Capítulo Dois
PARABÉNS E PRESENTES
Nos dias que antecederam seu aniversário, Harry recebeu uma carta de Dumbledore agradecendo por ter-lhe escrito sobre o seu sonho, e que se soubesse de mais alguma coisa, não hesitasse em informar-lhe. Além da carta do Diretor de Hogwarts, Harry também recebera cartas de Rony e Hermione, cobrando o motivo de seu silêncio. Harry ainda não tinha escrito aos seus amigos. Não que ele estivesse ignorando suas cartas, pelo contrário, ficava muito grato à Hermione, quando ela mandava recortes de alguma matéria que tenha saído no 'Profeta Diário'; ou então ao Rony que enchia suas cartas com notícias dos membros da família Weasley. Ele gostava de se informar tanto sobre o mundo dos bruxos – coisa que não podia fazer na Rua dos Alfeneiros – quanto sobre a família de bruxos que ele amava como se fosse sua própria. Mas é que sempre que ele segurava uma pena para escrever para os amigos, nada vinha à sua cabeça... Ele não sabia o que dizer aos amigos. Na verdade, tudo que ele tem pensado nessas férias é o Cedrico e depois daquele sonho, quem será "ela".
Já era tarde, mas Harry estava receoso em ir dormir. Sua cabeça estava cheia de pensamentos, e ele não conseguia calar as inúmeras vozes na sua cabeça. Foi até por isso que ele estranhou tanto quando viu quatro corujas se aproximando de sua janela. Cada uma vindo de uma direção. Com medo que elas fizessem barulho e acordasse seu tio Valter, Harry correu pra abrir a janela para deixar as corujas entrarem. Ele tirou os pergaminhos que estavam presos às patas das corujas, e depositou os pacotes que elas traziam em cima de sua cama. Depois de terem bebido água que Harry ofereceu da gaiola de Edwiges, elas saíram e ele foi examinar o que era tudo aquilo.
Quando abriu a primeira carta foi que ele percebeu. Era seu aniversário! Esse ano, ele esqueceu completamente de manter um calendário em sua parede e marcar os dias que faltam para voltar à Hogwarts. Era o primeiro ano que ele deixara de fazer isso. Ao mesmo tempo em que queria voltar a sua escola, poder usar magia, sentir-se em casa, ele estava com um pé atrás. Não sabia como seria sua recepção. E se os outros o considerassem um assassino? E se eles não quisessem mais nem falar com ele? No fundo, Harry sabia que se ele tivesse problemas com alguém, seria apenas com o pessoal da Sonserina, que com certeza seria capaz de tudo para deixá-lo ainda mais infeliz. Mas mesmo sabendo que ninguém das outras casas cobraria nada dele, Harry ainda tinha receio. E como é que ele olharia para Cho agora? Ele lembra como era bom olhar para ela e sentir aquele friozinho na barriga... mas agora, sempre que lembrava de Cho Chang, seus olhos negros não brilhavam mais com alegria, e sim com lágrimas. Igual a como ele a viu pela última vez em Hogwarts: chorando pela morte do Cedrico. Não, Harry não tinha nem idéia se conseguiria olhar para ela sem lembrar de Cedrico. E como Cedrico era uma dor da qual ele queria esquecer, resolvera já há um tempo que evitaria Cho Chang o máximo que pudesse. Se fosse possível.
Deixando esses pensamentos de lado, ele continuou a ler a carta.
Harry,
Feliz Aniversário! Espero que esteja tudo bem e que esses trouxas não estejam te tratando muito mal... Desculpe se não posso escrever muito. Estou ajudando Dumbledore com algumas coisas que ele pediu. Espero que você goste do seu presente. Vê se você se encontra nele.
Hagrid.
Harry pegou o pacote que viera junto com o pergaminho. Ele tinha boas lembranças do gigante guardador de chaves de Hogwarts, mas no momento, o que passava pela sua cabeça era que seu amigo era mais um que estava guardando segredo. Ele abriu o pacote, e dentro, além dos usuais bolinhos que eram duros como pedras e que colavam os dentes por umas boas horas, ele encontrou o livro 'Profecias Pros Principais Propósitos'.
Harry não tinha certeza da utilidade do presente, mas estava grato mesmo assim. Qualquer reconhecimento de seu aniversário era muito bem-vindo para ele, e quando ele pegou a segunda carta para ler, já o fez com um sorriso.
Harry,
Parabéns!!! E aí, como é que é ter quinze anos? Espero que esteja tudo bem, porque eu tô começando a ficar preocupada! Por favor, manda um bilhetinho nem que seja só pra dizer "eu tô vivo". Você não tem escrito nem pra mim nem pro Rony, e a gente receia que esses trouxas com os quais você vive tenham te tratado mal. Por favor, responda.
Hermione.
Harry leu o nome do livro que sua amiga tinha lhe mandado: 'Feitiços e Contra-Feitiços – Proteja-se!'. Prometendo para si mesmo que até o fim das férias ele já teria decorado boa parte do livro, ele pegou dois pergaminhos, uma pena e escreveu um breve bilhete em ambos dizendo que estava tudo bem, e que ele agradecia pelas várias cartas e presentes. Entregou-os à Edwiges e pediu que levasse um à Hermione e o outro ao Rony. Depois que sua coruja partiu, ele voltou para as suas cartas.
Harry,
Desculpa pela pressa, mas é que as coisas andam meio caóticas por aqui. Desculpa também se eu ainda não posso falar nada sobre o que tá acontecendo. Prometo que assim que der, eu te conto tudo que eu ando fazendo. É que, por enquanto, o Dumbledore quer segredo absoluto, nem mesmo alguns dos professores sabem o que se passa, por isso não fique tão mal, você não é o único! Ah, e o Professor me deu seu recado. Qualquer dor que você tiver avisa, hein?! Mas mudando de assunto, feliz aniversário! Ah como eu me lembro dos meus quinze anos... espero que os seus sejam tão bons quanto os meus... Felicidades.
Snuffles.
PS: O Aluado manda lembranças e congratulações.
Depois de ler a carta de seu padrinho, Harry sentiu-se ainda melhor. Incrível, como o Sirius já o conhecia tão bem com tão pouco tempo. Apesar de ser uma atitude meio infantil, Harry realmente sentiu-se melhor depois de saber que não era o único que não sabia de nada. Deixando isso de lado, ele abriu a caixa que seu padrinho mandou.
- O Mapa do Maroto!
Sirius recuperara o mapa com o Professor Dumbledore e o tinha devolvido para o Harry. Além do mapa, dentro da caixa, ele encontrou algumas fotos de seus pais com alguns amigos e, além disso, ainda havia um livro com uma aparência de mais velho cujo nome era: 'Assimilando Animagia – Aprenda, Aprimore, Aprecie!'. Junto, havia um bilhete com a letra do Sirius.
Eu e o Aluado achamos esse livro que foi o mesmo que eu e o seu pai usamos. Não vá fazer nenhuma besteira que possa ser perigosa, hein...
Harry sorriu. Seu pai tinha lido esse mesmo livro para aprender a ser um Animago! Quantas vezes ele não tinha se perguntado como seu pai e seus amigos conseguiram tal façanha? Esse era mais um livro que ele com certeza leria nas férias. Depois de passar vários minutos decorando as fotos de seus pais, Harry leu sua última carta. Uma foto em particular passaria a ficar debaixo de seu travesseiro. Nessa foto, sua mãe o carregava no colo, sorrindo para ele – devia ter meses de idade ainda - e seu pai, que estava atrás dela, aproximava-se e abraçava os dois. Harry, claro, não lembrava disso, mas só de ver a expressão dos dois – tanto amor em seus olhos – era o suficiente para ele sentir que ambos seus pais o amavam muito. Eles não pareciam ter nem vinte anos naquela foto... Com um suspiro de tristeza, Harry prosseguiu à carta.
Harry,
Quinze anos! Até que enfim, hein?! Parabéns.
Eu continuo perguntando pra minha mãe sobre você vir pra cá, e a resposta continua a mesma: "Quando o Dumbledore disser que pode, a gente vai buscá-lo, Rony." Então, Harry meu velho, tudo depende do nosso amigo barbudo. E sobre o pessoal aqui, tá tudo igual à última carta. O Percy continua ou trancado no quarto, ou no Ministério. A vantagem é que é menos um pra pentelhar. Os gêmeos são outros que não saem do quarto. A gente nunca ouviu tanta explosão em tão pouco tempo. Alguma eles tão aprontando... Já a Gina... essa é que me preocupa. Tem dias que ela tá um amorzinho: tudo que eu peço, ela faz, ri de qualquer piada, é a melhor pessoa da casa. Já em outros... do nada ela vira a cara, emburra e sai batendo o pé. Garotas? Quem entende?
No pacote tem várias coisas que o Fred e o Jorge inventaram durante as férias. É divertido! Só não aconselho comer! Nunca se sabe o que pode acontecer! Come só o bolo que a minha mãe mandou, que esse sim é seguro. E já que o seu relógio parou porque você entrou na água com ele, eu tô te mandando um de presente. Feliz Aniversário.
Rony.
Harry leu e releu a carta de seu amigo. Todos os seus problemas sumiram naqueles instantes. Era tão bom saber da família Weasley... quantas vezes ele já havia desejado fazer parte de uma família tão unida quanto essa? Harry dobrou suas cartas e juntou seus presentes. Resolveu que começaria a ler um dos livros agora. Quem sabe assim conseguiria livrar sua cabeça de pensamentos indesejados, e espairecer um pouco. Abriu o livro que havia sido de seu pai em uma página qualquer.
"... Mas a primeira coisa que se deve fazer antes de qualquer outra para tornar-se um Animago é se conhecer! É necessário que se saiba com o máximo de certeza que animal você será se realmente tiver a capacidade de tornar-se um – como explicado no primeiro capítulo, nem todos os bruxos ou bruxas têm esse dom. O animal que mais se aproxima de suas características será com certeza o resultado final da mais maravilhosa das Transfigurações: Animagia ..."
Animal? Harry nunca havia pensado em que animal seria se se tornasse um Animago. Será que seria um cervo como seu pai? Não... Ele realmente não combinava nem um pouco com um cervo. Talvez perguntasse para o Rony ou a Hermione o que eles acham assim que...
Harry caiu no sono e quando acordasse no dia seguinte com os gritos de sua Tia Petúnia, perceberia que pela primeira vez nas férias fora dormir sem pensar em nada que envolvesse Voldemort. Seria a primeira vez também nesses últimos três meses, que conseguiria lembrar-se de um sonho, e não de um pesadelo.
Continua no Capítulo Três...
