Título da Fanfic: Harry Potter e O Sonho De Merlim

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Disclaimer: "Harry Potter, Hermione Granger, Ron Weasley & Cia pertencem à J.K. Rowling. Eu não tenho intenção de roubá-los nem vou ganhar dinheiro nenhum com essa fic. A história se destina exclusivamente à diversão dos fãs. Bom, então divirtam-se!"

Gênero: Drama, Aventura, Comédia, Romance... De tudo um pouco...

Sinopse: Harry Potter está no seu quinto ano em Hogwarts. Ele está crescendo, aprendendo, se divertindo e se preocupando. Lorde Voldemort está de volta. E agora? Qual será o novo plano dele para retomar o poder?... Um mundo cheio de aventuras e perigos aguarda nosso herói neste ano que se inicia!

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"A intuição é aquele estranho instinto que permite a uma mulher saber que está certa, esteja certa ou não."  (Helen Rowland ¾  Jornalista e escritora americana (1875-1950) )

"Se me obrigassem a dizer porque o amava, sinto que a minha única resposta seria: Porque era ele, Porque era eu."  (Michel de Montaigne)

"Cada vez que tocamos algo na Natureza, causamos reverberações no resto do universo." (John Muir)

"... the visible world seems formed in love, the invisible spheres were formed in fright." (Herman Melville (1819-1891))

"Somos feitos de carne, mas devemos viver como se fossemos de ferro."  (Sigmund Freud)

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Capítulo 1: A Pior Notícia Do Mundo

Harry acordou sobressaltado. Ao seu redor, a noite estava silenciosa. Por toda a cidade, as pessoas respiravam pesadamente em suas camas, as luzes apagadas, a mente flutuando, livre, na terra dos sonhos. A maioria dos jovens da idade de Harry sonhava com garotas, lutas ou futebol; sonhava com o que queria ter, fazer, construir. Uns poucos sonhavam com o que temiam. Mas mesmo esses, meninos normais, podiam correr para a cama dois seus pais quando isso acontecia. Harry não podia fazer isso porque Harry não tinha pais. Harry Potter não era um menino comum. Ele era um bruxo. Mesmo entre os meninos-bruxo, Harry Potter era especial. Quando tinha apenas um ano de idade, ele derrotou o maior bruxo das trevas dos últimos tempos. Nem mesmo ele se recordava como, mas tinha uma cicatriz em forma de raio na testa para lembrá-lo sempre de que, de fato, isso ocorrera. E, de qualquer forma, como ele poderia esquecer se foi por causa disso que seus pais morreram? Voldemort matara seus pais, Lílian e Tiago Potter, e o condenara a passar sua infância com os Dursley. Ninguém merecia algo assim.

Mesmo agora, no meio da noite, ele conseguia ouvir os roncos do seu Tio Válter e do seu primo Duda vindos do outro lado do corredor. A sua Tia Petúnia era irmã da sua mãe e por isso ela o aceitara, mas os Dursley odiavam magia e odiavam o Harry. O passatempo preferido de Duda era perturbar o primo. Duda era o pior menino do mundo. Para seus pais, contudo, ele não tinha defeitos.

Harry não saberia como sobreviver se não fosse pelos seus melhores amigos Rony Weasley e Hermione Granger, da Escola Hogwarts de Bruxaria e Magia, e pelo seu padrinho Sirius. Quando ele acordava no meio da noite, como agora, sobressaltado, assustado, preocupado - o que se tornara comum desde o final do último ano em Hogwarts quando ele enfrentara cara-a-cara o Voldemort - era a lembrança dos amigos que o mantinha são. Sua cicatriz não voltara a doer. Harry sabia que isso era bom, que significava que o Você-Sabe-Quem não estava tramando nada de imediato, mas ele não podia deixar de se sentir inquieto. Ele sabia que Voldemort não demoraria a dar seu próximo passo. Se a cicatriz estivesse doendo, Harry poderia ao menos estar preparado. Como isso não estava acontecendo, ele permanecia no escuro e não há sensação pior no mundo do que a sensação de não saber, de não ter a mínima idéia do que esperar para o amanhã.

Harry virou-se na cama. Ainda era de madrugada e ele queria voltar a dormir, mas tinha um pouco de medo. Não queria sonhar mais uma vez com aquele rosto horrendo e aquela voz fria, penetrante. Só queria um pouco de paz. Estava quase conseguindo adormecer novamente quando ouviu umas batidinhas de leve na janela. Edwiges cochilava em sua gaiola, então ele sabia que não podia ser ela. Colocou os óculos curioso e se levantou devagar. As batidinhas continuavam insistentes. Acendeu o abajur e conseguiu vislumbrar a silhueta de uma coruja pequena, inquieta, do lado de fora.

- Pichinho! - murmurou enquanto deixava a coruja do Rony entrar. Pichinho continuou inquieta, voando rapidamente em círculos no quarto e piando alto, de alegria.

- Quieto! - exclamou ele - os Dursley não podem acordar - completou ouvindo temeroso os roncos do seu tio hesitarem no outro quarto. Como se fosse capaz de entender, Pichinho parou de voar em círculos e deixou-se cair na cama de Harry. Carregava um embrulho grande para o seu tamanho. Depois que o menino se aproximou e soltou o pacote, Píchi voou para a gaiola de Edwiges para beber um pouco de água. A coruja branca de Harry acordara com o escarcéu e olhava para o outro com um certo ar de superioridade. Harry não pôde deixar de sorrir.

Sentou-se na cama e abriu o embrulho. Havia um exemplar do Profeta Diário e uma carta do Rony. O envelope trazia escrito em vermelho: "ABRA PRIMEIRO". Obedecendo, Harry pegou a carta sem nem olhar o jornal e começou a lê-la. Ela dizia:

"Harry,

primeiro as boas notícias: você nem imagina!!! O meu pai conversou com o Dumbledore e eles chegaram à conclusão de que você já pode vir aqui pra casa!!! Não é demais??? Nós vamos poder te dar uma festa de aniversário de verdade este ano!!!"

Harry mal pôde conter a felicidade! Ele ia para a Toca!! E ia ter um aniversário decente pra variar!!!!

"Minha mãe" - continuava a carta - "escreveu aos seus tios novamente. Pode deixar que dessa vez ela usou só um selo. A carta já deve estar chegando aí. A gente vai te buscar depois de amanhã, às cinco da tarde. Ah! e pode avisar aos seus tios que a gente vai pela lareira de novo! A gente arrebenta tudo, mas o papai conserta. Os gêmeos estão querendo levar um pouco de creme de canário para o Duda. Como será que ele fica com penas?" - Harry teve que rir imaginando a cena - "Mas acho que a mamãe não vai gostar. E o Fred e o Jorge anda tão calminhos ultimamente... Não quero nem pensar no que eles estão aprontando...

Bom, voltando ao que interessa, espero que o suprimento de comida que eu mandei da última vez dê para você se agüentar até a gente te buscar. O Pichinho não agüentava mais nada dessa vez e o Errol, coitado, 'tá ainda mais pra lá do que pra cá (como se isso fosse possível!).

Agora que eu dei as notícias boas, 'tá na hora das ruins. Não sei se fiz bem., mas acho que você devia saber. Tente não se preocupar muito. Pense na sua festa de aniversário! Bom, Harry, lá vai: dê uma olhada no Profeta Diário e, se você achar que a notícia da primeira página é ruim, leia a nota que saiu na quinta página. Mas não se preocupe demais. Se mamãe descobrir que eu te mandei isso, ela me mata!

Bom, a gente se vê em dois dias!

                                                                       Um abraço,

                                                                                  Rony."

Harry hesitou um pouco. Tinha ficado tão feliz ao ler que se livraria dos Dursley seis semanas mais cedo que não queria saber qual era a notícia - ou pior, as notícias - ruins que o Rony mandara. Olhou para o jornal ainda dobrado sobre a cama. Sabia que, qualquer que fosse a má notícia, ela estaria relacionada ao Você-Sabe-Quem. Fechou os olhos, ainda hesitando. Depois, respirou fundo. O que quer que fossem ele precisava encarar. Fingir que não recebera jornal nenhum não faria as notícias desaparecerem.

Estendeu a mão um pouco temeroso e puxou o Profeta Diário. Quando desenrolou o jornal, deu de cara com uma foto do seu padrinho Sirius Black. Uma foto obviamente tirada na época em que ele estivera em Azkaban, visto que o rosto no retrato estava magro e abatido, carrancudo, e a pessoa na foto se mexia pouco, olhando para o frente com olhos fundos e cansados. Por um segundo, o coração de Harry parou. Mas aí, ele leu a manchete e entendeu. Em letras grandes sobre a foto o jornal dizia: "Bruxo Fugitivo Avistado em Londres".

"Ele foi avistado" pensou Harry com um imenso alívio "Não preso novamente". Por mais que saber que Sirius ainda estava em liberdade fosse tranqüilizador, a idéia do quão perto o Ministério deve ter chegado, do quão perto o Ministério poderia estar no momento era suficiente para deixar Harry mais que preocupado. Ele sabia o que esperava pelo padrinho caso o pegassem: o beijo de um dementador. Não há punição pior: é como ser enterrado vivo - permanecer respirando, comendo, andando, mas sem alma, sem sentimento. Só a idéia já era aterrorizante.

Desde o início do verão, Sirius mandara poucas notícias. Ele estava ocupado fazendo o que Dumbledore pedira - seja lá o que tiver sido - mas Harry não tinha idéia de que ele estava tão próximo. Parte sua não pôde deixar de se sentir um pouco mais feliz sabendo que o padrinho poderia socorrê-lo rápido caso algo acontecesse. Era um pensamento reconfortante. A sua maior parte, contudo, quase explodiu de preocupação. "O que ele está pensando? Será que ele não raciocina?". Se o padrinho morresse, Harry estaria sozinho no mundo e esse pensamento era insuportável.

Ele tentou se controlar - não adiantava nada ficar imaginando coisas ­- e voltou os olhos novamente para o jornal.

"O perigoso bruxo das trevas Sirius Black" dizia a notícia "foi visto em Londres na manhã passada. Sirius passou 12 anos em Azkaban e escapou dois anos atrás, trazendo medo e insegurança tanto para o mundo dos bruxos quanto para o mundo dos trouxas. Logo depois da sua fuga, o assassino do bruxo Pedro Pettigrew bem como de vários trouxas foi capturado em Hogwarts e novamente escapou. Acredita-se que ele esteja ainda tentando se vingar pela derrota de seu mestre, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, matando Harry Potter, o jovem bruxo responsável por essa derrota.

O Ministério diz que não poupará esforços para trazer esse criminoso à justiça. Uma nova força-tarefa já está sendo organizada para caçá-lo e a segurança em Hogwarts deve ser aumentada esse ano para o caso de Black estar indo novamente atrás de Harry Potter.

Não há dúvidas de que os dias de liberdade de Sirius Black estão contados."

Harry estremeceu. "A segurança em Hogwarts deve ser aumentada... Será que eles vão...? Será? Não, Dumbledore não vai deixar os dementadores se aproximaram da escola novamente" disse Harry para si mesmo. Isso não foi, contudo, suficiente para acalmá-lo. Dementadores são os piores seres no mundo. Eles sugam toda a alegria, toda a felicidade de uma pessoa. Harry esperava não precisar nunca mais chegar perto de um deles. Nunca mais.

Tentou afastar as lembranças dolorosas que os dementadores sempre traziam e, olhando novamente para o jornal, começou a imaginar qual seria a notícia da quinta página. Ele não podia imaginar nada pior do que Sirius quase ser preso, mas a verdade é que a imaginação de Lorde Voldemort não tem limites.

Virou as páginas do Profeta Diário até encontrar a nota que Rony mencionara. Não era grande, nem estava muito destacada, mas quando ele começou a ler, soube que aquilo era pelo menos tão ruim quanto Sirius estar ameaçado. A reportagem dizia:

"O grande bruxo Dumbledore, reconhecido como um dos mais importantes bruxos da época atual e diretor da Escola Hogwarts de Bruxaria e Magia terá que prestar esclarecimentos no próximo mês perante o Ministério sobre sua conduta recente durante a realização do Torneio Tribruxo. Dumbledore está sendo acusado de espalhar rumores falsos de que Você-Sabe-Quem teria se reerguido, provocando uma onda de pânico entre os alunos. Diante da indignação das famílias e também da alegação de que ele teria permitido a utilização das Maldições Imperdoáveis dentro do perímetro da escola para que elas fossem ensinadas aos alunos, o Ministério não teve outra alternativa senão chamá-lo para se pronunciar. 'As excentricidades de Dumbledore já foram longe demais' afirma Lúcio Malfoy, um dos mais importantes membros da comissão que vai ouvir o depoimento do diretor 'Nós sempre fomos compreensivos porque ele já foi um grande bruxo no passado. Agora, está ficando velho. Talvez precise de uma aposentadoria. Onde já se viu, dizer aos alunos que Lorde Voldemort tinha se reerguido?'. A indignação do Sr. Malfoy parece ser compartilhada por todos. O depoimento ocorrerá no dia 15 de agosto, duas semanas antes do início das aulas em Hogwarts e, se ficar provada a má conduta de Dumbledore, ele poderá perder o cargo de diretor."

Harry estremeceu mais uma vez. Imaginar Hogwarts sem Dumbledore era impossível. Se o Malfoy conseguisse tirar o diretor da escola, tudo estaria perdido. Eles ficariam à mercê de Voldemort. Rony tinha razão. Essa notícia era a pior das duas porque poderia significar o fim de tudo, de todos os sonhos, de toda a esperança. Esse pensamento, sim, era insuportável.

Pelo resto da madrugada, Potter não voltou a dormir. Não conseguiu. Ficou sentado na cama, pensando, enquanto as horas passavam e o sol ia nascendo. Não percebeu quando seu tio parou de roncar e levantou; sequer ouviu sua tia chamá-lo insistentemente para preparar o café. Não escutou nem mesmo o correio chegando e depois os urros do seu tio ao abrir a carta da Sra. Weasley. Harry Potter estava preocupado demais para prestar atenção nisso. Instintivamente, levava a mão à testa, tocando a cicatriz, com medo. "De um jeito ou de outro" pensou por fim "eu vou ter que me acostumar a viver assim, com essa sombra pairando sobre minha cabeça porque com certeza Lorde Voldemort não vai parar até que consiga me matar... ou que nós consigamos destrui-lo".

Como nunca antes na sua vida, Harry teve medo. Ele agora sabia a extensão do poder e da loucura de Voldemort. Não estava mais brincando e não podia ignorar o perigo que corria. O perigo que todos corriam. Era hora de começar a encarar seriamente as coisas, hora de começar a ouvir os conselhos e a tomar cuidado, hora de entender que quando se enfrenta o Lorde Voldemort toda proteção, toda cautela é pouca. Era hora de crescer. E, de tudo, talvez isso fosse o que assustasse mais o Harry: era hora de crescer.