Capítulo Cinco

BRIGAS, AMIGOS E REENCONTROS.

Nenhuma das manhãs em que Harry passara na Toca tinha sido tão tumultuada quanto aquela. Todos estavam tão apressados, passando de um lado para o outro, que Harry ficara genuinamente surpreso que não tinha ocorrido nenhum acidente. A Sra. Weasley de tempos em tempos gritava com algum dos filhos para que corresse e evitar que atrase. Harry não compreendia como que mesmo com a casa tão cheia, eles ainda conseguiram perder a hora. E foi nesse tumulto e correria que Harry – sem querer – ouvira uma conversa que lhe deixara muito intrigado. Pensou que provavelmente não era de sua conta, mas ainda assim, não conseguia esquecer a raiva que ouvira na voz de Gina quando ela gritava com Gui: "Não se mete! Já falei que não é da sua conta!".

A única vez de que Harry podia lembrar da Gina gritando, já fazia alguns anos, e tinha sido com Draco Malfoy para tentar defendê-lo. Nunca ele podia imaginar que ela seria capaz de gritar com tanta raiva com seu irmão. Gritar com o Malfoy, não era proeza alguma: Draco tinha o dom de fazer qualquer um chegar ao seu limite. Até a Hermione já perdera a paciência uma vez e lhe dera um tapa no rosto. Mas com o próprio irmão? E não era só ela, porque a explosão de Gina veio seguida de um grito ainda mais alto: "É claro que é da minha conta! Que que cê tá pensando? Cê é minha irmã – minha única irmã! É claro que eu me preocupo!"

Harry, depois que Gui expressou sua opinião, decidiu que era melhor não se envolver. Afinal, naquela casa ele era apenas visita. Os dois acabariam se entendo.

Mas pelo jeito não seria bem assim. Quando a Sra. Weasley – depois de tudo arrumado e pronto para sair – pediu que todo mundo que fosse ao Beco Diagonal se reunisse na sala, Gui seguiu Gina com passos rápidos. E antes que a Sra. Weasley pudesse dizer qualquer coisa, ele já logo começou a falar:

 - Pode deixar, mãe! Eu levo a cambada... assim, você vai ter mais tempo para... – Gui olhou em volta do cômodo, com certeza procurando alguma desculpa para que a Sra. Weasley ficasse em casa. Mas ela não aceitaria nada disso.

 - Que isso, Gui! Já tá tudo combinado e arranjado. Além do que, eu tenho que ir porque tenho algumas coisinhas para comprar por lá...

O tom de voz da Sra Weasley era tal, que Gui não conseguiu encontrar argumentos para discutir. Como ela conseguia esse tom de finalidade tão casualmente era algo que Gui e seus outros irmãos nunca compreenderiam. Pensando rápido, ele encontrou outra saída.

 - Bom, mãe... então você não se importa se eu for junto, né?! – Enquanto falava, aproximava-se de Gina, que tinha se afastado aproveitando a distração dele. Ele pegou o braço dela com sua mão esquerda, e Harry começou a olhar em volta para ver se só ele percebia o desconforto de Gina sob o olhar de seu irmão mais velho. Aparentemente, sim, só ele havia percebido. – Eu tenho uns assuntos pra terminar com a Gina, e já que eu tô indo embora hoje...

Gui respirou fundo e usou uma expressão que ele sabia que a Sra. Weasley não resistiria. Ser o primeiro filho tinha algumas vantagens...

 - Eu preciso muito falar com a minha irmãzinha... Prometo que não atrapalho...

A Sra. Weasley suspirou – tinha caído no truque do primogênito como sempre caíra antes.

 - Tudo bem... mas por favor, Gui! A gente não pode se atrasar mesmo! Ainda há muito o que fazer. E eu não quero meus filhos expostos por muito tempo...

A Sra. Weasley adotou uma expressão de tristeza tamanha quando falou sobre os filhos, que Harry soube na hora que o motivo dela não os querer expostos por muito tempo, só podia ser a volta de Voldemort. Harry não sabia muito bem como andavam as coisas no mundo dos bruxos, mas pelo jeito, a situação não devia ser das melhores.

 - Ok!

Gui, com um sorriso vitorioso, olhou para a Gina que só podia abaixar a cabeça. Agora Harry estava muito curioso!

Mas sua curiosidade teria que esperar, porque naquele momento, a Sra. Weasley tomou as rédeas da situação. O barulho de várias conversas cessou, e em poucos minutos, Harry estava no Caldeirão Furado depois de uma extremamente desagradável viagem. A primeira parada seria Gringotes, depois, eles se separariam em grupos menores para fazerem suas compras e reencontrar amigos. Entre esses amigos, estava a Hermione Granger. Rony – como confessara a Harry pouco antes do café da manhã – estava um pouco nervoso, mas Harry o confortara dizendo que não havia nada com que se preocupar. Afinal, a Hermione não tinha certeza se o Rony gostava ou não dela. Mas a verdade é que Harry falara aquilo somente para acalmar o amigo, porque no fundo, Harry acreditava que Hermione também já tinha percebido que os ciúmes de Rony deviam ter algum motivo que só ele, Rony, não conseguia ver.

Enquanto Harry e vários outros membros da família Weasley dirigiam-se a Gringotes, ele não pôde deixar de perceber o quão vazio estava o Beco Diagonal. Normalmente, nessa época do ano, o lugar estava sempre cheio de alunos eufóricos, prontos para começar mais um ano letivo, ou então com alunos do primeiro ano que descobriam coisas novas, enquanto tentavam vencer o nervosismo. Mas esse ano, Harry percebeu que as ruas estavam praticamente vazias, e as poucas pessoas que ainda caminhavam pelo Beco Diagonal, ou estavam extremamente apressadas – provavelmente apavoradas e querendo voltar para suas casas – ou então tinham uma pose tão dura, que Harry poderia apostar que eram Comensais da Morte. Esses com certeza não teriam nenhum medo de andar nas ruas...

Enquanto estava no carrinho dos túneis subterrâneos de Gringotes, Harry começou a pensar em como estaria Hogwarts quando ele voltasse para lá. Se o Beco Diagonal que estava sempre tão cheio, de repente ficou vazio, será que sua escola também encontraria menos alunos no começo desse ano letivo? Harry chegou à conclusão de que essa era uma triste possibilidade. Que muitos dos alunos poderiam deixar de ir à escola porque eles ou seus pais estavam com medo, ou até uma pior possibilidade... A possibilidade de que possam ter encontrado Comensais da Morte, e que não iriam à escola simplesmente porque não podiam. Harry engoliu seco. Houve diversos ataques de Comensais da Morte durante esse verão, ataques que resultaram em muitas mortes... Parece que o não reconhecimento da volta de Voldemort pelo Cornélio Fudge não tinha influenciado muito as atitudes dos bruxos e bruxas da Inglaterra...

Depois de garantir que tinha pegado um pouco mais de dinheiro do que de costume – Harry não sabia quando seria possível voltar ao Beco Diagonal para pegar mais – ele e Rony, separando-se do grupo, resolveram ir tomar um sorvete enquanto esperavam por Hermione. Assim que entraram na "Sorveteria Florean Fortescue" – depois de uma breve parada na vitrine de "Artigos de Qualidade para Quadribol", lugar que eles simplesmente tinham que ir – repararam que Gina e Gui devem ter tido a mesma idéia que eles. Ambos estavam na sorveteria. Só tinha um problema naquela cena: Gui estava bravo e inquieto, enquanto Gina conversava com um homem que de onde o Harry e o Rony estavam, não dava para reconhecer. Rony, claro, ficou muito curioso e queria saber com quem sua irmã estava falando. Resolveu que Gui talvez pudesse ajudá-lo.

 - Ô, Gui! Com quem que a Gina tá falando?

Rony aproximara-se de Gui com cautela, porque a expressão do mais velho dos irmãos Weasleys não era lá das melhores. Gui simplesmente deu com os ombros e disse:

 - Eu não sei... acho que é um professor. Lupin, eu acho que ela disse que era o nome dele...

Na mesma hora que Harry ouvira o nome "Lupin", virou sua cabeça para olhar para o homem que até há alguns segundos era um estranho. Professor Lupin! Harry involuntariamente sorriu. A Gina que o perdoasse, ele realmente não queria se intrometer na conversa dela com seu ex-professor, mas Harry absolutamente tinha que falar com Remo Lupin. Talvez o amigo de seu pai até tivesse notícias de seu padrinho!

Cautelosamente, Harry aproximou-se dos dois, e quanto mais perto ele chegava, melhor ele podia ouvir a conversa. Sua intenção não era se intrometer, mas Harry ficou curioso para saber o que os dois tanto falavam.

 - Tá mesmo tudo bem, professor? Você parece tão cansado, tão triste.... – Harry lembrou que a lua estava quase cheia, e isso explicava o cansaço de Lupin, mas agora que Harry estava mais próximo e podia ver o rosto do seu ex-professor, ele tinha que concordar com a Gina quando ela disse que ele estava triste. Era um olhar de melancolia, quase que um saudosismo.

 - Tá... – Remo sorriu e esticou seu braço, passando sua mão carinhosamente nos cabelos de Gina. Com um suspiro, ele continuou – Você tá cada vez mais parecida com...

Mas Harry não saberia com quem que a Gina estava parecida, porque naquele momento, os olhos de Remo Lupin deixaram a Gina e encontraram o Harry.

 - Harry!

Gina virou-se bruscamente e quando viu Harry, começou a ficar corada como de costume.

 - Professor Lupin!

Os dois se abraçaram forte, e Gina afastou-se um pouco da cena de reencontro. Preferiu juntar-se aos seus irmãos que agora também estavam próximos de Remo Lupin.

 - Harry! Que bom ver você, eu estava esperando que pudesse encontrá-lo hoje aqui!

Harry ergueu as sobrancelhas, provavelmente confuso, e Gui aproveitou esse momento para arrastar sua irmã dali: "Vamos! Deixa o Harry conversar com ele, porque eu preciso falar com você.". Com um breve "tchau, Professor Lupin.", Gina e Gui saíram da sorveteria e deixaram Rony e Harry para conversarem com Remo Lupin.

Rony cumprimentou o ex-professor também, e Harry, antes que Remo pudesse dizer qualquer outra coisa, perguntou de seu padrinho.

 - Ah... O Almofadinhas tá bem... A gente não sabia com certeza se você estaria hoje aqui também, se soubesse, ele teria vindo junto...

Harry sentiu-se chateado por ter perdido uma chance de ver o padrinho, e Remo deve ter percebido, porque logo ele forçou um sorriso pelo bem de Harry e disse:

 - Ah! Eu estava esperando te encontrar porque eu achei uma coisa que eu havia guardado há anos... tinha até esquecido que tava comigo – Remo pôs a mão no bolso, e dele tirou uma corrente dourada com um medalhão preso nela. – Isso aqui era de sua mãe. – ele esticou a mão e ofereceu a corrente ao Harry. – Ela tinha deixado na minha casa pouco antes de se esconder...

Harry examinou o medalhão que também era dourado e tinha um lírio desenhado delicadamente da superfície. Ele abriu o medalhão e, dentro, havia duas fotos, uma de cada lado. À esquerda, seu pai sorria e piscava para ele. À direita sua mãe pressionava a mão em seus lábios, mandava-lhe um beijo, e depois acenava.

 - Essas fotos foram tiradas pouco antes do casamento...

Harry olhou para o seu ex-professor, e viu tanta tristeza naquele olhar, que ele percebeu que devia ser muito doloroso para Remo falar de seus amigos póstumos.

 - Agora é seu Harry... seu pai tinha um igual, mas eu não sei o que foi feito dele...

Harry abraçou Remo, e queria lhe dizer tanta coisa, perguntar-lhe tanta coisa, mas naquele momento, tudo que saiu de sua garganta foi um rouco "obrigado". Remo, meio sem jeito e ligeiramente nervoso, olhou para os dois garotos, e pediu desculpas por ter que ir.

 - É... eu só entrei porque vi a Gina e resolvi falar oi. Mas eu realmente preciso ir, tenho algumas coisas pra resolver que não podem ser deixadas para amanhã.

Rony e Harry se despediram de Remo, e nem um minuto depois, Hermione chegou à sorveteria. De primeira olhada, Harry nem tinha a reconhecido. Quatro meses realmente fizeram diferença para Hermione, é o que Harry estava pensando quando olhou para o lado para chamar a atenção de Rony.

 - Ei, Rony! Fecha a boca! Vai entrar mosca... - Harry sussurrou enquanto Hermione aproximava-se da mesa. Rony ficou ligeiramente avermelhado.

 - Harry! Rony! Que saudades!

Ela abraçou um de cada vez, e cumprimentou ambos com um beijo na bochecha. Rony ficara ainda mais vermelho.

 - Oi Hermione. E aí? Alguma novidade?

 - Várias! Eu tenho tantas coisas pra falar pra vocês! Mas vamos logo, eu falo no caminho...

Hermione respondeu à pergunta de Harry enquanto puxava os dois garotos pelo braço levando os dois para fora da sorveteria.

 - Tá tudo bem com você, Rony? Cê não falou nada até agora... nem oi...

Seu tom era de brincadeira, mas seus olhos pareciam magoados com a falta de receptividade do Rony. Harry olhou curioso para o seu amigo. Ele queria ver como reagiria na presença de Hermione agora que admitira para si mesmo que gostava dela.

Rony sorriu e com uma expressão meio marota disse: "Melhor agora que você chegou, Mione...".

Agora foi a vez da Hermione ficar vermelha. Harry balançou a cabeça e sorriu. Definitivamente, esse ano seria muito interessante...

Continua no Capítulo Seis...