A primeira vez que você me viu, me confundiu com Joyce. Você sabe o que seus amigos enxergam quando olham para você? – "Chantal" perguntou.
– N-não... – Willow mordeu o lábio inferior, sem saber o que pensar.
– Eles vêem alguém que pode ajudá-los, pode guiá-los. Eles confiam em você. E a amam. Por isso, quando olharam para mim, só conseguiam ver suas próprias mães. Ou mulheres a quem consideravam como mães... como você mesma viu a mãe de Buffy, quando, na verdade, estava apenas se vendo. É isso o que eles enxergam. É essa a imagem que você passa para eles.
Willow ficou pensando naquilo. Não sabia que os amigos confiavam nela... sempre tivera a impressão de que nada do que pudesse fazer seria o bastante para ele. Giles a chamara de amadora... Buffy a odiava, mesmo tendo sido ela quem a tirara do inferno... Tara dizia que ela estava usando magia demais. Talvez... talvez então Tara estivesse certa, afinal.
– Seus amigos estão aqui por você, Willow. Eles se importam e se preocupam – "Chantal" afastou-se um pouco para que Willow pudesse ver a chegada do grupo – Não deixe que essa preocupação deles seja em vão. Adeus.
...
Assim que "Chantal" despediu-se, tudo desapareceu. Estavam novamente na sala da casa de Buffy.
Willow, ainda deitada no sofá e com as palavras de "Chantal" vívidas em sua memória, abriu os olhos e deu com os amigos olhando espantados para ela. Tara foi a primeira que se mexeu:
– Hey, baby – ela disse mansamente e sentou-se ao seu lado no sofá – Você está bem?
– Isso foi, tipo, não um sonho, certo? – a ruiva perguntou, sentindo-se ainda confusa e esfregou os olhos.
– Não, não um sonho – Tara concordou prontamente e beijou-a nos lábios, aliviada por tê-la de volta, sã e salva.
Willow a enlaçou e puxou-a para si, desligada da presença dos outros e alongou o beijo um pouco mais. Era tão bom saber que Tara a amava e se preocupava com ela...
Enquanto Giles e os outros olhavam para o lado, um pouco desconfortáveis, Xander ficou olhando avidamente as duas garotas se beijando e por isso ganhou outro tapa na cabeça, dado por Anya.
– Eu sabia que o que você queria era ver as duas se beijando! – ela exclamou zangada.
– Hey! É bom você e Dawn pararem de me bater desse jeito ou eu posso começar a gostar de apanhar... Como o Spike aqui, por exemplo – Xander rebateu, sem perceber que o vampiro não estava em nenhum lugar por ali. Ou mesmo Buffy.
...
– Olá – Buffy disse, sentando-se ao lado de Spike no alpendre. Já era noite fechada e o vampiro parecia não estar muito propenso a ficar perto de ninguém, imerso em seus próprios pensamentos.
– Olá, amor – ele respondeu olhando para ela, sem ter coisa melhor para dizer e pegou um cigarro no bolso interno do casaco.
Buffy franziu o nariz para ele:
– Você se importaria de não acender isso? Por nós, pessoas que ainda podem morrer de câncer, você sabe.
– Eu posso ir embora, se você quiser... – ele ofereceu, preparando-se para se levantar.
– Não. Fique, está bem? Apenas não... apenas não acenda essa coisa – Buffy pediu.
Spike acenou concordando e guardou o cigarro de volta. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo.
– Eu tenho uma pergunta para fazer. – Buffy sentiu-se compelida a quebrar o silêncio – Quando você olhou para Chantal, quem você viu?
– Quer mesmo saber, meu bem? – deu uma olhada nela e Buffy acenou afirmativamente com a cabeça. Então ele continuou – Eu vi sua mãe... e depois eu vi minha mãe.
– Drusilla?
– E por quê diabos eu teria visto Drusilla? – ele estranhou, olhando espantado para ela.
– Bem... foi ela quem te transformou, não foi? – Buffy desviou o olhar, timidamente.
– Eu tive uma mãe antes de ser um vampiro, você sabe... – ele explicou suavemente, como se falasse com uma criança.
– Você a matou? – ela perguntou – Angel disse...
– Angel disse que eu a matei? – Spike a interrompeu.
– Não é isso... Angel disse que a primeira coisa que fez, quando foi transformado, foi matar sua família inteira. Então eu pensei... – Buffy começou a explicar, mas parou.
– Não, eu não matei minha mãe, se é o que quer saber. Por um tempo, cheguei a pensar em transformá-la, mas depois mudei de idéia. Ela não seria uma boa vampira, muito... sentimental, meu bem. – Ele completou, brincando um pouco para desanuviar a tensão.
– Hmm, certo. Entendi. Mas... porquê minha mãe também?
– Você não sabe? Mesmo quando eu ainda não tinha um chip na cabeça, ela sempre me tratou... quase como uma mãe. Ela era especial... Bem, eu estou indo agora – ele se interrompeu bruscamente e levantou, porque não queria deixá-la triste ao lembrá-la de Joyce. – Vai sair para caçar agora?
– Mais tarde, talvez... – ela respondeu, pensativa, pois nunca imaginara o que sua mãe representara para ele.
– Está bem – ele respondeu simplesmente, sumindo na escuridão.
Buffy ainda ficou um tempo ali sentada, sozinha. Talvez não fosse tão ruim conversar com Spike, afinal. Às vezes ele era... quase... civilizado. "Ah, Buffy, está esquecendo que ele é um vampiro e não pode sentir nada real?", rolou os olhos para si mesma ante o absurdo de sequer pensar em Spike como uma pessoa e entrou em casa.
...
Depois que Xander e Anya foram embora para seu próprio apartamento, Giles já estar dormindo no sofá e Buffy e Dawn em seus próprios quartos, Willow e Tara ainda estavam abraçadas na cama, em silêncio.
Willow debatia consigo mesma se valeria a pena ou não contar a lição que aprendera naquele dia para a namorada, pois isso a forçaria a revelar também que mexera nas lembranças dela e essa era uma coisa que não queria fazer. Estragaria completamente o momento e as duas poderiam começar a discutir novamente. Willow estava cheia de discussões.
– Quem era aquela moça, Willow? Se parecia tanto com você... – Tara quebrou o silêncio.
– Oh, não, querida. Era apenas uma amiga... – a ruiva se viu forçada a mentir.
– Hmm, certo... Tão bom ter você de volta... – Tara murmurou, feliz.
– Tão bom estar de volta... – Willow sorriu e estreitou mais o abraço, beijando os cabelos de Tara.
– Eu... Eu acho que nós deveríamos dormir um pouco. Eu vou apagar a luz, está bem? – Tara fez menção de se levantar.
– Oh, não. Prá que se preocupar? – Willow a impediu e apontou o dedo para o interruptor, apagando a luz com a força de seu pensamento.
Bem, não era a esse tipo de uso da magia a que Chantal se referia... não é?
::FIM::
