy. Todo o mundo.

...

Willow olhava para os lados, estranhando o fato do terremoto ter parado tão subitamente.

– O que está acontecendo aqui? Onde eu estou? O que vocês fizeram com a Tara?

– Ninguém fez nada com ninguém Will, exceto você mesma.

– Como? Quer dizer... é... o que... você quer dizer com isso?

– Você entenderá.

– Tá bom, já chega! Será que a prof. Walsh aí poderia parar com a pequena aula de psicologia e me explicar o que está acontecendo? Não tenho tempo pra deduções. Eu tenho que sair daqui!

– Por que a pressa Will? Você já está aqui há tanto tempo.

– Não. Eu nunca estive aqui antes. Nunca! E por que me chama de Will? Por que fala comigo com tanta intimidade? Eu não te conheço!

– Desculpe-me Willow, eu não queria assustá-la.

– Mas assustou! Olha pra esse lugar horrível. Eu estou apavorada e ainda me aparece alguém tão parecida com ela. O que eu estou fazendo aqui?

– Você veio se conhecer. – Ela passa a mão pelo ar em um meio círculo mostrando o ambiente assustador para Willow. – Isto é você!

Willow olhou os raios ricocheteando o céu negro, o chão áspero onde não brotaria o menor cacto, larvas passeando pelo chão aos montes como formigas, acumulando-se nos crânios dos esqueletos no chão.

– O quê? Eu não sou assim! Eu não posso ser assim!

– Mas você é. Você está se matando Will...ow. Você tem que parar!

– Parar com o quê?

– Qual foi a primeira coisa que você tentou fazer quando chegou aqui?

– Acho que... eu... eu só tentei fazer um feitiço par...

– É disso! Disso que eu estou falando! Você tem que aprender a resolver seus problemas sozinha, você sabe que é capaz!

– Mas foi só um feiti...

– E o que aconteceu depois que você viu que não conseguia?

– Tudo se tornou horrível – disse, envergonhada. – Começava a entender aonde ela queria chegar.

– Você estava com medo. Nervosa. E tudo se transformou. Enquanto estava com Tara você estava bem. E o jardim estava lindo como sempre foi. Como você sempre foi. Isso está te prejudicando Willow... Agora tente se acalmar. Pegue a minha mão.

Willow sentiu uma resistência. Não podia confiar numa estranha, ainda mais por não conseguir se defender naquele lugar; mas ela transpirava tanta confiança, tanta segurança. Willow fechou os olhos e aceitou a mão da estranha.