Capítulo Três
RE-UNIÃO DE COELHOS NA TOCA
Os dias que sucederam o aniversário de Harry foram dias relativamente calmos. Nenhum pesadelo o perturbou, e até seus tios não lhe estavam cobrando tanto como de costume – depois que ele voltou de Hogwarts, foi como se um "tratado" estivesse subentendido. Harry não falava com seus tios, seus tios não falavam com ele. As únicas vezes que sua tia lhe endereçava a palavra era para acordá-lo para que ele começasse a fazer tarefas pré-estipuladas pelos seus tios. E para ser sincero, Harry não se incomodava nem um pouco com esse tratamento de silêncio. Na verdade, até gostava: quanto menos ele tivesse que lembrar que aqueles eram os únicos parentes vivos que Harry ainda tinha, melhor para ele.
Harry recebera uma carta da Hermione – a mais entusiasmada das que ele podia lembrar – dizendo que ela tinha sido escolhida para ser monitora. Estava tão feliz que mal podia conter-se. Harry balançou a cabeça e sorriu. Como se alguém tivesse alguma dúvida que a monitora da Grifinória seria Hermione Granger. Harry escreveu-lhe dizendo exatamente isso, e que ficava feliz por ela.
Depois daqueles breves bilhetes que escrevera no dia de seu aniversário, Harry, nas semanas seguintes, passara a escrever bilhetes cada vez maiores, até chegar no ponto em que os bilhetes viraram cartas, situação essa que aliviou e muito seus amigos que já estavam demais preocupados com o seu silêncio. Harry percebeu que as coisas estavam começando a (lentamente) voltar ao normal. No dia em que recebeu a última carta que receberia de Rony naquelas férias, já sabia com exatidão quantos dias faltavam para voltar para Hogwarts. Estava agora com mais disposição; tivera tempo para ficar de luto e lamentar a morte de Cedrico, e tirou proveito disso. A verdade é que, agora, já se sentia mais forte para encarar todos os colegas e tentar seguir em frente – não estava completamente curado do choque e da dor, mas com certeza já estava no caminho certo para uma recuperação.
Foi até por esses motivos, que quando Harry leu sobre a permissão de Dumbledore para passar a última semana das férias na casa dos Weasleys, suspirou aliviado. Ele visitaria "A Toca", e ainda poderia ir ao Beco Diagonal para comprar seu material de escola. Rony dissera na carta que Harry não precisaria se preocupar com a maneira que viriam lhe buscar. Seus tios trouxas não teriam nenhuma surpresa. Harry simplesmente deu com os ombros e balançou a cabeça. Seus tios não teriam nenhuma surpresa. Ele é que teria, porque Rony esquecera completamente de dizer o que esperar no dia 25 de Agosto.
Já com todo seu material e roupas arrumados – Edwiges tinha sido mandada para a Toca com antecedência, e o aguardava pacientemente – Harry desceu as escadas faltando cinco minutos para as duas horas, para esperar por algum sinal de que estava na hora de deixar os Dursleys por mais um ano letivo. Quando deu duas e cinco a campainha tocou, e Harry ergueu as sobrancelhas: campainha?
Tia Petúnia abriu a porta e deparou-se com um jovem adulto e uma adolescente – ambos ruivos no mesmo tom de vermelho, e o rosto cheio de sardas.
- Boa tarde, a gente veio buscar o Harry. Ele deve estar nos esperando...
Pela cara que sua tia fez, Harry tinha certeza de que somente depois que Gina falou, foi que Petúnia percebeu que ela e o Carlinhos eram bruxos. Sua expressão de surpresa era impagável, mas não durou muito. Logo virou uma de nojo seguida do comentário:
- Meu Deus! Em quantos vocês são, hein?! Cada ano aparece um diferente! – Petúnia ergueu o nariz e continuou – Não quero nenhuma gracinha! Meu marido está trabalhando e eu não quero ter que perturbá-lo!
Carlinhos e Gina estavam com tamanha expressão de descrença – e provavelmente raiva da Sra. Dursley também – que Petúnia logo saiu da porta e virou-se para o Harry.
- Anda moleque, eu não tenho o dia inteiro! Se for pra sair, sai logo porque eu ainda tenho muita coisa pra fazer e não posso ficar perdendo tempo com você!
Harry não precisou que lhe pedissem duas vezes. Em menos de um minuto já tinha levado tudo que era seu para fora da casa número 4 da rua dos Alfeneiros. Depois que sua Tia bateu a porta, Carlinhos virou-se para ele:
- Olá, Harry. Desculpe se a gente aborreceu a sua tia, eu não...
Harry interrompeu Carlinhos com um sorriso e um gesto com a mão.
- Ih... esquece! Ela tá sempre de mau humor!
Carlinhos sorriu de volta e resolveu explicar o porquê da inusitada entrada.
- Mamãe achou melhor evitar confusões. Então esse ano ela pediu pra eu vir te buscar. A Gina – ele pôs o braço nos ombros dela enquanto explicava – fez o favor de vir comigo. Mamãe não confia muito nos gêmeos...
Harry riu e concordou, balançando a cabeça de cima para baixo. A Sra. Weasley tinha todos os motivos para não confiar no Fred e no Jorge depois de tudo que aconteceu com seu primo Duda por culpa dos dois. Não que Harry se importasse. Na verdade, ele gostou e muito de cada atrocidade que acontecera com Duda por truques mágicos.
Carlinhos tirou um pente de plástico do bolso e entregou para Gina, enquanto explicava os planos para a volta à Toca.
- O pente é uma chave do portal. Está programado para... – Carlinhos olhou em seu relógio – dois minutos. Você e a Gina voltam com ele e suas coisas. Eu vou desaparatar assim que vocês saírem. Aí, a gente se encontra lá, ok?
Harry olhou para a Gina e ela sorriu. Ela estava meio sem graça, mas Harry percebeu que não estava tão vermelha como de costume quando ele se aproximava dela. Ele sorriu de volta e voltou-se ao Carlinhos:
- Tudo bem, mas como é que a gente vai conseguir levar tudo isso?
Carlinhos ia começar a falar, mas Gina interrompeu surpreendendo Harry. Nunca antes tinha Gina direcionado a palavra a ele por espontânea vontade.
- É só pôr o pente em cima do baú, eu e você sentamos nele e tocamos o pente ao mesmo tempo. Por falar nisso, é melhor a gente correr, já deve estar quase na hora.
Feito todo o planejado, Harry e Gina foram para a Toca, seguidos imediatamente por Carlinhos, que só esperou para ver se a chave do portal iria funcionar. Desaparatou imediatamente depois que Harry, Gina e o grande baú sumiram.
Quando Harry abriu os olhos, estava no meio da sala dos Weasleys. Rony, que estava sentado no sofá, levantou-se rapidamente e veio o cumprimentar.
- E aí, Harry? Algum problema com aqueles trouxas dessa vez? – enquanto falava, seu sorriso crescia.
Harry respirou fundo e sentiu o cheiro de cookies que vinha da cozinha. Com certeza, a Sra. Weasley estava lá.
- MÃE! A gente chegoooou! – Gina chamava por ela enquanto ia em direção à cozinha. Harry lembrou que Rony tinha feito uma pergunta a ele. Balançando a cabeça para trazer seus pensamentos de volta ao seu amigo, ele disse:
- Não, nenhum problema, só a--
Harry foi interrompido pelo Carlinhos que estava parado em frente à porta quando a mesma abriu com tudo, e ele se assustou – além de ter ficado muito bravo, claro.
- Mas que que tá--
Carlinhos não conseguiu terminar sua frase, pois naquele momento, Gui entrou na casa:
- Advinha quem veio passar uns dias?
Gina que tinha acabado de voltar à sala com sua mãe, pôs-se em disparada e abraçou Gui tão forte, que Harry começou a pensar se o mais velho dos irmãos Weasleys não estaria sufocando.
- Gui! Que saudade! Por que você não avisou que viria?
- Gina? Cadê minha irmãzinha? Você... cresceu!
Gina abaixou a cabeça, riu e bateu de leve no braço de Gui. Harry olhava tudo aquilo se sentido um intruso, mas não queria deixar de ouvir uma só palavra. Não tinha irmãos e, para ele, tudo aquilo – aquela interação – era fascinante.
- Hei... por que que o Gui tem essa recepção toda, e quando eu cheguei, foi só 'oi'? – Carlinhos perguntou à Gina com um tom de voz meio chateado, mas estava sorrindo. Gui sorriu para o irmão e não deixou Gina responder.
- Oras, porque eu sou o irmão favorito...
Rony balançou a cabeça e virou o os olhos. Harry que estava ao seu lado, não pode conter a risada. Nem ele, nem a Gina e a Sra. Weasley, que estavam agora rindo da expressão de desgosto do Carlinhos.
A Sra. Weasley recuperou-se primeiro e foi em direção ao Harry. Ele virou-se de frente para ela, e já não se assustou como das outras vezes, quando a Sra. Weasley abraçou-lhe com força. Para ser sincero, aquele abraço foi muito bem-vindo.
- Harry querido! Que bom que você veio! Acabei de fazer uns cookies! Venha, estão na cozinha.
Harry sorriu e olhou em volta. Todas aquelas pessoas reunidas, sorrindo... Tanto amor em uma casa só. E agora ele fazia parte disso! Sentido-se melhor do que em toda as suas férias, Harry seguiu a Sra. Weasley até a cozinha e riu quando o Gui perguntou:
- Hei! E pra mim não tem?
Era como se o coelho tivesse voltado para a toca. Ele estava em casa.
Continua no Capítulo Quatro...
