CAPÍTULO 3

A partir daí, se estabeleceu uma rotina diária. Remus ia junto com Timothy para a universidade, ia até a sala da profa. Worthing e passavam a manhã trabalhando na tradução. Na hora do almoço, iam até o refeitório, comiam e logo retornavam para a sala dela. Duas vezes por semana, ela dava suas aulas, que ocupavam toda uma tarde. Nessas horas Remus ficava sozinho estudando o pergaminho.

No início, foi um tanto quanto constrangedor disfarçar o fato de que ele não conseguia escrever com uma caneta ou como acender uma luz elétrica. Atender um telefone ou lidar com dinheiro trouxa. Levou uns dias (e algumas notas rasgadas) para se acostumar com aqueles pedaços de papel que eles chamavam de dinheiro. Mas ele sempre tinha sido um bom aluno em Estudos do Trouxas, e além disso sabia lidar bem com situações novas. Gwendolyn o achou um pouco esquisito no início, mas nunca desconfiou de algo mais preocupante.

Com o passar dos meses, veio a confiança e compreensão entre eles. Gwendolyn degelou sensivelmente, e contava muitos dos problemas que tinha na universidade, as pressões que sofria por parte da família para que não fosse tão obsessiva com trabalho e outras coisas mais. Nunca tinha sido uma pessoa que se destacasse socialmente, e preferia se dedicar aos estudos a ficar literalmente sofrendo em festas nas quais ela sabia que nunca iria se divertir, e só encontraria outras pessoas que a achariam chata e vice-versa.

É claro que Remus nunca poderia falar a maior razão de sua angústia, por que ela nunca acreditaria, e se o fizesse seria ainda pior, por que daí o temeria. Era algo que nunca conseguia suportar era ver medo nos olhos e expressões das pessoas à sua volta. Sendo assim falou muito genericamente sobre sua vida, e especialmente seus amigos, Sirius, James, Lily, a importância que a amizade deles teve em sua vida, sempre incentivando-o, fazendo com que ele nunca se sentisse excluído. Antes da escola havia sido um menino muito solitário e introspecto.

Nos fins de semana, ficava em casa. Normalmente era quando os West recebiam os dois filhos com os netos. Como era paciente e contava histórias muito bem, logo tornou-se um favorito das crianças. Remus gostava muito desses encontros, pois era a primeira vez que experimentava o que era uma reunião familiar de pessoas que se amavam e se encontravam por prazer e não obrigação.
Até que chegou a lua cheia. Comunicou à profa. Worthing que ia passar a semana fora, mas ela não pareceu acredita muito na desculpa que ele inventou (mãe doente), mas não fez maiores perguntas.

Ficou um tanto quanto preocupado quanto às providência que Timothy e Laura poderiam ter tomado para a lua cheia. Mas não havia motivo para preocupação. O porão da casa deles era perfeito para mantê-lo longe das pessoas em seu período perigoso. E além disso, Snape enviava todos os meses, a quantidade de Poção Wolfsbane necessária.

Na primeira transformação, Gwen havia viajado para um congresso, e somente o viu diversos dias depois da transformação, e nem notou nenhuma mudança em Remus, por que ele já tinha se recuperado. Mas nas outras vezes, ela o via logo no dia seguinte. O estado dele parecia sempre péssimo.

Muito pálido e mais magro, Remus retorna com Timothy à universidade, depois do almoço. Laura quis que ele ficasse descansando um dia, mas ele insistiu em ir tão logo pudesse.

Ao entrar na sala da profa. Worthing, ela se surpreende com a aparência cansada e doentia dele.

- Você está péssimo! O que aconteceu?

- Minha mãe. Está doente faz bastante tempo, e teve uma piora. Tive que ficar ao lado dela o tempo todo - Lupin se sente péssimo por usar a velha desculpa dos tempos de colégio, mas contar a verdade está completamente fora de questão.

- Eu sei como é difícil. E é muito importante para quem está assim ter alguém que o ama a seu lado. Espero que ela fique bem.

- Obrigada, Gwendolyn.

Ela dá um sorriso amarelo e forçado, que tinha se tornado habitual naqueles últimos dias. Remus nota e estranha a atitude dela.

- Falei algo de errado?

- Claro que não. É... uma bobagem minha...

- Diga. Se eu faço algo a está incomodando, é só falar.

- Não me chame de Gwendolyn. Eu odeio esse nome. Metade das pessoas não entendem quando eu o digo
- ela faz uma careta - Invenção da minha mãe. Ela adorava Oscar Wilde. (olhar nota no fim da página)

- E como você quer que eu a chame? - pergunta Remus pacientemente.

- Gwen. É mais bonito e mais simples. E você? Prefere ser chamado de Reminho? - pergunta Gwen, claramente brincando

Lupin tem um arrepio de horror ao ouvir, e ela contém a risada.

- E mudando para um assunto bem mais interessante, trouxe o seu capelino. - diz ele estendendo o copo fumegante - é bom você tomar logo, antes que esfrie.

- Remus, não é capelino, é capuccino... Não sei como você consegue comprar sem saber nem o nome direito.

- Eu nem digo. Fomos lá tantas vezes que o atendente já sabe o que eu vou pedir.

- Não sei como você vive sem café, somente tomando chá - diz ela, bebendo um grande gole - e estou melhorando do meu vício de café... Só tomei quatro xícaras hoje! Vou bater meu recorde! Deixando a brincadeira de lado, vamos começar?

Os dois se sentam na mesa e começam a comparar anotações e a discutir diferentes interpretações da tradução. O trabalho seria interrompido algumas horas depois, quando Remus ergue os olhos, e dá com a presença de dois homens vestidos de trouxas, mas algo neles soava falso, como se estivessem usando uma fantasia. Cautelosamente, Remus pega disfarçadamente a varinha e enquanto Gwen pergunta:

- Posso ajuda-los?

- Viemos conversar sobre o pergaminho - responde um deles.

Já começando a se preocupar, Remus se levanta da cadeira e pergunta:

- Quem são vocês?

- Somos seus novos amigos - diz o outro, com um tom extremamente calmo.

Remus sentiu como se tivesse levado um soco no rosto, tal foi seu choque. Ele reconhece subitamente Nott e Crabbe, que ele sabia serem do Círculo Interno de Voldemort. Ao ver o alarme transparecer no rosto de Remus, Gwen fica alarmada, mas tenta se manter firme. Agarra os pergaminhos e os guarda dentro do casaco, recuando lentamente para o lado oposto ao dos visitantes e se refugia atrás de um armário de metal.

- Fique aí e feche os olhos. Só abra quando eu mandar. Eu sei lidar com esse pessoal - sussurra
Remus para Gwen.

- Certo... - atende Gwen, ainda um pouco incerta. Achava muito melhor chamar a segurança da
universidade.

- O que vocês querem? - pergunta um aparentemente tranqüilo Remus, mas sua mente está a mil por hora, tentando achar uma saída segura para si e Gwen.

- Remus, você não gostaria de andar livre, sem que as pessoas o apontem como uma aberração? Trabalhar, e não ter sua vida inteira marcada por um acontecimento do qual você não tem a menor culpa, como se fosse um criminoso? - diz persuasivamente Nott, mas ainda ameaçador - afinal de contas você é um bruxo de verdade, um puro-sangue, e somente isso deve ser levado em conta.

- E se eu recusar a sua amável proposta? - pergunta Lupin, sem tirar os olhos dos Comensais da Morte, pronto para qualquer armadilha.

- Infelizmente, vamos ter que recorrer a métodos mais brutais. Vamos matar não somente você, mas também a sua amiguinha trouxa que está lhe ajudando. Colabore... Não queremos chamar a atenção de ninguém, pelo menos agora.

- Expelliarmus! - grita Lupin, e os outros dois bruxos são atirados contra a parede, que ficam momentaneamente desorientados. Remus apanha os livros que pegou emprestado em Hogwarts e sai correndo pelos corredores, puxando Gwen pela mão, tentando desesperadamente correr chamando o mínimo de atenção possível.

- Quem são eles? Por que eles queriam nos matar? E por que me chamaram de trouxa? E você de bruxo? - pergunta Gwen, esbaforida.

- Eu prometo que vou responde tudo. Mas não agora.

Quase correndo, os dois andam pelo campus. Até que Remus se lembra:

- Tenho que avisar Timothy! Mas eu não sei onde ele está agora... O que eu vou fazer?

- Vou telefonar para o celular dele. Mas o que Timothy tem a ver com isso?

- Muito. Eu não sei mexer nesse negócio, diga a ele que fui descoberto, e que estou indo agora mesmo para o Beco Diagonal com você. O pergaminho está salvo. E para pedir a uma equipe do Ministério vir aqui - enquanto Remus a conduz para um dos prédios abandonados da universidade.

Gwen dá o recado, e está assustada com o que está acontecendo. Ao ver que os dois bruxos estão correndo em direção a eles, Lupin empurra Gwen para espaço entre os prédios, ela pergunta:

- Mas o que é que está acontecendo afinal de contas? Vamos chamar a polícia! Eles vão resolver tudo!

- Fique aí! Não saia de jeito nenhum! Não chame a polícia! - grita Lupin, apontando a varinha para os dois bruxos, enquanto procura a chave de portal (uma caneta) nos bolsos. Enquanto isso, Gwen está fazendo o que acha ser mais certo, chamar a polícia, o que Remus não quer de maneira alguma, pois ia chamar ainda mais atenção dos trouxas.

- Olha, estou com meu telefone, vou chamar a segurança do campus. Alô, é uma emergên...

- Desculpe por isso. Depois você vai me agradecer. Estupefaça! - diz, apontando a varinha para ela.

Gwen cai no chão, desacordada. Lupin a ergue, segurando-a pelo braço, tira a chave de portal, murmura a palavra mágica, e os dois partem para o Beco Diagonal. Uma fração de segundo depois que os dois partem, passa um jorro de luz pelo lugar onde estavam, que abre um enorme rombo na parede do prédio. Frustrados, os Comensais guardam as varinhas e vão embora.


NA: Gwendolyn é o nome de uma das personagens da peça mais famosa de Oscar Wilde, "A importância de ser Prudente".