As amigas andavam devagar na saída do cinema. Chiharu estava agitada, porém Rika parecia não prestar atenção nela.

? Eu adorei esse filme! E você, Rika?
? É, achei interessante...
? Interessante? É fantás...Não se vire agora, mas tem um cara lindo olhando pra cá!
? Chiharu!
? Ai, o que foi?
? Você tem namorado!
? Tenho namorado, mas não sou cega! Qual o problema? Meu amor pelo Ya-mazaki não vai desaparecer se eu olhar para um rapaz bonito.
Rika voltou a pensar na fragilidade de seu amor pelo ex-professor. O que acon-teceria se ela olhasse? Será que se apaixonaria? Não, isso era bobagem. Vários rapa-zes bonitos estudavam com ela, porém ela jamais tivera um segundo olhar para eles. Eram muito infantis e provocavam apenas repulsa nela. Além do mais, seu coração já tinha um dono definitivo...certo?
? Ele está vindo pra cá!
O grito de Chiharu despertou-a de seu devaneio.
? Ele? Ele quem?
? Acho que ela está falando de mim.
O coração de Rika deu um salto quando ela ouviu aquela voz grave, com um le-ve sotaque. Virou-se e viu que a amiga estivera certa; ele era mesmo muito bonito. Alto, porte atlético, cabelos castanho dourados presos em um rabo-de-cavalo, olhos verdes contrastando com a pele bronzeada.
? Olá! Sou Chiharu Mihara. Essa é minha amiga, Rika Sasaki.
Ele fez uma mesura e abriu um sorriso perfeito.
? É um prazer conhece-las. Sou Andreas Kirsten.
? Não é um nome japonês, comentou Rika. De onde você é?
? Oslo, Noruega, respondeu ele, sorrindo.
? Que interessante...
Chiharu cutucou a amiga.
? Rika, diga alguma coisa!, sussurrou.
? Er...Eu...Muito prazer.
? Posso acompanha-las até em casa?
? Lógico! Assim podemos conversar mais. Estou curiosíssima para saber como é na Noruega...é pena meu namorado não estar aqui para ouvir isso. Não é mesmo, Rika?
? Hum? Ah, é...

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? Ah, Rika! Que bom que está de volta. Há visita para você lá na sala.
"Visita?" Rika foi até a sala e arregalou os olhos quando viu quem estava lá.
? Yoshiyuki...
? Rika...Estava esperando por você.
? Eu...Eu fui ao cinema com a Chiharu. "É verdade, eu realmente fui. Por que me sinto como se estivesse contando uma mentira?", pensou a garota, angustiada.
? Sim, eu soube. Eu...Preciso conversar com você.
? Certo. Vamos até a varanda.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, observando o céu, que escurecia rapi-damente. Era lua nova, e apenas as estrelas iluminavam a noite. Rika as observou a-través de lágrimas que teimavam em escapar de seus belos olhos castanhos, embora dissesse a si mesma que não havia motivo para chorar.
Naquele dia, divertira-se como havia muito não ocorria. Andreas despertara nela uma paz que ela não soubera explicar. Rira quase todo o tempo em que estivera com ele e mal percebera o tempo passar. O olhar dele provocara um calor que lhe subia o corpo. Seu toque, por mais leve que fosse, fazia-a sentir uma estranha ânsia. Era como se o conhecesse há muito tempo. Ela já se sentira assim, seis anos antes...
? Rika, eu preciso perguntar-lhe uma coisa...
? O quê?
? Você me ama?