Título: Harry Potter e o Sonho de Merlim

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Disclaimer: Eles não são meus. São produtos da imaginação fértil da Rowling. Estou ficando cansada de repetir...

N/A: Esse é um capítulo light, com o Rony e a Mione implicando bastante um com o outro... Sou só eu, ou vocês também adoram esses dois brigando??!!

*   *   *

Capítulo 6: Surpresas

A mão de Harry ainda tremia quando a Sra. Weasley empurrou entre seus dedos um copo de leite. Ele estava assustado. Havia algo de diferente nesse sonho... Harry não sabia exatamente o que era, mas ele sabia que o sonho não fora como os outros. Algo mudara.

Ao seu redor, todos continuavam assustados demais para falar qualquer coisa. Os olhos arregalados, contudo, deixavam transparecer o que se passava em suas mentes. Eles também estavam assustados. Provavelmente até mais do que Harry. Não poderiam nunca esperar serem acordados no meio da noite ouvindo gritos desesperados. Principalmente não gritos que podiam indicar que Lorde Voldemort estava tramando algo terrível. Quanto a Harry, ele já estava esperando por isso há algum tempo. Surpreendeu-se apenas que tivesse demorado tanto. Sentiu-se mal em atrapalhar o sono de todos. Ele lidaria com isso melhor se estivesse na casa dos Dursley, sozinho, aonde mais ninguém se preocuparia com os motivos dos seus sonhos. Ali, ele estava cercado de pessoas que entendiam o significado daquilo. E que o temiam tanto quanto ele. Até mesmo Percy tinha perdido a fala, e estava como os outros, com cara de fantasma, pálido e preocupado.

A Sra. Weasley tentou agir como se tudo não passasse de um pesadelo normal. Ela procurou falar de forma animada, deu a Harry um copo de leite quente e, depois, colocou todos de volta para a cama. Teria sido até bem convincente não fosse pela sua voz e pelas suas mãos, que teimavam em tremer. Ela também estava assustada. E o Sr. Weasley, por sua vez, nunca pareceu tão preocupado. Harry não se perdoou por causar tanto problema. Pela primeira vez em sua vida, desejou estar na casa dos Dursley, onde ninguém prestava atenção nele.

Quando todos voltaram para suas camas, a casa ficou imersa num estranho silêncio. Harry sabia que ninguém estava dormindo de verdade. Mas ainda assim, não se ouvia barulho algum. Até mesmo Pichinho estava em sua gaiola surpreendentemente quieto. Harry ficou deitado, olhando para o teto, ouvindo o silêncio. Não se arriscou a fechar os olhos novamente por um bom tempo. Tinha muito em que pensar. A primeira coisa que faria quando amanhecesse seria escrever a Dumbledore. Ele precisava saber disso mais do que ninguém. Quando finalmente adormeceu, a alvorada estava quase chegando. Seu sono foi um sono profundo. Ele não acordou com o sol batendo na janela. Não acordou com o alvoroço característico de Pichinho. Não acordou com Rony chamando-o de leve. Ele apenas dormiu. Sem sonhos. Sem preocupações. Sem medo. Apenas a escuridão.

Quando acordou, Harry percebeu pelos sons vindos da cozinha que já devia ser quase a hora do almoço. Ele estava sozinho no quarto, então levantou-se calmamente, pôs os óculos e foi escovar os dentes e trocar de roupa. Quando voltou, pegou um pedaço de pergaminho e uma pena e começou a escrever para Dumbledore. Procurou contar todos os detalhes, cada palavra que conseguia lembrar. Não era muita coisa. O sonho não havia sido longo. Terminada a carta, Harry a dobrou e começou a descer as escadas.

Encontrou realmente os Weasley e Hermione sentados à mesa. O almoço ainda não havia sido servido, mas eles conversavam animadamente, quase que esquecidos do medo da noite anterior. A visão de Harry parado à porta, contudo, foi mais que suficiente para lembrá-los. Subitamente, todos ficaram em silêncio, olhando constrangidos uns para os outros como se não tivessem o direito de estar alegres. Harry preferia que eles não tivessem feito isso, que continuassem agindo normalmente para que ele também pudesse fingir que nada acontecera. Ele olhou um tanto receoso para os rostos virados em sua direção e tudo o que conseguiu de volta foram mais olhares receosos.

- Eu vou... vou despachar uma carta pela Edwiges - falou ele finalmente.

- Sim, claro, querido - respondeu a Sra. Weasley tentando sorrir naturalmente - Quando você voltar, o almoço já vai estar na mesa. Você deve estar com fome, não?

- É, estou - ele murmurou de volta, enquanto cruzava a cozinha em direção ao quintal. Edwiges estava com Errol. Ele amarrou a carta em uma de suas patas. E acariciou de leve sua cabeça.

- Essa carta é muito importante - ele disse - ela tem que chegar às mãos de Dumbledore o mais rápido possível.

A coruja beliscou de leve a sua mão num sinal de entendimento. Depois, alçou vôo e saiu pelo céu. Harry ficou observando-a até que ela saísse de vista. Virou os olhos, então, para a porta que levava de volta à cozinha um pouco desanimado. Gostaria que as coisas fossem mais simples. Gostaria de não ter que enfrentar seus amigos naquele momento. Infelizmente, contudo, ele não tinha outra opção. Respirou fundo e voltou para dentro.

Novamente, todos aqueles pares de olhos grudaram nele de uma forma desconfortável. Durante todo o almoço, houve um silêncio incômodo, fora do comum, como se ninguém dissesse nada com medo de que pudesse falar algo errado. Todos estavam medindo as palavras, os gestos. Aquilo era o pior de tudo. O que Harry queria era poder estar com os amigos e que eles agissem de forma normal. Aparentemente isso era pedir demais. Não que ele não entendesse o que eles estavam sentindo. Apenas achava que eles estavam exagerando. Por fim, decidido a acabar com aquela situação, Harry sugeriu:

- O que vocês acham da gente jogar um pouco de quadribol depois do almoço? - por um segundo, se arrependeu de ter aberto a boca. Todos olharam para ele como se ele fosse um alienígena.

- Você tem certeza de que você quer jogar quadribol? - perguntou Fred.

- É, Harry, você não acha melhor ficar em casa hoje? - concordou Hermione.

- Mione, eu nunca precisei tanto do um pouco de quadribol pra relaxar quanto hoje.

- Bom, vendo por esse lado... - comentou a amiga.

- Eu acho que vai fazer muito bem a vocês, crianças. Vão, vão jogar sim. Vocês têm que aproveitar as férias. Afinal, mais duas semanas e todos vão voltar para Hogwarts, não é mesmo? - disse a Sra. Weasley tentando animar o grupo. Em qualquer outra situação, apenas ouvir o nome Hogwarts seria mais do que suficiente para fazer o humor de Harry melhorar, mas pela primeira vez desde que descobrira que é um bruxo, Harry não achou o pensamento de voltar para Hogwarts completamente feliz. Ao menos não com observadores e sombras rondando, espiando por todos os lados. Ele balançou a cabeça como que para afastar esses pensamentos. Hogwarts era o único lar que ele possuía. O único lugar em que ele podia ser simplesmente feliz. E ele não deixaria que nada, absolutamente nada, maculasse a reputação da escola. Não se ele pudesse evitar.

Após o almoço, Harry pegou sua firebolt no malão e saiu com os meninos para jogar. Gina e Hermione foram com eles. Mione ficou só assistindo. Voar não era o esporte preferido dela, mas Gina resolveu arriscar e voou um pouco com os outros. Foi uma tarde leve e divertida. Todos esqueceram por horas o medo, o horror, as incertezas, e apenas brincaram, riram, se divertiram.

Nos dias que se seguiram, Harry procurou realmente aproveitar suas férias. Ele não teve mais sonhos com Lorde Voldemort e, aos poucos, os outros foram voltando completamente ao normal. O próprio Harry começou a se sentir melhor. Ele recebeu uma breve resposta de Dumbledore através de Edwiges. O bruxo apenas disse para ele não se preocupar excessivamente, que tudo estava, no momento, sob controle. Harry não sabia até que ponto isso era verdade, mas, independente de qualquer coisa, ficou grato. Podia se sentir mais leve sabendo que Dumbledore estava cuidando de tudo.

Logo depois da noite com o pesadelo, Harry e os outros receberam as cartas da escola. Junto com a lista usual dos materiais que eles precisariam levar, Mione recebeu outra notificação: ela fora escolhida monitora. Isso não chegou a ser uma grande surpresa. Afinal de contas, a menina era a melhor aluna de Hogwarts. A surpresa maior, contudo, foi que Rony recebeu a mesma notificação. Ele também seria monitor. O menino quase não coube em si de felicidade. Os gêmeos, por sua vez, ficaram desolados. Mais um monitor na família! Eles mal podiam acreditar. Estavam quase certos de que Rony conseguiria escapar dessa, já que ele não era tão certinho quanto Percy nem tão inteligente quanto Carlinhos, mas não. Alguém deve ter ficado meio louco em Hogwarts esse ano para escolher o irmãozinho deles para monitor! Quanto a Harry, ele se sentiu um pouco excluído, pois não havia notificação a mais nenhuma junto com a sua carta. Ele estava feliz pelos amigos, claro, mas não podia deixar de desejar que ser monitor fosse uma coisa que os três pudesse fazer juntos. E havia outra coisa também o incomodando. O time de quadribol. Mais do que queria ser monitor da escola, Harry queria ser capitão do time da Grifinória, mas não recebera nada. Já estava começando a imaginar quem seria o novo capitão quando Rony, percebendo o motivo da insatisfação do amigo disse para ele:

- Harry, se é por isso que você está preocupado, fique calmo. Os capitães dos times de quadribol só são escolhidos depois do início do ano letivo. Afinal, os jogadores têm que gostar do capitão, né?! Eles têm que ter alguma participação na escolha...

Depois desse pequeno esclarecimento, Harry se sentiu como novo. Então, ele ainda poderia ser escolhido. Nada melhor do que essa notícia para animar o dia de uma pessoa.

No final do mês de agosto, quando faltava apenas três dias para que eles partissem para a escola, a Sra. Weasley resolveu levar todos ao Beco Diagonal para comprar o material de que eles precisavam. Eles acordaram cedo, se arrumaram, tomaram café e saíram pela lareira. Viajar usando Pó de Flu foi incômodo como sempre, mas, pelo menos dessa vez, Harry não foi parar em nenhum lugar estranho. Chegando ao Beco Diagonal, eles foram primeiro ao Gringotes, claro. Os pais de Hermione tinham deixado com ela algum dinheiro que ela foi trocar enquanto a Sra. Weasley e Harry iam fazer retiradas dos seus cofres. Sempre era um pouco desconfortável quando ele entrava em seu cofre, cheio do ouro que ele herdara de seus pais, e logo depois entrava no cofre dos Weasley, sempre tão vazio. Dessa vez, contudo, ele não se sentiu tão mal porque Rony não estava com eles. Harry sabia o quanto o amigo detestava se sentir inferior porque tinha menos dinheiro e ele acabava se sentindo muito mal quando era colocado numa situação em que ficava óbvio para Rony e todos o quão rico ele era.

Depois que já estavam com o dinheiro para comprar o material, eles foram direto para a Floreios e Borrões pegar os livros. Além do "Livro de Feitiços Padrão" para o quinto ano, do livro de transfigurações, de poções e de defesa contra as artes das trevas - ninguém tinha a mínima idéia de quem seria o professor dessa matéria neste ano - Harry e Rony ainda precisavam do livro "Sinais e Prenúncios - Um Guia para a Interpretação de Profecias" que eles utilizariam para as aulas de adivinhação. Mione, que largara essa matéria no terceiro ano, estava escolhendo livros sobre Aritmancia - que ela adorava - para ler nas horas vagas.

Quando saíram da livraria, a Sra. Weasley disse que precisava dar uma olhada numas outras lojas com Gina enquanto as crianças compravam os ingredientes que faltavam no estoque deles para as aulas de Poções. Assim que ela e a filha se afastaram, os gêmeos inventaram uma desculpa esfarrapada e também trataram de se separar dos três.

- O que será que eles vão aprontar? - perguntou Harry.

- Espero que nada perigoso - disse Hermione.

- Mione, estamos falando de Fred e Jorge. Desde quando eles se importam com o perigo?

- Em todo caso, espero que eles não se metam em confusão - respondeu ela para não dar o braço a torcer.

- Bem, é melhor nós irmos - interrompeu Harry rapidamente - senão não vai dar tempo pra gente fazer nada antes de encontrarmos de novo com eles.

- Tem razão - concordou Rony começando a andar.

- É mesmo - concordou Mione - eu quero comprar uma casinha nova para o Bichento. Ele ficou muito acostumado com a sua casa, Rony, lá tem muito espaço. Eu mal consigo encontrá-lo agora - realmente desde que chegara à casa dos Weasley o gato de Hermione passava a maior parte do tempo no jardim, correndo atrás dos gnomos ou explorando o território. Mais um pouquinho e ele ia acabar virando um gato selvagem - E a casinha dele é tão pequena... ele vai ficar desacostumado com ela.

- Hermione, o Bichento fica solto o tempo inteiro! Você nunca deixa ele dentro daquela caixa! Nem mesmo em Hogwarts.

- E a viagem no trem?

- Você solta ele na cabine!

- Ah! Mesmo assim! Eu tenho pena dele!

- 'Tá bom, 'tá bom - disse Rony por fim - eu não falo mais nada.

Depois que os três compraram os ingredientes para a aula de poções, foram então na loja em que Mione comprara o gato para procurar uma casinha nova para ele. Havia várias opções de tamanho e de desenho, mas Hermione não conseguia escolher nenhuma delas. Os meninos já estavam tão impacientes e Rony já estava tão perto de explodir que Harry achou melhor tirá-lo dali antes que saísse alguma confusão dele com a amiga. Os dois compraram um sorvete e ficaram esperando, do lado de fora, sentados num banquinho.

- Eu não acredito que ela ainda não tenha escolhido uma porcaria de uma caixa pra aquele gato nojento! - exclamou Rony revoltado - Daqui a pouco, a gente vai se atrasar pra encontrar o Fred e o Jorge!! Eu vou lá dentro falar com ela...

- Não! - interrompeu Harry - Deixa ela. Logo, logo ela aparece - tudo o que ele precisava agora era dos dois brigando de novo!

- Eu estou falando sério, Harry, ela está extrapolando! Eu vou lá... - mas antes que ele terminasse, olhou para frente e viu de relance a amiga vindo na direção deles - Ah! Finalmente! Apareceu a margarida... - falou com satisfação. Ele ainda não tinha notado. Harry já tinha percebido, mas havia uma bruxa com um chapéu enorme bloqueando um pouco a visão de Rony, então ele ainda não tinha visto. Conforme Hermione foi se aproximando, contudo, ele finalmente percebeu - Ei! Peraí! Ela não está sozinha... quem está com ela, Harry?... - perguntou ele com a voz um tanto receosa, como quem já sabe a resposta, mas gostaria que ela fosse diferente.

- É... - disse o outro tentando enrolar um pouco - Eu acho que é o Krum.

- Maravilha - rosnou Rony por entre os dentes - Lá vem o Sr. Hermi-ô-nini.

- Oi! - disse Hermione alegremente quando se aproximou deles - Olhem só quem eu encontrei!

- Olá - cumprimentou Krum sério.

- Tudo bem? - respondeu Harry.

- Como você sabia que a gente estava aqui? - perguntou Rony à queima-roupa.

- A Hermi-ô-nini disse na última carrta que focês iam fazerr comprras. Eu só fim fazerr uma surprresa.

- Ah - disse Rony desanimado.

- E aí, quer passar em mais alguma loja, Mione? - perguntou Harry, mudando de assunto.

- É melhor a gente ir encontrar o Fred e o Jorge. Nós estamos atrasados - interrompeu Rony mau-humorado.

- Ah! Eu queria comprar um sorvete! - disse a menina.

- Eu comprro parra focê, Hermi-ô-nini. Qual saborr?

- Eu quero de maçã verde.

- Já folto - respondeu Krum, se afastando.

- Muito legal da sua parte marcar encontro com ele e não avisar a gente, Hermione - falou Rony.

- Mas eu não marquei encontro nenhum! Eu nem sabia que ele ia estar aqui...

- Ah, 'tá! Acredito! Vai dizer que você não comentou com ele que a gente vinha pra cá já querendo que ele viesse também?

- Juro que não, Rony!

- Eu não acredito, Hermi-ô-nini!

- Dá pra parar? - interrompeu Harry preocupado - Ele já está voltando!

- Eu não ligo a mínima!

- Rony!

- Não ligo mesmo! O quê, Hermi-ô-nini? Está tão acostumada com o Vitinho que não pode mais ser contrariada? Desculpa se eu não fico o tempo todo atrás de você dizendo: "Hermi-ô-nini, focê querr alguma coisa? Querr me fisitarr na Bulgárria? Querr que eu beije seus pés???"

- Rony! - interrompeu Harry novamente - Cala a boca! - Krum já estava quase perto o suficiente para poder ouvi-lo. Dessa vez, entretanto, para o alívio de Harry, Rony apenas olhou torto para Hermione e ficou quieto.

- O que foi? - perguntou Krum quando entregou o sorvete para a Mione, notando o rosto vermelho dela.

- Nada, Vítor. Vamos, é melhor nós irmos andando - e saiu na frente com o garoto ao seu lado. Ele estava tomando um sorvete também, e carregava a casinha nova para o Bichento, enquanto os dois conversavam animadamente. Rony e Harry seguiam atrás em silêncio. Depois de um tempo, Rony olhou para Harry e disse, apontando para Krum:

- Olha lá! Olha como ele anda! Parece um macaco!

Harry não pôde deixar de rir. O amigo tinha razão. Krum andando era bem desengonçado. Ele só parecia estar no seu habitat quando estava voando. Na terra, era completamente estranho, andava meio curvado, com os braços meio para frente, as pernas meio tortas.

- Eu não acredito! Olha só! A Hermione apaixonada por um macaco!

- Eu não acho que ela esteja apaixonada por ele - disse Harry.

- Você não acha? - perguntou Rony parando subitamente.

- Não. Quantas vezes você já ouviu ela falar que eles são só amigos?

- Ah! Ela fala isso da boca para fora - respondeu o outro, voltando novamente a se mexer.

- Não sei não. Quero dizer, ele obviamente gosta dela. Isso todo mundo sabe. Mas isso não significa que ela goste dele também.

- Fala sério, Harry! Ele é o Vítor Krum! O melhor apanhador do mundo! Que garota não ia gostar dele?

- Talvez você esteja subestimando a Mione.

- Desde quando você entende tanto de garotas? - perguntou Rony surpreso.

- Eu não entendo - respondeu Harry rapidamente quando a imagem de uma outra garota, apanhadora do time da Corvinal, cruzou a sua mente - Eu realmente não entendo. Mas é da Mione que estamos falando.

- O que há de errado com ela? - perguntou o outro, repentinamente, como que um pouco ofendido.

- Nossa! Eu pensei que você estivesse com raiva dela...

- Ah! Me deixa em paz, Harry...

- Tudo bem. Não falo mais nada.

Os dois seguiram em silêncio até a porta da Floreios e Borrões, onde tinham combinado de encontrar os gêmeos. Quando chegaram, viram que a Sra. Weasley já estava com eles e com Gina.

- Ué? Vocês já se encontraram? - perguntou Rony surpreso.

- É que a gente acabou indo para a mesma loja - respondeu Jorge.

Harry e Rony se entreolharam. Onde quer que os gêmeos tivessem ido, eles não conseguiam imaginar a Sra. Weasley com eles.

- Ora! Não pensem bobagens! - disse Fred como que lendo a mente dos dois - Nós estávamos na Madame Malkin's.

- Fazendo o que? - perguntou Hermione surpresa.

- Nem te conto - respondeu Fred.

- Bom - interrompeu a Sra. Weasley - eu estava comprando vestes novas para o novo monitor da família!

Os olhos de Rony brilharam.

- Jura?

- Claro que sim, querido! Afinal de contas, não é todo o dia que um dos meus filhos vira monitor, não é mesmo? E eu comprei o seu distintivo também. E o seu também, Hermione.

- Ah, obrigada, Sra. Weasley - agradeceu a garota.

- Mas, mamãe...

- Ora, Rony, não se preocupe. Apenas fique feliz! Agora, crianças, se vocês não precisam ver mais nada, acho que está na hora de irmos, não?

Realmente, já estava tarde. Harry, contudo, até desejou que eles pudessem ficar mais algum tempo. Ele adorava o Beco Diagonal, mas não achava que Rony iria agüentar ficar olhando para a Hermione e o Krum conversando. Mesmo com a felicidade por ter ganho as vestes novas, ele continuava olhando torto para os dois.

Voltaram usando Pó de Flu. Novamente, Harry sentiu como se estivesse prestes a vomitar. No momento seguinte, contudo, já estava na Toca com Rony ao seu lado. Ele tinha ido primeiro. Depois, foram os gêmeos e depois a Gina. A Sra. Weasley finalmente chegou após a filha.

- Onde está Hermione? - perguntou Rony quando viu a mãe.

- Ela está se despedindo do Krum. Ele não é um rapaz gentil? - perguntou ela sorrindo.

- Muito - respondeu Rony por entre os dentes.

Uns dez minutos depois, Mione finalmente apareceu.

- Até que enfim! - exclamou Rony.

- Dá um tempo - respondeu Hermione.

- O que foi, Hermi-ô-nini? O Fitinho brrigou com focê?

- Rony!

- É porr isso que focê está de mau-humorr?

- Eu não estou de mau-humor!

- Bão? Então o que é?

- Me deixa em paz!

- Porr quê, Hermi-ô-nini? Bão gosta que imitem seu amorrzinho?

- Pára com isso, Rony! Ele não é meu amorzinho!

- Então, é melhorr focê afisá-lo disso, porrque eu acho que ele bão perrcebeu ainda...

- Você não sabe do que está falando. Você não sabe de nada! - ela respondeu séria. Depois, virou-se e subiu as escadas para o quarto de Gina antes que Rony pudesse responder. O garoto, por sua vez, deixou-se cair no sofá mau-humorado.

- Roniquinho, Roniquinho, olha lá o que você está aprontando... - disse Fred.

- Como assim? - perguntou ele.

- É isso mesmo. O Fred tem razão. A Hermione é sua amiga.

- E daí?

- É melhor vocês desistirem - interrompeu Harry - Ele é um caso perdido.

- Do que vocês estão falando??? - perguntou Rony irritado.

- Esquece!

- É. A gente não fala mais nada.

- O Harry tem razão.

- Você é um caso perdido!

- Dá pra parar vocês dois?

- Tudo bem, Rony. A gente só queria dizer que a gente tem um presente pra você - o garoto olhou para os gêmeos surpreso.

- Um presente?

- É. Não é todo dia que um dos nossos irmãos se torna monitor...

- Se bem que na nossa opinião, isso te acontecido com muito freqüência.

- Verdade.

- Peraí! Deixa eu ver se eu entendi: vocês querem me dar um presente porque eu virei monitor?

- Exatamente.

- Perfeito.

- E não é uma bomba de bosta?

- Ora, Rony, que absurdo!

- É, assim você ofende a gente.

- Nós nunca faríamos algo desse tipo.

- Isso mesmo. Tome. Aqui está a caixa - disse Jorge estendendo a mão com um embrulho para o irmão.

Rony pegou o pacote desconfiado. Sacudiu no ar. Cheirou. Tentou ouvir para ver se fazia algum barulho estranho. Sacudiu de novo. Aparentemente, não havia nada de errado com o embrulho. Ainda assim, ele ficou por alguns minutos olhando para a caixa e para os gêmeos, que procuravam manter o sorriso mais inocente possível no rosto - o que apenas fazia com que eles parecessem ainda mais suspeitos. Por fim, resolveu abrir o presente. Com muito cuidado, puxou a fita e removeu a tampa da caixa. Para sua mais completa surpresa, não houve nenhuma explosão. Nem nenhum cheiro ruim se espalhou pela sala e se entranhou nas suas roupas. Ele não ficou com a cara azul nem com o cabelo queimado. Nada do gênero. Removeu, então, delicadamente a folha de papel manteiga que cobria o conteúdo da caixa. Ficou ainda mais surpreso com o conteúdo.

- Então foi isso que vocês foram comprar...

- Exatamente - confirmou Jorge.

- E você pensando besteira, hein, maninho! - completou Fred.

Da caixa, Rony retirou uma fina veste de gala azul-marinho, com a gola alta. Era realmente muito bonita.

- Uau!!! Muito obrigado! - disse Rony - Mas por que que vocês resolveram me dar isso?

- A gente já disse.

- Foi porque você virou monitor.

- Fala sério!

- Nós estamos falando sério.

- É, você acha que a gente ia mentir para você?

- Que ultraje! - disse Fred - Acho melhor a gente ir, Jorge.

- Concordo plenamente! - respondeu o outro, já se dirigindo para a escada.

- Dá pra acreditar nisso? - perguntou Rony para Harry.

- Incrível, não? - respondeu o outro, sorrindo intimamente. Ele tinha mais a ver com isso do que iria admitir.

- Fred e Jorge me deram um presente! E nem é Natal! Talvez, Harry, esse ano acabe não sendo tão ruim quanto a gente espera! - disse o amigo esperançoso.

- É, talvez - respondeu Harry também esperançoso. Ninguém desejava isso mais do que ele - Quem sabe?

- Vamos, eu quero mostrar a veste para a mamãe - e os dois saíram da sala quase correndo, felizes. Talvez as coisas não fossem de verdade tão ruins quanto pareciam. Talvez.