Título: Harry Potter e o Sonho de Merlim

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Disclaimer: Eles não são meus.

Sinopse: Harry Potter no seu quinto ano em Hogwarts

*   *   * Capítulo 2: Mais Uma Carta

O Tio Válter mal pôde acreditar quando recebeu as cartas naquele dia... Havia uma daquela... daquela... mulher! Como ela ousava escrever para eles novamente, após tudo o que acontecera da última vez? Os vizinhos ainda olhavam estranho para eles na rua! Tio Válter deu um ataque, gritou, esbravejou. O menino não tinha saído do quarto ainda e não saiu com os gritos. Eventualmente, o Tio Válter se acalmou um pouco - dentro do possível - e, resistindo à tentação de jogar a carta fora sem ler, abriu o envelope.

Na mesa do café, todos estavam silenciosos. Duda continuava deprimido demais com o regime - que não estava funcionando - para falar alguma coisa e Petúnia tinha no rosto aquela expressão fúnebre usual de sempre que qualquer coisa relacionada à palavra com M era mencionada.

Tentando ignorar sua própria aversão à palavra com M, Tio Válter respirou fundo - afinal, ele era o homem da casa e, portanto, o responsável por enfrentar esse tipo de situação - e começou a ler a carta.

Alguém poderia dizer que a felicidade dele em saber que se livraria do menino seis semanas mais cedo foi tão grande quanto a do menino, mas isso seria subestimar a aversão que Harry Potter tinha aos Dursley. Além do mais, também significava que o Tio Válter teria que deixar aquelas... aquelas... pessoas entrarem na sua preciosa e NORMAL casa mais uma vez. Só esse pensamento já era suficiente para deixá-lo com as orelhas vermelhas! Quando ele contou para sua família o que a carta dizia, Duda estremeceu. Seus encontros com... com... esse tipo de gente haviam sido desastrosos. O horror de Petúnia também não foi menor. Naquela família, talvez ela fosse a pessoa com mais ódio à magia por causa da sua irmã e do fato de que ela era uma... uma... br... bru... bruxa - Petúnia tinha dificuldade até para repetir mentalmente essa palavra! Seu rosto estava branco e suas mãos nervosamente fechadas. Duda ainda segurava o bum-bum, temeroso - nunca se sabe quando você pode acabar ganhando um rabinho de porco...

Por fim, temendo desperdiçar a chance de se livrar do garoto mais cedo, Tio Válter exclamou:

- Então está decidido! Nós saímos amanhã de manhã e quando voltarmos o garoto não vai estar mais aqui!

- E deixar essas pessoas horríveis sozinhas na nossa casa???

- Mamãe - disse Duda com uma voz fininha - por favor... - não era do feitio de Duda pedir por favor, mas são incríveis as coisas que as pessoas fazem quando estão com medo. Talvez percebendo esse medo na voz do filho - ou talvez porque simplesmente não conseguisse dizer não para ele - Petúnia finalmente concordou.  Pode-se dizer muitas coisas dos Dursley - quase todas ruins - mas o que não se pode deixar de admitir é que eles amam seu filho. Amam até demais.

Válter se encarregou, então, de chamar o menino e, dessa vez, quando ouviu o tio, Harry começou a descer as escadas. Ainda estava preocupado, mas imaginava que provavelmente a carta da Sra. Weasley já tinha chegado e que era por isso que ele estava sendo chamado. Dirigiu-se, então, para a cozinha, esperançoso e com um pouco de receio de que os Dursley batessem pé e dissessem não. Isso era a última coisa que ele precisava ouvir no momento.

Os três estavam sentados à mesa do café. Duda e a Tia Petúnia, com as cabeças meio abaixadas, evitavam olhá-lo. O tio, ao contrário, o encarava como se ele fosse um alienígena - ou pior - um parasita. Seu rosto se contorceu um pouco quando ele disse a Harry o que tinham decidido. O rosto de Harry, ao contrário, se iluminou com um sorriso - que ele logo suprimiu quando percebeu a descontentamento do tio com essa manifestação de alegria. Ele teria o dia seguinte inteiro livre dos Dursley! Era a primeira vez na sua vida que os Dursley o deixavam sozinho na casa. Ele quase explodiu de felicidade! Mal ouvir as últimas palavras do Tio Válter sobre como ele arrancaria a sua cabeça se algo de errado acontecesse ou sobre como eles esperavam serem poupados de terem que olhar para a sua cara pelo resto do dia. Nada disso importava porque ele estava indo para a Toca!! E não havia lugar no mundo - com exceção de Hogwarts, é claro - em que ele se sentisse mais feliz!

- O que você está esperando? - ouviu finalmente Tio Válter dizer ríspido.

- ãhn... ah! sim, claro... já estou subindo... - respondeu, virando-se e voltando para o quarto. Tinha vontade de pular, de gritar, de...

Harry estancou subitamente quando chegou na porta do quarto. Sobre sua cama estava parada uma grande coruja castanha. Era uma coruja imponente, com uma postura elegante, parecida com a de Edwiges. Completamente diferente da de Pichinho e, talvez por causa da seriedade da coruja, Harry percebeu na hora a seriedade da notícia. Aproximou-se devagar e retirou a carta do animal. A coruja piou de leve uma vez e saiu voando pela janela. Edwiges na sua gaiola piou também uma vez, como que dizendo que aquilo sim era uma coruja de verdade e depois voltou a cochilar.

Potter olhou então para o envelope e reconheceu a letra. Era a caligrafia de Dumbledore. Abriu rapidamente e leu a carta com avidez. Era breve:

"Caro Harry,

você já deve saber agora que pode ir para a casa dos Weasley. Não se preocupe. Você estará seguro lá. Não deve, entretanto, desobedecer de forma alguma ao Sr. e a Sra. Weasley. Não é hora de brincadeiras, Harry. Tome cuidado. Só mais uma coisa: você não deve escrever a Sirius no momento. Isso poderia trazer para ele atenções indesejadas. Se estiver preocupado com ele, saiba que ele está bem. Escreva-me se precisar de algo ou se sua cicatriz voltar a doer.

                                                                      Atenciosamente,

                                                                                  Alvo Dumbledore"

Harry não pôde deixar de ficar um pouco aliviado depois de ler a carta. Afinal de contas, não era nada sério. Ou pelo menos não era nada de novo. Ele não planejava mesmo escrever a Sirius logo, por mais ansioso que estivesse em conseguir notícias dele, exatamente porque temia que Edwiges pudesse chamar atenção e, na casa dos Dursley, ele não poderia encontrar outra coruja para fazer o serviço. Também não queria pedir a Rony ou a Mione para não acabar comprometendo as famílias dos dois caso tudo fosse descoberto. Com a carta de Dumbledore, pelo menos, ele ficara sabendo que seu padrinho - por ora - estava bem.

Um pouco mais tranqüilo - e ainda imaginando por que o diretor não mencionara o seu depoimento para o Ministério na carta - Harry começou a arrumar suas coisas no grande malão de Hogwarts. Juntou as vestes, os livros, a varinha, sua Firebolt - a melhor vassoura do mundo -, seu estojo para manutenção de vassouras, enfim, todos os seus pertences e arrumou a mala. Depois, pegou um pedaço de pergaminho e escreveu uma carta para Mione, avisando onde ele estaria. Talvez Rony já tivesse dito, ele não tinha certeza, mas não custava nada. Prendeu o envelope em Edwiges e avisou a ela que na volta, ele estaria na Toca. A coruja piou alto indicando entendimento e saiu voando pela janela.

Harry ficou olhando o céu e esperando. Não havia mais nada a fazer. Seu estômago começou a roncar - ele não tinha tomado café da manhã ainda e já devia estar na hora do almoço - então ele pegou um dos bolos de frutas da Sra. Weasley que Rony tinha mandado e começou a mastigar, deitado na cama. A essa hora do dia seguinte, ele estaria sozinho na casa. E no dia depois desse, ele estaria na Toca! Nem Voldemort com todos os seus planos maléficos seria suficiente para acabar com sua felicidade pura e simples naquele momento. Ele estava livre.